quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Colhendo folhas secas e novos frutos


Foto de Zé Martinusso


Maria J Fortuna

Hoje quando acordei de uma das horas em que consegui dormir, vieram-me palavras que brigavam entre si. Meio zonza de uma noite mal dormida, finalmente uma frase se formou e eu repetia, mentalmente, sem saber por que: colhendo folhas secas e novos frutos. Aí me dei conta de que estamos na virada do ano!
O que seriam as folhas secas e por que colhê-las? Ai me veio à resposta lá do coração: não podemos virar mais um ano sem aceitar e reconhecer que as folhas secas, outrora viçosas, sejam referencia de um passado que devemos aceitar e refletir em suas dores e amores. Colher e acolher para refletir e seguir. Só assim novos frutos serão desejados e saboreados.
Nem é preciso repetir aqui tudo o quanto passamos em nosso macro universo, nem é possível saber o que aconteceu no micro de cada um. Sabemos apenas o que ficou impresso em nossa alma. Sempre estranhei a retirada de folhas secas no quintal da minha casa. Achava que elas enfeitavam e adubavam, por que retirá-las, mesmo no outono? Guimarães Rosa escreve em Grandes Sertões e Veredas sobre a morte como adubo da esperança, o esterco da vida! São as folhas mortas que ajudam a brotar novas sementes de onde nascerão árvores onde brotarão novos frutos!
Que as folhas mortas, ilusões perdidas, sonhos não realizados, perdas e ganhos dos anos passados, sirvam de adubo para novas escolhas, transformações, crescimentos e floradas em nossos caminhos e que dêem muitos e muitos frutos!






quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

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Que neste Natal, todos nós nos tornemos pequeninosQue a simplicidade tome conta de nossos corações para que nos tornemos livres para amar. O amor renasce em cada criança como Jesus em Belém. Uma vez acreditando neste renascimento constante, podemos viver em um mundo melhor, com mais cuidado com o planeta e justiça social. E é isto que desejo paras os amigos de todos os credos e para os que não tem credo nenhum.Um ano novo Feliz e cheio de Graça!Maria J Fortuna

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O amigo oculto






Maria J Fortuna

Andei por aí participando dos festejos de Natal e fim de ano em diversos grupos. No último deles, havia o que a gente pode chamar de nata de intelectuais. Ou em francês” crème de la crème” das ciências e letras. No meio daquela gente, havia vários exotéricos que se diziam esotéricos, com “s “, e no pequeno discurso, antes da abertura de cada um dos presentes, foram evocados os mestres mais modernos, ou seja, Krishnamurti, Rudolf Steiner, Yves Leloup, Pierre Weil e até Trigueirinho, que anda fazendo sucesso nesse meio. A mim coube a responsabilidade de entregar o presente ao mestre fundador do estabelecimento. Então me postei num canto, pensando no que eu diria para aquela douta platéia. E de repente fiquei com muita vergonha de Jesus. Afinal o aniversário é Dele, e se somos cristãos, seu nascimento seria importante para todos por causa de Sua Doutrina de amor e transformação. Por que ele não estava sendo citado? Mesmo para os que pertencem à outra tradição, agnósticos e ateus, que não O reconhecem como o Verbo que se tornou homem e habitou entre nós.
Senti como se tivesse dado uma festa em homenagem a minha mãe e ela, ao chegar à celebração, concluísse que tudo ali não passou de um pretexto para encontro com amigos em seu nome. E ninguém lhe desse atenção. Daí me veio a triste percepção de que, para muitos, Jesus está ultrapassado no terreno espiritual, como Freud na psicologia. Deu sua contribuição e pronto! Aparecem outros que dizem que, dentro da hierarquia dos Mestres, Cristo é apenas um degrau... Tem muito mais coisa por aí... Ando recebendo e-mails com charges indecorosas com a figura de Cristo. Penso: e se fosse Maomé? Vocês viram o que aconteceu com aquele chargista que foi mexer com a imagem do Mestre islamita?
Bem, por aí vai... Será que vou me acostumar com a idéia de que, nos festejos, Ele foi substituído pelo símbolo do consumo, Papai Noel? E que o Natal Dele, tornou-se apenas uma data de confraternização? Como separar uma coisa da outra quando se é cristão na alma, no coração?
- Procura sua turma! Falei para mim mesma. Aqui não rola Jesus de Nazareth...
Bem, eu disse àquela pessoa, tão especial e amada de todos, meu amigo oculto, que o mais oculto dos amigos devia estar por ali, festejando Seu Natal. Duas pessoas aplaudiram...


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Intolerância e desrespeito






Maria J Fortuna

É complicado lidar com nosso impulso, agressivo e provocante, de querer submeter ao outro nosso fundamentalismo interior. Tenho certeza de que toda resposta agressiva, desproporcional à realidade do fato, é fruto disto. Assim começam as guerras pessoais e se dilaceram os relacionamentos. É a sede do poder ter mais razão do que o outro e querer que seu desafeto seja também desafeto do outro. Onde está a percepção de tal absurdo, gente?
Quando teremos um pouco de sabedoria para um diálogo tranquilo? Partir pra cima do oponente com toda efervescência, como se os hormônios do corpo de repente pululassem, o sangue circulasse com enorme rapidez, e os pulmões se dilatassem não faz de ninguém um ser humano respeitável. A verbal fica abusada, grosseira, aguda como lança, querendo convencer o outro da superioridade de seus argumentos. Confesso que já fui assim na minha adolescência e um pouco como jovem adulta. Mas não tenho saudade alguma daquele tipo de indignação, dessa intolerância! Fiz pessoas que, poderiam ser hoje amigas, nunca mais querer olhar para minha cara. Salvo que talvez tenham se transformado de alguma forma, como aconteceu a mim. Quero acreditar de todo coração nisto. Mas nem todos crescem com a idade. A mim, soa ridículo, o vomitar de impropriedades desrespeitosas, no gritar e gesticular, ou escrever palavras venenosas, trazendo argumentos verídicos ou suspeitos, no caso de pessoas adultas. Quanto a mim, houve alguns retornos em que, eu e o amigo, conseguimos colar o fio partido da amizade, que ficou solto ao sopro do tempo. Houve renovação. Chegamos até a rir da linguagem predatória que usávamos uns contra os outros. Mas infelizmente para com alguns, não consegui remendar os trapos que restaram da antiga relação. Infelizmente, isto é fruto de alguma discussão provocativa e acalorada, quando no fundo a luta maior e não percebida, era contra a excessiva autoridade interna dos nossos egos feridos.
Ai do mundo se não houvesse indignação contra a injustiça social que assola nosso planeta! Graças a Deus, todos os dias sou possuída por este sentimento, mas a lucidez que adquiri com os anos, não tolera mais provocação e desrespeito. Tanto é que, em caso de discussão política, não dou nenhum crédito a candidato cuja campanha eleitoral se faz depreciando o adversário. Ave Gabeira!


sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O fedor da ditadura



Maria J Fortuna

Sinto um fedor insuportável da velha ditadura no ar... O sopro fétido vem de Brasília, quando a polícia baixou cassetete nos estudantes que protestavam contra o lamaceiro da corrupção, a partir do “cara de pau” Arruda. Fedor muito pior do que os das enchentes que assolam nossas cidades. E não parou por aí! Continuou se espalhando na toga dos juízes que censuraram o jornal Estado de S. Paulo, para proteger o já desgastado militante na falta de escrúpulo, Sr. José Sarney. Isto me lembra, não só o prefeito de Sucupira, como meu tênis esbodegado no canto do quarto, quando eu corria dos cachorros, cassetetes e cavalos nos comícios dos anos 60 e 70. Nunca pensei que houvesse tal coisa, depois da queda do sistema de horror que engoliu nosso país por vinte anos!
Não há duvida de que o mau cheiro veio destes dois tristes episódios. O brado de tortura e censura nunca mais se faz bem alto a meus ouvidos, e eu já nem sei se é eco retardado ou pesadelo remanescente. Mas com certeza cheira à ditadura . Credo em cruz! Como se fala lá em Minas.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Leitura recomendada







"A Cabana" invoca a pergunta: "Se Deus é tão poderoso e tão cheio de amor, por que não faz nada para amenizar a dor e o sofrimento do mundo?" As respostas encontradas por Mack , o personagem principal, surpreenderão você e, provavelmente, o transformarão tanto quanto ele.

