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segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Até que enfim...
Até
que enfim...
Maria J Fortuna
Minha
agonia começou aos quatro anos de idade quando ainda não compreendia o significado da maldade humana. Não entendia,
por exemplo, como um ente dito tão amado
pelos homens como Jeshua ou Jesus de Nazareth, foi acabar pregado numa cruz. Nem
tinha entendimento suficiente para
compreender o milagre da ressurreição. Muito menos, por que os adultos
cultuavam, insistentemente, a imagem do seu
sofrimento e morte. Por causa desse meu espanto e revolta oculta,
retirei, com minhas mãozinhas nervosas e desajeitadas, todos os quatro Cristos
pregados nas cruzinhas de madeira que ficavam amarradas com lacinhos de fita, na cama das minhas quatro tias solteiras. Lembro-me
que no dia seguinte do ocorrido hove um
bafafá! Elas descobriram o “crime” . As cruzinhas estavam vazias e só ficaram as mãos das imagens que se pareciam com os
soldadinhos de chumbo do meu irmão. Os
quatro corpos da representação de Cristo, amputados, foram parar entre meus brinquedos numa cama de
boneca. E com não conseguia descer-lhes os braços , parecia que um corpo
abraçava o outro. Enfim estavam ali, cobertos por pequenos retalhos de fazenda que
eu pensava aquecê-los, na tentativa diminuir-me
a angústia.
Passado
algum tempo, as tias me perdoaram e até riram
da travessura comentando com outros parentes e amigos. Entenderam que eu os havia arrancado das cruzes para brincar, mas na realidade o
simbolismo da ação era bem outro: eu estava experimentando o sentimento da
compaixão. Queria acolher e até cantar para os quatro Cristos, uma canção de ninar. Só não conseguia abaixar-lhes os braços e isto
dava-me certa impaciência!
Aquela
foi a grande referência para que eu tomasse consciência das torturas do
mundo! No Colégio da Irmãs Dorotéias, a
Via Sacra me pesava... A Semana
Santa me arrastava para o fundo do
poço. Se eu pudesse, mandaria
retirar dos cinemas e locadoras, todos os filmes que mostram
tortura explícita.
Finalmente,
alguém me chama atenção para o crucifixo do novo Papa. Nele se vê Cristo com os braços cruzados sobre
o peito, carregando uma ovelha e cercado por muitas delas. Sem que elas, as mãos estejam paralizadas por pregos. Ele está em plena ação! Recebi de uma amiga
um arquivo que comenta á respeito desse crucifixo:
"No Centro da Cruz está a Cabeça do Cristo, simbolizando a Mente de Deus e também suas mãos juntas, trabalhando junto a seu Coração, o coração de Deus, tomando em suas mãos a Humanidade, o Rebanho do Pastor, os filhos dos homens que são os Filhos de Deus.
Eu sabia que algum dia alguém
apareceria para mostrar algo maior do que a cruz sem negá-la. Já que para o
cristão católico ela é o maior dos símbolos sagrados. Sabia
que essa pessoa, diferente, que enxerga mais além, seria reconhecida por mim e
teria todo meu afeto e respeito. Finalmente não estou mais só.
Tomara que a Igreja Católica continue
mostrar aos fies o lado glorioso do Cristo : Transformação, crescimento e
renovação. É por isso que valeu Seu sacrifício.
terça-feira, 20 de agosto de 2013
Gosto de descansar os olhos nas diversas telas dos artistas que pintam nos corredores do Parque Lage. Lá estão vários estilos em colorido e forma que expressam a alma de cada um. Mas de uns tempos para cá tenho parado em frente as telas de Selma Jacob. Dali é difícil arredar o pé. Adoro as cores com que ela trabalha, tingindo o traço firme com a delicadeza com que maneja o pincel, através de movimentos rápidos e espontâneos!
As obras dessa carioquíssima que começou seu namoro com as artes em 1999. Exigente consigo mesma, está sempre com os trabalhos em andamento... Parece nunca está satisfeita com o resultado final. Enquanto isso, a gente se encanta... Vejam as fotos que tirei na aula de segunda feira:
Prometo trazer fotos de outras obras da autora para deleite dos leitores de Artes e artes. Já que agora, com minha sede insaciável de conviver com a beleza, estou acompanhando seu trabalho.
