sábado, 27 de dezembro de 2008

Mulher de 50 ou mais...


Para ampliar clique na figura

Aviso bem humorado

Gente, amanhã tem nova charge! Não percam!

A louca dentro de mim



Maria J Fortuna

Ela não pede licença para fazer-se presente! Sussurra coisas incríveis a meus ouvidos! Não me larga, a danada! Quando menos espero se manifesta. Sai das minhas raízes... Dá medo quando começa a cutucar meus sentidos. Abusa dos meus sentimentos, profana-me o corpo. Eu lhe digo: - Vai embora, peste, me deixa! Mas não adianta. Não respeita tempo de vida na Terra. Instala-se como pensamento obsessivo fazendo-me sentir vontade de abrir a boca e falar o que não devo. Ameaça mexer com a loucura dos outros sugerindo-me inflamar seus egos.
Como seria soltar a louca de vez? A desmiolada aconselha-me a fazer coisas que não tem cabimento! Tem hora que dá vontade de puxar-lhe os cabelos e subjugá-la de uma vez por todas. Mas quem disse que consigo controlá-la? É igual gato: quanto mais se quer prender, mais quer se soltar. Não tem solução. Está sempre no cio... Preciso ignorar suas alucinações. Mas é impossível! Volta voltinha, lá vêm elas...
O máximo que posso fazer é não me identificar com sua visão distorcida e desfocada. Afinal não sei donde vem. Se nasceu com minha árvore genealógica, ou se é coisa do pecado original. Apenas ouço sussurros nos galhos da noite, como se ali tivesse a árvore onde Judas se enforcou. É o que ela mais faz: tentar para que eu caia em pecado de traição a mim mesma colocando-me em situações de risco.
Sem ter nem pra que parte pra cima de mim. Gosta muito dos dias de chuva para me falar de solidão. Diz coisas absurdas de mim mesma. Tenta apagar minha fé e diluir meu amor. Insinua provocações e diminui meu tempo de sono. Depois delira... Vagueia pelas flores e mergulha na lama. Veste-se de borboleta e rasteja como serpente.
Na adolescência pegava-me no colo levando-me a montanha russa dos sentidos... Despencando o trenzinho, causando pânico e orgasmo conjuntamente... Era incrível! Sugeria prazeres infindos, a louca desvairada! Eu ultrapassava normas, feria leis, burlavas vigilâncias. Misturava perfume de amor com hálito de sexo. E, sobretudo, passava por cima do bafo da moral familiar. Aí mesmo que se despia! Sugeria bater no pai e sacudir a mãe e acabar com os irmãos, nas horas de raiva. Não dava para esconder à louca. Ela faiscava em meus olhos e crispava-me as mãos nas mangas do desejo. E quando brotava toda desgrenhada, assim do nada, cantava canções do Chico?
“- O que será que me dá, que me bole por dentro será que me dá?...”
Mas... Devo confessar que não posso deixar que se vá... Não posso! Ela faz parte de mim. Assim como me assombra me joga na ação! Dá sabor sempre novo a tudo que faço e me faz sentir o mel das delicias nos frutos da vida. Preciso da louca! Sem ela como vou temperar meus poemas ou arriscar arrancar alguma forma de uma argila bruta? Preciso de sua força, do seu fogo, de seus delírios, de suas pinceladas ao meio dia e de seu canto no meio da noite. Deixo então que me circule pela corrente veloz do sangue. Sem ela não serei suficientemente lúcida para perceber que a melhor coisa da vida é um pouco de loucura!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008


Feliz Natal para todos os que frequentam Artes e artes, com muito amor e paz nos corações e muita saúde no novo ano de 2009!

O Natal de Jesus

Maria J Fortuna

“Este povo somente me honra com os lábios; seu coração, porém, está longe de mim” (Isaias 29,13)

Foi-se o tempo em que minha família rumava todos os anos no Natal de Jesus para a celebração da grande Missa do galo... Era muito bom! Eu e minha irmã de mãos dadas seguíamos na frente, depois vinham meus dois irmãos mais velhos e, por fim, meu pai e minha mãe caminhando na estreita calçada das ruas pedregulhosas de S.Luis do Maranhão! Era um dia alegre, ao mesmo tempo solene! A gente ia sempre à mesma Igreja – a de S. João onde fui batizada. Durante a Missa meus irmãos tocavam o sino na hora da elevação da Hóstia. Eu morria de inveja! Queria ser menino, de qualquer jeito, para me dependurar nas cordas que faziam o sino badalar!
A Missa do galo era belíssima! A igreja repleta de incenso gostoso misturado ao perfume das angélicas. Tudo era mágico e maravilhoso! Eu fechava os olhinhos e pedia ao Menino Jesus que se tornasse meu amigo, que não ligasse para o fato de eu ser menina. Que por causa disso mesmo, eu o trataria com mais delicadeza. Enrolaria seus cachos louros nos dedos soprando-lhe os olhinhos para fazê-lo sorrir e faria o possível para que dormisse em meus braços.
Os fiéis oravam com muito ardor. Parece que todo mundo tomava banho e vestia sua melhor roupa. Eu me lembro de um cheiro de naftalina misturada com brilhantina. Os homens guardavam seus ternos, de preferência brancos, nos guarda-roupas esperando o grande dia! As mulheres penteavam seus cabelos com capricho. As que eram ricas usavam jóias caras e vestiam seda. Abanavam-se com leques perfumados na hora do sermão.
Depois da Missa vinha à fila para beijar a representação do Menino Jesus que ficava exposto na frente do altar-mor. Para evitar que todos beijassem o mesmo lugar da imagem, a gente osculava as fitas coloridas que partiam das palhinhas do presépio.
Já em casa, ceávamos uvas, passas, nozes, castanhas, maçãs e peru recheado com farofa. Era o maior banquete do ano! Na sobremesa fatia parida. O que aqui no sudeste chama-se fatia dourada, feita com pão dormido, farinha de trigo e ovos.
Depois as crianças abriam os presentes. Só os pequenos ganhavam. Ficávamos ansiosos para saber o que Papai Noel havia nos deixado. Eu queria um bebê recém nascido, mas só ganhava boneca menina de cachos ou transinhas. O que eu não faria para brincar com Menino Jesus!
Lá em casa não tinha árvore, mas havia o presépio que encantava a gente! Passávamos o ano todo guardando pequeninos carneiros, vacas e bois, pastores e anjos para compô-lo. Guardávamos areia da praia para forrar o chão da estribaria onde Jesus foi colocado após seu nascimento. Nós, mulheres da casa, cuidávamos do presépio.
Mais tarde a gente pedia benção aos pais e ia dormir. A festa era tal qual o aniversariante – simples, despojada de luxo.
Quando vejo hoje em dia a descaracterização do Natal transformado em festa de Papai Noel, dá-me dor no coração... O evento está desfigurado... Pelo que vejo nos jornais da TV, os países do ocidente esbanjam figuras monumentais! Grandes árvores, vitrines enfeitadas, papais noéis gigantescos e um enorme consumo de bebida, comida, presentes, enquanto a miséria grassa num submundo, abaixo da linha da pobreza.
Pouco importa se 25 de dezembro foi ou não o dia em que Jesus nasceu, ou reacender a velha discussão, de outras tradições religiosas, acerca da sua divindade. Pouco importa os que querem transformar o evento numa festa apenas de encontro fraternal entre as pessoas. Nós cristãos cuidemos de ser cristãos e deixemos de lado tanta extravagância! Pois há que resgatar o verdadeiro espírito do Natal de Jesus. O mundo está precisando deste reconhecimento. Afinal como ele mesmo falou: “- As raposas têm seus covis, as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde recostar a cabeça”. Para que tanto luxo e consumo? (Lc 9:57-58)
Que vontade saudades do Natal de minha infância!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Momento poético


Cântico da Alma

Maria J Fortuna

É dia de amanhecer
Momento de despertar
As cordas do meu coração
São tocadas
O fruto torna-se sazonado

Dilatadas pelas emoções
Afinam-se a claridade da luz
Como pupila crescente
Nos olhos da noite que se foi
Devo reverenciar a senhora vida
Nobre dama que mantém meu corpo
E alimenta minha alma!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A convidada especial