Dica de peça teatral


Viver em tempos mortos


Meu coração acelera e depois descansa quando contempla Simone de Beauvoir na figura de Fernanda Montenegro. Precisa dizer mais?
Onde quer quer você esteja aqui no Brasil, não deixe de assistir esta peça.
Pelo que fiquei sabendo, vai acontecer nos palcos dos diversos Estados.

Mulher de 50 ou mais...



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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

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Arrogância


Maria J Fortuna

Concordo, plenamente, que a arrogância se deve ao pecado original. A partir daí, o caos se estabeleceu e o espírito do belo anjo Lúcifer passou a perturbar os que vivem na Terra. A unidade com o Criador foi rompida e continua a fazer vítimas na figura dos ditadores do mundo! A linha da vida, que leva à infinitude, se partiu em vários pedaços e ficou cheia de pequenos nós, acrescidos de cerol - aquele grude de tapioca, com vidro esmagado, feito para cortar a linha dos papagaios. Assim acontecem, aqui e ali, as tentativas de corte aos vôos das utopias, ideais e sonhos dos que tem nostalgia da unidade perdida.
Na convivência do dia a dia, quando o ser humano se torna arrogante, empina o nariz e, numa postura de peito de pombo nem sempre visível, acha que pode gritar em alto e bom tom, o que lhe vem à cabeça, às pessoas mais tímidas e retraídas. Não interessa o que tem a dizer essas pessoas.
Pisar no pé de um arrogante é coisa muito séria porque, apesar de sua resposta ser sempre previsível, o interlocutor nem sempre está preparado para segurar o bafo azedo de agressividade que o atinge como terremoto e não dá espaço para explicações. Afinal ele tem sempre razão.
A marca registrada dos grandes Mestres tem sido a serenidade. São tolerantes diante da ignorância humana. Sabem que não sabem e não tem o mínimo interesse de coibir quem quer que seja.
Perdi um grande amigo que se dizia meu irmão, por causa do seu estado de arrogância, na ocasião em que nos vimos envolvidos num conflito. Por duas vezes ele, de forma prepotente, disparou contra mim palavras pesadas, mal cheirosas, destemperadas , que eu não consegui revidar. Apesar de amá-lo muito, não tentei uma reconciliação, porque passei a não suportar seus ataques de demiurguice. Esta é uma forma de mostrar aos outros que são poderosos, escondendo dentro de si temor e insegurança. Apesar de que o arrogante sabe perfeitamente onde ele pode exercer o seu “poder” e, assim, ficar cada vez mais sozinho....

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O pivô




Maria J Fortuna


Toda radiante vestiu seu vestido de cotelê azul marinho, última moda naquele inverno, rumo ao banquete. O evento acontecia na Casa do Baile, em Belo Horizonte. Lugar de prestígio para grandes acontecimentos na época. Sua disposição era aproveitar, ao máximo, aquela oportunidade naquele ambiente sofisticado. Sonhava com os quitutes do banquete: degustar uma ceia inédita e, quem sabe, arrumar alguma companhia interessante que poderia terminar em namoro. Afinal, naqueles idos anos sessenta, as pessoas flertavam, namoravam, noivavam e casavam. Todos estes verbos. Agora temos o “ficar”, que junta tudo isso numa só ocasião e, na maioria esmagadora de vezes, não tem futuro.Assim que chegou, os amigos fizeram festa:- Maravilha você aqui! Falaram animados. Que bacana você está... E daí por diante.Sentou-se, admirando a grande mesa comprida, rodeada por ilustres convidados: diretores e presidentes de várias indústrias, firmas importantes, gente do comércio e altos funcionários de repartições públicas. Um clima elitizado, engomado, cheirando a gente rica.Os garçons começaram a servir. A comida era ótima e o vinho da melhor qualidade! Risos pra cá e pra lá. Os convidados já estavam descontraídos.Um homem “bem apanhado”, como se costumava a dizer dos bonitões na época, estava com olhar fixo em sua pessoa. Puxa, parece que havia interesse... Aquele homem elegante armou um sorriso aberto desde sua chegada.De repente, rompeu no salão aquela música louca, maravilhosa, cheia de altos e baixos. Não podia deixar de ser... Reconheceu: era o frevo pernambucano que havia aprendido a dançar quando menina! Oportunidade para mostrar-se original na terra dos mineiros. Partiu para a pista redonda no meio do salão. Depois da terceira taça de vinho, arrancou os sapatos altos e iniciou, descalça, os movimentos do frevo. Animada com o som das palmas que se fizeram ouvir, descia e subia tão rapidamente que não notou que o pivô, na arcada superior da boca, cambaleava ao som daquele frevo estonteante!Voltou para a mesa, abrindo-se num largo sorriso. A amiga ao lado, arregalando os olhos, aproximou-se do seu ouvido esquerdo e segredou:- Caiu! Caiu!Ao indagar – Caiu o que? Sentiu que sua voz estava alterada, saía como que soprada. Passou a língua na gengiva superior e verificou que lhe faltava o pivô. Onde estaria o dito cujo? Vasculhou com o olhar a mesa e nada... Chegou então à conclusão de que só podia estar no tapete que, por infelicidade, era da cor do dente! Resolveu ir ao encalço do mesmo. Era o jeito... Escorregou, discretamente para baixo da mesa. Não sem antes ser notada pelo “flerte” a sua frente. Procurava o pivô com dedos nervosos. Missão quase impossível! O tapete era marfim felpudo, cor de dente. Por sorte, depois de muita agonia, conseguiu encontrá-lo.O homem a sua frente percebeu quando sua pequena mão procurou, na superfície da mesa, um pedaço de pão. Achou aquilo estranho... Mas continuou com o olhar fixado ali, como um gato esperando a presa para cair-lhe em cima. Ela calçou o artefato dentário com miolo de pão. Recolocou-o aliviada. No estresse, havia arranhado o lábio inferior com o pino plantado na gengiva. Mas agora, parecia ter provisoriamente solucionada, a questão. Emergiu, então, ainda meio tonta do sufoco... E sorriu...De olhos arregalados, a amiga que estava sentada a seu lado, segredou-lhe ao ouvido:- Tá ao contrário! Tá ao contrário!O “flerte” observava com um ar meio idiota. E sorriu desconcertado, fingindo nada perceber.De susto e surpresa, ao ouvir o que a amiga tinha dito, e sob os olhares curiosos dos circundantes foi escorregando para o lado oposto da mesa e ficou sem falar até o final do banquete.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Selecionei estas duas crônicas para compensar as duas semanas que não posstarei textos em Artes e artes. Vou fazer uma pequena cirurgia no olho esquerdo. Um abraço em todos que frequentarem o blog na minha ausência

