sábado, 12 de fevereiro de 2011

Onde está nossa indignação?



Maria J Fortuna

O assunto está morrendo por aí... Já não se fala do que aconteceu aos meninos torturados pelos veteranos na Marinha. O tempo vai passando e mudamos de assunto, dizendo aquela velha frase: - Fazer o quê? Mas a prática da tortura na Ditadura militar está de volta... E o mais estranho: dentro das Forças Armadas!

Quem são estes agressores fardados, que torturam meninos que querem servir ao Exército, Marinha e Aeronáutica brasileiros? Será que faz parte da formação militar preparar torturadores? Por que são tão sádicos a ponto de causar a morte dos jovens, durante os tais exercícios ou treinamentos militares?
Vocês se lembram de Márcio Lapoente da Silveira? Aquele rapaz brilhante, que aos 18 anos de idade, morreu num dos bárbaros treinamentos na Academia Militar das Agulhas Negras do Rio de Janeiro? Pois é, o processo foi arquivado. Fico pensando... Para onde foi nosso sentimento de indignação? Por que a Imprensa falada e escrita, além de denunciar as barbaridades, não continua a seguir o processo, até ver os culpados desmascarados e punidos? Por que não houve esta cobrança da sociedade? Até hoje a mãe de Márcio reclama por justiça. Há dor maior do que a perda de um filho? Ainda mais nessas circunstâncias?

E quanto à última chacina na Marinha? Pois é, se tivéssemos dado um basta quando Márcio Lapoente foi torturado e morto, talvez não houvesse tantas outras vitimas do mesmo tratamento bárbaro-crime, como aconteceu recentemente na Escola Naval. Foram 12 aspirantes à Marinha, que sofreram um trote cruel, aplicado pelos veteranos, que os submeteram à situação de humilhação e risco de vida. Portanto são 12 mães, que como Carmen Lapoente, mãe do menino Márcio, estão chorando por seus filhos, que tiveram suas vidas ameaçadas. Mas o Coronel Leonardo Puntel falou ao Jornal da Globo:
- “Nós estamos apurando para ver o que efetivamente aconteceu. Não existe trote na escola naval de maneira nenhuma. Existem atividades físicas, físico-militares, atividades profissionais. Tudo isso muito bem planejado”.
Esses rapazes não foram submetidos a atividades “bem planejadas”. Foram sim, parar no Hospital, onde alguns deles fizeram ou ainda fazem diálise! Afinal houve trote ou “atividades físico-militares-profissionais”? De qualquer maneira o sadismo estava presente, como lembrança dos tempos de chumbo. A coisa foi tão cruel, que os moços, expostos ao sol e sem poder beber água, carregando pesadas mochilas, chegaram a esse ponto!
Lembram-se do oficial da Policia Militar Abinoão Soares de Oliveira que, em Alagoas, foi morto por afogamento durante um treinamento? Não se fala mais dos dois tenentes da PM, que estavam “treinando os subordinados para serem “homens especiais”.
E o que se passou em Curitiba, onde a tortura era aplicada pelos recém-formados no 20º Batalhão de Infantaria do Exército? Isto foi denunciado pelo programa Fantástico da rede Globo de Televisão em 2005, que revelou as sessões de tortura. Será que esses homens nunca ouviram falar em direitos humanos? Pois, se no colégio militar acontece tal coisa, o que não se há de pensar com relação às Forças Armadas, responsáveis pela segurança nacional?
A história anda se repetindo demais! Esta semana Daiana Pereira Fernandes , de 25 anos, que participava de um curso para sargento, após exercícios, que “não apresentavam dificuldades”, faleceu. Foi enterrada nesta quarta-feira, dia 9. Por que partiu assim tão jovem? Sentiu-se mal, após a realização de uma atividade física conhecida como pista de progressão, onde os competidores passam por diversos exercícios. Segundo a nota, os tais exercícios “não apresentavam nenhuma dificuldade, nem demandavam esforços físicos exagerados na sua realização”. Será? Qual é então a causa da morte a uma jovem sadia, conforme comprovação médica, ao ingressar no Exército?
Tudo isto é muito sério. Que garantia os pais terão quanto à integridade dos seus filhos, quando fazem opção pela carreira militar? Carmen Lapoente e outras mães, até hoje esperam do reconhecimento da justiça.
Se não houver uma profunda reforma nas escolas militares deste país, os sádicos continuarão formando outros sádicos e fazendo a festa! Há que resgatar os princípios dos direitos humanos e sacudir estas Instituições, na cobrança dos valores democráticos. Há que ter uma nova pedagogia, que não se atenha à segurança nacional, mas à Paz! E que resgate os valores democráticos. Afinal, todos nós estamos inseguros quanto à formação dos nossos jovens militares. Estejamos atentos! Isto precisa mudar! Que cada um de nós proteste a seu modo. Lembrem-se do que falou Mathin Luther King: “O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem desonestos, nem dos sem ética. O que me preocupa é o silêncio dos bons”. Tem a ver com o velho ditado: Quem cala, consente.

2 comentários:

MJFortuna disse...

De Maria do Céu, por email

O que você reflete, de modo cuidadoso mas incisivo em sua crônica, é terrível! Infelizmente quase banal....já que a tortura - encarnada em feições impensáveis - faz parte do cotidiano...aqui e por esse mundão afora. Uma vez vi um especial na GNT ou outra congênere sobre o treinamento que é feito com os militares que vão para a guerra.
Literalmente é feita uma lavagem cerebral, para que a metralhadora seja acionada em defesa da pátria.... ir à guerra é heroísmo.... Depois, quando voltam, por exemplo do Vietnã, do Iraque, se espera destes soldados uma conduta, diríamos de amor franciscano, respeito à vida, amor ao semelhante....compatriota....
Ora, ontem matar era certeza de medalha. Hoje, porque o morto não e´um pobre e anônimo vietnamita, ou vietcong, ou iraquiano, mas, um CIDADÃO AMERICANO, a prisão perpétua te espera.... Mariinha, dá prá mudar a cabeça da noite para o dia, deste jeito?
Muito triste amiga. E você, pegou o problema pela jugular...incompreensível, imperdoável, inexplicável.

MJFortuna disse...

Eliana Luppi por email:

Olá!

Que tristeza esses episódios sem nenhuma justiça.
Não eram nem para acontecer e ainda assim não se apuram os fatos
e punem os culpados???

Triste demais.

eliana

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