Maria J Fortuna


Depois de trinta anos em BH voltei ao Rio de Janeiro, onde passei minha infância.
Por aqui já faz um tempinho que estou recuperando o sentido das coisas que me cercam e o significado delas. As circunstâncias vão empurrando a gente como uma bola de futebol num campo lotado de jogadores ganhadores e perdedores Um jogo que não acaba nunca! Até que mudemos de campo... E aí entra o que absolutamente não conhecemos. Mas tenho um fiel propósito de ser coerente com o que sinto e penso até que aconteça a mudança definitiva para o campo de lá, onde um número significativo de parentes e amigos estão existindo.
Então arrumei com carinho meu novo quarto em casa da tia idosa. Fiquei tentada a convidar algumas pessoas para inauguração. Só que lembrei que aqui não tenho mais amigos. Os que tinha quando jovem já casaram, mudaram e não deram mais notícia.
De repente,quando eu estava caminhando na Rua das Laranjeiras, pensei numa pessoa que não faltaria ao evento: minha mãe! Que importa se já está vivendo no campo de lá. E daí?
Fácil, para mim, vê-la com aquele vestido cuja estampa parecia o papel que envolvia o vidro de Sal de Frutas, um remédio usado contra azia e dor no estomago nos idos anos 50 do século passado... O vestido tinha um fundo preto com florinhas coloridas. Minha mãe tão sorridente, magrinha sem asma, pele de jaspe, lindos cabelos castanhos soltos, olhos bondosos, usando aquela meia, quase transparente, com a costura aparecendo atrás e que desfiava toda hora. E ela nem reclamava... Sapatos de saltos quase baixos e uma bolsa de couro, sempre combinando com os sapatos.
Viria com sua sombrinha de cabo madre perola, com os lábios vestidos com discreto batom vermelho, que ela usava só em festas familiares. Não comparecia a nenhuma outra.
Fiquei pensando como é difícil aceitar as maldades do Tempo! Ela teria quase cem anos agora. Sou, além de filha caçula, um rebento nascido tardiamente para aquela época Uma filha temporã, de uma gravidez escondida como se fosse a de uma menina moça que se tornara mãe precocemente. Mas era por vergonha de ter mais um filho em idade mais avançada, com o marido desempregado durante a feia crise pós guerra. Com isto a tive por menos tempo que os outros filhos que eram três.
Ela iria envolver meu quartinho com seu perfume de alfazema misturado ao pó de arroz cheirando a flor de maçã. O privilegio de sentir este doce perfume não era reservado apenas aos que a beijavam na face. Era como se incensasse todo ambiente de uma forma mágica. Manha gostosa de tudo que cheira a mãe. Por fim ser abençoada pelo gesto prazeroso do seu abraço! Eu me sentia como envolta em lençóis de cetim tal a maciez de sua pele!
Sentaria na cadeira de honra - a que tem almofadas bordadas de carinho - iria desfiar um longo rosário de elogios bondosos a minha humilde decoração. Seus dedos suavemente mexeriam com meus cabelos naquele gesto gostoso que sempre precedia a célebre frase em que ela manifestava, delicadamente, sua estranheza a meu respeito:
“- Gostaria tanto de saber o que se passa nesta cabecinha....”
Tenho uma cama confortável, um móvel para computador e nele farei todas as viagens que meu coração pedir. Desde ver fotos antigas, até escrever crônicas e poesias. Faz parte ainda do meu pequeno espaço uma estante com delicadas estatuetas de anjos, um porta CDs que, em sua maioria, são de musicas clássicas e MPB e muitos livros. Há uma janela que dá apenas para a parede de outro prédio e é só. Não cabe mais nada!
De qualquer forma, rompendo as cortinas do tempo, numa visão surrealista, minha convidada de honra acaba de chegar! O abraço é longo, saboroso, acolhedor, apertado, sentido e saudoso! Minha mãe cheia de encantos ilumina completamente meu pequeno quarto. De um jeito tal que aqui só cabe felicidade!
Quem disse que o amor não existe? Quem disse que ele não viaja no tempo e se desloca anos luz ou mais que isto para despertar tudo de bom no coração da gente? Quem disse que aqueles que vivem em nossas lembranças são fantasmas? Quem disse que um grande desejo de encontro se realiza apenas fisicamente? E quem disse que não podemos receber a flor de quem amamos?
Eu e minha mãe dançamos ao som de uma valsa pisando medos magoas e cupins de receios mal fundados. Eu me sinto pequenina em seu regaço, como sentia quando me fazia dormir. Eu lhe digo que o tempo não é tão mau, ele me espreme, cada vez mais, para que nosso encontro aconteça também do lado de lá. Aí será minha vez de chegar, mas não como visita.
Pouco quero saber das maldades do senhor Tempo, que a levou tão cedo para longe de mim. Agora ele não existe. Ela está aqui, acarinhando meu mundo e dando-me notícias de Deus.
Pronto! Meu quarto acaba de ser inaugurado!

domingo, 7 de dezembro de 2008

Tenho a honra de postar em Artes e artes, a poesia "Giramondo" da minha amiga Rosane Zanini, que recebeu Menção Honrosa no Prêmio Nósside Internacional de Poesia-2008 . Ela é arquiteta e vive em Zürich - Suiça, Rosane além de escritora e poetisa, é doutora em planejamento urbano e regional pela Universidade de Berlim.


Giramondo


“No man is an island, entire of itself;
every man is a piece of the continent,
a part of the main”
(John Donne, Meditation XVII)

Como um peregrino
estou destinado
a viver aquilo que nunca sonhei
a ser alguém que nunca imaginei
a partir constantemente
pois para raízes
me falta o chão.

Se por vezes sorri
foi apenas por ilusão
porque não fui senão
um solitário nômade
buscando auroras
prometidas
a tantos outros
mas não a mim.

Como um andarilho
estou condenado
a viver aquilo que jamais pensei
a ser alguém que jamais desejei
e nem nunca serei
a cair freqüentemente
porque – apesar do desejo –
me habita o medo
de seguir vagando
de porto em porto
sem pertencer a aquele seleto clã.

Se muitas vezes perdi
não foi porque pouco tentei
e o alvorecer, radiante aurora
– como sempre foi e sempre será –
não me despertará.
Porém contudo, um pequeno raio
de esperança luz ao anoitecer segredará:
- Giramondo, em terras estranhas distantes eternamente errante!

------------------

sábado, 6 de dezembro de 2008

Recomendando blog

Pessoal, eu estive num blog tão singelo... tão fofinho.http://neydearteneydearte.blogspot.com/. Vocês vão adorar as poesias da Neyde

A pressão do doutor cardiologista




Maria J Fortuna

- Você viu o absurdo que o Presidente falou na ONU? Indagou-me do nada, o cardiologista que atende tia Lourdes.
Encorajado com minha aparente postura alienada e levando a cliente pra trás do biombo a fim de proceder ao eletrocardiograma, continuou sua fala bem entusiasmado. Acho que confundiu meu silencio com aprovação, só podia ser...
- Que vexame para o país! Este homem ter coragem de falar que a fome é responsável pelas guerras! Afinal a razão está com o Bush, que já deveria ter invadido o Iraque há muito tempo, sem deixar nenhum terrorista vivo por lá.
Fiquei espantada com aquele doutor que trata corações... O homem ia falando... Falando... E minha tia deitada esperando pelo eletrocardiograma que apenas ensaiou começar. E gesticulava para lá e para cá, dando continuidade ao rosário de tolices.
- Vexame, continuava repetindo com outras palavras, como pode um homem sem cultura, representar o Brasil lá fora dizendo esta barbaridade! Onde já se viu? A fome justificando terrorismo! O mundo precisa de paz, mas com um monte de terroristas a serem exterminados? ... Não deveria ficar nenhum vivo! O onze de setembro foi um descalabro! O mundo precisa de uma resposta!
E o doutor estava passando de rosa choque ao rosto vermelho e eu calada, observando e minha tia, quietinha, atrás do biombo esperando o “eletro”.
Em minha mente desfilavam cenas terríveis dos filmes do holocausto judeu. E eu ficava cada vez mais perplexa com o discurso inflamado do cardiologista que é um deles. Eu vi a figura do doutor virar o próprio Ariel Sharon bem gordo, ocupando toda a tela da TV. (nada contra os judeus). E pensei nas atrocidades que rolam entre Israel e Palestina a fora... E a chacina das crianças na Rússia?.. Saddan matando os curdos e Bush os iraquianos. Cabeças sendo degoladas e o nosso doutor de coração, incentivando a guerra e aprovando o Bush como Salvador do mundo! Ali estava a expressão viva do que eu só leio nos jornais. E eu calada... Contemplando o horror daquela situação. E o imensurável absurdo de quem defende guerras e elogia carrascos. Ainda mais de quem, pode ter tido algum parente trucidado pelo SS de Hitler. É de cair o queixo...
De repente o homem já estava salivando muito, com o rosto meio que lilás E eu continuava quieta, na contemplação silenciosa daquela triste realidade. Apesar de que tal atitude já começava a despertar suspeita no doutor. Afinal havemos de convir que aquela situação inusitada em que eu e minha tia estávamos, era como assistir uma peça de teatro do absurdo! Ali deveria acontecer uma consulta médica e não um desabafo tão ameaçador!
Finalmente ele começou a fazer o eletrocardiograma. Mas isto não lhe cortou a mofada fala:
- Onde já se viu isto? O mundo está entregue aos perdedores... Quem diria? Continuava o cardiologista, passando de cara lilás para roxa..
A estas alturas eu já estava pensando no Gandhi. E nos pacificadores como Jesus, vítima de uma macabra engrenagem política e agora sendo usado para fazer política! Pensando em todos os fundamentalistas do mundo! Nas guerras santas, na Inquisição e até nos circos romanos com cristãos jogados as feras! Pensei coisas e loisas...
E o sujeito médico, com o estetoscópio no pescoço gesticulando agora completamente roxo!
A conversa do doutor era de tal forma nazista que não dava nem pra querer romper o véu do absurdo. Então tive a feliz idéia de propor outro assunto, mas adequado à situação:
- Doutor, comprei este aparelho de pressão digital e gostaria de saber como funciona.
Puxa! Foi um alívio!... Finalmente ele entrou no clima da consulta, pensei.
- Hum... Murmurou, depois de um curto suspiro, a fim de se recolocar no ambiente do seu consultório. Vou colocá-lo em sua tia e a senhora observa como funciona.
Foi atrás do biombo onde a velha senhora aguardava pacientemente, ainda deitada, o resultado do eletro. E colocou o aparelho em seu pulso.
- Hum... 12 por 6. Tudo bem! A senhora confere aqui, por favor.
A cor do rosto bem feito do doutor foi voltando aos poucos do roxo, ao vermelho e daí para o rosa choque, depois para o rosa menos forte... Mas ele ainda arfava, ainda estava emocionado com o tema de seu discurso, em que alugou nossos ouvidos para ouvir sua explosão tão insípida quanto inconseqüente.
- Agora, para testar melhor, vou experimentar em mim mesmo o aparelho, falou com autoridade. E sentado colocou o aparelho no seu próprio pulso.
- A minha pressão está... Bem, um momento... Hum... 20!.....
E eu nem fiquei sabendo a mínima... Ele engasgou e não falou.
- Por que estou com a pressão tão alta? E fez uma cômica cara de medo e surpresa Estava suando por todos os poros e repetiu o procedimento por mais três vezes!... E sempre dava o mesmo resultado.
E o rosto do rosa começou a ficar branquinho... O doutor estava passando mal.
Não perdi tempo:
- Pois é, doutor, se eu fosse o senhor não ficava tão emocionado com estes assuntos de violência... O senhor vê sua pressão tá lá encima! Ódio mata, sabia? E desci minha tia da mesa do eletro, finalmente.
Saí dali com uma estranha sensação de vingança. Pra falar verdade eu realmente adorei a pressão alta do doutor!