Maria J Fortuna

A menina de cabelos vermelhos




Maria J Fortuna

O leite, trazido por um jumento para o café da manhã, chegava bem cedinho. Eu tomava café com beiju e corria em direção à janela para ver a última atração da rua: uma menina de cabelos vermelhos!
Ela havia aparecido certa tarde na porta de casa. Minha irmã quem viu primeiro e gritou para mim: - Vem ver uma coisa muito engraçada... Corri curiosa para conferir o que ela estava dizendo. Dei com uma menina de uns 6 anos de idade, debruçada na janela de sua casa, só de calcinha, comendo uma goiaba. Nossa! Era verdade! Muito estranha aquela menina! Tinha sardas no rosto feito ferrugem e tinha cabelo vermelho, todo assanhado, parecendo raios de sol. Daqueles que a gente vê nos livros de estórias... Por que será que aquela menina havia nascido daquele jeito, com cabelos de fogo? Seria de uma raça de gente estranha, de um lugar distante que a gente não conhecia? Ou foi assim, de repente, que seu cabelo havia ficado daquele jeito? Pensava eu, nos meus cinco anos de idade. Será que ela ficou assim porque era muito levada, ou porque a mãe tinha aquele cabelo? Ou pai, quem sabe... Teria mais crianças de cabelo vermelho naquela casa? No quintal, havia um galo que tinha as penas da mesma cor do cabelo da menina, e meu pai dizia que era da raça dos ro-dis-lande, soletrava eu, mentalmente, sem compreender muito aquela palavra. Será que ela era ro-dis-lande também?
Estava chegando o Natal e com isto nossa casa ía receber uvas, passas, pera e maçã, coisa que a gente só vê por ocasião daquelas festas, no nordeste do Brasil. A menina devia ter vindo do mesmo lugar que aquelas frutas, pensei. Elas não eram comidas durante todo o ano no Maranhão. Só mesmo no Natal e Ano Novo. Assim mesmo, para quem tinha dinheiro. Não era nosso caso, mas o namorado da minha tia levava pra gente. Aquela menina só podia ter vindo do mesmo lugar... Era tão rara como o farnel das festas no final de ano... E quando ela fosse à escola? Será que iriam rir dela? Será que ela brincava como toda criança? Seria menos ou mais inteligente que o normal das crianças? Gostaria de pegar nos fios de cabelo da menina. Será que ela deixaria? Será que ela era feliz com aquela cor de cabelo?
Não fiz amizade com a garota. Nunca me aproximei dela. Até hoje não sei porque. Mas o acontecido, me faz refletir quanto às diferenças... Que infelizmente, na vida adulta, alimentam o preconceito. O que é um sentimento de agradável surpresa de uma criança para outra, é motivo de discriminação no mundo adulto. Claro que no nordeste moreno de cabelos e olhos escuros, uma menina de cabelos de fogo parecia de outro planeta! Algumas crianças que eram maltratadas em casa podem ter agredido aquele anjo ruivo, mas passa, quando outras crianças de cabelos vermelhos aparecem. O que, infelizmente, não ocorre quando o preconceito é alimentado e o sadismo anda solto...
Ficou a frustração de nunca ter brincado com aquela menina linda, e nem sequer ficar sabendo seu nome...

Meu primo-irmão Fortuna

Prestigiem o trabalho do Fortuna!

De 16/11 a 20/12/2009, no Rio de Janeiro, visite o II Festival Internacional de Humor. O homenageado deste ano é Fortuna, considerado por seus pares como "o cartunista dos cartunistas", que trabalhou em diversos jornais, tendo sido o mais importante o "Pasquim". A França também será homenageada, em razão do Ano França-Brasil. O Festival acontece no Centro Cultural dos Correios, rua Visconde de Itaboraí, 20, no Centro da cidade.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

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A dor maior


Maria J Fortuna

Não existe maior dor no mundo que a ameaça de se perder a própria identidade. Conheci uma mulher sob esta ameaça. Ela se chamava Nazira. Veio, com sua família pobre, do outro lado do mundo, para o Brasil, após a segunda grande guerra.
Nazira tinha quase sessenta anos, cabelos grisalhos e olhos quase negros, corpo ainda delgado. Possuía uma beleza comovente, mas era uma pessohermeticamente fechada em si mesma.
Com o tempo perdeu os pais, seu companheiro foi trabalhar no Japão e não deu mais notícias. Tinha um filho que partiu para os EEUU, Disse que ia fazer “pé de meia” e , como o pai, não mais se comunicou. Trabalhou como operária de uma fábrica durante muitos anos para manter-se e a seu filho.
Ela me apareceu, no cair da tarde, no Posto Médico de Belo Horizonte, encaminhada por seu psiquiatra. Pediu licença e entrou na sala. Nunca mais vou me esquecer do seu olhar de pânico...
Depois das apresentações ficamos as duas, uma diante da outra. Eu só tinha dentro de mim um coração aberto e cheio de compaixão, Sentir o outro quando está em crise existencial é um desafio imenso à nossa capacidade de empatia. Como os atores. procuramos dentro de nós mesmos alguma referência para compreender o que se passa, e nem sempre somos felizes neste empreendimento. Mas aquela senhora sabia exatamente o que lhe estava acontecendo e essa consciência fazia-me sentir impotente e desconcertada, o que não podia me acontecer como profissional numa entrevista.
Custou-lhe verbalizar seu pânico, mas depois, quando me sentiu receptiva para ouvi-la, sem julgamentos, iniciou sua fala.
- Tive uma infância difícil. Além da guerra, perdi meu pai cedo e fui criada pela minha mãe, que sofria de epilepsia. Fui criticada na escola, porque só tinha um uniforme doado pelas freiras que me chamavam de Crominho, porque diziam que eu parecia uma criança de cromo. Casei-me muito cedo e nunca me ajustei ao marido... Mas não queria que ele partisse, apesar de tudo... O filho a quem amo, foi embora para longe, tudo isto me aconteceu....
Fiquei na escuta procurando acolher.
- Tudo isto vivi, mas eu estava presente. Agora ameaço sair de mim mesma. E este sofrimento é maior do que todos os outros por que passei em minha vida! Esta, agora, é minha dor maior!
Como fazer alguém se sentir seguro a ponto de ter certeza de que a própria identidade não vai lhe fugir?
Procurei seu psiquiatra, tracei um plano de tratamento encaminhando-a para uma psicóloga, que eu sabia ser competente. Seria um tratamento multiprofissional. Nazira estava com medo de se perder de vista. Lembrei-me de Van Gogh e de todos os que se buscaram e nunca se encontraram. Concordo com Nazira. Não há dor maior do que não mais se reconhecer e ter lucidez para acompanhar sua própria imagem, tornar-se fora do próprio controle e fugir... Seria excesso de autocontrole o elemento insuportável que ameaçava Nazira a debandar de si mesma? Creio que não...
Depois, veio a segunda fase do tratamento: aceitar tomar medicamento para o resto dos seus dias. Foi outra luta. Ela teria que aceitar que ficaria bem apenas quimicamente compensada. Já havia lidado com alguns casos assim e sei que é muito difícil. Tratamento alternativo não existe para estes casos, nem a força da fé, porque, dentro daquele ser, o amor está doente e há como consequência, quebra de confiança em Deus e no mundo. Não tenho dúvidas de que Nazira tinha razão. Esta é a dor maior! Tenha o nome de psicose, esquizofrenia,ou neurose obsessiva compulsiva. É a doença da dor maior, enquanto existir lucidez, não interessa seu grau.
A segunda etapa foi satisfatória e ela voltou à vida normal com ajuda dos medicamentos. Não tão normal depois de ter descido alguns palmos de um enorme precipício. Pois quem vive esta experiência jamais a esquece e todos os chamados problemas ou dificuldades do dia a dia ficam pequenos,.São os chamados “desligados do mundo” ou “ não estão nem aí” Pouca importância dão as coisas que os rodeiam, principalmente as fúteis. Não confundir com autistas. Desconfio que esta é a noite negra dos místicos, onde Deus se esconde, Sem dúvida é o apagão da alma.
Agora me pergunto: como o falho sistema de saúde brasileiro – o SUS – está preparado para receber pessoas nas condições de Nazira e dar-lhe tratamento adequado?

