sexta-feira, 22 de abril de 2016

Carlomagno

Maria J Fortuna

                 Poucos artistas conseguem encontrar apoio junto à família no que concerne viver de sua arte. Principalmente em décadas passadas. Mas o jovem José Luiz Carlomagno, consciente do seu destino de devoção exclusiva á pintura, resolveu que seria verdadeiro com seu pai, mostrando-lhe o quanto sua alma pedia este caminhar. O pai o ouviu e de forma surpreendente, deu-lhe todo seu apoio. . Um ato de coragem para artistas de todas as épocas. Sonho de todos os que não separam mente e coração dessa forma de expressão de vida em seu tempo. Mas as dificuldades e riscos são muitos, como sabemos. Para aquele jovem destemido desafios foram aceitos com determinação.
                    Foi contratado pela Galeria Borguese do Rio de Janeiro e participou de diversas exposições no Brasil e exterior. Carlomagno já havia concluído arquitetura pela Faculdade Silva e Souza, bem como cursava o último ano de engenharia. Já estava licenciado em Belas Artes e Educação Artística, mas ele sabia que havia algo maior a ser cumprido. Para isso haveria de entregar-se integralmente a sua arte em cada pincelada! Haveria de mostrar a que veio ao mundo e a forma como expressa sua linguagem interior. E só o que vem da síntese coração mais mente, pode realmente gerar algo que se chama amor, no caso amor a Arte!
                   Aí está sua obra, que me encantou desde o primeiro dia que a vi, foi o primeiro dos seus trabalhos que contemplei concluído, pelos corredores da Escola de Artes Visuais no Parque Lage, Rio de Janeiro. Dei com esta chaleira fervendo na grande tela e um senhor magro, de bigode, o mestre Carlomagno, dando-lhe as últimas pinceladas.





 
                    A minha forma de ver trabalhos de arte sempre passa pela poesia. Como nunca pode deixar de ser. E a isso me atenho, dede que, como sempre digo, não tenho competência para tecnicamente criticá-las, mas para reverenciá-las quando sinto verdade e beleza nelas. A chaleira de imenso realismo, embora solta no ar, a fumaça eu sai dela, transportou-me a inúmeras chaleiras do meu passado, e aquela neste trabalho que me comoveu imensamente!  Fez-me sentir até o cheiro do vapor, da água fervendo, a tampa se levantando e fazendo barulho por causa da fervura. Uma chaleira mágica! Isso para mim é poesia! Várias de suas obras o elemento água está presente, mostrando sua preocupação com a sustentabilidade do planeta. “Assim migra para o universo contemporâneo, desenvolvendo uma série artística intitulada “Águas” onde em sua representação estética surpreendentemente neorrealista, mostra a importância, a beleza e a magia desse fenômeno natural para a nossa vida e para o nosso planeta.” Li a respeito do autor. O que na obra de Carlomagno me encanta é a transposição para o objeto a representação de algo grandioso na simplicidade. Sua genialidade é mostrada de forma transparente




                     O que esta coleção de copos pintados com tanta perfeição representam? Qual o mistério que se esconde por trás deles, com água pela metade, sendo que um dos objetos se encontra luminoso e outro com água tão escura? Um desafio para o espectador, mas ao mesmo tempo dentro de cada um que conhece as Escrituras, na fé cristã, vai ficando cada vez mais claro o que representam... São doze copos, no entanto dois são destacados: um pela luz e o outro pela escuridão. Para os que reconhecem que o mistério alimenta nossas almas com seu desconhecido, sabe que aí esta a beleza do existir. Trata-se da mais revolucionária Ceia de Cristo que até então vi por causa do tamanho do mistério incomensurável  na simplicidade de sua representação. Os copos com sua transparência em vidro, em que neles sinto o volume da água, sua densidade na fragilidade do copo ao mesmo tempo. Nós seres humanos frágeis como copos de vidro que podem se quebrar a qualquer instante e derramar seu conteúdo. No entanto a Luz permanece... No desejo de conhecer cada vez mais o Universo da arte que o envolve, o artista Carlomagno fez inúmeras viagens ao exterior, aprimorando seu conhecimento teórico, intercambiando experiências técnicas. Versátil em seus temas, em uma das suas Exposições, dei com esta sua obra, que na verdade tocou-me profundamente:


                    Sua pintura em que representa uma bela mulher seminua se encontra deitada numa cruz, traz a tona o velho conflito entre sagrado e profano. Masculino e feminino. A atmosfera mística, trabalhada com meticuloso cuidado mostra o Espirito Santo, considerado energia feminina, presente no alto, em direção á mulher com o rosto coberto por um véu. Fiquei abismada com a transparência desse véu, o ar despojado da mulher estigmatizada, que na realidade parece estar presa e ao mesmo tempo solta, à cruz. A sensação é de que ela pode se livrar a qualquer momento do sacrifício. Nesta obra vi a versatilidade do autor preocupado não só com objetos que contem vida dentro de si, como no caso da agua fervendo na chaleira, mas também com os seres humanos e seus conflitos.
                    Carlomagno tendo se dedicado exclusivamente ao aprofundamento teórico da Arte, teve a oportunidade de ter tido grandes mestres como professores e orientadores, tais como Abelardo Zaluart, Píndaro Castelo Branco, Onofre Penteado, Quririno Campofiorito e Toledo Pizza.
                    Aí vemos uma pintura recente de sua autoria, em várias tonalidades de cinza e branco com cavaleiros e cavalos em movimento. Não há palavras para explicar a beleza desse trabalho! Exceto que nele senti força, virilidade, dança e poder. Cavalos são animais majestosos, fortes, cheios de energia e muito belos! O autor soube trazer isso tudo para sua tela.




                    E assim caminha um artista que está sempre na busca. Apesar de possuidor de um enorme cabedal de conhecimento e representação da arte pictórica, há mais de quarenta anos, retorna aos estudos práticos e teóricos, frente aos maiores desafios da arte contemporânea. Encontra-se a Escola de Artes Visuais (EAV) no Parque Lage, no Rio de Janeiro, onde desenvolve seu trabalho sob orientação dos professores Luiz Ernesto de Moraes e Bruno Miguel.






                    O que eu posso dizer de José Luiz Carlomagno, é que estou diante de um gigante hiper realista, que na verdade, além de sua belíssima obra, tem um igualmente enorme coração. Foi e ainda é um mestre que dá aulas. Passa para os alunos com muito cuidado e carinho tudo aquilo que recebeu dos seus mestres e que, com muita paciência, vai mostrando caminhos, respeitando as tendências do aluno que vai se transformando em artista no seu atelier.

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