Mullher de 50 ou mais...


Clique na figura para ampliar

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Julia

Maria J Fortuna

Julia era alguém com dificuldade em se enraizar na existência. Mas tinha um coração inteligente, aquele negado pela maior parte da humanidade durante séculos de história, renegado em prol do poder e ambição.
Por mais que se ligasse as causas sociais, haviam despenteadas horas em que esquecia as pessoas do mundo e navegava em sonhos. Era seu único pecado: excesso de abstração.
Por sofrer de insônia, passava noites em que, desespero a parte, enchia seus cadernos de poesia. Era o que a mantinha viva, apesar do sono no dia seguinte, da fisionomia cansada, mas quase angelical, que a tornava estranha ao grupo da universidade. Este ar de quem não se interessa por frivolidades, de estar em mundo desconhecido, tornava-a carismática, desde que em suas ausências pairava mistério: “onde estará ela agora?”, indagavam as pessoas que a rodeavam.
No momento em que sua existência se desenrolava a crueldade andava solta no Brasil nos idos 1964 - a malfadada ditadura militar.
Julia não tinha competência para entender nem acolher o ódio. Seu perfil tinha traço de resistência natural a grosseria e brutalidades. Quando acontecimentos se tornavam por demais cruéis, refugiava-se na raiz de suas poesias e transcendia no amor as coisas ternas e doces da vida como um gatinho ou uma planta na janela.
Para que se arriscar a ser pisoteada quando em seu coração havia colméia que destilava mel? Contudo abelhas espertas impediam que alguém se aproximasse dela com desrespeito, invasões e maledicência.
Naquele regime militar, torturas eram praticadas em meninos e meninas desarmadas numa luta covarde e desigual. Isto a obrigava sair de seu mundo esquizóide para aterrissar em campo minado pela violência. Mas não conseguia ser agressiva. Havia necessidade de ter paz e estar de volta à liberdade de Deus. Jogava palavras que emergiam do seu inconsciente para colhê-las da memória e fazer delas um arranjo nem sempre perfumado e colorido, mas reconhecido pelas almas mais sensíveis, como expressão do seu ser – a poesia.
Pois foi num desses dias em que ela engrossava fileiras protestando contra a repressão que se abateu sobre o povo brasileiro, que seu sol interior se escondeu por trás de uma nuvem pesada.
Primeiro de maio, dia do trabalho, num dos raros rompantes em sua existência, compareceu a uma reunião de operários sindicalistas e estudantes universitários, no auditório de um prédio em Belo Horizonte. Alguma coisa estranha a seu temperamento crescia dentro de Julia. Pois a cada protesto de um orador mais inflamado, o calor da indignação aquecia seu peito, tomava conta dela que comungava com aquela energia nova e magnífica! Chegou a Levantar os braços com os punhos fechados. Unir-se ao estribilho que brotava da garganta e se transformava em clamor: “– Abaixo a ditadura!”. Espremia dentro de si o tumor da mágoa pela injustiça e transcendia o medo. Unia sua voz a outros com o mesmo calor e esquecia seu caráter de pessoa vulnerável, indecisa e sonhadora.
De repente o tumulto! Uma onda de gás lacrimogêneo penetrou no recinto fechado. Homens fardados, de cassetete nas mãos batiam impiedosamente nos protestantes. Correu para o pátio do prédio e em seguida para o muro que cercava o edifício. Ela e outros jovens companheiros estavam encurralados! De repente apareceu um operário que cruzou os dedos da mão para agasalhar seu pé de proporção infantil. Sugeriu assim que escalasse o muro. Apoiou em seu ombro e foi o que rapidamente fez, em meio à gritaria da multidão ameaçada. Ali no alto do muro viu, por um instante, alguns dos seus amigos gritando e correndo, outros encantoados em várias partes do terreno. Pulou a mais de dois metros de altura, arriscando-se a quebrar os ossos e correu como nunca o tinha feito até então.
Parecia que seu estomago ia sair pra fora! Vomitava uma gosma estranha, enquanto vinha-lhe um choro convulsivo, não sabia de onde, em ondas e golfadas. Do outro lado do muro os militares passavam de dois a dois, com cachorros treinados para atacar. Continuou correndo feito louca com um grupo de colegas para a Praça Raul Soares e ai entrou numa Lanchonete, limpando os olhos com a costa das mãos. Alguns cavalos transportavam homens furiosos que desciam o cassetete em quem se aglomerasse por ali. Em seguida viu um dos companheiros pego pela camisa, com a testa sangrando abaixo do cabelo liso e desgrenhado. Ele lhe jogou um canudo de papel amassado e sujo e foi levado pelos repressores. Naquele momento um soldado segurou-lhe pelos cabelos e arrancando-lhe o papel amassado das mãos. Ela foi quase que arrastada pelos cabelos e jogada no camburão. O que continha aquele papel? Seria um documento? O que queriam que ela confessasse? Como poderia viver dali pra frente atravessada pela lança fumegante da traição. A única coisa que lhe passava pela cabeça era resistir, não dedurar ninguém.
Vou me poupar a mim e meus leitores de descrever o que Julia sofreu no DOPS. Todos nós estamos cansados de assistir violências no lixo televisivo. Mas não vejo noticias do que se passa na alma das pessoas violentadas. Tortura, acredito, é muito pior do que a morte! E não tem nenhuma justificativa para que seja praticada.
Quando finalmente foi solta, parecia qu tinha sido engolida por um buraco negro. Nunca mais foi à mesma. As palavras que alinhava para compor poesia fiicaram congeladas em seu coração. O corpo por muitos anos foi o túmulo e não templo do seu espírito.
Passada uma década daqueles acontecimentos, alguém a amou quando ela ainda tinha suas chagas abertas. Cuidou dela, deu-lhe filhos. Mas não havia em seu, não raro mutismo, aquela expectativa de outrora. Quando ficava absorta em seus pensamentos as pessoas que sabiam sua historia não mais perguntavam “onde ela está agora?” No entanto não resistiam a indagar:
- Quando teremos novas poesias, Julia? E ela respondia sempre:
- Não sei... “Minha alma saiu do corpo, foi embora e nunca mais voltou”...

PS – A frase em aspas foi colocada parafraseando Neusa Ladeira, que em Uma mulher sensível, respondeu no final de sua entrevista: ”quando se é torturado, a alma vai embora. Não volta nunca mais...”

domingo, 30 de novembro de 2008

Olhares









Maria J Fortuna

Quando eu era menina as freiras do meu colégio colocaram na parede do banheiro:

“Olha que Deus te olha
Olha que Ele está olhando
Olha que vais morrer
Olha que não sabes quando...”

Parece que o maior pecado que existia no mundo acontecia no banheiro. Fiquei com medo daquele olhar, que me agredia e congelava a alma. Que parecia vigiar até minha sombra e, muitas vezes, quando eu cometia algum pequeno deslize, vinha à frase fantasmagórica e ameaçadora: “Olha que Ele está olhando...” E ainda dizem que Deus é amoroso... pensava eu. Acho que foi ai que adquiri enorme percepção daqueles que me cercam. Toda revelação está nos olhos. Esta leitura parece esquecida pela maioria das pessoas que acreditam mais no que ouvem do que naquilo que vêem.

