sexta-feira, 25 de abril de 2014

Agonia


 
Desenho de Maria J Fortuna
 

                                                                                                                                                              Maria J Fortuna


Ninguém arranca a agonia quando ela se instala dentro da gente! É uma sensação inexplicável que não dá para dividir com ninguém! Tipo entrar num elevador e ficar para cima e para baixo sem poder sair. Sinto-a mais inexplicável de qualquer outra sensação  que nos visita. Como se algo estivesse apertando a boca do estômago. Dá a impressão de que estamos  vestidos com uma roupa que não é nossa e que nos aperta ou fica larga demais.   Mas a gente quer sair dessa  agonia que pode durar, ás golfadas,  um dia inteiro!  Ou mais...  A alma,  por um instante parece oca, numa espécie de vazio-cheio que dá vontade de correr, mas não adianta, pois  estamos parados dentro de nós mesmos. Para mim angústia é o prolongamento do estado de agonia.   É como correr sem sair do lugar.  É querer vomitar rapidamente o in vomitável!  Tem a ver com a pressa. Mas sabemos que quanto mais pressa, mais vagar...  Assemelha-se a um sentimento de premonição ou ameaça do que pode ser revelado a qualquer instante, contra a nossa vontade. Um grito que não sai como sugere a famosa pintura de Edvard Munch.  Sinto como “ata não desata”, desafiando a impotência e a fragilidade do ser.  Sei que é incômodo e que a melhor coisa seria sair,  imediatamente, dessa sensação que imagino ser de um pássaro querendo voar, mas impedido pela gaiola,  ou a um gato que se sente preso quando sua natureza  é de independência e liberdade.
Mas o que nos causa tão intenso incômodo? O que significa essa sensação matizada de medo?     Será o receio do enfrentamento com algo que negamos e, de repente, corre o risco de se tornar presente, ou talvez a consequência de um stress recente que não nos quer abandonar? Ou o medo de perder associado à morte? Ou de aceitar uma situação que nos traz dor e muitas vezes alegria? Ou mesmo a circunstância absurda do medo de ser feliz muito mais comum do que podemos imaginar?
Mas se soubermos recebê-la, a inevitável agonia tornar-se-á positiva, porque será reconhecida como aquela que denuncia a perda da harmonia interior e o desejo de reconstrução de si mesmo, o mais depressa possível!  Mas, como nada se faz as pressas, perdemo-nos várias vezes ao dia e o retorno pode ser vagaroso.
 A agonia é nossa esfinge: “Decifra-me ou te devoro”. É o apelo para voltar ao centro, ao foco, onde nos encontramos nus, sem nenhum adereço. Onde, passado a primeira invasão, achamos a paz que buscamos. É nossa chance para parar, refletir, meditar, desarmar o ego, deixar a fluidez de a vida carregar os momentos difíceis, sem negá-los.
Momentos de agonia fazem parte do processo de transformação e crescimento. Se alguém nos provoca esse mal estar, é porque há algo dentro de nós que rejeitamos  e projetamos no outro. Ou estamos numa situação de ameaça externa que não dá para evitar. E aí a agonia transforma-se em medo, até o pânico e deixa de ser apenas uma sensação para gerar um processo doloroso de sofrimento físico e moral.  Mas antes que este processo se instale, tem jeito de no primeiro momento que surja, sacudir a poeira da ilusão e reconhecer o potencial amoroso que abrigamos no coração,  desde quando estávamos aconchegados ao útero materno. Assim, conseguiremos sair do sufoco alcançando a libertação. Mas não resta dúvida que ela,  a velha agonia,  voltará de vez em quando.  Faz parte...

domingo, 13 de abril de 2014

abril de 2014
                   No Museu de Arte Contemporânea em Niterói, fomos visitar a Exposição Novas Conexões Platônicas,  onde dois dos nossos professores da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, estão expondo: Luiz Ernesto e Chico Cunha

                   O Museu (projeto de Oscar Niemayer ) é belíssimo e lá ficamos extasiados com a beleza da paisagem!






Luiz Guilherme Vergara, curador da Exposição, assim se expressa: "Cada obra representa o pensamento vivo do artista, que já é em si  uma ponte ou provocação entre as ideias e as coisas, entre o visível e o invisível, que é parte do dilema platônico de exteriorização e sonhos diurnos. "

Dentre as  21 obras de autores como:




Ressalto aqui uma obra  que nos transporta ao onírico,  registro aqui a do Chico Cunha Sonho de Valsa (1984) . Acrílico e colagem sobre tela:

 
Quem não sonhou com este baile com um Sonho de Valsa na mão?
 
