Paradoxos
Maria J
Fortuna
Tem dia que a gente sente como se
artérias e veias estivessem enfeixadas e energizadas como instrumento de
cordas, tocadas pela sutil presença de sentimentos e emoções, inexplicáveis,
que não sabemos de onde vêm.
Talvez proceda de noites mal passadas,
onde lembranças boas e más se entrelaçam ou, quem sabe, do medo que a gente
sente das coisas conhecidas à sombra do desconhecido. Ainda piora este estado
as ameaças às quais estamos sujeitos no dia a dia. De qualquer forma, é
mais incômodo ainda este estado de espirito, quando não conseguimos
canalizar para algo maior do que esta rotina, por vezes sufocante, dos nossos
dias, por causa dos ameaçadores fatos que chegam até nós, através de
noticiários. Aboli, portanto, a presença dos que chegam através dos
canais convencionais da TV em minha casa. Substituí toda pelo canal
ARTE. A necessidade de Minh ‘alma é que me inteire de outro tipo de
notícias: Artes e artes! Cinema, teatro, orquestras sinfônicas,
dança, poesia, pintura... Depois que a gente adota ARTE na jornada
diária ou noturna, o envolvimento com a beleza amansa o estado de irritação que
pulula em nossas veias. Sinto-me então mais tranquila, menos ameaçada. Afinal
se podemos ser assaltados e mortos pelas ruas da cidade, pelo menos não
sofremos por antecipação e não deixamos de usufruir o melhor, com certeza de
que assistir a uma série de crimes não vai mudar em nada o que possa nos
acontecer.
Com isso, de ontem para hoje, fiquei
sabendo a verdade sobre meu compositor preferido: Wagner. Sempre me incomodou
sua posição antissemita e eu jurava que ele teria sido contemporâneo de Hitler.
Parcialmente aliviada por saber que o compositor morreu antes do nascimento do
ditador fascista, afundei nos estudos de sua biografia e ouvi trechos de sua
ópera Tristão e Isolda. que acabou por esfacelar-me o coração,
deixando-me completamente nocauteada! Mas foi muito bom! Como um músico capaz
de compor peças como esta, pode ter sido antissemita? Ele, que compôs Parcifal,
onde a música em cima de um tema tão místico, consegue deixar-me completamente
fora do chão? Este confronto com o paradoxo é uma exigência constante no ser
humano, principalmente nos dias de hoje. Meu coração não aceita o preconceito
de Wagner, mas amo sua música! Ela acelera meus neurônios e faz desmaiar meus
sentidos levando-me a quase êxtase! Fazer o quê?
Falando em êxtase, depois da
apresentação do tema Wagner, assisti hoje pela manhã em Arte, a um
documentário sobre a maravilhosa escultura de Gian Lorenzo Bernin: O êxtase de Tereza D´ Ávila! Esta mulher
sempre foi uma fascinante incógnita para mim! Ela era tão cheia de hormônios,
como plena de graça! O sofrimento de Bernini por não ter conseguido êxito na
construção de uma torre da Catedral, teve como resultado esta belíssima obra em
mármore e bronze, que me encanta, por trazer a feição da sublimidade e beleza
dessa mulher extraordinária! Tereza D´Ávila, outro ser paradoxal! Bernini
conseguiu leveza na pedra como as levitações de Tereza! Desperta, no espectador, a sublimidade do seu Amor por Jesus. Até
hoje, há discussão sobre a representação da imagem, pela feição de intenso
prazer que transparece no rosto da santa, no exato momento em que é atingida
pelo dardo de um anjo, repetidamente. Tereza não só sentiu imenso
prazer, mas grande dor, como ela mesma relata, o que contrasta comas feições do
anjo que parece enlevado por uma Energia Maior!
Jean Yves Leloup em o Absurdo e a Graça nos fala do paradoxo de Jesus.
Verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Foi n´Ele que este filósofo e escritor
encontrou sua síntese: “Naquele momento preciso, eu apenas
recebia o “choque da síntese”. Essa síntese não era uma soma de pensamentos,
uma nova ideologia, mas “Alguém”, uma “verdade em pessoa”. Não uma verdade
científica, nem filosófica, sequer teológica: uma verdade em presença, um “Eu
sou a Verdade”, um “Eu sou verdadeiro”, verdadeiramente Deus, verdadeiramente
homem, no interior e no exterior, no início, no fim; eu sou o alpha e o ômega.”
O
fascinante da vida são estes paradoxos internos que a Arte nos revela! Nosso
lado humano e outro lado, o divino, pela fé em Deus e no homem. Apesar de tudo!
Abaixo um trecho da Opera Tristão e Isolda, na voz desta cantora magnífica cujo nome não ficou claro no Youtube. Veja, ouçam... Se alguém souber de quem se trata, mande para o endereço eletrônico: mjflima85@gmail.com
Tristão e Isolda
Tristão e Isolda
3 comentários:
A Arte alimenta nossa alma, harmoniza nosso corpo e espirito
alimenta nossos sonhos, estimula em nós a Arte de Viver, obrigada amiga querida, bjs, mony
Eliana Angélica, por e-mail:
Que presente, bem cedinho, quando escutei a ópera! Amei. Seu relato faz-me refletir sobre o assunto. Realmente estamos nos entregando à mediocridade e violência através dos noticiários.
Muito grata.
Bjs.
eliana
Marilourdes Fortuna
Você foi e sempre será um dos meus orgulhos. Espero q. saiba aproveitar o dom sagrado q. recebeu de Deus de escritora, artista e poeta das mais talentosas. Amo quase tudo q. escreve, leio e releio e lamento não ser reconhecida como das maiores de nossas letras no Brasil... Mas ainda é tempo e espero ansiosa o dia do lançamento de um livro seu adulto e para adultos!
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