terça-feira, 30 de abril de 2013

Andrea Bocelli


 
Retrato pintado por Maria J Fortuna
Maria J Fortuna
 
 
Gosto de frequentar sebos e num deles, perto daqui de casa, encontrei um show  gravado em DVD  de Andrea Bocelli, quando visitava sua cidade natal na Toscana, Itália, em 1998. Por coincidência, mas preferindo acreditar em “sincronicidade”, eu havia pintado o retrato desse cantor dias antes, usando-o como modelo. A foto foi encontrada numa pilha de revistas antigas. Foi assim que me interessei pelo cantor italiano. Às vezes a beleza está tão ao nosso alcance e, no entanto, entretidos em tantas rotineiras atividades, não a percebemos.  Ela, então, passa rápido como páginas de um livro folheado às pressas, onde a gente nem consegue ver direito a ilustração, quanto mais digerir o texto.   Há quanto tempo ouço aqui e ali, sua bela voz com jeito de outono, derramando notas fortes e melodiosas pelo beco das almas sonhadoras... Vivi às voltas com Pavarotti por muito tempo, e a redescoberta de Andrea se deu na semana passada, quando me assentei num sofá confortável, para iniciar o tal DVD, enquanto respirava fundo para expulsar a tensão que teimava em engaiolar meus nervos e músculos. Então dei com a  luz de outono se derramando pela   sala adentro e tudo se tornou tão mágico e doce!
Fechei os olhos, pensando em ouvir, sem imagem no vídeo,   Melodramma, Romanza imaginando Andrea cantando sem ver a plateia. Depois A te, em dueto com Heather Headley,  que fiquei conhecendo durante a sua  apresentação no DVD. Que coisa maravilhosa! Depois ouvi esta mesma música cantada por Andrea em dueto com Helena Segara, que introduzia alguns trechos em francês. Ele traz para o seu show figuras incríveis como Laura Pausini e a doce e mística Sarah Brightmann.  Quando foi a vez de Besame Mucho reportei-me a minha juventude. Onde no Diretório Acadêmico da Faculdade,  eu flertava com um “companheiro” boliviano, Renan,  que cantarolava esta música  aos meus ouvidos,  enquanto dançávamos de rosto colado nas festas de formatura.  Até o inesquecível Por ti volare, conhecido de muita gente que nem sabe o nome da canção.  Eu era uma delas.  Daí fui longe... viajando  anos luz no tempo em que eu adorava música italiana porque era romântica e os italianos eram lindos!
Por fim, pensei especificamente na obra que eu havia produzido. É um rosto alegre de superação. Admiro muito quem consegue essa façanha! A arte, entre outras coisas, é um canal excelente de expressão! E graças as minhas tentativas nas artes plásticas e do impulso para escrever, não estranhei minha aposentadoria e convivo bem com minha loucura. A arte é um desnudar da alma em busca de beleza! Onde não cabem mentiras, porque nela está contida toda a capacidade que o ser humano tem para se recriar. Para colocar bálsamo nas feridas e tolerar as dores. De extravasar sua paixão e cantar sua alegria e  sofrimento.
Andrea lembra-me a história do Assum Preto, ave  que sem a  luz dos olhos cantava melhor. Mas ambos sabem que não lhes cortaram as asas!
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sábado, 27 de abril de 2013

Recebi este e outros poemas que escrevi, traduzidos para o alemão, que estão sendo  editados por Rosane Zanini. Estou muito feliz de participar de sua Antologia que reúne pessoas de diversos países.
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Postei para meus leitores, em primeira mão.
 
 
 
 
Os meninos
 
Maria J Fortuna


Onde estão os meninos

que enfeitam o tempo?

Ouço suas vozes,

quando o vento corre solto...

Com cheiro de pastilhas de hortelã

sujos de lama fresca da terra

que lhes dá guarida

Deitados na lua minguante

espreguiçam-se no tempo

longe das guerras...

 

Die Knaben

 Maria J Fortuna
 

Wo sind die Knaben,

die die Zeit schmücken, geblieben?

Ich höre ihre Stimmen,

wenn der Wind frei herumläuft...

