segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Sementes


Maria J Fortuna
Quando escrevi A sementinha que não queria brotar, antes de deitar a ideia no papel, passei por alguns momentos de angústia, colocando-me no lugar dessa personagem principal de uma história de amor, morte e vida. Ou seria aquela minha própria história? Neste caso, coloquei a sementinha como protagonista dos meus próprios sentimentos. Ser para brotar; brotar para ser e o risco de viver! Para os que não a leram, a estória infanto-juvenil gira em torno de uma semente que procura sua própria identidade. Tem medo de nascer e crescer sem saber, na verdade, quem ela própria é, e se seria aceita por si mesma e pelos semelhantes, caso tenha sido modificada geneticamente. Que tipo de flores e frutos daria ao mundo se isso ocorresse? Aceitar-se-ia com tudo ou pouco do que poderia dar de si mesma e aos outros? Quais os segredos genéticos que traria em suas raízes? Como seria a revelação desse mistério? Que terra é esta em que estava inserida? Uma coisa era certa: não poderia deixar de ser quem era: a causa do que viesse a acontecer dali por diante, mesmo que oculta, pequena, frágil, cheia de dúvidas, frente ao grande Desconhecido. O movimento da vida. Mas... Teria potencial de superação ao deparar-se com cada obstáculo que estaria por vir? E qual seria sua reação diante das inevitáveis tempestades que, naturalmente, ocorressem na Terra?
Dizem que as oliveiras tem o dom de aguentar a seca mais terrível, assim como a flor do deserto que se chama Rosa de Nazareth. Exemplos de resistência quando tudo parece adverso ao nascimento e crescimento da flor que leva esse nome. Ela se fecha quando o terreno não é propício para seu abrolhar. Fica anos ali, dentro de si mesma, até que o clima lhe favoreça. Assim deixam-se brotar e crescer centenas de seres humanos onde a maioria das pessoas nada tem a ver com amor ou compaixão. São oliveiras da vida, que acolheram o Cristo em seus jardins quando as nuvens negras lhe indicaram o caminho das tempestades. Foram feitas para resistir e acolher. E passamos a vida indagando quem somos, como a sementinha que tinha medo de brotar. Crianças abrolham por ai, embaixo das marquises nas ruas das grandes cidades, entre espinhos, apesar de tudo. Muitos são filhos de outras crianças. No entanto, outros recebem bom adubo e crescem sob os cuidados da mãe que os ama antes de ver a luz do sol pela primeira vez. Essas serão arvores felizes, que se cumprem e encantam as estações. Mas, e os brotos espalhados pela cidade, sem teto? Em que se transformam enquanto o tempo deles busca vencer sua interminável maratona? Como serão suas flores e frutos? Posso dizer que muitos se identificam com o estado de semente que nada sabe a respeito dela própria e nem do que irá acontecer. Uns desabrocham em bons terrenos, outros em terra árida, que exige tudo do seu potencial. Uns são regados pelo amor ou compaixão do próximo, outros permanecem na aridez afetiva.
Em tempos de tempestade, grandes inundações que ocorrem a partir do pranto interno de cada um, acabariam por destruir a flor da esperança? Não foi o que aconteceu na história... O menino regou com suas lágrimas a semente e, então, amor e compaixão ajudaram-na a brotar. Então ela disse sim, apesar de tudo. Apesar de toda a dificuldade inicial de interpelação desse ser com outros seres. Na aceitação incondicional de si própria. É assim a realização do nosso potencial genético herdado de milhões de ancestrais. Que transporta, dentro de si, outras tantas sementes protegidas pela própria seiva. São tantas as perguntas... Mas mistério é mistério... E obra de arte que não tem mistério não penetra para sempre dentro de nós como a noite estrelada de Van Gogh ou o sorriso da Gioconda de Da Vinci. E tudo parece tema inesgotável!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sobre A convidada especial (2001)

Esta crônica foi escrita há dez anos atrás quando me mudei de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro.
Hoje por uma especial lembrança de minha mãe, estou novamente publicando.

A convidada especial



Maria J Fortuna


Depois de trinta anos em BH, voltei ao Rio de Janeiro, onde passei minha infância. Por aqui, já faz um tempinho que estou recuperando o sentido das coisas que me cercam e o significado delas. As circunstâncias vão empurrando a gente como uma bola de futebol num campo lotado de jogadores ganhadores e perdedores. Um jogo que não acaba nunca! Até que mudemos de campo... E aí entra o que absolutamente não conhecemos. Mas tenho um fiel propósito de ser coerente com o que sinto e penso, até que aconteça a mudança definitiva para o campo de lá, onde um número significativo de parentes e amigos estão existindo. Então arrumei, com carinho, meu novo quarto em casa da tia idosa.