Vejam o retrato do saudoso Grande Otelo pintado por Selma Jacob
Prometo trazer fotos de outras obras da autora para deleite dos leitores de Artes e artes. Já que agora, com minha sede insaciável de conviver com a beleza, estou acompanhando seu trabalho.
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
O cisma
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Maria J Fortuna
Pela vivência, tenho certeza de que o coração
humano não tem sido preparado para o amor. Mas perdeu-se no mundo das paixões, também
necessárias à nossa sobrevivência
humana. Talvez a maioria não concorde,
mas sinto, na convivência comigo mesma e com o mundo, que são raros os de nós
que foram gerados e paridos e criados na fluidez do amor. E caso tenham sido, para muitos, esse
alimento indispensável para nosso crescimento, algum dia se perdeu. Por
isso não o reconhecemos quando ele chega, sutilmente, mostrando flores e espargindo
perfume, insinuando dias felizes.
Nascemos, em esmagadora maioria, de toda uma
ascendência mal amada, de uma geração não suprida em suas carências afetivas, e
a árvore genealógica pode estar cheia de cupins e parasitas. Salvo um galho ou
outro que conseguiu alimentar-se de uma seiva mais sadia vinda de alguma veia
especial da árvore, a partir de alguma raiz bendita. As raízes são nossos
antepassados que por sua vez talvez tenham se perdido do amor pelos caminhos
das borboletas...
No entanto estamos aqui e dizemos sim à vida,
apesar de tudo. Talvez possamos chamar de amor à tentativa de sobrevivência
própria e da família, que vai se reproduzindo conforme o instinto ou desejo de
perpetuação da espécie. Acredito que o primeiro homem nasceu desse puro
amor de que tanta nostalgia temos. E que toda a humanidade sofre a partir da
sua ruptura. Esse drama ocorrido há muitos séculos, continua acontecendo no
interior do coração humano. Cada um tem sua ruptura primordial! Aquela que nos
deixa assustados e confusos, indefesos e, sobretudo com tanto medo, que
acabamos não reconhecendo ou negando a presença do amor quando chega. Às vezes
por pouco tempo. Um olhar, um batimento cardíaco mais acelerado, um suspiro...
Mas a gente nega as evidências. Se o amor insiste, fica como um inquilino
desajustado, inquieto, até pular fora na primeira ordem que lhe damos de
despejo, porque não combina com a forma que adotamos para a nossa vida, de
querer controlar, possuir e defendendo-nos dele. É como apagar a luz do coração.
Isso me lembra dos girassóis, que se entregam à luz solar que energiza suas
sementes, garantindo sua descendência no calor amoroso do Criador. Quem nos
dera sermos como girassóis!
O amor não compra e muito menos paga aluguel em
nossos corações. Sua hospedagem tem que
ser gratuita. Estamos tão acostumados a pagar nessa sociedade capitalista que
até para o afeto damos preço ou somos cobrados. Hoje a gente paga para ser bem
tratado.
Tudo é tão misterioso... Por que o amor bate
em retirada deixando a humanidade na escuridão? Esta semana, no Egito morreram
mais de quinhentas pessoas numa praça de guerra! E a antiga ditadura está renascendo
por lá, prenunciando mais tempos de trevas. A ausência deste sentimento gera e cria o preconceito que aparta,
divide, diminui o ser humano. Então o substituímos pela paixão, que nos deixa
tão confusos... Em nome dela, quantos
arroubos estimulam nossos impulsos instintivos?
Seria consequência do pecado
original o rompimento com o simples, o espontâneo, com a dádiva inocente que
nos acolhe em dias felizes? Mas que pecado é esse que nos afasta do amor,
transformando seu suave e repousante rosa pelo agressivo vermelho da paixão?
