sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A Arte de Paula Carriconde



 




Maria J Fortuna

 

Há dois anos, quando comecei a frequentar as aulas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, bem na porta de saída da sala onde eu assistia às aulas, estava uma grande tela que, a princípio, lembrava-me labirintos provocados por esvoaçantes objetos coloridos, que eu seguia com olhar encantado.  Foi assim minha primeira e simples impressão a respeito do trabalho de Paula Carriconde.  Intrigantes aquelas telas que se sucediam de tempos em tempos.  Pareciam repetir os elementos, mas eram inteiramente diferentes entre si. Com o passar do tempo verifiquei que cada uma delas trazia nova linguagem. E a conexão entre eles, os elementos, transmitiam-me sentimentos harmônicos.  Como leiga, engatinhando no mundo das artes plásticas, não me arrisco a nenhuma crítica, apenas escrevo o que sinto frente àquelas cores alegres, distribuídas nas grandes telas,  como sonho que nos visita o subconsciente. Este ano tive o privilégio de conhecer a autora daquelas obras. Trata-se de Paula Carriconde.  
 
 

Tenho acompanhado, algumas vezes, o manejo do seu pincel,  contemplando a feitura  de sua obra duas vezes na semana. Comecei a perceber mais detalhes, como as sombras e o movimento dos objetos, o colorido de fundo e elementos surpresa como pássaros e flores.   Então, sinto luminosidade nas cores que se acendem vibrantes de energia! Aos poucos fui me aprofundando na observação. O que parece óbvio, simbólico em sua obra, traz o desconhecido.  É como se os objetos pintados estivessem fora da lei de gravidade, flutuando na cor de fundo, que parece soltá-los e agrupá-los, sugerindo movimento de contração e distensão. As nuances multifacetadas das cores de cada uma delas dão a ilusão do que submerge e aprofunda.    As tonalidades são felizes em sua concepção e bem recebidas entre si e pelo todo
Conversando com Paula, ela me contou que é gaúcha e vive há vinte anos no Rio de Janeiro. Aos cinco anos de idade começou a sentir o despertar do desejo de desenhar e pintar tentando copiar uma figura humana, com bem mais detalhes que uma criança dessa idade o faz. Aos dez, o esforço para copiar a Monalisa de Leonardo Da Vinci, conduziu-a a observação a um dos olhos da famosa pintura do grande mestre, trazendo-lhe boas surpresas!  Isso me leva a crer que essa descoberta e o esforço para reproduzir as nuances escondidas da pintura de Da Vinci, influenciou o detalhismo de sua obra.  
 Sua mãe era pianista, o que me fez pensar no som das cores que Paula pinta e de como deve ter influenciado seu espírito na convivência com essa mãe,  tão envolvida com a música. Não menos dotado que a mãe, o pai de Paula era poliglota e leitor de Shakespeare no original. Então, apesar de que me fala da falta de incentivo de seus pais para pintar, ela viveu a infância envolvida pelo clima das artes que por si só influenciaram seu espirito alegre.  Haja vista a leveza de suas telas que têm a arte oriental, a joalheria antiga e o elemento barroco sempre presente.  Tudo isso me faz lembrar o inconsciente coletivo  de Jung no mundo interior simbólico em que vivemos
Este ano, em abril, foram expostos seus trabalhos no Espaço Cultural Ceperj (Centro Estadual de Estatísticas  Pesquisas de Servidores Públicos do Rio de Janeiro).

Desde que foi aberta ao público, no dia 10 deste mês, a mostra da artista plástica Paula Carriconde recebeu centenas de pessoas interessadas em apreciar as 10 grandes telas com cores vibrantes, luminosas, de estilo figurativo-abstrato.”

Paula Carriconde foi convidada a participar com seus trabalhos em várias Escolas de Samba. Trabalhou na Grande Rio, Unidos da Tijuca e já está contratada pela Portela para o próximo carnaval! Aí está comprovada a alegria que transmite suas telas! E é sempre um imenso prazer contemplá-las!