Cresci ouvindo dizer que os olhos são janelas da alma. É verdade. Os olhos da minha mãe eram de veludo, como os de Omar Sharif. Olhos bondosos, profundos, cheios de misteriosa forma de dizer que nos amava. Ela sabia transmitir, através deles, a linguagem da ternura.
Já experimentei o toque expressivo do olhar de quem tem um só olho, como foi o de um dos meus irmãos. Traduziam timidez, interrogação e tristeza. Um olho enevoado, mas com vida; o outro, da prótese, era intruso, com pálpebra aberta demais. Um acidente que lhe deformou o rosto levou-lhe o olho esquerdo quando tinha apenas dezoito anos e era um belo rapaz! Daí manifestou psicose bi polar e na fase da depressão tudo que queria era fechar o olho verdadeiro para dormir, enquanto que o esquerdo - o artificial passava a noite inteira fitando o teto. Parece muito engraçado, mas não era.
Já o olhar do meu irmão mais velho era sempre de lado, quase nunca de frente. Era o chamado olhar enviesado. Nunca quis saber o porquê daquele olhar, mas era inocente e eu achava divertido.
Minha irmã tem, até hoje, um aspecto inteligente ao mesmo tempo triste nos olhar que, às vezes, se torna desafiador. Há certa magoa boiando dentro deles, como se tivesse sempre sendo vitima de a uma injustiça eterna.
Meu pai era um homem que se fazia de duro. Era implicante, às vezes injusto. No entanto próximo a sua morte, seu olhar se modificou, desde que nossa mãe foi para o outro lado da vida. Quando entrei pela porta do seu pequeno apartamento exclamou referindo-se a mim: - você está toda iluminada, minha filha. No que percebi pela primeira vez, amor em seus olhos!
O olhar das crianças é transparente como asa de libélula. A visão de um mundo colorido, cheio de bolhas de sabão. Quando eu era criança não havia coisa que me encantava mais do que ver cores do mundo refletido naquelas bolhas! Eu ficava me interrogando por que elas acabavam tão depressa. As crianças, mesmo quando estão doentes ou foram maltratadas, tem olhar interrogativo, não compreendem a violência. Os adolescentes têm olhos de esperança, mesmo com ar de rebeldia
Olhos da maioria das prostitutas denunciam volúpia não consentida pela alma, mas que trazem o pão de cada dia. Olhar embargado, na maioria delas por uso de álcool e drogas, que lhe permitem fugir, mesmo por pouco tempo, de seus corpos alugados e macerados.
Já senti o arrepio de ser vista pelos olhos suplicantes, do ser humano com fome. Não só de alimento, mas de amor e reconhecimento.
Algumas pessoas têm olhar fugitivo. Elas me fazem sentir aflição. Parece que o portador tem alguma culpa prestes a ser denunciada no fundo dos olhos. Talvez escondam alguma coisa até pequena, mas que a auto-acusação velada transforma em grande.
Já me deparei com o olhar de um santo no elevador do Maracãnzinho. D. Helder Câmara estava ali, sorrindo feito uma criança. Olhar que lembrava estrela em céu escuro, anjo azul, nuvem branquinha, amor brincando de roda, simplicidade, despojamento, pureza.
Um dia tentei libertar um preso que estava tuberculoso contaminando os companheiros de cela. Eu era uma jovem assistente social, estagiária. No cárcere os olhares em revolta partiram como lanças em minha direção, quase uniformes! Havia um ar indecente, zombeteiro e debochado no ar. Olhos que pareciam despir punir, cuspir e babar encima de mim. Apesar de tudo, alguma coisa inóspita mexeu comigo. Cheguei a pedir perdão pela boa condição social e profissional que contribuiu para que eu nunca estivesse atrás das grades.
Durante longo período de nove anos, trabalhei no setor de Psiquiatria. A maioria dos “pacientes” tinha olhar vago, imbecil. Outros eram umas espécies de quebra cabeça cujas peças não se encaixavam. Havia o olhar correndo de um lado para outro, como azougue de termômetro. Durante uma entrevista eu esperava longamente por um momento de lucidez que poderia ser doloroso, quando voltavam do muito longe, sabe Deus onde... Lembrava a frase de D.Quixote de Cervantes: “Viver assim me mata; morrer me dá a vida”
Passaram pela minha vida olhares confiantes e desconfiados. Cheios de alegria, dor, medo, gratidão, desespero e esperança. Alguns trazem graça e bênçãos; outros só conseguem enxergar o lado obscuro das pessoas, como se proibido fosse ver a luz.
Que posso dizer do meu olhar no espelho? Quantas pessoas reconhecem o que sou e o que estou sentindo? O que pareço aos olhos do outro? E aos olhos de mim mesma? E quanto aos olhos de Deus?

sábado, 22 de novembro de 2008

"Pisando em ovos"



Maria J Fortuna

Todo cuidado é pouco, pensava eu quando saía do supermercado com seis ovos agasalhados num plástico fino. Se esbarrar em alguém ou em alguma coisa, se deixar cair ou se levo um tombo, estará tudo acabado! Difícil protegê-los no meio de tanta gente num dia de sexta feira. Por que não os comprei dentro da embalagem? Mesmo que não os consumisse, seria melhor negócio. Até a maneira de pisar o chão ficou diferente: redobrei a cautela com buracos na calçada e coloquei mais firmeza no caminhar. Será que existe na natureza algo mais frágil que ovos?
Durante o percurso para casa pensei: tem gente que parece um ovo ambulante. A imagem me fez rir, prefiro dizer que parecem serem feitas do mesmo material, tão frágil quanto. Muitíssimo vulneráveis! Algumas delas são muito educadas, de modo geral caladas, principalmente diante de alguma ameaça; outras são muito agressivas previnem a gente de que “têm estopim curto” e, de uma hora para outra, ficam com “ovo virado”. Nos dois casos ocultam enorme fragilidade interior gerada pelo medo da dor de agressão ou injustiça. Na maioria das vezes houve um caminhar por ruas tortuosas durante a infância. “Pisamos em ovos” em nossa convivência com elas. Muito cuidado com o que dizemos ou indagamos. Tal hipersensibilidade é mais incômoda do que carregar os tais ovos a pé para casa. A convivência fica sob vigília e, se insistimos em manter a relação, vem o desgaste e um cansaço triste que nada acrescenta, até que resolvamos sair lamentando: pessoa tão boa podia ser tão diferente...
Mas quem não se sentiu fragilizado em algum momento da vida? Quem não tem dentro de si alguma ferida que fecha e reabre de vez em quando? Qual embalagem protegeria um coração para que não se partisse? Por um tempo fica tão insuportável a relação de superproteção do ego consigo próprio que a gente prefere deixar pra lá e voltar a se expor. Afinal como disse Guimarães Rosa, viver é muito perigoso. Ficar na defensiva de nada adianta em nosso processo de crescimento. Se a gente se reveste de pele de ovo, tal fragilidade pode virar uma forte couraça que nos isola de outros seres humanos, principalmente do que amamos. Preparar nossa própria armadilha.
Uma plantinha sensitiva diante de um leve toque de mão fecha-se abruptamente. Existe no ser humano o mesmo movimento natural de fechamento quando nos sentimos ameaçados por alguma invasão em nosso espaço interior. Afinal toda ação gera uma reação, como nos ensina a experiência. Mas existe o que ofende e o que se deixa ofender. No caso da sensitiva a diferença é que, dentro em pouco, ela reabre suas folhinhas para o sol com a maior facilidade. O coração humano não. Uma voz mais agressiva, uma “resposta atravessada”, um olhar meio torto e pronto, entra num período de hibernação. Alguns saltam três estações e permanecem no inverno, dentro da toca.
Contudo vulnerabilidade é um traço que pertence a todos nós. Só varia a intensidade da agressão e os motivos de cada um para fugir da convivência com o outro. Seria bom dar uma parada, refletir, sentir porque aquela amizade não está acrescentando. Não precisamos conviver com alguém que “pisa em ovos”, ou que tem medo de conversar sobre o motivo da “agressão”, mas pelo menos seria bom procurar esclarecer as coisas, já que o sensitivo não tem coragem para fazê-lo. E se ele não se resolve dentro da questão, pode ser que saia dali queixando-se, fazendo-se de vitima, ruminando uma mágoa eterna quando tudo pode ser reconstruído. Desde nos perdoemos sermos pessoas em processo de crescimento, sempre!
Afinal o coração é nicho onde o amor se reproduz. Não pode ficar tão enfermo... Faz-se necessário rever a amizade. Avaliar nossas expectativas em relação às pessoas queridas e sentirmos o significado de cada uma delas em nossas vidas. Evitar que o ovo da amizade se quebre em nosso interior sem uma chance...









quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Lançamento de livro


Estou indo para Belo Horizonte para o lançamento do meu novo livro infanto-juvenil : "A sementinha que não queria brotar". Esta obra foi lançada na FNAC - Porto - Portugal, e agora em BH. Quem sabe em outros Estados?
Será durante o 9º encontro das Literaturas.
Quisera que todos que frequentam Artes e artes estivessem lá para me dar um abraço.
Se alguém estiver interessado em dar de presente à alguma criança, pode ser encontrado na Edições Mazza - tel: (31)34810591

Melancolia
















Maria J Fortuna
Foi-se o tempo...
Ficou a música
Dedilhando compassos
Numa terra silenciosa
Coberta de ciprestes tristes
Embalo o momento cinza
Levantando a o pó da saudade
Como folhas secas orvalhadas
Espalhadas pelo chão
Lembra-me o curupira
Das noites de lua cheia


