Maria J Fortuna
Se você voltar a se relacionar,
mais intimamente com alguém do passado, deixe bem claro, a partir do seu
retorno, o que espera encontrar dessa pessoa depois que os anos se passaram. Talvez sua expectativa seja ver nela, alguém renovado,
mas por falta de esclarecimento, não perceba que a mesma continua exatamente
como sempre foi e, com isso, a historia fatalmente voltará a se repetir. E você
estará fadado a se repetir também.
Para que não haja retorno de antigos
problemas, não adie clarificar as coisas para com seu velho afeto. Principalmente sobre questões
pendentes que não foram resolvidas e superadas, por ambas as partes no tempo vivido junto, e que por isso podem emergir desse passado a
qualquer momento. Estou me referindo às
lembranças de comportamentos que, para você, são intoleráveis e a pessoa parece
nunca ter calculado a dor que sempre lhe causou. Ou
talvez até saiba, mas não consegue
controlar seus impulsos em direção
a outro jeito de
ser e estar mais positivo em relação a
si mesmo e aos outros. Pode ser alguém que você descobriu, faz tempo,
ser incapaz de perceber como é difícil tolerar a repetição constante de atos
considerados para você nocivos ao crescimento pessoal. Talvez perceba, mas aquela pessoa querida não consegue se
descontruir e se reconstruir numa terapia, por exemplo, e você assiste impotente, a sua
autodestruição sem poder fazer nada. Quem não viveu uma situação como esta? A pessoa parece não estar absolutamente interessada
em mudar e não aceita ajuda, pois não se considera enferma. E o tempo vai se passando... Então você evita
tocar naquele assunto difícil e se deixa levar pelo efeito secundário da
relação, que pode ser prazeroso, mas encobre algo que, mais cedo ou mais tarde,
se tornará insuportável! Deixa-se levar
pelo encanto sedutor do reencontro, pelos momentos deliciosos vividos juntos em
doces anelos e tudo fica do mesmo tamanho.
Mas se você sabia disso,
porque retornou? Você deixou claro no momento do retorno para ele ou ela, que
não mais admitiria aquela convivência que acaba por lhe exaurir? E que não acrescenta, mas subtrai? Não. Não deixou claro. Omitiu. Fingiu que o
problema não existia. Não interessa porquê. O erro foi seu em deixar passar o
momento em que deveria ter elucidado as coisas. O erro não foi do outro, já que
você talvez tivesse mais consciência disso, sentindo-se a parte mais forte do
relacionamento. E com ainda remota pretensão de mudar as coisas. Retornou
errado. Com sua aparente aceitação de todas as dores que aquela re-união outrora provocou
Pior! Sua não clareza pode
ter levado ao ente querido, um sentimento de que fora traído e abandonado por
você. Talvez, em sua concepção, retornando a ele, estaria implícito que agora
você o aceitaria com todos os seus defeitos, vícios e limitações. Não é bem assim. Tudo isso
por causa do seu silêncio. Por falta de transparência. Retornar por
fraqueza da carne ou por amor mesmo, não justifica silenciar, ocultando do
outro o que deveria ter sido antes re-velado. Por que
o deixou pensar que seu amor seria incondicional a ponto de se adaptar a viver
com ele ou ela , às cegas, em tais circunstâncias? Mesmo que você tenha evitado falar no assunto
para não feri-lo, não seria motivo para permanecer calado. De repente, a reincidência daquele
comportamento desagradável, que você bem conhece, conduziu-o a péssimas
lembranças e daí a enorme reação de intolerância,
rompeu bruscamente o relacionamento, sem
que ele ou ela estivesse preparado para isso.
Eu me refiro a palavras ácidas que você nunca quis pronunciar para não
machucá-lo e acabou soltando com ar revoltado. Tudo isso poderia ser evitado
se você tivesse sido mais transparente, mais claro em seus propósitos em
relação àquela pessoa. Agora você sente que foi desastroso e não haverá muito
jeito de voltar atrás. No frigir dos ovos, a única pessoa a ser perdoada por
você, é você mesmo!
É sempre bom repetir: Deixe
bem claro as suas limitações acerca do que o incomoda no outro. Avalie até que ponto poderá se aprofundar na
relação, tolerando tais e tais defeitos ou vícios da pessoa em questão. Faça um
exame de consciência e verifique o que, em você também pode incomodá-lo e a
pessoa nunca lhe disse. Uma conversa franca teria impedido tal situação. Mas
agora mágoas e ressentimentos não mais permitem que tal aconteça. E você se sente frágil frente a situação
que criou.
Avalie se você queria mesmo que a relação
fosse caminhando para aquele nível mais profundo sabendo, de antemão, que não
ia dar certo, mas querendo viver o momento. Pode ser que você estivesse procurando
apenas afeto, calor humano, afagos, contato
corporal sem consequências. Uma vez
resolvido dentro de você, clarifique sua posição para a pessoa e veja se esse
sentimento é reciproco.
A conduta desastrosa de não clareza traz
consequências cruéis para ambos. Principalmente
se, no meio disso tudo, existia uma grande amizade! Um relacionamento afetivo
talvez de longa data! Expor impulsivamente sua insatisfação, assim de repente, ignorando
tudo o quanto antes existiu de bom na relação, ocasiona sofrimento para ambas
as partes. E alguém, que poderia ser
sempre seu eterno amigo, bate em retirada, partindo-lhe o coração.
Na verdade sempre existe um “ex” nos relacionamentos do passado, mas amigo
deveria ser como filho. Não existe ex filho. Não deveria existir ex amigo. Fique atento! Seja claro, sempre!