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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Inadequação




Maria J Fortuna



Apesar de ser uma metáfora dos anos modernos, quando assisti ao filme Frances Ha, a jovem que mora dentro de mim, identificou-se totalmente com a protagonista. Por um momento eu era Frances, a garota de 27 anos, que se sentia completamente inadequada, tanto nos amores quanto na busca desesperada por uma profissão. Também queria ser bailarina, mas já adulta, seria impossível! Quis ser atriz, artista plástica, jornalista e cantora. Nada deu certo. Quis aprender a falar bem uma língua. Também não deu. Esse filme me trouxe memórias dos anos em que fugi para Belo Horizonte. Francis não acertava residência. Eu morei em vinte e dois lugares diferentes nos trinta e sete anos que passei naquela Capital.  A maior parte das mudanças se deu antes que eu completasse 35 anos. Resultado: não tinha chão. Morei  em quarto alugado só com uma cama, passando por barracões, pensionato, hotel, porão de uma casa, depósito ao lado de outra casa, quartos cedidos para passar uma noite ou outra, pensão para moças, republicas, em condomínio fechado, apartamento dividido com amigos, casa de um casal de outros amigos, apartamento alugado e por fim quando já tinha 50 anos, apartamento próprio. Tive uma crise de pânico aos 25 anos quando morava no 10º andar de um prédio no centro da cidade e fiquei com medo de me jogar lá de cima. Àquelas alturas eu me perguntava quem era eu para não confiar nem em mim mesma. Uma tremenda crise existencial!   Havia perdido referência de família, profissão, religião, ideologia e tudo mais. A única coisa que eu pensava, dia e noite, era como iria sobreviver àquela noite escura que parecia sem esperança.  Apesar daquele horror, bem mais sombrio pelo qual  passou a bem humorada Frances, nem por um segundo pensei em voltar atrás no meu propósito de ser livre da ditadura familiar. Naquela época, havia ditadura por toda parte... Mas como pássaro, na tentativa de sair da gaiola, eu me feri muito. Contudo sabia que a morte lenta na família  seria pior do que os riscos que eu corria ao busca da liberdade. E nunca me arrependi.
Não dava para casar e ter filhos, porque simplesmente eu não existia. Não sabia muito bem quem eu era.  Frances era bem mais comportada.  Eu passava muitas noites na boemia, embalada pelo álcool e o fumo, num roteiro maluco de não ter hora pra sair nem pra chegar. E nem sabia durante o dia onde iria parar à noite. Ficar em casa dependia da ressaca.  Contudo, no trabalho eu era responsável, dava tudo de mim aos clientes que atendia.  Era profissional. Na verdade o único elo que me ligava à vida. Como Frances, com suas alunas de balé.
Para completar eu nunca tive aquela vaidade feminina de cuidar da pele, do cabelo, das unhas.  Andava de jeans com umas camisetas amarrotadas. Parecia um rapazinho.  Morei com um cara imaturo que acabou saindo da relação pela minha falta de entusiasmo, e também por causa das ameaças do meu pai que queria nos ver casados. Pra dizer a verdade, sempre tive pavor a casamentos!  Como desde criança, costumava sempre ver o fim de todas as coisas, antecipava a saída dos que entravam em minha vida. Todos eram temporários.  Não descartáveis, mas provisórios.    Assim o sofrimento da perda era menor. Tudo era muito relativo em meu mundo desfocado. Percebi em Frances, o mesmo desfoque próprio dos inadequados.
Eu voava, não andava, nos meus 45 kl de peso em 1,55m  de altura, enquanto Frances era alta e forte. Mas eu também gostava de dançar e pular  feito louca  pelas ruas. A minha  coreografia predileta era a dança de Zorba, o grego, que dançava  para suportar ou  transcender seus  momentos de dor e alegria. Eu  tinha um casal de gatos siameses, nada mais.  E nunca me sentia adequada nas conversas com colegas de trabalho. Apesar de conviver muito bem com elas. Nem gostava de frequentar festinhas tradicionais. Minha melhor amiga foi para Europa e quando retornou não era mais a mesma. Sendo assim, nas entrelinhas do filme transpareceu para mim a dificuldade em ser diferente. Como no caso da personagem Ninny Threadgoode (Jessica Tandy), de Tomates verdes e fritos, com quem também me identifiquei.
Fabricio Duque crítico de arte cinematográfica escreveu: “ Frances (Greta Gerwig) mora em Nova York, mas na verdade ela não tem um apartamento. Frances é aluna numa companhia de dança, mas não é de fato uma bailarina. Frances tem uma melhor amiga chamada Sophie, mas na verdade elas não estão se falando mais. Frances se joga de cabeça em seus sonhos, mesmo que a possibilidade de realização seja pequena”
Pois é, na realidade não sei como sobrevivi. Mas tenho alegria de reconhecer que, apesar de todo sofrimento em ser “diferente”, nunca sofri de normose, doença moderna onde se vivencia a mediocridade de ser igual a todo mundo. Nem Frances, nem eu. Mas vai ser bom para todos assistir ao filme. Uma obra de arte!


 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013


 Obra de Maria J Fortuna
 

Brasileiro, acorde! Una-se aos Invisíveis de Belo Monte!

