terça-feira, 25 de março de 2014

Humor e orgasmo

 
 

A sexualidade é um dos pontos mais sensíveis da vida humana. Uma sexualidade mais livre quer dizer uma vida mais livre”, diz o somaterapeuta João da Mata
 
Certa vez, eu estava em Belo Horizonte assistindo a um  programa local onde um grupo de psicólogos discutia sobre o tema: “Ausência de orgasmo nas relações sexuais". Por que algumas pessoas não conseguiam chegar a esse clímax com seus parceiros? Abordaram desde problemas físicos como inflamações ginecológicas, ejaculação precoce, uso de medicamentos, ansiedade, desequilíbrio hormonal, traumas sexuais, etc... Problemas esses que são bem do conhecimento de todos. A discussão rolou até o final do programa sem que dessem uma resposta convincente para aqueles que não apresentavam tais sintomas e não tinham motivo aparente para que continuassem insatisfeitos, ou seja: nada de gozar! Aí resolvi ligar para o programa fazendo uma só pergunta:
 - Não seria falta de humor, de ludicidade, de brincadeira entre o casal o motivo da insatisfação do casal?  E se houvesse alegria na relação?   
Aí o tempo fechou. Um dos psicólogos, o mais intelectualizado, subiu nas tamancas e respondeu visivelmente irado:
- Esta telespectadora deve saber que aqui estamos discutindo coisa séria. Não estamos de brincadeira!
Ingenuamente levei um susto! O que eu havia indagado de errado? Achei que seria mais que uma pergunta, uma sugestão bem-vinda! Por que alguém sisudo e deprimido iria procurar ter relação sexual satisfatória com alguém? E por que a brincadeira não poderia ser séria  entre parceiros?  Fazer cócegas, falar alguma coisa boba ou ridícula,  que lhes fizessem desatar em riso? E mais: Alguém “sério” como aquele psicólogo, teria certamente dificuldades para chegar ao clímax com tranquilidade.
 Sempre considerei o orgasmo (vinda do grego orgázo e orgân e quer dizer ferver em ardor),  como uma gargalhada gostosa,  incontida, fruto de parceiros amantes com muito bom humor. “É um grande presente biológico da Natureza”,  disse o Mestre indiano Osho. 
Mas a busca sexual entre a maioria dos humanos não tem nada a ver com isso. Haja vista a quantidade de "brinquedinhos" a venda nos Sex Shops, que agora existem numa quantidade absurda! Revistas e fórmulas milagrosas para um bom desempenho, filmes eróticos, livros, quadrinhos, e  palestras sobre o assunto,  na procura desenfreada do que seria a coisa mais simples do mundo: copular com alegria! E por uns minutinhos, talvez segundos, alcançar o sonhado, tripudiado, culpado, esperado e proibido orgasmo! Mas como o óbvio é difícil de se enxergar, realmente não sei o que a humanidade tem contra o prazer espontâneo,  que vindo lá do fundo do ser, é buscado mais do que tudo nessa vida. Não seria por causa da falta de amor que aquece as relações? Creio que o velho chavão dos hippies seria a solução: "Faça amor, não faça guerra".
O sentimento culposo que tinge o sexo de sujo, desfocado, triste, está intimamente ligado a má formação religiosa. Os "religiosos" são os mais "sérios" que menos sabem brincar. Devem ter tido infância difícil. Crianças que, impedidas de se tocar não sabem tocar o outro pela ideia de pecado. Não se autoconhecem e a intimidade com alguém chega a provocar medo! Uma pesquisa feita nos Estados Unidos sobre "Sexo e secularismo", numa amostragem de 14.500 pessoas de ambos os sexos, os ateus e agnósticos foram o que menos mostraram sentimento de culpa. 
Wilhelm Reich, terapeuta e autor de inúmeras obras sobre o assunto, pesquisou sobre a rigidez muscular que as pessoas trazem como couraças, dificultando a liberação da libido e as emoções reprimidas. O que podem ser liberadas, segundo ele, através do orgasmo.  A couraça muscular  pode ser a causa do isolamento, da miséria afetiva e consequentemente, da neurose coletiva que vivemos nos dias de hoje. O sexo já não traz sensação de plenitude!
Há anos atrás fiquei impressionada ao assistir a peça "Escuta Zé Ninguém" de autoria desse médico e cientista Reich. O personagem central foi interpretado pela bailarina Marilene Ansaldi, que passou para a plateia através de sua dança, o sofrimento de alguém sob a força da repressão física, social e política.
Em matéria de desbloqueios, a Biodança, ou dança da vida, fundada pelo psicólogo chileno Rolando Toro, também pode ajudar no sentido da liberação desses bloqueios. Para os que não conhecem, é o sistema de integração afetiva e desenvolvimento humano baseado em vivências do aqui e agora. E usa a música e dança selecionadas em encontros não verbais dentro de um grupo, "contribuindo para a renovação orgânica e para a aprendizagem das funções originais da vida "(Wikipédia). Sem ser uma terapia, define-se como a pedagogia do jeito de viver. Seus objetivos são: "promoção da saúde, ética e alegria de viver." Com um facilitador competente e bem resolvido emocionalmente, pode colaborar muito, usando brincadeiras, toques e humor, para o desbloqueio dos anéis de tensão enraizados no corpo, contribuindo para uma vida melhor. É bem recomendado para os que se sentem sufocados dentro de si mesmos.
Para o Budismo, Hinduísmo, Taoísmo, dentre outras tradições religiosas que praticam o Tantra, onde o homem através da mente e do coração, com plena consciência dos seu corpo evita ejacular na penetração. Pode então chegar  além dos limites do sexo, transcendendo o espaço e o tempo e sublimando o corpo, mente e espírito com a energia do amor, pode ser a fórmula ideal para os que buscam a espiritualidade e a transcendência. "Somente a pulsação conjunta do sexo e do coração pode criar o êxtase", afirma a escritora e autora de Delta de Vênus, Anais Nin. Assino embaixo e acho que uma minoria de pessoas que não tem vergonha de ser feliz, consegue sentir-se plenamente satisfeita e realizada nesse particular. Certamente um bom orgasmo sexual passa pela entrega, que só acontece quando há confiança no parceiro(a) com muito bom humor. Com isso pode dar até poesia!