Mit dem Duft von Pfefferminzbonbons

beschmutzt mit frischem Schlamm

was ihnen Unterschlupf gibt

Unter dem abnehmenden Mond liegend

faulenzen sie in der Zeit

weit weg von den Kriegen...

terça-feira, 23 de abril de 2013

Uma nova amizade



                                                                                                                                                Maria J Fortuna
   
Todas as madrugadas, eu ouvia a música que partia da caixinha encantada de minha vizinha predileta:  Madame De Marbaix! Por que será que, em horas tão preguiçosas, ela dá sempre corda em seu doce relicário? -  Não conseguia dormir bem,  penso eu até hoje.  Certa noite, matutei  em quantas eram as lembranças guardadas naquele  estojo, que eu imaginava de madeira polida, mas podia ter sido  feito de outro material como prata ou bronze, devido a seu ar aristocrático.  Talvez  bons momentos do passado nem estivessem colados no estojo, mas se despetalavam no tempo,  através da música que se desprendia dela e voava, em seu colorido invisível. Mexia comigo sim, de forma tão delicada,  por isso eu não  emitia um resmungo sequer de insatisfação. Nunca poderia chamar a leveza daquele som,  que se repetia todas as madrugadas,  de barulho. Por isso eu não me importava. Afinal, acabava por me embalar, na minha dificuldade em dormir.
Minha vontade era conhecê-la melhor - a dona da caixinha.   Saber dos segredos de sua magra e majestosa figura! Afinal quem era na verdade aquela nobre anciã francesa,  de belos olhos cor de esmeralda, que viera de tão longe e vivia tão sozinha? Quando a encontrava na padaria, gostava de vê-la abrindo a "trousse" onde não havia pó de arroz, mas moedas, para comprar o pão de sua refeição matutina. Caladinha, ela estendia as moedas no caixa, a conta do preço do pão. Colocava a bisnaga comprada embaixo do braço e, silenciosamente, entrava no prédio. Arrisquei algumas vezes um sorriso para ela. Retribuiu com tanta delicadeza  quanto a música das madrugadas. Mas como iniciar a conversa com aquela dama?  Indagava a mim mesma.   Não costumava vê-la conversando com outras pessoas.  Confesso que o que me atraía nela era o jeito fidalgo de ser e o mistério que envolve as pessoas que vem do outro lado do Atlântico. Ou de mais longe...
Um dia, enquanto eu vinha correndo para não perder a rotineira e maçante viagem vertical do elevador, dei com Madame Marbaix ali, ainda mais branquinha, segurando-se na parede.  Sentia tonteiras e então me ofereci para levá-la em casa. Ela estava mais pálida do que de costume, com os lábios arroxeados. Ofegava como um pássaro ferido. Fui buscar um copo com água em sua pequena cozinha, e ela ensaiou um sorriso. Disse poucas palavras com forte sotaque francês e, em agradecimento, convidou-me para um aperitivo na sexta feira às 18 h.
Eu precisava preparar-me bem para atender a seu convite. Para mim, estava diante de uma princesa e para isso teria que me vestir discreta e elegantemente. Talvez comprar uma caixa de biscoitos finos, ou chocolates... Mas se ela fosse diabética? Enfim, confesso que teria que me armar de muita simplicidade para encarar aquele terreno desconhecido.
No dia do aperitivo, a senhora recebeu-me com alegria! Não parecia a mesma que eu costumava encontrar. Deixou-me muito à vontade na sala ornamentada por papel de parede rosa com ramos verdes.  Sentada no macio sofá forrado de cetim, com linda manta chinesa caída nos braços. Um perfume de rosas desprendia-se da jarra no centro da mesa em estilo rococó.
Falou-me de sua vida e do seu grande amor que se fora há vinte anos. Do primeiro encontro dos dois no Jardin du  Luxembourg em Paris, das dificuldades que teve com a filha que a abandonou e nunca mais deu notícias. Do seu grande amor pela poesia de Din Rumi, o maior dos poetas persas. Contou-me dos caminhos que percorreu em busca do Divino e das suas perdas e ganhos.
 Por um momento fiquei ausente do mundo, ouvindo  o  que  Madame De Marbaix dizia ao som do prelúdio da opera Parcifal, de Wagner, comendo  vários tipos de patês, biscoitinhos deliciosos e bebericando doce vinho francês. Tudo ali estimulava os sentidos para a beleza! Meu coração se encheu de imenso amor por aquela criaturinha, já tão idosa, que trazia   belos traços num dos mais perfeitos perfis  femininos que eu,  até então,   havia visto! E  os mais verdes e ainda brilhantes olhos que fitaram os meus.
Realmente não sei quanto tempo fiquei por ali sem me sentir inconveniente. Até que Madame De Marbaix   surpreendeu-me trazendo nas mãos uma linda e transparente garrafa. Tratava-se do caríssimo champagne Cristal,  da Maison Roederer que, como diz o nome, é  mesmo de legitimo cristal! Fiquei perplexa!
- Não tenho mais com quem comemorar datas festivas, falou nostalgicamente. -   Guardava este para retorno de minha filha que não ocorrerá. Então brindemos a nossa amizade!
As taças de cristal reluziram em nossas mãos com toda sua  transparência e beleza! . Naquele momento, lembrei-me da busca do Santo Graal, do encontro dos amantes: Deus e alma,  na caverna do coração, lenda contada pelos sufis, através dos tempos.  Daí a pouco  despedi-me  da nova amiga com um afetuoso abraço.
Naquela madrugada a caixinha de música não tocou. Talvez ela tenha adormecido por causa daquele delicioso champanhe, pensei.  E com o espírito bem alimentado e quentinho, dormi até às 8,30 h. , quando ouvi barulho de vozes inflamadas no corredor do andar inferior. Pulei da cama com mau pressentimento. Vesti a primeira roupa que encontrei e desci. Lá estava Madame Marbaix, sentada no sofá,  ainda com a roupa que usava em nosso encontro, completamente desacordada. Levaram-na para a ambulância e daí não mais a vi.
Eu me senti escolhida por ela,  não só para celebrar uma nova amizade, mas para sua despedida deste mundo. A filha saberia de sua partida? Não procurei saber. Para que? A gente tem sempre muitas perguntas...
Por que tudo isso aconteceu justo comigo? Não sei