Mulher de 50 ou mais...




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Novo lançamento de Luiz Lyrio


Andei lendo este livro do Luiz. Aconselho a quem gosta de uma literatura cheia de imprevistos e surpresas! Sou leitora assídua deste escritor e quanndo tenho alguma de suas obras nas mãos não consigo parar de ler.



ENTRE A MORTE E A VIDA
Luiz Lyrio
Neste livro, você viajará com espíritos sedentos de amor e com demônios tomados pelo ódio, encontrará membros que, separados do corpo a que pertencem, adquirem vida própria, deparará com desencarnados que assumem o papel de guardiões de suas viúvas, conviverá com bruxas, com heróis de corpo fechado e com amantes que voltam do além para refazer seus elos amorosos com seus entes queridos.
Leia com atenção as histórias aqui contadas e procure entrar na realidade que desvendamos. Mas tome cuidado! Certos caminhos, quando não tomamos as devidas precauções para deixá-los preservados, costumam não ter volta...


Peça seu exemplar pelo e-mail revistalo@yahoo.com.br

A posse de Clevane Pessoa, autora de Erotíssima, livro de lindas poesias , que foi lançado na Bienal do Rio de Janeiro, tomou posse na Academia Feminina Mineira de Letras ontem, como foi previsto no texto abaixo. Estou feliz pelo reconhecimento da Academia ao grande talento de Clevane que, entre outros titulos, é Embaixadora da Paz e Consul de Poetas del mundo,

"CLEVANE, essa mulher de pura poesia que veio fazer história na revolução das Letras, tomará posse na AFEMIL (Academia Feminina Mineira de Letras), ocupando a cadeira de nº 5, na qual terá como Patrona, nada mais nada menos que a nossa saudosa Cecília Meireles. Todos estão convidados a com/partilhar desse momento notório de nossa querida poeta e escritora Clevane Pessoa, no dia 18 de novembro de 2009, às 16h:00, na rua dos Timbiras 1560, Conj. 703/704 - em Belo Horizonte/MG - onde a escritora será saudada por Elisabeth Rennó, Presidente da Academia Municipalista de Letras AMULMIG. "

terça-feira, 17 de novembro de 2009


"Animais são anjos disfarçados, mandados por Deus para mostrar ao homem o que é fidelidade"

Artur da Távola


Minha amiga Monica e seu gato

sábado, 14 de novembro de 2009

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O Kit surpresa



Maria J Fortuna


Tenho uma amiga escritora e poeta, tão menina quanto sou, com quem divido esquisitices divertidas! O jeito de dizer uma à outra que adoramos ser amigas, transformamos em uma espécie de brincadeira, eu no Rio de Janeiro e ela em Belo Horizonte. A troca do kit surpresa! Ah! Mas é bom demais!
Como nossos encontros, fisicamente, são raros, dá tempo de preparar o kit sem pressa. No meu caso, fico de olho em coisas pequenas e diferentes. Olho daqui e dali numa vitrine de loja ou num camelô mais sofisticado, alguma pecinha útil que possa agradá-la. Compro ou aproveito uma caixa bonitinha e lá começo a colocar as pecinhas: lenços, grampeadores mirins, colar de pendurar óculos, bolsinhas de moedas, etc.
Na verdade foi ela que inventou a brincadeira do kit. Já ganhei uma caixinha cheia de coisas e loisas: pedrinhas coloridas, livrinhos de poesia, lenço de pescoço, luzinha para ler no escuro e até tamanco indiano!
O melhor da brincadeira é imaginar o que vamos ganhar no próximo kit. Como sou distraída, preciso escrever o que já dei nos kits anteriores e ficar atenta para não repetir os mini presentes.
Quando há trocas de kits a gente se encontra em minha casa ou na dela. Os papéis de presente são coloridos, cheios de glamour. Entre risos e caras de surpresa, vamos abrindo um a um, até a caixa ficar vazia. Dia de aniversário ganhamos um pouco mais. É um kit especial. Eu me sinto recebendo um enorme Kinder Ovo , cheio daquelas surpresinhas que a gente nem espera e depois tem que montar um a um.
Quando olho para minha escrivaninha dou com a presença da amiga, na forma de um ou dois objetos que ganhei no kit Mariinha e já estou preparando o Kit Clevane de Natal.
Para viver esta alegre troca, basta estar feliz e querer muito bem o amigo(a), porque nos torna mais humildes no dar e receber e aquece o coração. Com a vantagem de, por alguns instantes, voltar a ser criança ao sessenta anos.

Aviso

Queridos seguidores de Artes e artes, não tenho conseguido postar os comentários que, tão generosamente, vocês me enviam.
Quando clico em "publicar" o comentário desaparece. Lamento muito porque as pessoas frequentam o blog, mas raros são os que experessam alguma coisa a respeito. Uma pena,,,

Um grande abraço agradecido
Maria J Fortuna


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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Exausta de Deus!


Maria J Fortuna

Estou exausta de Deus! Sinto-me cansada de indagar por que não me ouve. E já enfastiada com pedido sem retorno. Saturada de suas contradições. Por um lado Ele diz: -” Pedi e recebereis, Batei e abrir-se-vos-á”. Por outro diz: - “É necessário que te abandones à vontade divina...” Eu me abandono ou peço? É complicado. Em termo de pedido e de tentativa de abandono, já se passaram mais de 40 anos. Sei que o tempo Dele não é o meu, mas há de se convir que nosso tempo na Terra é muito curto. A não ser que todos nós sejamos reencarnacionistas. Os humanos vivem pouco para deixar de dormir. É isso! Quero dormir a noite toda e me sentir bem no dia seguinte. Mesmo na guerra, acho que as pessoas dormem, e os que não conseguem, enlouquecem! Quando falo em dormir, quero dizer, naturalmente, sem comprimidos. Não peço poder, riqueza, nada, apenas isso! Ainda não o sono eterno, mas o de toda noite mesmo. E ainda tenho que admitir que Ele quer sempre o bem das pessoas e que tudo de bom acontece quando lhe somos fiéis. E ainda que tudo o que acontece é para nosso bem futuro. Mas qual o bem que traz a insônia? Só quero a coisa mais simples do mundo – dormir! Como uma criança que confia e não com a paulada de um psicotrópico.
Um médico homeopata me falou que, para que Ele me ouça, tenho que entrar em sintonia. E que não estou fazendo o pedido de forma correta, porque Ele não está reconhecendo. Como assim, se conhece todas as coisas, até o espaço entre nossas células?
Hoje pela manhã, me postei resolvida a esquecê-Lo, nem que fosse por aquele instante. Fechei os olhos e O ignorei. Procurei esvaziar-me de conceitos e dogmas. Deixei pra lá minha ignorância e procurei esquecer Sua palavra, seus 99 nomes e as mil interpretações que as pessoas dão a Sua palavra. Da loucura do sectarismo e das atrocidades cometidas em Seu nome. Esqueci o Livro e tive a sensação de que realmente estava só comigo mesma. Engraçado, não tive medo, não me senti desconfortável, abandonada ou desamparada. Ficar ali, quietinha, sem a consciência daquela Presença incômoda de quem faz “ouvido de mercador” para minhas preces, trouxe-me sensação de paz e autoconsolo.
Quem sabe nesse esvaziar-me Dele eu não O encontre?

