sábado, 27 de junho de 2009

O padre cantor





Maria J Fortuna

Sempre fui muito sensível a fragilidade humana e animal diante da ignorância existente em nosso planeta, entregue a incompreensão e a violência! Sempre fui contra guerras e touradas. Imagine a pessoa que, transcendendo ela mesma, se expõe por algum motivo superior - amor e coerência – ou mesmo por vontade de usar seu potencial, a este mundo cheio de conflitos? É como um pássaro de plumagem de cores diferentes e por isto agredido pelos demais! O que ousa viver em coerência com sua verdade interior paga uma enormidade de preço, porque o mundo julga e sentencia o tempo todo. Como se não bastasse, o sentenciado recebe um rótulo. O julgamento torna a “má ação” da pessoa na pessoa. Isto é, aquele que comete um deslize, é o deslize, sem chance de ser ele mesmo e sem expectativa de mudança. E as pessoas que aparecem no cenário das mídias, como radio e TV, são julgadas pelo estereótipo que apresenta. São lidas e classificadas por categoria. É o caso do padre cantor que expõe, corajosamente, sua figura.
Durante muito tempo acreditei que o ser humano era racional. Ledo engano! Quem me falou a respeito, de forma inteligente, foi um antropólogo de Belo Horizonte: Dr. Eli Bonini Garcia. Dizia ele que o homem é um ser que se compara. O tempo todo se acha melhor ou pior do que os outros. Dependendo da auto-estima de cada um, julga o próximo como a si mesmo, portanto sem verdadeira justiça. A percepção da maioria dessas pessoas é prejudicada por um julgamento emocional, carregado pela sua indisposição frente aos que costumam “se dar bem”, no bom sentido. Aliás, já ouvi dizer que o padre procura exatamente isto. Fora que pode ser um pedófilo e só quer se exibir para ganhar dinheiro. Assisti ao Cara a cara, programa de Marília Gabriela, no GNT, onde o entrevistado era justamente o padre, que se chama Fábio de Mello. Uma entrevista excepcional! Se as pessoas que se apressam a catalogá-lo assistissem a entrevista, iria mudar alguma coisa? Adivinhem... Claro que não! Qual o interesse da maioria das pessoas destronarem um bode expiatório? Mesmo porque a linguagem era muito filosófica e teológica... Com isso as suposições perversas vão continuar. Se há aprovação, o padre que se cuide... Como ele mesmo diz na entrevista, aí é mais perigoso! Uma vez traído na expectativa de alguma macaca de auditório a coisa fica preta! Já houve até ameaça de morte.
De qualquer maneira Padre Fábio é o novo cantor de sucesso, com muitos CDs e DVDs vendidos. Com sua voz tristonha e melodiosa, vai continuando seu caminho de evangelização, como acredita ser, através das suas canções bonitas. Maltratado pela mídia, invadido em sua privacidade, canta e canta... E eu fico ali pensando que é inútil detê-lo. É seu caminho, apesar de todos os riscos. Foi isto que escolheu.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A verdade é como azeite...


Maria J Fortuna

Chega a ser deprimente assistir às afirmações do velho Sarney na TV durante o Jornal da Globo: " A crise do Senado não é minha, é do Senado!" Ora, meu senhor, os brasileiros e principalmente os maranhenses, estão cansados de ouvir mentiras e ver sempre o mesmo espetáculo: políticos com suas máscaras de homens honrados e seus “atos secretos”, negando sua falta de escrúpulos e apontando-a para os outros! O “erro técnico” vem a calhar naquele velho ditado que diz: a verdade é como azeite, vem à tona! Tenha dó do povo brasileiro, Senador! E não subestime tanto a capacidade das pessoas de cheirar mentiras. Mais de 300 decisões secretas, como nomeações e criação de cargos surgiram de onde? E as oito pessoas nomeadas pelo senhor para cargos públicos muito bem remunerados? Se não fosse o “erro técnico” a gente continuava sem saber de nada... Mas, por mais que a maioria do povo brasileiro sem muita instrução, não tenha uma consciência política bem formada, acho que cinismo demais acaba por revelar as falcatruas dos porões do Senado ou de qualquer outro lugar. E boa coisa nunca é.Mas, onde está a indignação do brasileiro? Sou uma das assistentes sociais aposentadas pelo ex INAMPS e, como durante trinta longos anos trabalhei na área médica, acabei por aposentar-me nessa Autarquia que, em termos salariais, é tão precária como a situação da saúde no país. Apesar de ser uma das Previdências mais caras do mundo, a arrecadação para a saúde não é só para este Ministério, o que somado ao péssimo estado da saúde de uma população que come mal, portanto adoece muito, acaba por pagar pessimamente seus funcionários. Tem mês que um profissional gabaritado, com curso superior e trabalhando tantos anos para o governo, como no meu caso, o salário não chega a R$ 2.000,00. Enquanto o neto do Senador Sarney, com apenas 22 anos , foi nomeado com o salário de R$ 7.600,00, pode? E como esse jovem, muitos outros “afilhados” faturam o dinheiro do povo! Eximir-se de toda responsabilidade pela desmoralização completa por que passa o Senado, não convence mais ninguém. Resta a solução apresentada por Cristovam Buarque que recebeu apoio do Senador Álvaro Dias: investigação da Polícia Federal. Será que resolveria?Depois de falar sobre um rosário de providências que havia tomado em sua gestão, tipo o SIAFI (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal), Sarney afirma que não sabe o que é secreto... “Eu não sei o que é secreto, aqui ninguém sabe. Tudo é uma relação ao passado. Não temos nada com isso”. Como ninguém sabe Senador? O que o povo brasileiro ignora é como o senhor ressurgiu na vida pública deste país tão saqueado pelos coronéis do passado que, infelizmente, estão cada vez mais presentes. Nem como ressurgiram Renan Calheiros, Bicalho, Collor, Maluf e outros mais no cenário político. Será só falta de memória do povo brasileiro na hora de votar? Ou estes senhores, de cabelos brancos ou tingidos, contam com a ignorância dos humildes que não tiveram escola para que se tornassem cidadãos capazes de separar o joio do trigo? Sempre a gente se depara com o mesmo problema: a educação neste país tão rico, que apesar dos enormes rombos em “atos secretos”, ainda subsiste, mesmo com dificuldade.De qualquer forma, a verdade é como azeite, vem à tona! O difícil para o povo brasileiro é saber o que fazer diante desta verdade.