domingo, 23 de março de 2014

Imperdível!








O MAM apresenta uma exposição de um dos artistas mais comentados no mundo, o australiano hiperrealista Ron Mueck, de 55 anos, que fica em cartaz de 20 de março a 1 de junho, com entrada por R$ 14.
Um dos artistas mais comentados no mundo, cujas obras já foram insistentemente curtidas e compartilhadas em redes sociais e admiradas por quem pode vê-las ao vivo, expõe o seu trabalho pela primeira vez na América Latina. Nove esculturas do artista hiper-realista australiano Ron Mueck, 55, prometem levar frisson e espanto ao MAM (Museu de Arte Moderna). O Rio será a única cidade brasileira a receber a exposição.
A origem do trabalho de Mueck remete ao fantástico universo do cinema, o que talvez justifique o imediato fascínio que suas obras conseguem atingir nos mais diferentes nichos da cultura pós-moderna. Fabricando marionetas e bonecos para a televisão e para o cinema, ele reuniu técnicas para iniciar suas reproduções hiper-realistas quase perfeitas de fisionomias humanas.

terça-feira, 18 de março de 2014

Esperança








"A esperança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha Esperança,
Rola mais que o meu desejo."
Fernando Pessoa




Maria J Fortuna
 
Aquele par de olhos acinzentados indagava a si mesmo:  por que tenho eu que sufocar por tanto tempo esta ternura?  Por que para mim é tão difícil cair nos braços do amor?  O que posso fazer no sentido de abrir as pétalas do coração para regá-las nessa luz divina?  O que pode ser mais humano que o erro e os impulsos da paixão, que voam como colcha de retalhos ao vento, sem direção certa?  Onde pousar as contas peroladas do rosário das pequeninas manifestações amorosas? Assim foi, assim continuou sendo desde que ela era pequenina, quando em conversa com os gafanhotos que pulavam aqui e ali na grama do Jardim de Infância. Perguntava  a si mesma quantos deles moravam naquela relva fresca ou árida dos dias sem chuva, sem que fossem caçados pelos dedos ansiosos das crianças menores da Escola.    Sua maneira de colher as verdades do mundo doía sempre dentro dela como a primeira manifestação de uma ternura não compartilhada. E assim foi crescendo quase que silenciosamente, vivendo sob o olhar curioso dos pais, irmãos, primos e colegas de colégio. A eles não tinha jeito de não se revelar. Por causa da convivência. Ganhou então o nome de “Estranha”...       
Contudo,  ela tinha esperança!

Seu mundo não era absolutamente igual ao das outras pessoas no sentido de dar importância aos fatos da vida. Não havia nada tão claro aos seus olhos que a morte. Ainda muito menina,  dizia a si mesma: “ Se tudo acaba,  por que dar importância as tristezas da vida? Não compreendia a briga dos adultos nem as misérias do mundo. Sentia que os fatos morriam muito depressa para se ter ressentimentos no coração. Bobagem, dizia.
Com isso, ela tinha esperança!