domingo, 1 de novembro de 2009

Reconhecimento







Maria J Fortuna

Olhou bem nos olhos os olhos do outro... Aquela pessoa não lhe parecia estranha. O formato das pálpebras, ligeiramente caídas, a Íris de um castanho suave, cheio de pigmentos escuros, formando uma linda mandala, cujos desenhos convergem para o centro, a retina misteriosa que acompanha os seres vivos até o final de suas vidas e espelha mais do que as coisas conhecidas. Reparou os vincos da pele, ceifada pelo tempo, em volta da boca, que já não estava tão bem modulada, mas ainda trazia boas lembranças, de que ele bem sabia. O nariz afilado, bem feito, e o queixo delicado, bem desenhado, ensaiando uma covinha. Subitamente, sentiu o coração acordando como que de um sono profundo, e a respiração parecia presa como um pássaro azul na gaiola de ouro. Ó céus! Aquele instante era semelhante àquela música: “Azulão, Azulão... “ Onde está você, céu de minha vida?
O sinal de trânsito estava quase fechando e ele teve que acelerar o passo. O encontro dos olhos não durou mais do que um segundo. Atravessavam em direções diferentes. Chegou à calçada e ficou olhando, olhando, para ver para onde aquela pessoa de cabelos tingidos de vermelho se dirigia, após chegar à calçada oposta. Mas... Aqueles cabelos não eram os mesmos... Tinham um colorido cansado, turvo e áspero. Lógico, que depois de 30 anos, muita coisa muda. Mas o olhar... este não mudou em nada!
Limpou o suor, que descia pela face , até o colarinho. O calor estava de matar! Chegou ainda a ver um lampejo da blusa amarela daquela figura tão familiar. Parecia refletir o calor do sol. E o andar quase ligeiro da mulher dos olhos castanhos. Ela não se voltara, para ver seu olhar tão pedinte quanto aquele do velho sentado na esquina da Rua do Ouvidor. As pessoas de olhos dos mais variados tons de olhos, de vários tipos, o empurravam com seus corpos encalorados.
- Será que era ela? E se for? Por que detenho os meus passos e não consigo reatravessar a rua, ir atrás? Preciso me certificar da verdade, encará-la, questionava a si mesmo, em monólogo. E se tivesse certeza, será que teria coragem para se postar diante dela e mergulhar naqueles olhos novamente? Por que ela não se voltou para trás? Medo do confronto? Ou... Talvez não fosse a pessoa do passado num encontro inesperado. Apenas quase semelhante...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009


Minha amiga Radda Dimittrica recebeu uma nova medalha de ouro em cerimônia na SBAV - Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho. Fui assistir a cerimônia, onde outros talentosos artistas estavam exibindo sua arte, tais como: Thereza Theodora, Alexandra Pinto (Alix), Matilde Toledo, Kazu Maia, Fatima Gomes e outros.

Na foto eu e Radda






Aí estão outros belos trabalhos como A santa ceia de Matilde Toledo e o de Thereza Theodora em fibra vegetal








terça-feira, 20 de outubro de 2009

Visitem http://precesemcaledoscpio.blogspot.com/ Os que apreciam sempre voltam... Na verdade trata-se do meu antigo blog Preces do Sol e da Lua que está sendo renovado.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Um pássaro é um pássaro...




foto de Krishnamurti



Maria J Fortuna

Um pássaro é um pássaro, uma flor é uma flor. Por que para o ser humano é tão difícil ser ele mesmo? Parece uma pergunta idiota, de quem não conhece sua própria natureza e as dificuldades cognoscíveis ou não, por que tem que lutar para conseguir tal intento? A pergunta poderia ser: por que criamos, ao longo do tempo, tantos obstáculos para a realização plena da nossa natureza humana? Sabemos que logo que a luz se faz a nossos olhos, já estamos às voltas com nosso próprio temperamento, que se a princípio não aceito pelos pais, contribuirá para nos transformar num desastre! Depois vem a família, religião, valores culturais que ajudam ou dificultam o autoconhecimento. Isto todo mundo sabe, mas aí me vem outra pergunta: que espaço temos para sermos livres de dogmas e preconceitos em nossas vidas? Sim, porque para que haja autoconhecimento precisamos, acima de tudo, de liberdade.
Durante muito tempo li muitos livros e textos de Jiddu Krishnamurti. Este Mestre foi o grande responsável pela quebra de paradigma de muitos dos meus companheiros na década de sessenta. E o que me encantou nele foi a força interior que o fez se negar a ser o veículo para o "Instrutor do Mundo". Krishnamurti, no entanto, não tinha compromisso com nenhuma linha filosófica ou religiosa, não sendo do Oriente nem do Ocidente, mas para o mundo todo. Declarou ser a verdade "uma terra sem caminhos", à qual nenhuma religião formalizada, filosofia ou seita daria acesso. Só tinha compromisso com ele mesmo. Imagine a revolução interior, a ausência de referência quando, de repente, uma pessoa referenciada por crenças e dogmas judaico-cristãos, se depara com tal proposta de liberdade? Krishnamurti afirma que é possível produzir mudanças fundamentais na sociedade, apenas pela transformação da consciência individual. Isto me lembra a proposta de Paulo Freire sobre a importância da necessidade de uma pedagogia dialógica emancipatória do indivíduo oprimido. O que nos oprime afinal? Por que temos tanto medo da liberdade?
Neste mundo moderno está cada vez mais difícil o indivíduo ser autor de sua própria história. No apelo do consumismo, na luta desvairada pelo poder, na correria da sobrevivência, estamos nos perdendo. As máscaras se sucedem, conforme as conveniências e, cada vez mais, ocultam a nossa própria verdade. A violência, a exploração e a injustiça estão presentes o tempo todo, sem data para acabar.
Enquanto tudo isto acontece, alguém acorda absolutamente ausente de si mesmo e, neste estado, consulta o horóscopo do dia, toma um desjejum às pressas, pega condução para o serviço. À noite, ao chegar em casa, liga a TV no noticiário do horror, assiste à novela da onda e vai para a cama dormir ( se conseguir). Acorda no dia seguinte, quando tudo recomeça...
Quem é esta pessoa? Não faço a mínima idéia... Nem ele próprio.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009


A arte de decorar havaianas é muito boa!
Em cada continha um colorido diferente ilumina meus olhos e me encanta!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

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Os que apreciam sempre voltam...
Na verdade trata-se do meu antigo blog Preces do Sol e da Lua que está sendo renovado.