sábado, 13 de abril de 2013

A luta continua

Em tempos de luta das minorias  em prol do respeito às diferenças, aqui vai um texto antigo que escrevi em 2009, acrescentando que  "cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é..."

Maria J Fortuna

O conflito

 Aquarela da autora





Maria J Fortuna


Carecia de definição. Coisa que a alma busca toda uma existência. Havia dois homens em sua vida. Pelo menos o fantasma deles. Um era seu pai, símbolo de castração. O outro era Jesus, Homem Deus assexuado. Foi assim que lhe ensinaram. Deste jeito assimilou estes conceitos, mesclados de forte sentimento de dor e impotência diante do macho. Sugou e engoliu isto, junto ao leite de sua primeira mamadeira, já que o seio materno lhe foi negado.
O preço para encontrar Deus era abster-se da vida no sexo. O homem ou era animal violento, ou um ser divino e inalcançável.
Cresceu sentindo dores atrozes, provocadas por esta ferida aberta no coração e no sexo. Sofreu com a auto-sentença: jamais encontraria um ser , espiritualmente hermafrodita, que apenas lhe lambuzasse o sexo e não a penetrasse de forma alguma.
Meninos não brincam com meninas, porque são estúpidos e grosseiros. Assim lhes foram apresentados por suas tias solteironas.
Haveria sempre um véu sutil, aparentemente transparente, entre ela e qualquer homem. Mas havia certo fascínio pelos meandros misteriosos que se passavam no corpo e na alma do macho, que era sempre grosseiro e indecente, mas livre.
Olhava a mão dos homens. Se houvesse aliança, a mão era imunda, indecorosa, tinha licença para percorrer o corpo feminino até as mais proibidas partes.
Talvez o homem ideal estivesse num seminário. Lá os varões eram abstêmios de sexo. Viviam em oração. Sonhavam tornarem-se santos. Dormir com um santo seria sossego para a menina de pernas trançadas para proteger sua vagina e um rombo doloroso. Sofria de repudio a ideia de ser penetrada, mas ao mesmo tempo sentia o hímen como algo que sufocava sua liberdade de ser.
Até então melhor ser virgem como a Virgem, Mãe do Homem que salvara o mundo sem usar seu aparelho genital. O sagrado não podia se fundir ao profano.
Padecia de pecar contra a castidade, o tempo todo vigilante, pelo tema recorrente perturbando a mente todos os dias. Com isto sentia-se pendurada na cruz da autopunição. Não sabia o que fazer com a flor do sexo desabrochando em seu corpo.
Ninguém pensava mais em sexo do que aquela garota! Ou será que suas contemporâneas não viviam o mesmo drama?
Quando criança, vestida de anjo nas procissões, sentada no altar dos santos, morria de vergonha de si mesma, por não ser um anjo verdadeiro. Eles são puros, assexuados, pensava. Sou um falso anjo sujo. Estou enlameando o altar com mau cheiro. Aquilo era um sacrilégio!
Na realidade só tinha permissão de brincar e dormir com as primas da mesma idade.
Era tão incomodo ser mulher que resolveu fantasiar-se de homem. Percorreu com o pensamento às escuras ruas de sua cidade buscando outras mulheres. Assim o fazia seu irmão, que suscitava grande inveja em seu coração. Podiam até ser contaminados por doenças, mas eram livres para procurar aquelas mulheres proibidas. E quanto mais proibidas, mais fascinantes!
Projetava-se nos homens que buscavam as prostitutas que eram encontradas por eles. Descobriu que elas faziam tudo que eles queriam e desgostou-se delas. Mas talvez fosse bom consolá-las no desespero de deitar-se com homens imundos!