Um assovio profundo

Que profana o momento.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Algumas pessoas enviaram-me email indagando se nas charges que tenho postado os desenhos são meus. Encontrei nos meus pertences esta matéria da Revista Internética João do Rio de agosto/2007 para que os visitantes de Artes e Artes conheçam-me mais um pouquinho.
Acrescento que frequentei a Escola Guignard da UFMG e o INAP ( Instituto de Arte e Projeto), em Belo Horizonte, Minas Gerais, fazendo aula de pintura, desenho e modelagem nos idos anos 70.
Mas na verdade o gosto pelo humor vem da família. Tive dois primos geniais chargistas. Um deles tornou-se muito conhecido. Foi um dos fundadores do Pasquim com Ziraldo, Henfil, Borjalo - o Fortuna.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008


Esta linda criança negra de olhos azuis, contém em si duas raças que habitam o planeta.
Espero que Barak Hussein Obama reconheça profundamente este fato e que dissipe as nuvem seperatista entre os homens.
Nem só judeus, cristãos, mulçumanos, etc , mas o ser humano
votado para seu centro onde, acima de todas as desigualdades, habita seu EU Maior, e que neste reconhecimento expanda seu amor pelo mundo, cuidando desta Terra que Deus nos deu a todos, sem distinção de credo ou de raça.
Maria J Fortuna

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

As mãos












Maria J Fortuna




Andávamos de mãos caídas
Mãos irmãs
Mãos ligadas Juntas,
Não chegavam a formar um poema
Aquele do céu azul
Ou do branco das nuvens
Aquele da rosa
Ou da estrela prateada
Depois veio a noite sombria dos cisnes
E as mãos se inundaram no lago
Só aparecia a alvura dos príncipes
Aconteceu que a primeira mão se estendeu
Não sei se a tua,
Não sei se a minha
Não para colher a lua, tão distante...
Mas para esperarmos,
Juntos
A alvorada de uma fresca manhã
Aconteceu também
Que elas juntas
Escreveram na terra molhada
A palavra Amor
E não mais se separaram
Para que, enfim,
Brotasse o poema perdido.

sábado, 1 de novembro de 2008

Cuidado com as interpretações

Amigos, o que escrevi a respeito da angustia dessa criança, nada tem a haver contra Jesus, o Cristo, mas sim com a forma em que a Igreja Católica e outras, expõe, em particular as crianças, a sua trágica e odiosa morte.
Jesus é um ser cuja doutrina de amor e transformação revolucionou o mundo.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A culpa original




Maria J Fortuna



Angústia não devia ser coisa de criança. No entanto a menina se esforçava para brincar de casinha com a irmã mais velha, mas tinha o coraçãozinho oprimido por ela - a angústia, dentro do peito.
Tudo se deu quando aos quatro anos foi nos braços do irmão mais velho para o cine Roxy. Não era mais de colo, mas o irmão queria andar depressa para não perder a ultima sessão do filme que estava passando naquela Sexta Feita Santa e seus passinhos ainda eram muito curtos.
A criança observava o belo ator do filme que fazia o papel de Jesus. Seguia atentamente os movimentos daquele homem sublime que falava manso e abria os braços para as criancinhas. Todo mundo dizia que ele estava no céu. Mas estava ali, falando, sorrindo, caminhando com seus amigos... Cheia de encantamento pensou: disseram isto porque não vieram ao cinema vê-lo. Cristo não estava na Missa, escondido naquela hóstia branquinha, estava ali!
De repente o clima do filme mudou. Jesus acabava de ser preso. Foi açoitado e caia com uma cruz enorme nos ombros... Por que aqueles homens maus faziam aquilo com ele? Crispou as mãozinhas e apertou com força a perna do irmão que a havia sentado em seu colo e tomada de pavor pediu a ele para sair dali. Ele se recusou. Começou com choro baixinho, abafado, que foi aumentando de volume à medida que aquela dor, que não conhecia, apertava-lhe o peito. Por fim estava esgoelando.
- Quero ir embora! Quero ir embora!
O irmão teve que abandonar o cinema, rancoroso.
Durante muito tempo a menina parava de repente, absorta em seus pensamentos. Coisa que não é própria de criança da sua idade. Passou comer apenas arroz com manteiga e fazia xixi na rede onde dormia. Sempre havia uma bacia de alumínio embaixo da rede. O que lhe dava, ao despertar, um sentimento de vergonha. Mas era inútil, não havia falatório que a fizesse parar.
Um dia aproveitou a ausência das quatro tias solteiras e arrancou, com as mãozinhas nervosas, quatro Cristos pregados nas cruzes de madeira. Era costume usar crucifixo no espelho da cama. Levou os quatro para trás da porta onde estavam guardados alguns dos seus brinquedos, colocou-os no berço da boneca cobrindo-os com um trapo amarelo, que sua mãe havia-lhe dado para brincar. Ali eles não sofreriam.
As tias acharam graça... Imaginem que criança travessa, mas boa de coração. Isto devia ter sido um milagre de Cristo, imaginou a menina. Havia se safado do castigo.
Não queria contar pra ninguém o que lhe afligia. Falar daquele assunto esquentava sua cabecinha de cachos loiros. Mas criou coragem e, timidamente, indagou a sua mãe:
- Por que mataram Jesus? Por que maltrataram ele?
- Morreu por nossos pecados, filha
- Pecado meu?
- De todos nós... respondeu-lhe a mãe com voz carinhosa.
Mas ela não estava naquele filme. Eles vestiam roupas esquisitas!... Não se viu lá. Como se tivesse um passarinho preso dentro do peito, parecia sufocar. Não queria reconhecer, mas quem disse foi mãe e mãe não mente. E falava pra si mesma:
- Também matei Jesus!
Era difícil dormir, porque no silêncio da noite escura no fundo da rede, a angústia crescia e apareciam fantasmas de gente má para puní-la. Pior: se ele, o crucificado, aparecesse e, apesar do seu olhar doce lhe dissesse: “- Viu o que você me fez? A tia que foi freira dizia isto: “- É só chamar e ele vem.” Sabia que Jesus era bom passou a ter medo dele.
Na escuridão do quarto, de bruços, esmagava a mão esquerda embaixo da coxa e com a direita empurrava a pálpebra do olho direito que podia perder o controle e abrir. Justo o olho que enxergava mais. O olho esquerdo não era problema: estava esmagado contra a lona da rede.
Ficava ali, em agonia, sem mudar de posição com o suor empapando sua camisola de cambraia fina.
Podia ter sido tão diferente, pensava, deviam ter deixado Jesus em paz...




segunda-feira, 27 de outubro de 2008

email para contato

mjfortuna@terra.com.br

Canto da poesia



O canto da poesia é sagrado.

Ela é atemporal, forte como a luz mas se apresenta, as vezes, frágil como asas de uma borboleta. Completamente vulnerável, porque nasce n´alma e vive do amor.

Nesta noite...



Maria J Fortuna

Nesta noite
O leite da lua
Adoça meus lábios
E tudo o quanto é suave
Comunga em meus poros
Alguém revelou às estrelas
Que elas brilham por causa do sol
E meu coração sentiu o pulsar de todas elas!
Só quero brincar como louca
Deixar que o uivo do lobo
Contraia-me o útero
E o cálice da noite
Transborde
Em fecundação
E toda a magia do mundo
Descerá pelos fios escuros
Dos teus cabelos
Nesta noite...

domingo, 26 de outubro de 2008

sábado, 25 de outubro de 2008

O Pivô


Maria J Fortuna

Toda radiante vestiu seu vestido de cotelê azul marinho, última moda naquele inverno, rumo ao banquete. O evento acontecia na Casa do Baile em Belo Horizonte. Lugar de prestígio para grandes acontecimentos na época. Sua disposição era aproveitar, ao máximo, aquela oportunidade naquele ambiente sofisticado. Sonhava com os quitutes do banquete: degustar uma ceia inédita e, quem sabe, arrumar alguma companhia interessante que poderia terminar em namoro. Afinal naqueles idos anos sessenta as pessoas flertavam, namoravam, noivavam e casavam. Todos estes verbos. Agora temos o “ficar”, que junta tudo isso numa só ocasião e, na maioria esmagadora de vezes, não tem futuro.
Assim que chegou, os amigos fizeram festa:
- Maravilha você aqui! Falaram animados. Que bacana você está... E daí por diante.
Sentou-se admirando a grande mesa comprida rodeada por ilustres convidados: diretores e presidentes de várias indústrias, firmas importantes, gente do comércio e altos funcionários de repartições publicas. Um clima elitizado, engomado, cheirando a gente rica.
Os garçons começaram a servir. A comida era ótima e o vinho da melhor qualidade! Risos pra cá e pra lá. Os convidados já estavam descontraídos.
Um homem “bem apanhado”, como se costumava a dizer dos bonitões na época, estava com olhar fixo em sua pessoa. Puxa, parece que havia interesse... Aquele homem elegante armou um sorriso aberto desde sua chegada.
De repente rompeu no salão aquela música louca, maravilhosa, cheia de altos e baixos. Não podia deixar de ser... Reconheceu: era o frevo pernambucano que havia aprendido a dançar quando menina! Oportunidade para mostrar-se original na terra dos mineiros. Partiu para a pista redonda no meio do salão. Depois da terceira taça de vinho, arrancou os sapatos altos e iniciou, descalça os movimentos do frevo. Animada com o som das palmas que se fizeram ouvir, descia e subia tão rapidamente que não notou que o pivô, na arcada superior da boca, cambaleava ao som do daquele frevo estonteante!
Voltou para a mesa abrindo-se num largo sorriso. A amiga ao lado, arregalando os olhos, aproximou-se do seu ouvido esquerdo e segredou:
- Caiu! Caiu!
Ao indagar – Caiu o que? Sentiu que sua voz estava alterada, saia como que soprada. Passou a língua na gengiva superior e verificou que lhe faltava o pivô. Onde estaria o dito cujo? Vasculhou com o olhar a mesa e nada... Chegou então à conclusão que só podia estar no tapete que, por infelicidade, era da cor do dente! Resolveu ir ao encalço do mesmo. Era o jeito... Escorregou, discretamente para baixo da mesa. Não sem antes ser notada pelo “flerte” a sua frente. Procurava o pivô com dedos nervosos. Missão quase impossível! O tapete era marfim felpudo, cor de dente. Por sorte, depois de muita agonia, conseguiu encontrá-lo.
O homem a sua frente percebeu quando sua pequena mão procurou, na superfície da mesa, um pedaço de pão. Achou aquilo estranho... Mas continuou com o olhar fixado ali, como um gato esperando a presa para cair-lhe encima. Ela calçou o artefato dentário com miolo de pão. Recolocou-o aliviada. No stress havia-lhe arranhado o lábio inferior com o pino plantado na gengiva. Mas agora parecia ter provisoriamente solucionada a questão. Emergiu então ainda meio tonta do sufoco... E sorriu...
De olhos arregalados a amiga que estava sentada a seu lado, segredou-lhe ao ouvido:
- Tá ao contrário! Tá ao contrário!
O “flerte” observava com um ar meio idiota. E sorriu desconcertado, fingindo nada perceber.
De susto e surpresa ao ouvir o que a amiga tinha dito e sob os olhares curiosos dos circundantes, entrou em agonia e engoliu o pivô.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Momento poético

