sábado, 27 de agosto de 2011

Bolhas de sabão



Maria J Fortuna


Ouvi atenta, o que aquela pessoa dizia. É... O mesmo discurso repleto de frases bem feitas, cheio de lógica, descrevendo alguém ou algum fato. A mesma ênfase quando o assunto é dramático. A mesma expressão fisionômica de quem deseja, acima de tudo, impressionar a plateia. Mas, há muitos longos anos não creio em nada do que diz aquela moça, a não ser que estivesse presente na sua história, ao vivo, com direito a contestar, se for o caso. Naquele dia ouvi o de sempre: fantasias como num desfile de fatos absurdos em que ela por um rápido momento se achava, mas logo em seguida se perdia mergulhada em suas próprias prosopopeias... Aí o tempo foi se passando e eu, como das outras vezes, não mais a escutava. Meus olhos pregados nela, mas o olhar, dali pra frente, foi ficando muito vago, a ponto de incomodá-la:
- Você não esta prestando atenção no que estou dizendo! Exclamou com raiva.
Fiquei pensando que com aquele arsenal de mentiras, seria doloroso encontrar-se consigo mesma. Parece um caminho sem retorno. Creio que ainda há tempo, apesar dos seus sessenta anos. Mas o que a faria a essas alturas largar o rabo de saia da fantasia? Que tipo de risco ela correria? Esta é a pessoa mais virtual que conheço, pensei. E fui me fazendo perguntas... Em que tipo de valores seu cérebro foi estruturado? O que ocorreu de tão doloroso para arrancá-la da realidade? Por que a verdade seria monótona e insignificante? Digo isto porque a elaboração das histórias costuma ser tão genial que os fatos parecem verdadeiros. Pena que, muitas vezes, maledicentes. Qual das máscaras que usa se assemelha a sua realidade? Em que dor insuportável ela se perdeu de si mesma e não quis voltar atrás? Será que existem muitas pessoas como aquela? E o que é mais intolerável em tudo isso, é sua não percepção de que as pessoas não são idiotas e mais cedo ou mais tarde irão descobrir o blefe. Mas ela fará qualquer coisa inútil para que isso não aconteça! Inclusive chamar outras pessoas medrosas para reafirmar suas mentiras.
Quantas pessoas interagem com as outras vestidas com as plumas e paetês da fantasia? Afinal, de tanto nela crer, a pessoa acaba não sabendo mais separar o joio do trigo; o falso do verdadeiro. É ai que a doença se agrava. No caso daquela senhora tudo o que ouço dela se transforma em bolhas de sabão que estouram rapidinho no ar.
Hoje temos várias terapias alternativas, que nos ajudam a percorrer o caminho do autoconhecimento: eneagrama, mapa astral, livros de autoajuda etc. além das terapias tradicionais. O que impede a busca de um desses? Alguns amigos meus se encontraram no Budismo; outros, no Cristianismo... Há muitas opções que nos ajudam a não nos perdermos em nossas fantasias.
Não basta o conhecimento de si mesmo em determinada fase da vida, mas o reconhecer-se constantemente, à medida que nos deparamos com as circunstâncias que nos cercam. A cada entrada de uma nova pessoa em nossa vida, diante de cada situação de sofrimento ou alegria. É um treinamento diário com ensaios e erros no cair e no levantar, mas nunca deixando que a ilusão nos ofusque a visão, a consciência. Este é o propósito. Sem dúvida o reconhecer a si mesmo de forma constante, significa movimento contínuo de retorno da própria identidade, em todos os níveis dentro de nós. Como se num mergulho buscássemos lá no íntimo, o ser que somos e queremos expandir. Como avanço e recuo das águas do mar. Desconstruindo e reconstruindo... Para que a gente mesmo não vire bolha de sabão!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A caçadora de belezas




Maria J Fortuna









Mesmo nos dias em que meu coração dormiu fadigado, quando levanto da minha velha cama dou com uma chuva de pequenas pétalas roxas sobre a escrivaninha branca. Elas representam as boas recordações dos Campos de Lavanda da França. O perfume já se foi, mas ali, sequinhas, elas continuam como as Sempre Vivas dos campos de Minas Gerais. Caçadora de belezas que sou, sinto que o único recurso para acalmar-me a alma é esse encontro com o Espirito onde mora a Beleza, que é santo – o Espirito Santo.
Ninguém cantou esta senhora, que acalma as turbulências do coração, mais que os Sufis, o povo do Caminho, como dizia o Osho. A rota da beleza que perfuma por onde passa, atravessa a história e as fronteiras não só da Terra, mas como do Cosmos! Fui longe demais? Sim, mas é verdade. A Beleza tem o dom de retirar aquele espinho que está lá, bem encravado, na alma.
Outro dia quando acordei com sentimentos confusos como criança em estado de guerra, um passarinho, que não consegui identificar, cantou numa árvore próxima ao prédio onde moro. Em meio ao ruído de motores e buzinas dos carros apressados, surgiu o trinado da avezinha que chegou aos meus ouvidos como bálsamo... Mergulhei naquelas notas que se espraiavam pelos céus e de súbito fui tomada pelo espírito da Beleza! Então encontrei minha alma que estava querendo escapar. Eu me fiz à pergunta: Como um ser tão pequeno em tamanho consegue cantar daquele jeito senão um anjo em forma de pássaro? Rumi, o maior dos poetas sufis, escreveu:


“Ó amantes, abandonai as tolas ilusões.
Enloquei, perdei de vez a cabeça.
Erguei-vos do fogo ardente da vida
- tornai-vos pássaros, sede pássaros... “

No caso das aves, como das lavandas a essência é a mesma. Se eu consigo abstrair-me de tudo o quanto cerca e me deixar levar por aquele rastro perfumado, estarei livre da loucura! Tanto é que esta senhora é irmã gêmea do amor. São tão cumplices que se uma não fica presente sem a outra. Quem não tem nostalgia da Beleza? Quem não a deseja de todo coração e quem não tem um altar dentro de si para recebê-la?
Acima de tudo que a representa neste mundo, além das artes, ela está infinitamente presente em um gesto de compreensão e carinho. Na compaixão principalmente em comportamentos justos e éticos.
Se o ser humano, desde o útero materno, fosse acolhido com amor, certamente a procura e reconhecimento da beleza seria bem mais fácil. Um exemplo disso foi o que vi hoje no Bom dia Brasil da TV Globo: o grande maestro indiano Zubin Mehtad regendo uma orquestra de moços e moças da favela em Heliópolis, São Paulo. Querem coisa mais bela do que isso?

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

De quem era aquela saudade?








Maria J Fortuna

Despertou com saudade de alguém, mas não sabia de quem se tratava... Procurou relembrar os amigos, mas nenhum deles era responsável por aquele sentimento. Mesmo os que moravam distante. Depois ressuscitou a lembrança dos parentes e amigos falecidos... Nenhum retorno. Aquela saudade também não era de nenhum deles. Continuava a sensação de vácuo fundo dentro do peito. Aquele sentir não tinha cheiro e parecia mudo. Lembranças são quase sempre rumorosas. Por que aquela ansiedade de querer ver, de sentir o gemido oculto da ausência? E aquele era inteiramente silencioso: sem palavras, música ou perfume e muito menos tato que se desse a reconhecer. Não havia definição para aquilo e nem outra palavra além de saudade...
Estava cansada daquela vida de quebra cabeças. Dos esboços que não viravam desenhos, apenas se insinuavam. Enfastiada de expressões que não tinham sentido. E das meias palavras dos que lhe diziam amor. Saudade de alguém que ouvisse sua verdade por inteiro, de forma amorosa, sem julgamentos. Disso tinha certeza. Com quem ficasse à vontade... Mas talvez estivesse com saudade de Deus. Para alguns Ele só aparecia nos momentos gloriosos ou de tristeza profunda. Para ela, no momento sagrado de escrever. Mas não era ali o caso. Aquela incômoda saudade brotava como fio d´agua de um encanamento rompido, molhando seu caminho em tempo de estiagem.
Na verdade aquele sentir tinha a ver com gente encarnada que não tocava seu corpo ou sua alma há muito tempo... Queria repousar e confiar no colo de alguém que esperava durante toda a vida suspirando pelo encontro. Não gente que fizesse joguinhos de entra e sai nos seus dias na Terra, pois que não havia mais tempo para essas coisas. Alguém fiel, que pudesse deixá-la livre, sem cobranças ou pedidos de justificativa. Estava cansada de alimentar fantasias nas mentes que a interpretavam pelo que não era. Buscava alguém que soubesse reconhecer e acolher. E que fosse tão louco e imperfeito quanto ela, mas que o reencontro se desse a luz de dois olhares amorosos que se completassem. E que fosse um descanso na brincadeira de esconde-esconde dos jogos humanos.
Também não era do desejo de sexo, aquela saudade, apesar da carência de toque. O que mais se assemelhava com o tal sentimento, era a lembrança das mãos macias de sua mãe dando-lhe um banho de gamela, quando era menina. O jeito carinhoso de passar sabonete cheiroso em seu corpinho cheio das marcas e manchas deixadas pelas travessuras. E de massagear sua cabecinha de cachos loiros. E ainda do perfume que se desprendia do frasco de Alfazema, aplicado atrás das orelhas, toque final do banho. Mas aquela era saudade declarada. Sabia quando se deixava enlevar pelas lembranças da mãe. Ah! Se pudesse deixar seu corpo cansado cair no regaço materno ou de alguém a quem confiasse... Mas acontecia o contrário: a vida esparramava em seu colo, gente adulta, pesada demais para que ela tivesse condições de sustentar. Como buquê de flores dormidas. Mas se ela não estava dando conta de cuidar de si mesmo...
Tinha certeza de que seu coração sabia onde estava este alguém, mas era pirracento, não lhe revelava nem em sonhos...
Seria saudade de si mesma? Da moça destrambelhada, de cabelos esvoaçantes, que dançava de improviso e corria das tropas de choque na época da ditadura nos anos 60? Também não era isso. Sabia reconhecer seu caráter a cada nova fase, nas diversas metamorfoses que aconteciam nos laboratórios de sua alma. Tinha consciência de que ainda haveria muitas outras até que partisse deste mundo.
Não havia jeito. Precisava abraçar aquela saudade, sem rosto, tão incômoda ao seu coração. Aí pensou na eterna incompletude de si mesma e dos seus semelhantes... Graças à melancolia que aquele sentimento lhe trazia, poesias brotavam-lhe da alma aos borbotões. Como lágrimas...
Claro que aquilo passaria como das outras vezes e ela, como sempre, seguiria adiante...