Maria J Fortuna

A vida nos encaminha para encontros inesperados. Esse foi numa cabine da viação UTIL, quando eu estava indo para Belo Horizonte. Vou lhes contar o que se passou comigo  há duas semanas: tive a honra de conhecer Magnólia de Oliveira, com seu andar determinado, cabelos soltos ao vento e seu olhar sincero e profundo de guerreira. Mas não é qualquer guerreira. Não como as milhares de mulheres também o são. Aquelas que trabalham de sol a sol e ainda criam seus rebentos. O enfrentamento de Magnólia não é somente pela sobrevivência no dia a dia, nem tanto em relação a cobras ou animais perigosos, mas ela vive sim, ombro a ombro, com outro tipo de lamentável perigo: capangas, pagos pelos usineiros, para evitar o movimento de protestos contra a devastação causada pelas  as obras da Usina Belo Monte aos povos  ribeirinhos e extrativistas.  O perigo de sentir uma arma em seu ventre e ela não saber por que não houve disparo.  O confronto com a morte. Assim sendo, o risco iminente é seu companheiro no dia a dia, como de todos que, como aquela moça determinada e apaixonada, lutam por uma Causa. Ela pertence ao grupo dos Invisíveis de Belo Monte.

 

Ouvíamos Magnólia eu, uma moça com um cachorrinho dopado para viagem, ao colo, e uma senhora que se dizia descendente de importante figura, que pelo meu desinteresse, esqueci o nome. À medida que Magnólia falava, senti imediata empatia com os povos sacrificados daquela região.  E me atingiu profundamente como brasileira. Já tinha ouvido falar no assunto, mas não dito por alguém que milita nessa luta!  Meu velho sentimento contra as injustiças circulou-me nas veias e foi parar no coração.  Eis o que foi dito por ela: a hidroelétrica de Tucuruí, no Pará, segunda maior do mundo,  está devastando impiedosamente uma área de  400.000 m2 acima do rio Xingu. Abaixo do rio será seco, onde foram retirados os ribeirinhos e extrativistas. A mineradora Vale está contratando mais de cinco mil homens para a retirada do ouro. Estão trocando nossa Amazônia por indústria de carros e cobiça de ouro no desordeiro e desinfreado capitalismo.

Ela, Magnólia de Oliveira, os franceses Fançois Xavier Pelletier e Caterine Lecroix produziram um filme que se chama Os invisíveis de Belo Monte, Les Invisibles de Belo Monte (França 2012). Encontrei este comentário a respeito do filme:

 
“Foram seis meses de filmagem na Floresta Amazônica, na região de difícil acesso de Volta Grande do Xingu, no Pará, onde está sendo construída a controvertida barragem da usina hidrelétrica de Belo Monte.

Pelletier e Oliveira explicaram à RFI que o documentário pretende valorizar e mostrar ao mundo o modo de vida dos ribeirinhos que vivem na região. Pelletier ressalta que o objetivo do documentário não é mostrar o impacto da construção da usina para as aldeias indígenas que, segundo ele, já têm bastante apoio de ONGs, mas sim, o prejuízo para os caboclos, ribeirinhos e pescadores.

Segundo estudos do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará, mais de 25 mil pessoas serão afetadas diretamente pela construção da usina. A Volta Grande do Xingu, uma queda de 96 metros, onde o rio quadruplica de largura e forma diversas cachoeiras e ilhas, concentra boa parte do potencial hidrelétrico do rio. Por isso o local foi escolhido para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte.”

Ao ouvir Magnólia fiquei pensando nos jovens brasileiros dos anos 60 e 70, na luta contra a ditadura militar no Brasil. Muitos torturados, mortos e desaparecidos.  Por que os jovens de agora não canalizam sua energia para essa Causa Universal? Mas o assunto parece esquecido... Não é noticiado pela TV ou rádio. A sociedade cruza os braços e diz: -“Fazer o  quê? Quem pode lutar contra todo um projeto apoiado pelo governo?”
O Planeta está cansado. A construção dessas usinas quebra sua harmonia. Deixem que os rios sigam seu curso natural. A cada explosão, milhares de peixes são mortos. E eles são o alimento dos povos ribeirinhos, que ficam perdidos, sem rumo.  A energia da Terra e a energia do amor estão sempre em comunhão. Não pode ser fragmentada.
O discurso de Magnólia não foi em vão. De qualquer forma, senti que como brasileira, eu teria que fazer alguma coisa. Resta-me noticiar, denunciar, sacudir a memória de quem já teve notícia do que anda acontecendo, convocar para a luta, entrar em comunhão. Foi muito bom ter conhecido Magnólia!
 Aquarela de Maria J Fortuna
 

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