A mãe nunca lhe foi modelo. Era santa. Sofreu o martírio da relação com seu pai só para parir filhos. Portanto preparou-se para ser mãe e não mulher. Apesar de temer a dor de botar um filho no mundo.
Motivo de grande vexame foi a primeira menstruação. Sangue quente descendo-lhe da vagina virgem e aquele ridículo absorvente entre as pernas. Enquanto ficava corcunda de tanto esconder as mamas que despontavam rapidamente como no mamoeiro do quintal de sua casa.
Foram muitos momentos solitários de grande humilhação! Por que orgulhar-se de sua condição feminina? O que havia de interessante em ser mulher? Por que despertava interesse dos homens quando passava na rua, apesar de encolher o corpo, procurando fechá-lo todo como fazia uma planta sensitiva? Sonhava que, num passe de mágica, poderia dar sumiço as suas indecorosas curvas. Ver desmoronar todo o trabalho do tempo. O que menos queria era transformar-se em isca fácil para vorazes machos sedentos.
Diante do espelho não podia dizer-se feia. Muito pelo contrário, ela era uma linda e esquiva boneca de carne!
Um dia combinou um encontro com o coroinha da igreja, a fim de acabar com a virgindade mutua. Foram para um apartamento do amigo dele em Botafogo. Mas nada ficou resolvido. O rapaz era incompetente para solucionar o problema. Ele tinha duvidas a respeito de sua masculinidade. E a tal duvida o atormentava, confessou. Tornaram-se cúmplices do mesmo segredo.
Como iria resolver seu próprio teorema existencial? O desfoque total de sua natureza feminina diante do mundo?
Cortou suas lindas madeixas castanhas e vestiu uma blusa masculina azul com jeans e tênis branco. Não era feminina, mas era linda!
Com o passar dos anos outra menina, com o mesmo problema de identidade, tornou-se amiga inseparável. Juntas, descobriram o quanto eram capazes de sentir prazer. Debruçadas uma sobre a outra, cheias de desejo, exploravam reciprocamente seus corpos. Não havia plenitude, mas ternura. Falavam a mesma linguagem e procuravam, no fundo do poço de suas almas, o que poderia completá-las. Meteram-se em buraco fundo. Atoladas nos preconceitos do mundo.
O pai ficou sabendo da relação. Jurou matá-la se a encontrasse com a parceira. A angustia a sufocava. Dilacerava seus intestinos. Com o tempo começou a usar drogas.
Desnutrida, sem sentido para a vida, levaram-na a um psiquiatra. Nada feito. Tentou escapar do mundo de qualquer jeito. Sentia que, com ela, tudo estava errado. Mulher tem que gostar de homem. Mas o que fazer se gostava de outra mulher?
Mas e a família, o futuro emprego, a sociedade de um modo geral?
Depois de longo tratamento com psicotrópicos declarou-se curada. Vestiu uma roupa sensual, calçou sapatos altos, pintou os lábios, recuperou seus longos cabelos e adquiriu uma estranha postura, nada convincente, de que havia se transformado no que os outros queriam que ela fosse.
Não demorou muito para eu ficar sabendo que a garota havia morrido sem encontrar seu lugar no mundo. Os pais choravam, o irmão desesperava-se e os parentes enumeravam suas virtudes e teciam belos comentários a seu respeito. Outros evitavam falar qualquer coisa a respeito do que tinha sido sua vida. Havia vários rostos, várias máscaras. Algumas até bonitas, mas imóveis, como no carnaval de Veneza.
Eu fui ao velório. Ela estava vestida de cor de rosa.