segunda-feira, 15 de junho de 2009



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A novela das 8



- Começou a novela! Grita alguém que está na sala.
Dificilmente não largo o que estou fazendo, para assistir à coloridíssima novela das 8, cheia de encanto e magia! O Caminho das Índias é também caminho do esquecimento dos problemas de rotina e outros mais. Todo mundo quer saber o que vai acontecer à protagonista Maia, que sofre feito uma condenada! As mulheres suspiram por Bahuan que, de repente, se torna odiado por ter abandonado sua amada na Índia e, logicamente, como nas novelas que se passam lá fora, veio para o Brasil. É um deleite ver o Raj amando com tanto ardor suas duas mulheres. Tudo o que, não só donas de casa presas ao fogão e à criação de filhos aspiram, mas quase todas as mulheres do mundo: serem amadas daquele jeito... E assim, de repente, o ator se torna objeto sexual de um monte de mal amadas. Fica no pedestal, até que surja outra novela com outro homem belo e sensual. Aí começa tudo de novo...
Sendo a novela de autoria da Glória Peres, sempre há um enfoque sobre algum problema social grave. Em Caminho das Índias, fica muito evidente a questão da discriminação, como no caso das castas na Índia, que se adequa também aos marginalizados do mundo, como os imigrantes, favelados, homossexuais, negros, etc. Há personagens que chamam atenção para alguns aspectos que fazem parte do nosso dia a dia, como no caso do pai que apoia o filho maldoso e transgressor, da fofoqueira que inveja e persegue a Maia, do irmão que segue a irmã e a delata para o pai. Estes são fuzilados por centenas de olhos e falas revoltadas , que jogam nas figuras que aparecem na telinha, todo o repúdio por tal forma de comportamento. A catarse é incrível! Surgem fofocas em torno da novela, discussões e disse que me disse...
Contudo, é hora de esquecer a cara amarrada do marido, desaforos do filho, problemas com a família, políticos corruptos, violência e falta de dinheiro. Sobretudo a solidão de muitos. E, para os mais envolvidos com o destino da humanidade, o drama do planeta, o cara louco na Coréia do Norte querendo explodir o mundo com seus mísseis. Hora de esquecer o desmatamento na Amazônia, a miséria espalhada pelo planeta, inclusive na Índia, onde se passa a novela. Fico pensando: Por que Glória Peres, mulher guerreira, que perdeu a filha de uma forma trágica e agora luta contra o câncer, não mostra o lado melancólico da Índia em sua novela? Mas logo vem a resposta: claro que ficariam desinteressantes capítulos inteiros, cheios de miséria , em vez dos sáris maravilhosos que as mulheres vestem mesmo em casa. A decoração incrivelmente rica e harmoniosa da casa dos marajás. Talvez porque aquela família dalit já sintetize todo o drama do excluído, que é o pó dos pés de Bhrama... Enfim, o horário reúne pessoas das mais diversas condições sociais, que se identificam com essa ou aquela personagem. Influenciam assim o vocabulário, a moda e outros produtos de consumo. Sei de tudo isso... Posso parecer infantil, romântica e alienada, mas adoro as novelas das 8! A começar pelos atores maravilhosos, que realmente exercem com seriedade sua profissão. E, para ser sincera, elas me lembram as magníficas estórias contadas por minha mãe, no calor do seu afeto. Tem tudo para eu ficar encantada!