Imprudência

Maria J Fortuna


Chegou meio que desesperado
Com suas línguas ardentes
Queimando o azul dos miosótis
Queria por força virar gente
Esqueceu seu calor exagerado
Suas labaredas imprudentes
Meu coração fragilizado...
Então oscilou
Antes de virar menino
E me mostrar seu Amor!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Poemeto de Clevane Pessoa depois da leitura de A peruca cor de rosa:

Venho de ler seu conto encantador.Gosto muito dessas histórias que escreve, onde as questões de gênero são tão fortes - a alma feminina se desnuda...Para você, esse poemeto, brotado após a leitura:

Lembranças

As reminiscências, para as mulheres,
são mesmo essenciais:
volta à presença tudo aquilo que não voltaria mais,
e o passado torna-se presente,
lições são tiradas, saudades trabalhadas,
até as sensações e emoções da alma um dia jovem,
desenham-se à nossa frente, imemoriais...

domingo, 19 de outubro de 2008

A peruca cor de rosa




Maria J Fortuna


Todos os dias abria os olhos com aquela sensação estranha... Por causa disso tinha medo ao acordar. Por causa daquela impressão de abismo. Noite escura sem sonhos era sua velha conhecida. Vasculhou dentro de si mesma o motivo para aquilo estar acontecendo... Iria parar de tomar aqueles comprimidos assim que se sentisse melhor. Apesar de que, com eles, pelo menos conseguia debelar aquela insônia maldita. Mas o medo continuava mordiscando suas entranhas. Se não dormia ocupava a mente com pensamentos melancólicos e rezava para a chegada do sol; se dormia tinha medo de acordar de repente com aquela sensação de abismo.
Melhor coisa era pensar em algo agradável, que tivesse sido tão bom quanto o primeiro aperto de mão de um amor recém conquistado. Então mergulhou em lembranças adormecidas em seu coração. Melhor coisa para espantar o medo é buscar prazer. Gosto e aroma do prazer distraem a mente dos maus espíritos... Um cheiro agridoce penetrou-lhe as narinas enquanto fechava os olhos e se entregava as lembranças sagradamente profanas. Uma em particular recorrente...
Na década de vinte sofrera um eczema agudo no couro cabeludo. Seus cabelos caiam em grande quantidade, chegando ao ponto de deixá-la em calvice. Foram momentos angustiantes, de grande sofrimento ao contemplar sua jovem imagem, aos dezoito anos no espelho do velho casarão.
A mãe havia-lhe comprado uma peruca, mas esta não era suficiente para cobrir-lhe a vergonha de estar desprovida de suas madeixas castanhas. Os dias pareciam-lhe pesados e vivia como que encaramujada, sentindo a vida meia que insossa. Até o dia em que foi convidada para um baile de carnaval no clube da cidade. No inicio recusou o convite, mas o coração materno estendeu-lhe uma peruca cor de rosa. Ela iria de dama antiga!
No baile colorido, pleno de discretos prazeres, conheceu um senhor bem afeiçoado, elegante, simpático. Bem mais velho que ela sim, mas seu charme chamava atenção das moças que trocavam olhares de aprovação e sorrisos de cumplicidade.
Não demorou muito para que um sentisse a presença do outro com grande intensidade! Em meio aos foliões enfeitados de sonhos, os dois se tocaram nas mãos e depois nos lábios. Não havia palavras suficientes para traduzir a alegria daquele encontro! Havia descoberto ali a fonte de prazeres que seu corpo escondia. Todo seu ser dava pulos como criança assanhada e pulsava em ritmo até então nunca experimentado!

A evocação daquelas lembranças deixava-a perdida em pensamentos prazerosos... Uma onda de calor a fez ligar aquele momento ao agora, pelas asas invisíveis do tempo. Abraçou o travesseiro, como o fazia com seus sonhos mais calorosos, afastando o lençol que lhe cobria os pés. Não havia lugar para melancolia ou medo, naquele instante. Importava aquela doce lembrança: baile de carnaval com peruca dor de rosa... Revirou-se na cama com sorriso nos lábios ressecados pelo remédio e voltou a sonhar com o olhar passeando pelas sancas no teto do quarto.

Quando findou o baile a irmã mais velha a levou para casa, que não ficava longe dali. Os comentários se sucederam desde então. Quem seria aquele homem? Dizem ser um viúvo que vive na Suíça. Na verdade não era conhecido da sociedade local, mas aparentado de uma família cheia de bens e tradição. E ele foi gostar justo dela que sabia exatamente a hora em que ele passava pela sua rua. Então corria para o quarto, pegava a peruca rosada e ia para a janela esperá-lo. Ele passava com sorriso nos lábios, ar enigmático, olhando para a janela quando tirava o chapéu em saudação. A esperança havia criados raízes no coração da mocinha e as horas eram difíceis até que o fato se repetisse.
Um dia, brincando com as irmãs, deixou-se mostrar na janela sem a bela peruca cor de rosa... Pior, sem nenhum artefato que lhe cobrisse a calvície. Justo na hora em que o pretendente passava pelo local.

Tal lembrança a deixava tensa e ela crispou a mão esquerda, amassando o lençol que cobria-lhe o corpo senil. Sentou-se na cama com dificuldade, pegou o copo na mesa de cabeceira com as mãos tremulas e bebeu a água que havia colocado ali, de véspera.
Nunca mais, a figura de seus desejos e sonhos, voltou a percorrer as calçadas de sua rua, tirando o chapéu com reverência, como se tivesse em frente a uma deusa...
São tão breves os momentos das lembranças que trazem prazer, pensou.

Novamente envolta por estranha sensação de insegurança, levantou-se cambaleante, da velha cama de casal, para fazer o café.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Texto do Luiz Lyrio

Meu amigo Luiz Lyrio, escreveu um texto que me deixou emocionada. Está aí publicado para vocês lerem. Infelizmente quando recebi o texto as meninas estavam hospitalizadas e uma delas em estado muito grave.

Opção pela Paz

(Para Lindemberg)