Em seguida pudemos admirar a obra do nosso professor Luiz Ernesto. Algumas palavras de Marcus Lontra Costa a respeito deste nosso querido desenhista e pintor: " Luiz Ernesto há alguns anos desenvolve um competente trabalho de desenho e , agora, serve-se da pintura para obter os resultados que o desenvolvimento de seu trabalho solicita. A pintura aqui coloca-se à disposição do gráfico, do desenho; ela aceita a ordem da forma. Textura, cor, matéria, insere-se como elementos reforçadores do humor e da ironia que tais trabalhos provocam.  O trabalhos de Luiz Ernesto opera nesse sentido:
 

Aí está sua obra Relação Platônica.

Continuando as palavras de Lontra Costa a respeito do artista: " O trabalho de Luiz Ernesto opera nesse sentido, a tela abre-se como uma janela que revela uma situação aparentemente banal, porém insólita, em sua essência. Ela incorpora, sem pudores, o ilusionismo, o abrir-se para uma outra história, captando no registro fotográfico o momento da ação; A pintura dispensa o autoritarismo do objeto que se instaura diante do nosso olhar, apresentando sua história particular. Ela opta pela aceitação do falso, pela ideia de sua não existência corporal a partir da ilusão da superfície: ela escapa do raciocínio específico do mundo real e invade o território das coisas que representam a realidade. A tela como elemento cinematográfico"
 
 
Outra obra de Luiz Ernesto exposta no Museu:
 
 
 
Há sempre algo poético em suas obras.
 
 


Assim foi nossa visita a esta Exposição que sempre nos informa, deleita e enriquece.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Lampejo


 

Maria J Fortuna

 

Estou, nesse momento, dentro do que importa.  Longe estão as guerras que ferem o planeta. A paz acorda em meu coração como o voo dos flamingos num céu muito azul. Não há mais conflito em meu ser e todo o acervo de coisas ruins se transforma em melodia. Estou diante do  meu eu verdadeiro. Percebo no vazio de minh‘alma a germinação da pureza original.  Então me sinto Eva, recém-criada, abrindo os olhos para uma Terra onde luz e trevas se encontram harmoniosamente.
Não existe doença, rios poluídos, usinas como a de Belo Monte no velho rio Xingu, sacrificando o curso natural das águas.  Os peixes bailam no líquido precioso de outrora,  alimentando os povos ribeirinhos. Tudo paz e tranquilidade... Dentro de mim todas as montanhas são preservadas e os verdes dos campos se harmonizam com as nuvens celestes ,  que se movem sem preocupação no imenso cenário azul. Aqui estou eu sem nenhum apelo à divisão, escutando  inteira os rumores do mundo, sem me envolver com eles.  Tudo é lucidez. Toco a realidade do todo.
Agora posso estirar as mãos como um passo de dança e pegar um pincel. Mergulho as cepas na tinta branca e cubro a tela suavemente, com toda música que vem do coração. Não há porque manchá-la com pensamentos escuros. Hoje prefiro o rosa que se mistura ao verde e ao índigo e de lá sair uma flor completamente nova, como este momento que me traz o suor da alegria!
Respiro paz... As ondas do mar na Ilha de São Michel banham meus pés com delicadeza e eu consigo serenamente sair dali, com eles molhados,  ao brilho das pequenas ondas que vão se formando e refletindo a luz solar num tapete prateado. Tudo é beleza... Tudo é transformação, evolução, caminho...
Minhas mãos estão molhadas de argila e moldam o ser tímido e corajoso que mora dentro de mim. E me vem na lembrança o  primeiro impulso amoroso de quando, pela primeira vez, olhei para os ternos olhos da minha mãe e ouvi suas palavras como canto,  saindo de sua boca abençoada, confundindo-se com meu primeiro choro.
Hoje todos os castelos acendem suas luzes. E trazem a claridade abençoada da choupana mais simples.  O  sopro do amor que não conhece passado ou futuro,  libertou os fiéis da Inquisição. Dentro de mim a bem-aventurança de sentir, por um instante,  que não há maldade sobre a Terra... Não há ditaduras no planeta. Ninguém molesta ninguém. E a violência  murcha feito folha de fumo que o caboclo aproveita para  fazer um cigarrinho de palha
É tão imenso o amor que sinto neste momento... E o êxtase por ter me encontrado assim tão nua, abraçando minha própria sombra, num ato de perdão pela própria   imperfeição humana,  na minha vivência  de todos esses anos de existência desde que fui concebida.
Há uma aceitação plena do movimento do Criador e sua Graça se destila em cascata redimindo o mundo. Não vejo o caminhar invisível e determinado das horas. Apenas ouço a música de mim mesma já sem solo, mas em comunhão com a Energia Maior que nos atrai para o centro, onde fica a morada da Paz.
Não há mais o que dizer. Os pássaros despertos vão aos poucos ruflando as asas  como as pombas do soneto  de Coelho Neto. E todo mundo nesse momento, torna-se poeta! Há uma redenção infinita do planeta e a chuva agora cai em terras nordestinas. Não há secas.  A regeneração da Terra aí está.  E os desmandos provocados pelo homem tornam-se sem efeito e  novas sementes brotam.  Não há mais desertos, exceto aqueles que sempre existiram, para que a gente, mergulhando neles, reencontre sempre a verdadeira pérola branca do nosso ser enfermo que se converte em sadio.  Os mongóis podem viver em seus iglus tranquilamente. Há água para se beber. E a mais importante delas é a que nunca mais nos deixará sedentos.
Aos poucos vou saindo desse estado de Graça, mas com a luz verde da esperança, para que eu retorne o mais breve possível a meu verdadeiro eu e que seja mais que um lampejo!

