Maria J Fortuna
Há dias em que a fragilidade acorda dentro de mim e emerge na consciência, por motivos que desconheço de imediato. É como se eu fosse um bambu que o sopro de um anjo faz estremecer. Mas anjos trazem harmonia e beleza. Eles são as energias das quatro estações. Na verdade tal sentimento tem a ver com os ruídos do mundo ou com nossa música interior, quando fora de compasso. Mas afinal, quem ainda não se sentiu assim, sem nenhum motivo aparente ou depois de um noticiário de televisão? Apesar de que esta resposta não me satisfaz, porque a transparência é um dos aspectos desta visitante sempre inoportuna. Ela vem para expor, mostrar o que vai dentro da gente. E de como somos pequenos... Se não damos atenção a ela, não desaparece.
É realmente horrível o estado interrogativo e nostálgico que este tipo de dor muda nos traz. No entanto, conduz à reflexão. E vêm as indagações que só nós conhecemos. Por trás da violência do mundo, está a alma do planeta. E a sensação de impotência prende-nos numa teia, não numa rede de luz, como era de se desejar.
Eu ali, sentada na cama, hoje, pela manhã, pensei: O que me fizeram de tão cruel a ponto de deixar-me assim, tão sem viço? Por que sinto que a vida está torta, como se dançasse fora do compasso? Ou serei eu quem dança fora de foco? Por que vejo minha luz tão fraquinha, a ponto de ameaçar se apagar? Por que na escuridão do jogo genético, cheguei ao mundo tão sensível a meus próprios ruídos, que ao misturar-se com os do planeta, fragilizam tanto meu acanhado ser? Por que esta percepção tão aguçada da minha própria pequenez? E esta sensação de que vai acontecer algo, que não vou dar conta de segurar?
Como transformar esta fragilidade em força? Sei que todos aqueles que fazem parte desta grande massa de seres humanos, às vezes se desfiguram... Fogem também de si mesmos numa busca desenfreada do não ser, do que não é. Pois é, sinto-me desfocada esta manhã. Quantos, hoje, acordaram assim, sem nitidez? Quantos mais têm consciência de que a excessiva fragilidade é um mau resultado da busca por si mesmo?
A exacerbada crença no mal, no perverso, não pode arrancar a esperança dos nossos corações. Faz parte um processo de aceitação e crescimento. O exagerado sentimento do frágil passa a existir à medida que ignoramos este reconhecimento. É a única arma que temos em prol da superação, no enfrentamento com as esquizofrenias do mundo! A lucidez é maior do que a doença, a velhice, a violência e a morte... Mesmo que paguemos um preço muito alto por ela! Frágeis, seremos sempre!
Um comentário:
Mariinha, amiga querida, talves....
se ja nos conhecessemos inteiramente, se tivessemos uma fé inabalavel, talvez não teriamos estes momentos que nós mesmos não sabemos entender.
Creio que se assim fosse não mais estariamos na terra ,as em planos superiores, onde as almas se comunicam atraves do olhar.
Quero crer, que um dia chegaremos lá
abraços, monica
Postar um comentário