Fiquei tentada a convidar algumas pessoas para a inauguração. Só que me lembrei de que aqui não tenho mais amigos próximos. Os que tinha quando jovem já se casaram, mudaram e não deram mais notícia. De repente,quando eu estava caminhando na Rua das Laranjeiras, pensei numa pessoa que não faltaria ao evento: minha mãe! Que importa se já está vivendo no campo de lá. E daí? Fácil para mim, vê-la com aquele vestido, cuja estampa parecia o papel que envolvia o vidro de Sal de Frutas, um remédio usado contra azia e dor no estômago nos idos anos 50 do século passado... O vestido tinha um fundo preto com florinhas coloridas. Minha mãe tão sorridente, magrinha, sem asma, pele de jaspe, lindos cabelos castanhos soltos, olhos bondosos, usando aquela meia, quase transparente, com a costura aparecendo atrás e que desfiava toda hora. E ela nem reclamava... Sapatos de saltos quase baixos e uma bolsa de couro, sempre combinando com os sapatos. Viria com sua sombrinha de cabo madre-pérola, com os lábios vestidos com discreto batom vermelho, que ela usava só em festas familiares. Não comparecia a nenhuma outra.Fiquei pensando como é difícil aceitar as maldades do Tempo! Ela teria quase cem anos agora. Sou, além de filha caçula, um rebento nascido tardiamente para aquela época. Uma filha temporã, de uma gravidez escondida como se fosse a de uma menina moça que se tornara mãe precocemente. Mas era por vergonha de ter mais um filho em idade mais avançada, com o marido desempregado durante a feia crise pós guerra. Com isto, tive-a por menos tempo que os outros filhos, que eram três. Ela iria envolver meu quartinho com seu perfume de alfazema, misturado ao pó de arroz cheirando a flor de maçã. O privilégio de sentir este doce perfume não era reservado apenas aos que a beijavam na face. Era como se incensasse todo o ambiente de uma forma mágica. Manha gostosa de tudo que cheira a mãe. Por fim, ser abençoada pelo gesto prazeroso do seu abraço! Eu me sentiria como envolta em lençóis de cetim, tal a maciez de sua pele!Sentaria na cadeira de honra - a que tem almofadas bordadas de carinho - iria desfiar um longo rosário de elogios bondosos a minha humilde decoração. Seus dedos suavemente mexeriam com meus cabelos, naquele gesto gostoso que sempre precedia a célebre frase em que ela manifestava, delicadamente, sua estranheza a meu respeito:“

- Gostaria tanto de saber o que se passa nesta cabecinha....”

Tenho uma cama confortável, um móvel para computador em que farei todas as viagens que meu coração pedir. Desde ver fotos antigas, até escrever crônicas e poesias. Faz parte ainda do meu pequeno espaço uma estante com delicadas estatuetas de anjos, um porta CDs que, em sua maioria, são de músicas clássicas e MPB, e muitos livros. Há uma janela que dá apenas para a parede de outro prédio e é só. Não cabe mais nada!De qualquer forma, rompendo as cortinas do tempo, numa visão surrealista, minha convidada de honra acaba de chegar! O abraço é longo, saboroso, acolhedor, apertado, sentido e saudoso! Minha mãe, cheia de encantos, ilumina completamente meu pequeno quarto. De um jeito tal que aqui só cabe felicidade!

Quem disse que o amor não existe? Quem disse que ele não viaja no tempo e se desloca anos luz ou mais que isto, para despertar tudo de bom no coração da gente? Quem disse que aqueles que vivem em nossas lembranças são fantasmas? Quem disse que um grande desejo de encontro se realiza apenas fisicamente? E quem disse que não podemos receber a flor de quem amamos?

Eu e minha mãe dançamos ao som de uma valsa, pisando medos, mágoas e cupins de receios mal fundados. Eu me sinto pequenina em seu regaço, como sentia quando me fazia dormir. Eu lhe digo que o tempo não é tão mau, ele me espreme, cada vez mais, para que nosso encontro aconteça também do lado de lá. Aí será minha vez de chegar, mas não como visita. Pouco quero saber das maldades do senhor Tempo, que a levou tão cedo para longe de mim. Agora ele não existe. Ela está aqui, acarinhando meu mundo e dando-me notícias de Deus.

Pronto! Meu quarto acaba de ser inaugurado!