 

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Artes e artes faz sete anos!


 
 
                 Em fevereiro Artes e artes fez 7 anos! Não posso deixar de agradecer a todos que visitam este blog que comecei com tanto carinho. Devo a ele a disciplina que me levou a escrever todos esses anos e a alegria de estar comunicando algo aos leitores, na minha forma de expressão.
                Agradeço a participação daqueles que escreveram comentários. Fato raro. Muitos me dizem que desistiram porque é difícil postar no blog e enviam por e-mail, o que me dá muito alegria por não terem desistido. Os comentários são meus maiores incentivadores!
                 Agradeço também aos leitores de outros países como França. Estados Unidos, Suíça, Itália, Portugal, que sempre estão registrados em minha estatística diária.
                Espero produzir bons textos e divulgar mais a arte da pintura, escultura , cinema e outras, no que tenho estado em dívida com meus leitores e amigos artistas e outros.
                Falando em aniversário, posto hoje uma crônica que escrevi há uns anos atrás e que foge ao meu estilo habitual de escrever, mas que aí está para ser lida comendo brigadeiros.

Jogo de Paciência


 


Maria J Fortuna


Outro dia, eu estava numa festa de aniversário de criança.  Logo que cheguei ouvi os sons da música misturada aos das falas e risos. Dali há pouco eu estava tonta! Pensei como iria aguentar uma  festa tão barulhenta! Como não conhecia quase ninguém, após cumprimentar o pequeno aniversariante e família, fiquei num canto,  sem saber o que faria dali pra frente... E comecei a observar  a fisionomia de alguma pessoa em volta.  Mas como  o barulho  estava ensurdecedor ,  não dava para conversar com alguém conhecido ou não, “fechei-me em copas” e, com o tempo, quando vi que o rebu não parava,  comecei a fazer o seguinte joguinho: olhava para o convidado velho e imaginava como ele teria sido quando jovem ou criança; olhava uma criança e a imaginava adulta ou já  velha. Fiquei muito tempo nessa... E as pessoas nem desconfiavam o que estava acontecendo por trás dos meus óculos.  Isso costuma acontecer  quando me sinto enfarada de algum lugar e quero voltar pra casa.  Nesse jogo de vai e vem, eu me projeto nessa ou naquela pessoa e começo a sentir  alegria, tédio ou cansaço...  O que não é mais surpresa para mim.
 