Maria J Fortuna


O maior texto, que já escrevi até hoje, foi sobre um assunto que sempre me intrigou – o velho novo tempo... Nele, confundo tempo com Deus, energia, correnteza, vento brabo, tudo o que passa correndo, e julgando esta abstração estupenda de um mau gosto inexplicável! Pois é capaz de fazer de mim um punhado de células que envelhecem, afastando meus amigos de infância e juventude, levando entes queridos sempre, a meu ver, prematuramente, para lugar desconhecido, e ainda prometendo fazer o mesmo comigo. Sempre fui avessa às aulas de História, porque falavam de um passado, para mim, inútil, que pode ter sido deturpado no relato oral ou escrito dos antepassados. Por tudo isto eu achava o tempo um absurdo eterno, sem lógica.
Finalmente, encontro uma forma, não de compreendê-lo, mas de pará-lo! De uma vez extasiada, nem perceber sua presença... De não questioná-lo, mas apenas permitir que a luz me preencha todas as células, tornando-me atemporal! É isto: o tempo existe para que possamos nos reconhecer na infinitude do Amor! Quem ousa questionar o tempo quando isto acontece?
O estado de amor é a via mais rápida para chegar à transcendência, o que me deixa totalmente fora do tempo. Que me reúne e me faz valorizar o que aconteceu no passado e no futuro. Que me faz reviver a Santa Ceia como se eu estivesse ali, com os discípulos, na presença do Mestre. Contemplar, embevecida, as obras de Da Vinci, como se tivessem saído, naquele momento, do pincel para a tela. Emocionar-me com a poesia de Cecília Meireles, como se as letras ainda estivessem frescas no branco do papel em sua velha escrivaninha. Alegrar-me com as estórias do Sítio do Pica Pau Amarelo recém-escrito por Monteiro Lobato, enquanto eu ainda criança.
O belo é atemporal! O estado de Amor, além de um mergulho no belo, ainda nos faz viver tudo o que se passou no que se passa. E o que se passa no que se passará.
Em estado de amor, não se julga. Reconhece e acolhe a pessoa velha que fui, e a nova pessoa em que me torno a cada instante. Reconhece, igualmente, o outro do mesmo jeito. Assim consigo vislumbrá-lo, por mais inflexível que seja, em processo de mudança. Basta que o amor chegue de repente, sem nenhum aviso prévio, com seu jeito profano e sagrado, humano e divino. O tempo não ousa existir quando a gente está mergulhado nele. O tic-tac do relógio nada tem a ver com as descompassadas batidas do coração humano quando ama...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Um blog de preces ao Criador

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Mulher de 50 ou mais...


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Eu e você
Maria J Fortuna

Um dia ela se perdeu no mar dos seus olhos azuis... Seu jeito terno e silencioso, foi a grande motivação para amá-lo, assim que o viu pela primeira vez. Ele era transparente como as asas da libélula, e tudo se processava, entre os dois, de forma intensa e inesperada. Descobriu naquele seu olhar inocente, o apelo por amor e paz. E sentiu que, apesar de sua seriedade aparente, ele era lúdico como criança, com quem podia brincar entre um por de sol e outro. Ela na primavera e ele no outono.
O amor dos dois foi algo tão bonito quanto o cavalgar firme de um alazão trazendo uma inseparável borboleta em seu dorso.
Um dia, ela o presenteou com dois bibelôs. Eram duas canequinhas de vidro, escrita em uma EU e na outra VOCÊ, e disse para ele:
- Toma EU; levo VOCÊ...
Noite seguinte, numa emboscada da lua crescente, se viram como amantes. Depois das felizes agonias dos momentos da intimidade amorosa, ela mergulhou em seu peito, escutou-lhe o coração, enquanto ele, com os rosto em seus cabelos, cerrou os olhos azuis e celebrou o negro dos olhos dela.
Ficaram ali como se estivessem rezando. Então, lentamente ele esticou a mão esquerda para pegar sua blusa púrpura e dela retirou o bibelô presenteado.
- Aqui está você de volta, disse, estendendo a bibelô EU para sua amada.
E ela, preguiçosamente, procurou no bolso do seu agasalho o bibelô VOCÊ e lhe entregou docemente:
- Tome VOCE para sempre...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

domingo, 27 de setembro de 2009

Erotíssima e a nova mulher de sessenta


Maria J Fortuna

Estamos num novo tempo, para nós, mulheres de sessenta! Se antes desta idade, aos cinquenta, a gente investisse num novo romance, ou falasse e escrevesse algo “apimentado”, fatalmente seríamos chamadas de “velhas assanhadas”. Mas, agora,estamos nos sentindo mais confortáveis para soltar a sensualidade como flores vivas ao longo do caminho. Pelo menos, para algumas mulheres corajosas da chamada “terceira idade”, prefiro chamar de renascimento da mulher sessentona!
Nestes novos tempos, um erotismo maduro, sem apelações, forjado pelos anos de experiência e fantasia, deixa-se mostrar de forma espontânea, poética e requintada, através de pinturas, esculturas e poemas, como os de Clevane que se nega a ficar invisível por causa da idade.
Estou entusiasmadíssima com o lançamento desta sua nova obra! A autora canta a beleza, em ricos e refinados poemas, na linguagem universal do erotismo feminino, que não tem idade. Não resisto à tentação de colocar aqui uma amostra de um dos seus poemas, em que homenageia a poetisa Yeda Schmalt, que igualmente escrevia poesias eróticas de muito bom gosto:
Calcinhas para tirar:

Depois de passar um bom tempo
Escolhendo, com apaixonado olhar
a prever delírios, calcinhas rendadas
vermelhas, cavadas, sensuais e sedosas
depois perfumadas com água de rosa
percebo que aparece uma bela borboleta
para cobrir a rosa da espécie“Príncipe Negro”
onde o vermelho é muito escuro
e seu botão bem mais rosado
Essa coberta leve e ousada
vestida apenas para ser tirada
é uma estratégia feminina
para a guerra de “huns” e “ais”
que acontece entre lençóis
No tálamo.

Erotíssima, esta deliciosa obra que foi lançada na Bienal do Livro, este mês, no Rio de Janeiro – RJ, vem com formato livro de bolso, ótimo para ser mostrado, a quem ainda não conhece.
Clevane é psicóloga, jornalista, escritora de muitos títulos e prêmios. Recebeu no Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana, primeiro lugar de Poesia e o Troféu aBrace (Uruguai/Brasil) de 2008 e nos XXIII Jogos Floroais de Algarve – Portugal, ganhou primeiro lugar com sua crônica Contraponto

domingo, 20 de setembro de 2009

Imaturidade


Maria J Fortuna
Eu estava próximo à seção de brinquedos, numa loja em Belo Horizonte, quando ouvi uma jovem mãe quase gritando com seu filho, que aparentava uns cinco anos:
- Como você quer este jogo se não tem idade para brincar com ele?
O menino berrava, gritava, fazendo a maior birra! A mãe sapecou-lhe uma palmada e ele foi se aquietando... Até que pegou outro brinquedo, que a mãe novamente tomou, por ser inapropriado para ele, e o que aconteceu? A criança acabou deixando-o cair e, inadvertidamente, pisou no carrinho amarelo espatifando-o todo! Fiquei pensando... Somos um pouco como aquele garoto, frente ao Criador. Apesar de Ele ter desenrolado a vida no planeta em seu tempo, muitos de nós somos ainda seres com barro mole, sem maturidade para nos autogerir com propriedade. Não tenho dúvida de que o processo, para nós vagaroso, na evolução da espécie, é o grande responsável. O fato é que fazemos birra para obter o que não estamos ainda preparados para usufruir. Pisamos no que de bom recebemos e atiramos fora , continuamente. Por não saber receber, estamos despreparados para dar. Não fosse a honrosa galeria de homens e mulheres centrados, conscientes e despertos, que outrora caminharam e outros que ainda caminham no planeta, eu diria que somos todos analfabetos do código divino – tanto da lei como da graça. Isto porque ainda nem sequer conseguimos amar a nós mesmos. A destruição do meio ambiente está aí para mostrar o grau de imaturidade do ser humano confuso em sua própria natureza , quer física, na indefinição do esquema corporal e da sexualidade, como do ponto de vista social e espiritual. E o desrespeito à diversidade e ao estágio evolutivo do outro.
Vejamos a política no Brasil e em alguns outros países. Aquilo que deveria ser o exercício do altruísmo é transformado num desastre total! A maioria dessas pessoas que o país elege está ainda na fase anal freudiana do querer reter o poder para si. São mentirosos, farsantes, aproveitadores. Os senhores bigodudos , calvos ou grisalhos, tiram dos cidadãos o que lhes é devido, não lhes devolvendo em benefício de outros grupos humanos. Não passaram a fase egoísta infantil, colecionando bens e tratando o patrimônio público como se fosse seu.
O nível de agressividade convertido em perversidade é uma coisa tão brutal que escondemos de nossa memória, para suportar.A bem da verdade nem chegamos ainda ao adolescer da consciência. A maioria de nós é pré-adolescente emocional. Temos religiões paternalistas e o não hábito de encontrar o divino dentro de nós mesmos, através da coerência, que dá fruto de altruísmo e caminha para o amor maior.
Tenho medo que, com o impressionante avanço da tecnologia em nosso lento caminhar evolutivo de nossas consciências, a espécie não consiga sobreviver. Tudo por causa de nossa absurda imaturidade!