sábado, 14 de janeiro de 2012

http://precesemcaledoscpio.blogspot.com/

Consciência Alimentar












Maria J Fortuna

Vi uma criança de colo, no supermercado, comendo um saco de batatas fritas. Mergulhava a mãozinha no saco forrado por uma folha de alumínio, fazendo aquele barulhinho irritante. E suas bochechas ficavam salpicadas de sal. A mãe fazia compras para casa. No balcão do caixa, estavam as mercadorias compradas pela mãe, para suprir sua despensa. Então, eu vi talvez um quilo de carne vermelha, três garrafas de óleo de girassol, alguns sacos de miojo de diversos sabores, umas três caixas de leite, algumas garrafas de Coca-Cola, poucos legumes e frutas. Ainda, pacotes de gelatina, arroz branco, feijão fradinho.
Como sempre acontece, a tristeza invadiu meu coração. Lembrei-me de quantos obesos vi pelo caminho. Dos hospitais repletos de pessoas com câncer, das pessoas com fibromialgia e doenças cardíacas, dos hipertensos, ainda jovens, e pessoas cometidas de outros males, que ignoram o que está se passando no planeta. Não foram condicionadas desde a infância a ingerir alimentação sadia, ou foram informadas, mas não processaram o que aprenderam tardiamente. E daqueles que não tem condições financeiras para comprar comida sadia, sem agrotóxico, e se entopem de alimentos cheios de sal, carne bovina ou suína, sem saber a procedência, guloseimas cheias de açúcar, e os que comem carne de ave e ingerem um arremedo de galinha, pato ou peru... Ignoram que tais animais são continuamente torturados para produzir mais ovos e ganharem mais peso para o abate.
Pensei, também, de quando me conscientizei a respeito da importância da saúde do corpo, depois de duas pneumonias e oito cirurgias. De como desrespeitei os limites do meu corpo e ignorei seus milagres. Como demorei a dar importância ao mais precioso da minha existência na Terra, responsável pelo bem estar que traz equilíbrio e harmonia. De como deixei de dar graças pelos legumes, frutas e verduras que a terra me oferece com tanta gratuidade! De como meu corpo lutou para chegar até aqui contra todos os venenos que ingeri. Lembrei-me da minha fase de alcoolismo e fumo, conjugados, todas as vezes que encontrava a Turma. E de que preciso, agora na terceira idade, dar mais repouso a este punhado de ossos, músculos, nervos e órgãos que, pelo andar da carruagem, já estão bem mais frágeis, mas que guardam um espirito tão forte e rejuvenescido como nos anos de infância e mocidade. Acho que este é o maior desafio da velhice: o corpo cansado, enrugado, menor, guardando um espirito ativo, cheio de curiosidade, bem maior do que dantes.
Então, resolvi que vou começar a batalha contra tudo o que fiz com ele, meu corpo, no passado, procurar uma boa nutricionista para ajudar-me no processo de restauração, antes que minhas células sigam o destino daquelas dos meus antepassados, que por sinal comiam comida mesmo. Então estou indo, sem ligar muito por estar um pouco acima do peso, pela altura, mas com essa proposta e enorme preocupação ecológica, procurar Luciana Ayer em fevereiro. Isto depois que assisti ao seu Seminário na UNIPAZ (Universidade da Paz). Esta moça corajosa, de um conhecimento profundo do que significa a consciência alimentar, deixou-me impressionadíssima com seu jeito peculiar de desmistificar tudo o que não é comida e que nós, seres da Terra, estamos ingerindo. (Deixo abaixo endereço de um site que contém vídeo de uma de suas palestras).
Porque somos um universo e não percebemos. Todo respeito a este veículo que carrega nossas emoções, sentimentos, capazes de nos tornar cada vez mais quem somos.
Tenho me trabalhado muito para não deixar que a tristeza tome conta de mim, quando vejo uma criança comendo um saco de batatas fritas industrializadas e outros tipos de “alimentos” que agridem o corpo e dificultam a manifestação da alma no mundo, levando as pessoas à morte prematura. Não há como querer controlar o mundo, mas é bom fazer nossa parte.


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Arrogância



Maria J Fortuna











Concordo, plenamente, que a arrogância se deve ao pecado original. A partir daí, o caos se estabeleceu e o espírito do belo anjo Lúcifer passou a perturbar os que vivem na Terra. A unidade com o Criador foi rompida e continua a fazer vítimas na figura dos ditadores do mundo! A linha da vida, que leva à infinitude, se partiu em vários pedaços e ficou cheia de pequenos nós, acrescidos de cerol - aquele grude de tapioca, com vidro esmagado, feito para cortar a linha dos papagaios. Assim acontecem, aqui e ali, as tentativas de corte aos vôos das utopias, ideais e sonhos dos que tem nostalgia da unidade perdida.
Na convivência do dia a dia, quando o ser humano se torna arrogante, empina o nariz e, numa postura de peito de pombo nem sempre visível, acha que pode gritar em alto e bom tom, o que lhe vem à cabeça, às pessoas mais tímidas e retraídas. Não interessa o que tem a dizer essas pessoas.
Pisar no pé de um arrogante é coisa muito séria porque, apesar de sua resposta ser sempre previsível, o interlocutor nem sempre está preparado para segurar o bafo azedo de agressividade que o atinge como terremoto e não dá espaço para explicações. Afinal ele tem sempre razão.
A marca registrada dos grandes Mestres tem sido a serenidade. São tolerantes diante da ignorância humana. Sabem que não sabem e não tem o mínimo interesse de coibir quem quer que seja.
Perdi um grande amigo que se dizia meu irmão, por causa do seu estado de arrogância, na ocasião em que nos vimos envolvidos num conflito. Por duas vezes ele, de forma prepotente, disparou contra mim palavras pesadas, mal cheirosas, destemperadas , que eu não consegui revidar. Apesar de amá-lo muito, não tentei uma reconciliação, porque passei a não suportar seus ataques de demiurguice. Esta é uma forma de mostrar aos outros que são poderosos, escondendo dentro de si temor e insegurança. Apesar de que o arrogante sabe perfeitamente onde ele pode exercer o seu “poder” e, assim, ficar cada vez mais sozinho....

Quem sou eu

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Sou alguem preocupado em crescer.

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