Quem nos traiu? Qual foi a mentira original que rompeu nosso
sentimento de confiança quando ainda éramos crianças? Quem nos privou do amor próprio
que nos prepara para a dança com outros amores?
Em nossa dificuldade com o amor há que insistir na
pergunta: - Como e quando isso aconteceu? Qual foi a data do cisma, que nos deixou no desamparo? Por que negamos o
amor e nos entregamos à paixão que de positivo tem o lançar à ação, mas muitas
vezes nos deixa tão sofridos? Quando e como ocorreu esse terrível acidente?
Mas, porque vestir o coração de luto, se o amor continua vivo e bate em nossa
porta várias vezes durante a vida?
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
Gotas de orvalho
Maria J Fortuna
Após assistir ao programa Saia Justa desta semana na GNT, onde quatro mulheres famosas falam sobre diversos assuntos, selecionei para comentar o mais comum entre todos os temas: a preocupação com a velhice. Predominou, claro, a apreensão quanto à estética. Como já estou envolta nos véus do inverno das quatro estações da vida, fica bem mais fácil, para mim, abordar este tema. A gente fala bem daquilo que vivência.
Fora a preocupação com a saúde, sempre fui uma dissimulada vaidosa. Estou superando na medida do possível, a erosão do tempo, ao sentir que os anos que me restam são como gotas de orvalho no deserto. Cada dia uma gota para sorver com o prazer de quem está saboreando aquele quitute que, quase chegando ao fim, fica ainda mais saboroso! O sentimento é de estranheza, não nego. Mas os dias, as horas, os minutos passam a ser muito mais preciosos! Não há mais tempo para o desejo de voltar atrás. A vida continua fluindo e refluindo sempre e, para cada vida, o tempo tem um conta-gotas. Há um apelo para não desperdiçar esse orvalho com futilidades. Há que se receber cada uma dessas gotas de vida com profundo agradecimento. Nisso reside toda a força que temos para enfrentar o que não pode ser mudado.
Estou grata pela minha lucidez e completamente apaixonada pela Arte em suas múltiplas formas! Aí está a motivação para não mais procurar com atalhos inúteis. A Arte é para mim, um grande lago bendito, onde mergulho todos os dias e me sinto em estado de Graça! Um projeto de vida. Tenha as dores que tiver. Mesmo em dias mais frios e noites mais escuras.
As flores murcham ainda mais depressa sem o reconhecimento das gotas orvalhadas que nos ressuscitam a cada dia. Não há tempo a perder na preocupação com as plásticas, botox , maquiagens, etc. Não mais... Muitos dos nossos parentes e amigos já se foram. Estamos caminhando para além das aparências. Não há tempo para seduzir ninguém com os encantos da primavera. Esta passa a morar na gestação de cada obra. O procriar sedutor dá lugar à criatividade e à gestação nas artes, das quais me sinto permanentemente grávida. É tempo de ruminar, mastigar e engolir lições de sabedoria. De beber lentamente um cálice de vinho. De degustar as coisas da alma. Com isso nossa linguagem se torna mais serena, a tolerância maior. Assim como o controle dos impulsos pela clareza das consequências, pois o sol e a chuva do tempo continuam dia e noite. Bem como os dias nublados. Como também o rosário de perdas e ganhos, erros e acertos que nos fazem humanos.
Enquanto tivermos consciência crítica no caminho do autoconhecimento, beberemos desse orvalho com o melhor de nós mesmos. Lembrando sempre o eterno fluir do aprendizado de cada hora das coisas que nos cercam! Para isso é importante ter amigos. Caminhar junto, pois lhes digo que todas essas coisas acontecem no exercício do amor.

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domingo, 4 de agosto de 2013
Pentimento
Maria J Fortuna
Alguma coisa de luz
Derramou-se no inverno
Alguma coisa de amor esfarelado
Pelo tempo
Uma recordação que não existia
E da qual me havia esquecido
Placa de gelos derretendo-se nos polos
Ursos com calor
Nordestinos com fome
Ternura soprada pelo vento
Mãos aflitas e cegas
Em busca de outras mãos
Flores conservadas pelo frio
Não posso evitar essa lembrança...