Nos subterfugios do inconsciente feminino


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domingo, 13 de setembro de 2009

Querer por inteiro



Foto da Galeria do Armando

Maria J Fortuna


Na novela das oito o sacerdote brâmane Shankar diz a seu filho que se quiser o amor de Maya terá que querer por inteiro. Isto me fez refletir muito a cerca da verdade que existe em nós. Querer por inteiro, seja o bem ou o mau, é a expressão lógica de inteireza dos sentimentos. Se me sinto dividida como poderei querer algo em sua totalidade? Quantos quereres não se concretizam por falta de apoio em nosso centro? Talvez por nos encontrar despedaçados, alquebrados, descoloridos. Como posso, assim, ter êxito nas minhas escolhas? Fácil por a culpa na vontade de Deus ou num implacável destino. São poucas as vezes que o querer, associado à determinação, concretiza nossos sonhos e nos faz caminhar em direção aos nossos objetivos. Por que nos parece tão perigoso este querer redondo que pode partir para a vertical ou horizontal no traçado de nossas vidas?
Refleti em quanta sabotagem fazemos conosco mesmos para impedir que aquilo que queremos (pela metade), logicamente, não se concretize. Por que? Esta é a pergunta que me fiz, recapitulando meus anos de vida e avaliando as vezes que me neguei aos apelos do coração. Passando, inclusive, por cima da intuição de que aquela escolha seria acertada. Parti muito meu querer como se parte um biscoito.
Por que viver momentos áridos se desejando a chuva, mas não querendo que ela aconteça pela possibilidade de vê-la transformar-se em tempestade? De onde sai o medo que não nos permite o batismo de novas e saudáveis escolhas? Por que, afinal, não querer de forma plena? Seria falta da consciência de que tudo é perene e o tempo não espera para amadurecer e deixar cair o fruto não comido? O vinho não degustado?
Onde está o Graal por quem o rei Arthur tanto lutou, com seus cavaleiros da Távora Redonda? O que nos despedaçou, como se o amor humano fosse feito de vidro, sem chance de se renovar? Até onde nos deixamos influenciar pelo medo do tombo ou do raio quando caminhamos sobre nossos pés?
Quando, finalmente, chegaremos a querer de forma plena, o encontro da dama com seu cavaleiro dentro de nós e, juntos, deixar que o cálice seja sorvido na caverna que representa o coração humano?
Depois de larga reflexão, ficou claro para mim que, na maioria das vezes, apenas desejamos, não queremos. Querer por inteiro é muito perigoso.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Ó Minas Gerais!

Maria J Fortuna

Cheguei a Belo Horizonte num dia em que o céu chorava que dava dó! Tinha como referência uma frase muito citada para definir os mineiros: eles são desconfiados! Quem me conhecia dizia que eu não iria me acostumar jamais com aquele povo muito diferente do carioca e do nordestino. E eu sou “maranhoca” (mistura de maranhense com carioca). Mas não foi assim... A chuva da solidão foi passando de mansinho quando conheci o espírito mineiro, que alguns chamam de mineiridade. Um jeito gostoso de se aproximar e dialogar, e vontade de ajudar, no que pode. Diante de alguém em dificuldade fala: Ô dó!... Mas não no sentido pejorativo que coloca as pessoas debaixo do chinelo, mas como sinalização, um SOS, a ser atendido. Bem, comigo foi assim.
Aquele acolhimento lambeu muito das minhas feridas. Eu estava só, numa época difícil e ameaçadora, com apenas uma carta para certo Padre Agnaldo arranjar-me emprego. Fui morar em quarto alugado, no Prado, um bairro bem familiar, cheio de ladeiras, igual a tantas das ruas daquela cidade. Namorei um rapaz, tocador de violão, que me fazia serenatas, e convivi com inúmeros mineiros na minha faixa etária, que vinham do interior estudar ou trabalhar na Capital. O pessoal de outras cidades era muito especial! Dependendo da região, o sotaque é muito peculiar! Se forem do sul, o “r” é quase que engolido, e os que vem do norte de Minas, o sotaque é mais parecido com os viventes do nordeste deste imenso país. Mas aqueles foram meus companheiros de juventude! Tempo brabo de ditadura militar, quando vi muitos mineiros arriscando a própria vida para esconder um companheiro.
Morei em república, pensionato, porão, barracão, casa, apartamento, quarto em casa de família, o escambau! Mas sempre com uma presença mineira gostosa, cooperadora, amiga enfim.
Com o tempo, quando me dei melhor profissionalmente, viajei por inúmeras cidades de Minas e sempre encontrei um queijo fresquinho, com cafezinho. Além da rosca, broa de fubá, pão de queijo, etc
Com meu jeito nordestino acariocado, aprendi com o mineiro, a aprimorar mais o bom senso, ser mais discreta, moderada, escutar mais do que falar. O mineiro pode ter jeito de matuto, mas é um sábio em potencial. Foi lá que aprendi a ter respeito pelo meu suado dinheirinho. Afinal, nunca o mineiro revela sua poupança e, com o tempo, a gente se surpreende de como emprega bem suas economias. Aprendi a me divertir, sem me arreganhar. Proteger meus sentimentos e os do amigo, que não é trocado por um simples conhecido.
Esta terra montanhosa, cheia de cachoeiras mata adentro, tem cheiro de pureza, simplicidade e valentia. Muito raro encontrar um mineiro mal humorado. Quando contamos piadas, observa-nos com ar de seriedade, como se não estivesse fazendo parte da brincadeira e, de repente, você se surpreende com uma tirada que deixa você morto de rir! Pode até brigar, imprensar o amigo no cantão, mas depois que vomita sua mágoa, enche-se, novamente, de amor. Haja vista, quarenta anos de encontro com minhas amigas mineiras para um bate papo e um chopinho, ao som de música ao vivo, quando vou às Alterosas! Trabalhamos juntas no Hospital Júlia Kubistchek, no fim da década de 60. Duas já se foram. Ficamos quatro. Mas o encontro é religioso, quando comemoramos os aniversários dos três últimos meses, com fotos, presentinhos e tudo o mais.
E como há poesia e serenata pelas terras de Minas! Como cantam, festejam e escrevem tão bem! De Itabira saiu Drummond, de Divinópolis, Adélia Prado e muitos outros naqueles rincões!
Seja em Belo Horizonte, Ouro Preto, Mariana, Poços de Caldas, Pedra Azul, Montes Claros, etc, mineiro tem o traço inconfundível do acolhimento e hospitalidade.
Adoro quando ouço aquelas frases cheias de palavras pronunciadas, pela metade juntando tudo, como “procê vê”, “gosto docê”, “ô trem!”. É música para meus ouvidos!
Já que Minas me adotou pra valer por trinta e sete anos, introjetei muito do jeito especial de ser daquele povo! Procê vê, sou também um bocado mineira, uai!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Peça recomendada


"As meninas"

Casa de Cultura Laura Alvim. Texto: Maitê Proença e Luiz Carlos Góes. Direção: Amir Haddad. Com Vanessa Gerbelli, Analu Prestes e outros.

Em meio a uma série de dúvidas e observações típicas da infância, duas meninas assistem ao velório da mãe de uma delas.