 Que forma mais medíocre para passar o tempo pensei. Por que não aparece alguém com quem eu possa conversar sobre algum assunto interessante?  Mas com aquele barulho quem queria conversar desanimou. Pessoas conhecidas e desconhecidas desfilaram em minha frente. Cumprimentavam, sorriam  e ficavam de um lugar para outro aqui e ali.
Enquanto isso a mãe da criança, um menino que estava completando cinco anos, dividia-se entre receber e manter alguma conversa com os convidados e atender as necessidades do filho e  seus amiguinhos. E sempre aparece, nessas festas, um tio ou tia espalhafatosa que enche a casa com  exclamações aos altos berros elogiando a festa!    Mas ali nem dava para ouvir o que diziam por causa da música somada aos barulhos de vozes e os gritinhos e risadas gostosas das crianças.  Era divertido ver as pessoas abrindo os braços, gesticulando alegres, distribuindo abraços e beijinhos. Mas com o tempo e a repetição a cena começou a cansar...
Os homens recuados num canto,  conversavam sobre politica e futebol, assunto sempre recorrente nas alas masculinas. As mulheres falando das domésticas e trocando receitas.  Muito aborrecido.

Daí, entre um brigadeiro e outro,  avancei no jogo “adivinhatório”  e comecei  o ensaio sobre qual é a profissão das pessoas que ali estavam.... Aquele tem jeito de advogado... Se tiver um dentista aqui vai ser difícil adivinhar, pensei.  Eu nunca identifiquei, até hoje,  um dentista...  Mas com certeza aquela é funcionária pública, não sei porquê...  Mas pode bem  ser juíza, contadora, advogada, sei lá... Aquela moça simpática deve ser do tipo nove do Eneagrama.*Deve adorar festas! 
Sem ninguém interessante que desafiasse o barulho e sentasse ao meu lado para ficar esgoelando o tempo todo e sair dali rouca, o jeito era  voltar a elucubrar sobre as pessoas, mesmo sabendo que isso  não leva a nada. Só pra passar o tempo...  De vez em quando, aparecia alguém interrompendo meu “jogo”,  para me elogiar ou tecer um comentário aos berros,  a respeito do que eu teria feito na pintura ou  literatura.  E  aproveitavam para perguntar se minha filha estava indo bem no casamento e se eu já tinha neto. E voltavam a deambular pela sala.
O tempo passando, a música sempre altíssima machucando-me os tímpanos, salgadinhos e doces enchendo as bochechas e  eu ali,  bebericando uma cervejinha que milagrosamente apareceu naquele canto.  Foi a festa! Mal acabava de tomar um gole, o garçom enchia novamente o copo. E eu na adivinhação...    A bexiga começou a reclamar. O jogo agora era adivinhar  o signo dos convidados... Aquela, por exemplo, deve ser geminiana. Olha como é comunicativa! Aquele com certeza é de peixes:  quieto, introvertido, com ar sonhador. Identifiquei vários sagitarianos e um canceriano. Aquilo de ficar classificando as pessoas por categoria zodiacal começou  também a  encher-me o saco!
Mas acabei me aprofundando no jogo do passatempo... Afinal já estava no terceiro copo de cerveja...  A pergunta era: Quem estava verdadeiramente feliz naquela festa? Sem dúvida as crianças. Mas tem gente mascarando preocupação com sorriso amarelo... A moça ao lado está doida para ir embora, feito eu. Olha só a cara... Mas o filho está tão animado brincando de pula-pula... Aquela adolescente deve estar morrendo de excitação. Não para de lamber a orelha do namorado. Aquele outro de chapeuzinho de aniversário parece um menino, talvez o adereço infantil tenha lhe soltado a criança que existe dentro dele. Parece...
Enfim os Parabéns! Graças a Deus! Todos reunidos para ver o garoto soprar as cinco velinhas! Depois o corte do bolo, que estava uma delicia! E, finalmente, o alívio  de pegar a bolsa, dizer tchau para todos e  voltar pra casa e dizer a mim mesma: nunca mais quero ir a aniversários barulhentos!  Nem só, nem acompanhada!  Seja de adulto ou criança!  Ficar inventando  jogo de adivinhação  pra passar o tempo não dá.  Só muita paciência!

 

O Eneagrama (do grego Ennea = nove e grammos = figura ou desenho) é um antigo sistema de sabedoria, criado há cerca de 2500 anos (autores situam sua origem entre 3.500 e 2.000 anos atrás), provavelmente no Egito. Seu conhecimento foi mantido sigiloso durante muitos séculos sobre os nove tipos de caráter.


 

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