Luiz Lyrio

Uma arma não é um simples instrumento de matar. É um instrumento de poder. Ter uma arma nas mãos, dominando a técnica de manejá-la, traz um sentimento indescritível de onipotência. que supera todo e qualquer ensinamento pacifista. baseado em frases feitas e em princípios rígidos.
No mundo, durante um bom período da nossa história, mandou quem usava e, principalmente, quem controlava quem usava armas. Exercia o poder quem contava com a onipotência das armas. Deixava-se dominar quem se via impotente diante da força das armas. O onipotente submeteu o impotente desde o início dos tempos. Não foi à-toa que alguém disse um dia: “Contra a força não há resistência”.
Entretanto, quem conhece a História sabe que o predomínio da inteligência sobre a força foi um ingrediente importante da evolução humana. O uso da força das armas trouxe muito mais desgraças e destruição do que benefícios para o homem e parte de nós, pelo menos, aprendeu que o recurso às armas nunca solucionou problemas e nunca trouxe progresso para a humanidade.
Diante do crescimento da violência urbana, não são poucas, no Brasil, as pessoas que acham que o cidadão deve armar-se para defender-se dos criminosos que infestam o país. Entretanto, essas pessoas estão terrivelmente equivocadas. Um homem de bem não precisa, para se defender, de lançar mão de artefatos ou seres vivos (como cães ferozes, por exemplo) que podem, inclusive, ferir ou matar pessoas inocentes. Um homem de bem usa a lei, o poder da palavra, a denúncia pública ou anônima de criminosos e a proteção das forças de segurança para se defender de quem vive fora da lei.
O uso de armas por cidadãos comuns destituídos de poder de polícia e de treinamento adequado, tem se mostrado cada vez mais desastroso. Todo dia, morrem inocentes vítimas da imperícia de um irresponsável que resolveu armar-se “para defender sua família”. Todo dia, os jornais nos contam histórias de cidadãos “de bem” que mataram no trânsito, assassinaram mulheres que os rejeitaram ou executaram vizinhos que os irritaram por motivos fúteis. E é muito comum uma criança se apoderar da arma de um “homem de bem” e matar acidentalmente outra criança.
Homens de bem não gostam de armas. Homens de bem sabem que armas trazem muito mais desgraças do que as evitam. Se fosse feita uma pesquisa séria, com testes supervisionados por psiquiatras e psicólogos competentes, provar-se-ia que a maioria das pessoas que optam por se armar, excetuando-se parte daquelas que usam armas por exigência de ofício, são pessoas portadoras de algum desequilíbrio que poderá ou não manifestar-se em algum momento de suas vidas, provocando uma tragédia.
A humanidade não se divide em bons e maus, como imaginam os autores de novelas. A coisa é bem mais complicada. Porém uma divisão básica nos ajuda muito a compreender melhor a humanidade. Entre nós, existem dois tipos de seres humanos bastante distintos: os que gostam de usar armas e são capazes de matar um semelhante seu e os que abominam as armas e jamais seriam capazes de tirar a vida de um ser humano. Quem opta por conviver com os últimos, tem sorte e ainda conta com um competente anjo da guarda ao seu lado tem maior probabilidade de desfrutar de uma vida longa e tranqüila.

Luiz Lyrio – Professor de História e autor de NOS IDOS DE 68.
Rua Campo do Brito, 162 – B. 13 de Julho – Aracaju – SE - Tels. (079)32131351/(031)92561840

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Meu lado chargista...

Desenhei estas charges para ilustrar cursos sobre as mulheres na menopausa. Foi lá que nasceu as que publiquei anteriormente com a personagem que criei: a Lena Luci. Postei algumas das minhas charges dessa personagem, vocês viram? Agora estou publicando pela internet este monte de bobagem que acontecem conosco nesta fase crítica.
Tomara que vocês entrem no espírito da coisa e se divirtam.

Mulher de 50







Resolvi fazer um agendamento de minhas atividades. Isto porque estou naquela fase do esquecimento secundário, que é ótimo para não lembrar de detalhes inúteis. Então resolvi Agendar crônica nova para domingo e Mulher de 50 para segunda feira. Meu forte nunca foi ser organizada... Isto não quer dizer que eu não sofra a síndrome dos dedos nervosos e rasbisque, escreva e faça a postagem durante outros dias da semana. Mas vou me esforçar para cumprir a agenda.

domingo, 12 de outubro de 2008

Um grande amigo partiu para uma outra dimensão


Fundador da Universidade da Paz UNIPAZ, este homem, incansável buscador de harmonia entre os homens, nos deixou. Pierre, grande espírito, como o Gandhi, trazia inocência nos olhar. Apesar de toda a sua mestria era humilde. Eu o conheci profundamente. Era transparente e acreditava demais no ser humano.
Espero que os que ficaram na UNIPAZ dêm prosseguimento à sua grande mas não tão simples obra.
Como diz Jean-Yves Leloup:
"Nosso amigo Pierre Weil nos deixou - ele deixou seus limites para ser "um" com este Infinito cuja intuição e pressentimento ele tinha desde a sua mais tenra infância.Sentiremos falta da sua presença forte e frágil ao nosso lado, temos o direito de chorar... no entanto, devemos nos lembrar das suas palavras:
"Saibam que a morte não existe enquanto desaparecimento definitivo da nossa existência; é apenas uma transformação, uma mudança de estado de consciência, comparável ao sonho e ao sono profundo...Se compreendermos isso, poderemos ficar contentes, lúcidos e estar em paz... enviem do fundo do seu coração um voto para que este estado se comunique a todos os seres vivos..."Nossas lágrimas serão, então, como as lágrimas do mestre, que ele freqüentemente mencionou: lágrimas de compaixão."

sábado, 11 de outubro de 2008

O milagre das frutas


Já mencionei Clevane Pessoa aqui no blog diversas vezes. É aquela amiga jornalista, psicóloga e poetisa, que escreveu Mulheres de Sal e Afins. Ela tem um magnífico texto, meu predileto, neste livro, que se chama O Pokã. Ela fala da lingua sensual das frutas suculentas. Descrevendo a cena em que a adolescente se rende aos apelos eróticos do namorado, fundindo-se a pokã que ele descasca introduzindo o polegar nas sua reentrâcias...

Clevane consegue expressar sua sensualidade de forma tão delicada, uma artífice das palavras, sabendo colocar tão bem poesia nessa forma de falar sobre esta energia maravilhosa que escorre pelas nossas veias e nos faz pulsar como relógio até quando a vida se esvai... Ai de nós sem tesão pelas coisas prazeirosas e belas que a vida nos traz... Quem já leu o livro do Roberto Freire "Sem tesão não há solução?

A propósito da fruta pokã, escrevi este texto:



Maria J Fortuna



Aquela fruta que eu tentava mastigar, não lembrava em nada a que outrora conheci em idos tempos ditosos... A velha tangerina! Segundo o Aurélio, feminino de tanjão, que em Minas Gerais chama-se de mexerica e lá em S. Luis do Maranhão, minha terra natal, quando é grandona, a gente chama de tanja. Sei lá porque....
Bem, mas a delícia desta fruta está nas boas recordações de algumas pessoas privilegiadas. Posso dizer que sou uma delas.... Algo muito perverso causou dano aquela fruta, que na feira é apelidada de pokã Sua casca é fofa, deixando solta a fruta quase que por inteiro em seu interior. O corpo gomado perdeu sua cor original. Tem aparência murcha e é fácil de descascar, mas difícil de deglutir. Lutando com a mastigação sinto pobres bagaços, quase secos no interior da boca, teimando em não serem moídos pelos dentes, relutando em misturar-se à saliva. Daí a dificuldade que temos para engolir.
Logo sinto ausência daquele caldo maravilhoso que, a pequena mordida, adoçava suavemente o paladar. Mas, esta, que manipulo neste momento, são pedaços inexpressivos de uma fruta cujo suco, concorria como mel das abelhas!
Caiam ao pé da árvore mãe com o prazer de quem amadurece, cumprindo bem a realização plena de sua natureza. Enfeitavam o mato como pontinhos alaranjados, vistos a distância.. Quando tombavam não sentíamos como desperdício porque eram tantos os que a saboreavam dando-lhes prazer: gente, pássaros, abelhas borboletas e pequenos insetos. Não a víamos senão como pequenos enfeites no chão. Além de tornarem-se esterco para outras plantas irmãs, favoreceam o surgimento de novos pés em abundancia! Refrescavam-nos, em forma de suco, matando-nos a sede nos quentes dias no eterno clima de verão nordestino.
Assim como a tangerina, várias outras frutas estão perdendo seu sabor, suas características: perfume , sumo, sua forma peculiar de ser. Tudo transformado, adulterado, melhor dizendo. Foram "tratadas" depressa, para serem vendidas logo, por lucro imediato.
Encontramos a tal tangerina, além da feira, em supermercado e camelôs ambulantes, anunciadas a preço barato como fruta de época, de estação. Mas dá dó vê-las empacotadas ou jogadas num grande suporte de madeira, completamente inexpressivas.
Lembrei-me de uma mulher maravilhosa, que na época da 2ª guerra mundial, morava num sítio chamado Primavera lá no Maranhão.
Naquela época seu marido, único provedor da casa - como acontecia ao homem naqueles tempos - estava desempregado. Os três filhos mais velhos foram estudar em S.Luis acolhidos na casa de suas irmãs e eu, a caçula, que estava ainda fora da faixa etária escolar, permanecia ao seu lado, naquele sitio de farturas mil!
Ficava a comer deliciosos frutos, brincando num velho tanque de azulejos azuis que, tombado no chão, funcionava como cabaninha ou proteção contra os babaçus que caiam em nossas cabeças. Mas aqueles coquinhos duros mergulhavam num próximo e velho poço que a gente acreditava ser a casa da Mãe D'Água, figura do folclore maranhense, mesma coisa que Iemanjá ou Iara em outros recantos do Brasil a fora.
O sítio tinha de tudo... Frutos da Mata Atlântica, que a gente vê agora por aí em polpa, nas geladeiras e lanchonetes, para fazer sucos. Além de buriti, Jussara, açaí, bacuri, caju em diversas tonalidades de amarelo e laranja, mangas coloridas que faziam um ruído peculiar quando caíam no mato, assim como verdes abacates. Tinha também abricó, jaca, jacama, camapum, cupuaçu, sapoti e sapotas (que parece um sapoti grávido) abricó, pitomba, croasinho, ata, (chamada fruta de conde no sudeste) murici, etc. Com exceção de uvas, peras, maçãs e morangos, que só apareciam por lá, importadas, no Natal, para quem tivesse dinheiro.
Corria um rio atrás da casa, perto do milharal, onde as lavadeiras nuas da cintura pra cima - algumas com seios tão fartos quanto grandes frutas maduras - cantavam canções religiosas do Tambô de Mina e de Crioula, grupos ritualísticos de tradição africana muito comum em minha terra.
As frutas cresciam embaladas por aqueles estranhos cânticos que pareciam mantras da fecundidade. Eu ficava embevecida com os tons e semitons com graves e agudos daquelas alegres mulheres cantantes, com ajuda dos pássaros, que vinham pousar nas árvores e tomar banho no rio. Podiam bicar as frutas à vontade. Tinha pra todo mundo! Pra todos os gostos! Que coisa mais sublime e feliz! No ar um perfume gostoso! Mistura das diversas espécies de frutíferas com o frescor do rio e o cheiro da roupa limpa quarando ao sol.
Pois é, meu pai desempregado, a gente no sítio Primavera e a guerra arrebentando na Europa. O paraíso e o inferno!
Minha mãe com mãos de dama, uma sinhá moça crescida com todo mimo, asmática, franzina, fez o grande milagre para que sobrevivêssemos a tudo aquilo. Era como fada, embrenhada no mato frutuoso com sua cestinha de vime. Entrava pelo milharal como a leveza do vento e dali traziam louras espigas, com aqueles fios macios que viravam cabelos de boneca.
Aqueles frutos exóticos eram transubstanciados em doces maravilhosos!
Chamou Antonio, o filho da cozinheira, e o contratou para vender aqueles incríveis quitutes no aeroporto onde aviões de aliados, pertencentes a várias nacionalidades, pousavam. Ficava perto do Sitio Primavera.
Num tabuleiro com tiras presas ao pescoço, Antonio levava manuê, beiju , pamonha e panqueca de milho , derressol – (cocada de coco com rapadura), doces de quase todas as frutas que aqui mencionei. Um coquetel para nenhum daqueles soldados estrangeiros botarem defeito. Bendito ponto estratégico procurado para pouso de aviões!
O rapaz regressava à noitinha, com o tabuleiro vazio todo santo dia!
E eu, alheia a todo aquele esforço de minha mãe, protegida pela minha inocência, pulava, cantava , lambuzada com sumos e sucos de frutas que funcionavam como perfume natural.
Nem me passava pela cabeça que a linda senhora que cheirava a alfazema e tinha postura de dama, havia se associado à natureza para evitar perder o pouco que tínhamos. Na minha cabecinha ela estava brincando de fazer e vender doces, tal era sua disposição para o trabalho e sorriso ao ver o tabuleiro vazio...
Que saudades das frutas que cumpriam seu destino sem que a mão do homem as submetessem ao tratamento transgênico... Saudades delas, puras, sem químicas ou agrotóxicos.
Saudades das daquelas pessoas curtindo a natureza exatamente do jeitinho que ela é... mas até quando?
Saudades dos tempos que não existia tangerina pokã da feira livre, atrás do meu prédio..