Conseguir colocar humor na temida morte de todos nós, ainda mais marcada por uma tragédia, é façanha que me deixou pasma! Adorei este espetáculo tão especial e criativo cheio de humor e ternura, com excelente elenco, ótima iluminação e figurino! Os atores estão maravilhosos! Parabéns mesmo!
Recomendo muitíssimo!
Av. Vieira Souto 176, Ipanema - 2332-2015. Qui a sáb, às 21h. Dom, às 20h. R$ 40. Até 20 de setembro.

A poesia de Cecília em frase da semana

"Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem triste:sou poeta."

Cecilia Meireles

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Minha irmã india

Maria J Fortuna

Minha família sonhava ver brotar-lhe no seio crianças loiras de olhos azuis. Mas éramos todos claros, de olhos e cabelos castanhos. Quando completei quatro anos de vida, uma de minhas tias começou a tingir meus cachos castanhos de loiro. Passava um chá de marcela, preparado que ía clareando os cabelos, aos poucos. E, como na infância, era fã de Shirley Temple, encomendou com um marceneiro, um pauzinho polido para enrolar meus cachos tal e qual os da menina americana. Eu era sua boneca, que cantava e recitava para as visitas feito criança prodígio. Como professora do Jardim de Infância, não me deixava brincar com meninos, que eram considerados brutos por ela, e vigiava minhas amizades. Teria que “andar com menina de primeira”, no seu linguajar. Coisa a que nunca obedeci. As meninas de primeira eram aquelas de família que tinha tradição. E, para completar o rosário absurdamente discriminatório, teriam que ser brancas. Enfim, minhas tias só faltavam colocar-me numa campânula de vidro para me isolar do mundo.
Eu era uma criança franzina e tímida, mas travessa por baixo dos panos, ou seja, eu era o que chamam de “sonsa”. Mas minha irmã era o oposto. Três anos mais velha que eu, puxou a família cearense do meu pai, de quem herdou o gênio rebelde. Nunca se conformou com o paparicar das tias em torno da minha figurinha aparentemente frágil. Morena clara, com cabelos bem lisos e negros como as asas da gruaúna, como dizia meu pai, franginha e olhos inteligentes, era o terror das professoras por causa do seu comportamento inquiridor e indisciplinado. Costumava ser convocada para tomar conta de mim na Missa dos domingos, porque eu morria de medo de padre na primeira infância. E influenciava minha cabecinha pseudo loira com suas aventuras e descobertas precoces. Mas o que mais me dava alento era quando dizia: - Se alguma menina quiser te bater tu dizes que tua irmã é índia! Medrosa como eu era, aquilo foi um ganho e tanto! Levei ao pé da letra: ninguém podia mexer comigo porque minha irmã podia avançar com arco e flecha. E as coleguinhas me tinham o maior “respeito”. Passavam a mensagem de uma para outra: – Cuidado, a irmã dela é índia!
Um belo dia de aula, na hora do recreio, uma menina que tinha o mesmo nome que eu, veio me beliscar. Por sinal, a garota também usava cachos nos cabelos negros. Tínhamos sete anos de idade. Olhei em volta para ver se minha irmã estava por ali. Nada. Ameacei: - Vou chamar minha irmã que é índia. Nada. Comecei a ficar aflita e recebi outro beliscão. De repente um fogo tomou conta de mim e eu crispei as mãos. Um suor brotou na testa, pelo excesso de calor, e comecei a tremer de tanta tensão. Quando a menina arriscou o terceiro beliscão, parti pra cima dela! Agarrei seus cachos e sacudi -lhe a cabeça. A revolta era tão grande que eu não conseguia soltar os cabelos da menina. A professora apareceu por trás do grupo de crianças que gritava: - Pega! Pega! E eu não soltava os cachos da coleguinha. Por fim vi, meio de relance, minha irmã torcendo: - Bate! Bate mesmo!
Não sei até hoje o que disse a professora para que eu soltasse a guria, mas foi a glória! O sentimento de orgulho de mim mesma! Pela primeira vez, não tive que apelar por proteção da minha irmã índia!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Filme recomendado.

Grande filme! Mostra os subterrâneos da alma quando o passado deixa marcas profundas e suas consequências na rotina dos nossos dias. Uma interpretação maravilhosa deste grande ator Walt Kowalski!
Recebeu uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Canção Original ("Gran Torino"). Muito linda!
Os atores hmong foram selecionados em comunidades de Detroit, no Michigan; Saint Paul, em Minnesota; e Fresno, na Califórnia. Nenhum deles, com exceção de Doua Moua, já havia atuado em um filme. Não percam!

Frase da semana

"Eu não tenho tempo algum porque ser feliz me consome"

Adélia Prado

Mulher de 50 ou mais... Pode acontecer depois da aposentadoria...


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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Amor silencioso...




Maria J Fortuna

Chegou para justificar minha existência, mas não se deixava ouvir. Na verdade sempre pareceu que nunca deixara de viver dentro de mim. Como o tempo... Seus passos silenciosos visitavam-me no berço quando eu era ainda um bebe recém-nascido. Mas sua presença estava na minha respiração, nas batidas do coração... Éramos um, portanto...Sem dúvida havia planejado, minuciosamente, a manifestação do meu ser no seu ser. De como eu havia de me expressar diante do mundo. De que cor usaria para compor a grande tela da humanidade. De que som seria minha voz na grande orquestra do mundo e como soariam meus passos pelo caminho das estações. Sabia das minhas interrogações e dúvidas, que viriam.Como todos na Terra, vim do seu ventre. Sondou as marcas dos antepassados em cada célula do meu corpo e nada pode fazer para limpar a ilusão original que me veio através do sangue, por ascendência. Herdaria, por isto, uma máquina humana mais frágil. Porém forjou meu coração para se abrir às alegrias e o fortaleceu para agüentar as dores e todas as emoções e sentimentos possíveis. Não sem antes confirmar sua presença e a promessa de ser refrigério para minha alma.Confiava em que eu reconheceria seu filho, que nasceu, cresceu e morreu antes que eu brotasse por aqui, porém é a maior manifestação do seu Amor, de sua presença, entre os homens. Pois o verbo se fez carne e habitou entre nós, e caminha de mãos dadas, no Amor, com aqueles que o reconhecem.Com isto mostrou a face da transcedência, maior do que qualquer outra, porque não se acaba nunca! Sendo inteiramente incondicional deixa-me livre para seguir por ai, neste planeta azul assoviando com as mãos nos bolsos do avental. Revelou que sou fruto de um transbordamento seu, como todos que habitam a Terra. Deu-me consciência para que distinguisse o joio do trigo. E grandes presentes como cachoeiras, flores e frutos, o encanto da lua e o brilho das estrelas e órgãos do sentido para, em êxtase, sorver toda beleza de sua criação. E que tudo ficasse ai, mesmo que, em dias nebulosos, eu não enxergasse tamanha beleza. E me fez reconhecer na criatura mais carente de recursos físicos e intelectuais, em pobreza extrema, um irmão.Mostrou que até o escorpião pode ser transformado em remédio. E que as chagas abrem e fecham no corpo e na alma não interessando, para ele, as cicatrizes. Estas seriam mais um sinal do poder restaurador de sua paterno-maternidade. E que mesmo num abismo profundo, na depressão, na perda da fé, na sua aparente ausência, ele estaria ali, soprando minhas feridas como fazem as mães terrenas. Perdoando as traições e sabotagens que eu faria comigo mesma. Segurando-me a mão para que me reerga no perdão de mim mesma.E que o tempo é nosso aliado para que eu retorne a Ele, para seu amor silencioso...

Quem sou eu

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Sou alguem preocupado em crescer.

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