domingo, 7 de junho de 2009

O incenso



Maria J Fortuna

Em setembro do ano passado, estávamos eu e minha prima, caminhando pelas ruas de algumas capitais da Europa meio que com asas na cabeça! Eu, louca para escarafunchar tudo que não havia visto na viagem anterior, perplexa com a incrível visão do belo em cada esquina! A prima, descobrindo o Velho Mundo, tentando esquecer as aflições que a deixaram cansada como a do também velho pai, que ficara no Brasil. Formávamos uma dupla interessante! Eu, deixando acontecer, desligada das convenções, perigando nem saber, em determinadas horas, para onde estava indo... Ela, atenta, preocupada, escrevendo o diário da viagem que eu tentava escrever e não conseguia e, quando acontecia de lembrar, deixava-o cheio de lacunas.
No quarto que dividíamos no hotel, minha prima mantinha-se impecavelmente arrumada. Tudo nos seus devidos lugares. Eu espalhava maquiagem, roupas, bolsas, sapatos em gavetas e armários e ainda no banheiro. Uma loucura! Minha mala era enorme, tinha segredo, cadeado e muitas roupas que seriam usadas conforme a necessidade e só minha prima sabia fechar, com seu jeitinho certo. Ela com mala pequena, programada meticulosamente um mês antes, com roupas que usaria durante toda a viagem, conforme o clima. Não sem antes ouvir depoimentos de amigos e conhecidos viajantes naquela estação de outono e, lógico, pesquisando a meteorologia.
No banheiro, minha prima colocou um incenso, com um isqueiro ao lado. Todas as vezes que uma das duas usasse o sanitário, teria que acender o tal incenso para expulsar os maus odores... Para evitar constrangimento passei a acendê-lo também. Para mim ficou difícil sentir o perfume, que costumava usar para meditar, num momento solitário em que pedimos desculpas aos anjos pela nossa condição humana... O perigo maior era associar, dali pra frente, tão desprezível odor, ao sagrado momento em que eu realizava minhas meditações. Foram trinta dias sentindo o cheiro do incenso chamado “Ângelus” no banheiro! Acabei me acostumando e dizendo a mim mesma que procuraria um perfume bem diferente para os meus íntimos contatos com o Criador. Algo que não lembrasse nem de longe o incenso dos trinta dias...
A prima era excelente companhia e este fato ficou como que algo bizarro, para fazer-nos rir. E a viagem transcorreu sem muita estranheza de uma para outra. Ela foi educada para ser organizada, com grande percepção do que está “sujo”. Haja vista que ao contemplar o castelo de Chambord no vale de Le Loire, exclamou:
- Oh! Mas este castelo está sujinho!
Na minha cabeça voadora, passou a imagem da prima com um enorme balde, jogando água nas torres do castelo e ela suando ao passar um esfregão. O castelo é enorme!
Assim nossa viagem transcorreu muito bem. Visitamos grandes cidades como Paris, Lyon, Ilhas Gregas, Lusern, Éfeso, Porto, onde lancei na FENAC meu livro infanto-juvenil, "A sementinha que não queria brotar", e outras menos famosas. A prima, apesar de organizadíssima, fotografou-me por duas vezes no lançamento do livro, sendo que, nas duas, saí de costas para a posteridade...
Nós duas perdemos, em algum momento, nossas bolsas e nos descabelamos atrás delas. Ligamos o alarme do boxe no banheiro em Lisboa, para saber qual a utilidade do fio pendurado perto do chuveiro , e atravessamos dezena de vezes a linha do tróleibus, sem saber qual direção que nos levaria a Pça de S. Pedro sem falar uma palavra de italiano.
Quando desembarcamos no Aeroporto Tom Jobim ou Galeão no Rio de Janeiro, fomos nos recompor no banheiro da longa viagem de 13 horas de vôo. Adorei jogar água fresquinha no rosto. Por causa do calor resolvi molhar os cabelos, entusiasmada com o frescor da água. Fechei os olhos e fui curtindo estar de volta ao meu país, apesar das maravilhas que vi lá fora. E ponderei que eu viajaria mais vezes com a prima que, devido a seu zelo, não me deixava chegar atrasada em lugar nenhum. Foi um confronto interessante porque, apesar de amigas de infância, não tínhamos o hábito de viajar juntas. Tão irritante a minha bagunça seria para ela como o excesso de ordem de sua parte. Estava assim, já refazendo a maquiagem, quando dei por falta da prima. Quem sabe está lá fora? Pensei. Saí dali, olhei para ambos os lados e nada... Hum... Ainda bem que estamos no Brasil, continuei meu pensamento. Quando cheguei à porta do toalete, cheia de malas, senti um perfume muito familiar vindo do interior do banheiro. Algumas pessoas estavam ali tão perplexas quanto eu. Alguém fazendo despacho no banheiro do aeroporto? Pareciam pensar com seus risinhos... Ou por que disfarçar maus odores... Mas em banheiro público? Pois não era o tal incenso da prima? Exalava tão concentrado naquele lugar, bem mais que nos quartos de hotel, porque ali só tinha uma saida.
Pois foi assim, gente! Até no finalzinho da viagem...

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