Endereço do blog de Clevane Pessoa: http://www.clevanepessoa.net/blog.php


quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Continuando a série Mulher de 50 ...


O fisioterapeuta


Maria J Fortuna

Tenho uma tia que é uma autêntica Sinhá Moça aos 97 anos! Chama-se Esveraldina.
Diz que a velhice, finalmente, está chegando... E por isto ela tem que se cuidar. Decidiu que a pintura do seu cabelo agora seria loiro, que se aproxima do branco e que iria descansar, depois do almoço, numa poltrona mais fofinha. Fora isto gosta de shows no Canecão e é fã de Roberto Carlos, Bruno e Marrone e Alcione. Assiste todas as novelas da Globo e aprecia programa de fofocas.
Foi providenciado pela família, um fisioterapeuta, já que dispensa cuidados médicos. Salvo o cardiologista que controla sua pressão, mas depois de uma repentina queda da mesma, esta se estabilizou e não foi mais preciso freqüentar aquele consultório. Para que cardiologista? Gaba-se de que enxerga sem óculos, desconhecendo que colocou lente interna na operação de catarata.
Bem, voltando ao assunto, o fisioterapeuta contratado pela família é um homem lindíssimo! Alto, moreno, robusto, com um vozeirão cheio de charme e, sobretudo, muito atencioso.
Antes das sessões de fisioterapia o perfume ronda a casa! Entra no banheiro e sai na cozinha...Ronda a vizinhança do prédio. Esveraldina se aromatiza da cabeça aos pés para recebê-lo que comparece duas vezes por semana.
Tal sinal a gente observa nas adolescentes quando se apaixonam por alguém. Quem pensou que a nossa Menina Moça de 97 anos apaixonou-se pelo fisioterapeuta, acertou.
Pensando que fisioterapia é ginástica, arrumou uma incrível roupa de “malhação”, novela que assiste todos os dias. Na noite que antecede a “ginástica” ela não dorme. Acorda assustada de repente com medo de perder a hora em que o “professor” costuma chegar... Vai pra cozinha bem cedo saborear seu desjejum, toma banho e procede ao ritual do perfume...
Depois que o amado se vai, com aquele porte, aquela voz tão bonita, aquele jeito de passar creme em seus braços e pernas, ela fica com ar de garota sonhadora, até que o tempo sopre, de leve, sua querida lembrança.
Claro que só ouvindo um CD romântico do rei Roberto Carlos para deixar o tempo passar mais rápido até a próxima sessão. E assim, sonhadora, embalando-se na cadeira de vime, pensando nos velhos tempos de mocinha, fica devaneando até a hora do almoço. Isto desde os remotos 93 anos vem acontecendo...
O fisioterapeuta atende também sua irmã de 94 anos que infelizmente “saiu do ar”, como diz nossa Menina Moça.Sempre se gabando de que ela está muito melhor em forma do que a irmã caçula.
- Lulu não sabe mais de nada, tá completamente “débélóide” coitada, repete toda vez que visita a irmã, abrindo bem as vogais.
Ocorre que outro dia chegou estapafúrdia noticia de que a irmã fez streap tease em plena sessão de fisioterapia para seu príncipe encantado! Foi um Deus nos acuda!
- Meu Deus que vergonha, que vergonha! Falava Esveraldina ininterruptamente pela casa com as mãos na cabeça! Como Lulu teve coragem de fazer isto?
- Mas tia, ela não sabe mais o que faz... Consolava eu.
- Não tem desculpa para uma coisa dessas, ai meu Deus! Repetia desesperada!
Resolveu apurar de perto a inusitada noticia e indagou as acompanhantes de Lulu se ela teve coragem mesmo para fazer aquilo.
Na afirmativa do evento ocorrido ficou mais inconsolável ainda.
- Eu não vou mais poder encará-lo. Na hora da ginástica eu não vou olhar mais para a cara dele, nunca mais!
- Não fique assim, tia. Ele já esqueceu. E compreenda que ela não sabe o que faz... Falava a neta, tentando acalmá-la. Aí veio a reflexão surpresa para todos nós da família... Tia Esveraldina, sacudindo nervosamente a perna, falou em alto e bom tom:
- Pelo menos se fosse eu, que ainda tenho tudo no lugar, mas Lulu com aqueles peitões caídos...


Este fato se deu ano passado. Agora, aos 98 anos, a "ginástica" continua sem o mesmo entusiasmo. O fisioterapeuta casou-se e Lulu foi para outra dimensão da vida.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Poema do vôo eterno


Maria J Fortuna


Voa coração meu
Em forma de ave
Voa em direção ao mar
Que celebra a vida

Pensamentos
Mergulham e submergem
Nas àguas do amor
Deixando ao farfalhar das asas
Penas que voam livres
Espalhando o frescor
Da alegria conquistada

E a música vem em revoada
Formando blocos de brancas espumas

Suave plumagem
Faz cócegas no tempo
Plaina nas ondas perfumadas
Grávidas de mistério

Que se desenrolam em marolas
sobre abismos de Netuno

Este vôo não tem mais fim
Converge para o Centro
Pomo, ponte e ponto da paz
Movimento cósmico
Que vai e vem
Vem e vai
Distende e recolhe
E me acolhe gratuitamente

Quando me solto alhures
Por escarpadas paragens
Nas imensas reentrâncias
Vejo a Grande Ave pousando
Em seu ninho azul



Poesia menina



Victória Falavigna, atualmente aos sete anos de idade, já nasceu poetisa. Assim ela falou numa entrevista em Belo Horizonte: "A minha primeira poesia nasceu numa noite de maio e, depois, muitas outras. Hoje, tenho uma grande família. Na época, eu não sabia escrever e tinha que pedir para alguém as anotar. Elas são eu, às vezes alegre; outras, tristes."

Clevane Pessoa com seu olhar de psicóloga-poetisa, costuma descobrir estes tesouros!

Para vocês verem uma pequena amostra de sua obra:

"Noite, Dia e Céu!

A noite é boa.

O céu traz luz.

O dia é pouco.

A noite é fria.

O céu não tem arco-íris,olha, escuta e canta."

Gostaram? Eu amei...

domingo, 5 de outubro de 2008

Endereço de email

O contador me informa que este blog tem sido muito visitado, no entanto há pouquíssimos comentários. Então vou deixar meu endereço de email. Ficarei muito feliz conhecendo melhor os frequentadores de Artes e artes

mjfortuna@terra.com.br

Quem sou eu

Minha foto
Sou alguem preocupado em crescer.

Arquivo do blog

Páginas

Postagens populares