sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Rosane Zanini em Ante Portas




Rosane Zanini
 
 

                                                                                                                                    Maria J Fortuna

 

Uma das mais agradáveis descobertas em minha jornada como escritora foi conhecer Rosane Zanini e sua obra.  O encontro se deu através da REBRA (Rede de Escritoras Brasileiras) e desde 2008 mantemos correspondência. Ela, arquiteta e poeta, trouxe para sua poesia “a arquitetura das emoções”, como bem descreve Ronaldo Salas Cabrera, que escreveu o prefácio do seu último livro Ante Portas. Nesta obra, ela nos mostra o quanto a lógica e a razão podem andar de braços dados com a poesia.

 Rosane, arquiteta e urbanista, formou-se na Universidade do Vale do Rio Sinos, no Rio Grande do Sul. É  brasileira, filha de imigrantes italianos e, como muitos jovens,  participou da luta contra a ditadura militar que assolou o país por longos vinte anos durante os anos oitenta. Nesse período, amplifica sua paixão pela matemática e estuda urbanismo no curso de Arquitetura em Berlim, onde concluiu a tese de doutorado. Após esta fase, mudou-se para Zurique, desenvolvendo cada vez mais seu amor pela literatura. Com isso recebeu vários prêmios literários e publicou alguns livros de poesia e um de conto: Horas contadas, em parceria com Silvana Mariani onde, a meu ver mergulhou, sobretudo na alma feminina com todas as suas contradições. Neste livro, sentimos seu  interesse pelas causas sociais, pois o cenários são  vilarejos interioranos e favelas do Brasil.
 
 

Ante Portas deixa- nos ver entre suas frestas luminosas a alma dessa poetisa tão ímpar, que inspirada na leitura da Divina Comédia de Dante Alighieri, deixa escapar os rompantes mais profundos de sua alma como no poema Uma janela:

Uma janela

                               semicerrada

Um olhar distante

                               apático

enfoca as folhas

laranjas que passeiam

na tarde sem sol

Desta janela

                               uma fresta

apenas lembranças

o mundo distante

                               passado disforme

A janela

                               emoldura

desfocadas tristezas

ao longe um ponto qualquer.

 

Ao ler sua poesia sentimos, Entre Portas, a  “arquitetura das emoções” a que se refere Cabrera.

Minha identificação com a mulher Rosane é quase imediata, pois nas poesias ela  fala de suas dores, da solidão nas cidades, onde há um quarto, uma janela, uma porta e um coração solitário, paisagem comum   aos que habitam sobretudo apartamento nas grandes metrópoles.  No poema Uma voz, uma cidade, ela assim escreve: “uma voz, um encontro/uma cidade distante/a chamada furtiva/rápido adeus. É a voz de uma filha de imigrantes italianos que não esquece suas raízes e acrescenta na língua dos seus antepassados:   “ – ora voglio di piú/una storia importante/como ti vorrei/quando ti vorrei...”

Junto a seu livro Entre Portas uma nova Antologia foi publicada, da qual tive a honra de ser escolhida para ser  autora  da   capa: A cidade dos pequenos sonhos,     e ainda participar com algumas poesias tal como nas duas anteriores: A cidade em nós e Um dia em minha cidade. Esta última, também traz  textos em espanhol e português com tradução em alemão, onde participam autores de vários países como Rolando Salas-Cabrera, do Chile,  que vive na Espanha, Virginia Maria Zanini e Rita Rios, do Brasil, Sandra Leonor Mansino Delgado, do Uruguai, Lucia Obando Salazar, da Colômbia, Werner Widenmeier, da Suiça, Wolfgang Kumpfe, da Alemanha, além da própria Rosane Zanini, cuja proposta é mostrar o que há de comum em emoções e sentimentos na cidade interior de cada um,  universalizando a literatura como um canto de união entre os povos,  convocando-os a uma experiência fenomenológica. Interessante Rosane redescobrir sempre a partir de sua vivência como arquiteta, construção da alma de cada um no mundo dos sentimentos e emoções, além dos limites geográficos, como diz sua prefaciadora da Cidade em nós, Olga Lucia Obando. Nessa Antologia, a  cidade é  cantada em prosa e verso, trazendo textos de Berlim, Zurich, Stuttgard, Paris, São Luís do Maranhão quando,  como maranhense, tive oportunidade de escrever sobre os dias iluminados da minha infância.
 
 


Termino com alguns versos de uma das  poesias de Rosane, das minhas preferidas,  que se chama  Giramondo. Ela termina assim:

Se muitas vezes perdi

Não foi porque não tentei

E o alvorecer, radiante aurora

- como foi e sempre será –

                              Não me despertará

Porém, contudo, um pequeno raio

De esperança luz ao anoitecer segredará

- Giramondo, em terras estranhas distantes

Eternamente errante!

(Publiquei em Artes e artes este poema em 2009)

 

 

 

 

Um comentário:

MJFortuna disse...


Eliana Angélica de Sousa

6 de ago (Há 1 dia)

Além de ilustrar a página do livro da autora (uma linda moça na gangorra e gangorra de árvore, me faz lembrar de minha infância) também mostra-nos tão belas palavras e delicadas emoções da escritora Rosane Zanini, a qual ainda não conhecia. Divulgando sempre você a arte e a beleza em todos os sentidos.
Adorei! Parabéns!
Grata.
Beijo.

eliana

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