Seu avô  ensinou-lhe que as nuvens se desmancham para formar várias figuras, e que não existia nada  definitivo na mutação trazida pelas asas do tempo.   Haja vista que, do contorno de um urso, símbolo da robustez e força, passa lentamente a uma ave como o beija-flor, que de tão leve nem se vê bem as cores de suas asas em movimento á procura do néctar das flores.  Parece que era fácil sentir a vida assim em seu pulsar eterno espalhado pelo Cosmos, mas essa sutileza era pesada para seu coração que só gostava de  conviver com a voz do que se transforma. E um dia ela iria se transformar em anjo.

Por isso ela tinha esperança!

Por aí já se vê que essa menina não estava nem aí para as confusões do mundo, mesmo sem ser autista. Na verdade, ela era uma pequena filósofa que guardava dentro de si tesouros impensados pelo mundo adulto.  Era como ostra, que traz dentro de si a beleza exuberante da pérola oculta, deflagrada por uma doença estranha  que se espalhou no fundo do seu oceano interior.  

Ela se chama Maria , como tantas Marias que andam pelo mundo. E que passam a sensação de que nascer, crescer e morrer são as coisas mais comuns e banais da vida. Até um pouco tediosa, quando sua ternura se esconde, mesmo sabendo que os braços do amor nunca se fecham.

E  continua a ter esperança...

sexta-feira, 7 de março de 2014

Sinais do tempo


 





Maria J Fortuna
 

A Natureza se manifesta por sinais. Os botões que desabrocham com força querem dizer que a primavera está chegando. Depois a Natureza desacelera, o céu fica muito azul e as chuvas anunciam o verão. Assim acontece com o outono, que despe as árvores de suas folhas, e com o  inverno, que é anunciado pelo esfriamento da temperatura da Terra. Apesar das evidências dos sinais serem mais óbvios na Europa, Estados Unidos, etc., nos países tropicais acontecem de forma menos definida, mas todos nós sabemos que estamos em processo de mudança de uma estação para outra. Assim, na gravidez, a mulher sente que está brotando. O volume de seu ventre traz a floração de um novo ser humano. O botão já se faz notar, o leite já ensaia jorrar do seio como promessa de alimento. São sinais. Do mesmo modo se processa a adolescência, onde a força do instinto criador vem se manifestando com todo   vigor, tornando o ser humano ainda mais belo, com a  pele sedosa, o brilho no olhar e os impulsos,  que se assemelham a uma corrida de belos cavalos, quase alados, ou lembram a arrebentação das marés.

Tenho notado que a velhice dá seus primeiros sinais através dos fios brancos dos nossos cabelos. No meu caso, a grande mecha branca na testa, herdada dos antepassados, expandiu-se rapidamente. Mas esses sinais são cuidadosos, não chegam de uma vez. O tempo faz seu trabalho lentamente e todo esse silencioso processo são apenas sinais.  Por que nos incomodam tanto? Por que escondê-los assim que se anunciam?    

Creio que haveria uma grande transformação em nossa sociedade se as pessoas começassem a se orgulhar dos seus cabelos brancos. Seria uma demonstração de força mostrar ao mundo que os fios nevados não significam fraqueza, debilidade, feiura, mas vivência, experiência e em alguns casos, sabedoria. Ainda mais agora com a nova expectativa de vida para todos nós.

                A pergunta que não quer calar dentro de mim é: por que a mulher, com seu novo perfil de modernidade,  aos 60, 70 e 80 anos, dinâmica, criativa, centrada e talentosa,  tingiria  seus de cabelos brancos? Foi a pergunta decisiva para que eu tomasse atitude de suspender as tintas. E surpresa! Fiquei mais jovem! Os cabelos prateados harmonizaram os traços do rosto!

E mais:  manter-se firme e tranquila aos primeiros sinais de uma nova etapa da vida não iria aos poucos acabar com o tabu à da velhice? Tenho agora certeza que sim. Depende também de nós dar  nova geração que está chegando por aí, o receber com tranquilidade os recados do tempo... No caminhar de sua marcha, somos seu futuro.   Algo que faz parte da vida e não altera em nada o que somos.  Assim como se comportam os orientais diante do fato.

Há outros sinais importantíssimos com a proximidade desta estação do tempo.  Tais como sentimento de quietude e dessentirmo-nos finalmente livres  para nos expressarmos do jeito que cada um realmente é. Degustar o verdadeiro amor, paciente, sem pressa. São bons sinais. Mas calma aí! Esta minha leitura sobre o assunto é recente. Decidi deixar que a cor da neve entremeada de luar  pousasse em meus cabelos somente aos 70 anos...

 

 

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