sexta-feira, 5 de abril de 2013

Fish

Fish: Add a touch of nature to your page with these hungry little fish.  Watch them as they follow your mouse hoping you will feed them by clicking the surface of the water.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

A voz que não se cala



                                                                                  Pintura de Maria do Carmo Secco



Maria J Fortuna



Há uma sempre presente e vigorosa voz dentro de nós que às vezes se manifesta em tom imperativo; outras como um sussurro e que, absolutamente, não combina com os desgastes dos nossos corpos. O brado murmurante deste fenômeno é percebido e, às vezes, admitido pelos que conosco caminham pelas estradas do mundo, mas muito pouco confessado a nós mesmos e aos outros. Além do que nem todo mundo alimenta uma relação saudável com esta voz interior. Por mais que ela se mostre presente Talvez porque possa ser interpretada como coisa de místico. Ou de doido.
Nem sempre ela é aceita como nossa própria imagem refletida no espelho, pois emerge de dentro, quando estamos em silêncio, e vive fora do tempo. Enquanto envelhecemos, continua plena, cheia de energia. Um estranho paradoxo! Alguns a chamam voz de Deus; outros de consciência, razão, intuição. Não interessa. Não é necessário que estejamos em estado meditativo para que tomemos consciência de sua presença Pode surgir como um  alerta, para nos avisar ou defender num estado de risco.
Para mim é a voz do lado sadio, luminoso do ser. Todas as vezes que meu outro lado obscuro, depressivo, ansioso, entra em ação, antes que eu me deixe levar pelo pânico, ou situação de extremo perigo, ela aparece e me socorre com sua verdade. Não deixa que me identifique com minha própria loucura, que poderia levar-me a situações de risco. Tampouco me põe no colo e acalenta. Pelo contrário, entrega-me a espada e eu duelo com meus fantasmas e, mais das vezes, venço. Se perder aquela luta, ela me sacode e levanta. Fortalece meu eu com seu velho vinho, vindo não sei de que adega, e sopra-me as feridas do coração. Então recomeço, às vezes com imenso esforço, mas seguro novamente a espada e parto para a luta! Para isso, não necessito das minguadas forças musculares, que já trago em mim, corroídas pelo tempo. A voz vai se renovando numa batalha inteiramente interna que parece não ter fim, ficando mais forte quanto maior o desafio! Sobretudo quando o caso é de vida ou de morte. Com o tempo aprendi que o caráter mais vulnerável a dor necessita que se segure a espada, com mais força e firmeza, na luta para viver e continuar seguindo as pegadas da memória das passadas conquistas. Os místicos reconhecem esta voz como a de Cristo interno. Aquela que só é percebida no silêncio da meditação. Aquela  que nunca acaba e continua a renascer em outros corpos num círculo . eterno. Para outros, esse elo vital descansará em um plano de consciência que ele próprio conquistou em sua vida na Terra, e nele ressuscitaremos nos últimos dias.
Para os que não acreditam na força de uma energia espiritual, a voz emudece com nossa partida deste mundo.
Quanto a mim, acho que é difícil admitir que essa força imanente não fique conosco para sempre, transcendendo a morte, pois dela depende nossos relacionamentos, inclusive inconscientes, com todos os mundos. É uma qualidade da alma a que nada se compara. Sua voz é incomensurável e eterna. E nela mora o segredo da esperança.

Quem sou eu

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Sou alguem preocupado em crescer.

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