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

http://precesemcaledoscpio.blogspot.com/

Transcendência, um blog que reUNE

Em Versailles





















Al flores de Versailles



Maria J Fortuna







Em 1979 andei por ali, pelo Castelo de Versailles. Ninguém havia me chamado atenção para os Jardins do palácio. Cheguei por lá cansada, e não prestei muita atenção nos detalhes. Na maravilhosa Sala dos Espelhos vislumbrei os jardins, mas não pude visitá-los. O grupo estava mais interessado em ver os aposentos de Maria Antonieta, que nada tinha a ver com a beleza de Kirsten Dunst, a atriz que a interpretou no filme. Lembrava-me vagamente do pequeno leito de Napoleão, onde fiquei decepcionada com sua provável estatura. Aquela pequenina cama não combina com a fama do grande ditador. Tinha também lembrança das pinturas, esculturas e tapetes fabulosos, que contavam a história da França. Mas agora eu passeava com minha filha pelo sonho de Louis IX, o rei Sol, fora do tempo e do espaço...
Ah! As flores, principalmente as rosas... A força das sementes que faz brotar plantas que florescem com tanta simplicidade, permite que a gente descubra a real beleza do Castelo que não é mais elegante e majestoso que qualquer um dos seus jardins! Um complementa o outro. Lembrei-me das palavras do Mestre que pedia que olhássemos os lírios do campo, pois que nem Salomão, com sua pomba, vestia-se como um deles... Garoava quando fomos, eu e minha filha, nos aproximamos do jardim principal. As flores estavam molhadas e havia um delicioso perfume de rosas por todo canto! Certamente os luxuosos castelos forjados pelos reis, não seriam tão belos se, ao seu redor, não houvesse jardins como aqueles! Ali estava Os cavalos de Apolo, Diana, a caçadora e as ninfas que bailavam com suas corbelhas de pedra, cheias de flores. Todos presentes em forma de estátuas brancas, ao lado de enormes vasos de plantas. Um grande lago refletia a beleza das árvores. Além do labirinto próprio dos castelos medievais, os Jardins de Versailles são repletos de pequenos bosques como o Bosque das Três Fontes, Arco do Triunfo, do Obelisco, etc. De bosque em bosque fomos caminhando pelas alamedas de cerca vivas, muito bem aparadas. Na verdade tudo o que imaginamos de belo está ali naqueles hortos. Queria visitá-los por inteiro, num pequeno veículo, mas quem o dirigisse teria que apresentar à carteira de motorista no ato do aluguel, e nós duas as deixamos em casa... Então, após passearmos pelos enormes canteiros, andamos pelas alamedas visitando cada fonte, cada recanto escondido.
Então pensei que não foi o Palácio de Versailles que visitei pela segunda vez, que me trouxe alegria e espanto, mas aqueles vergéis! Não sou paisagista ou expert em jardinaria, mas a planificação daqueles espaços verdes, que começou com um tal de André Le Nôtre, no sec. XVII é de uma beleza impressionante! Sem dúvida que este jardineiro sabia comunicar-se com as plantas e tinha uma sensibilidade incrível para saber onde cada uma delas seria feliz. Até as árvores são ornamentadas! Suas esculturas e fontes harmonizam-se com as flores. Os jardins estão cercados por um cinturão de floresta circundante que tornam a atmosfera rarefeita. Fiquei imaginando a presença de Louis XVI, Maria Antonieta e os nobres da corte francesa, passeando por ali.
Assim sendo, mesmo com a garoazinha que deixava um pouco cinza a paisagem, pudemos apreciar o show da Natureza bem cuidada em Versailles!

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