Por mais feliz que me sinta.
sábado, 3 de agosto de 2013
Amigo leitor de Artes e artes,
sabe quando a gente sente que não houve tempo para a gente se curtir nem um pouquinho interiormente, tão ocupada nos tornamos com mil tarefas externas? Daí quando o silêncio se faz, o cansaço não permite que o coração se manifeste. Foi o que aconteceu comigo esta semana. Por isso escolhi um texto que me agrada para passar para aqueles que ainda não o leram e para os que talvez gostariam de reler...
Bem, é quase impossível a gente reler alguma coisa, porque até para ler está se tornando difícil, compreendo. De qualquer maneira prometo um bom texto para semana que vem.
Maria J Fortuna
A louca dentro de mim
Ela não pede licença para fazer-se presente! Sussurra coisas incríveis a meus ouvidos! Não me larga, a danada! Quando menos espero se manifesta. Sai das minhas raízes... Dá medo quando começa a cutucar meus sentidos. Abusa dos meus sentimentos, profana-me o corpo. Eu lhe digo: - Vai embora, peste, me deixa! Mas não adianta. Não respeita tempo de vida na Terra. Instala-se como pensamento obsessivo fazendo-me sentir vontade de abrir a boca e falar o que não devo. Ameaça mexer com a louca dos outros me sugerindo inflamar seus egos.
Como seria soltar a louca de vez? A desmiolada aconselha-me a fazer coisas que não tem cabimento! Tem hora que dá vontade de puxar-lhe os cabelos e subjugá-la de uma vez por todas. Mas quem disse que consigo controlá-la? É igual gato: quanto mais se quer prender, mais quer se soltar. Não tem solução. Está sempre no cio... Preciso me ignorar suas alucinações. Mas é impossível! Volta voltinha, lá vêm elas...
O máximo que posso fazer é não me identificar com sua visão distorcida e desfocada. Afinal não sei donde vem. Se nasceu com minha árvore genealógica, ou se é coisa do pecado original. Apenas ouço sussurros nos galhos da noite, como se ali tivesse a árvore onde Judas se enforcou. É o que ela mais faz: tentar para que eu caia em pecado de traição a mim mesma colocando-me em situações de risco.
Sem ter nem pra que parte pra cima de mim. Gosta muito dos dias de chuva para me falar de solidão. Diz coisas absurdas de mim mesma. Tenta apagar minha fé e diluir meu amor. Insinua provocações e diminui meu tempo de sono. Depois delira... Vagueia pelas flores e mergulha na lama. Veste-se de borboleta e rasteja como serpente.
Na adolescência pegava-me no colo levando-me a montanha russa dos sentidos... Despencando o trenzinho do prazer, causando pânico e orgasmo conjuntamente... Era incrível! Sugeria prazeres infindos, a louca desvairada! Eu ultrapassava normas, feria leis, burlavas vigilâncias. Misturava perfume de amor com hálito de sexo. E, sobretudo, passava por cima do bafo da moral familiar. Aí mesmo que se despia! Sugeria bater no pai e sacudir a mãe e acabar com os irmãos, nas horas de raiva. Não dava para esconder à louca. Ela faiscava em meus olhos e crispava-me as mãos nas mangas do desejo. E quando brotava toda desgrenhada, assim do nada, cantando canções do Chico?
“- O que será que me dá, que me bole por dentro será que me dá?...”
Mas... Devo confessar que não posso deixar que se vá... Não posso! Ela faz parte de mim. Assim como me assombra me joga na ação! Dá sabor sempre novo a tudo que faço e me faz sentir o mel das delicias nos frutos da vida. Preciso da louca! Sem ela como vou temperar meus poemas ou arriscar arrancar alguma forma de uma argila bruta? Preciso de sua força, do seu fogo, de seus delírios, de suas pinceladas ao meio dia e de seu canto no meio da noite. Deixo então que me circule pela corrente veloz do sangue. Sem ela não serei suficientemente lúcida para perceber que a melhor coisa para arriscar subir na corda bamba da vida é um pouco de loucura!
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