sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Hoje acordei com saudades de Minas...


Maria J Fortuna
Hoje acordei com saudades de Minas... Não que eu não ame o Rio de Janeiro, cidade alegre e repleta de beleza! Mas me bateu aquela saudade do cheiro das montanhas... Das grandes e pequenas fazendas, das casinhas escondidas no interior daquele mapa que tem cara de velha nariguda. Saudades do bolinho de fubá, do pão de queijo, do cafezinho com queijim fresquinho de Minassssss , que o mineiro assim fala com seu sotaque caloroso e engraçado. Sinto falta do frango com quiabo e angu, feito no fogão de lenha. Dos pratos cheirosos e fumegantes que são colocados nas mesas de madeira rústica, que me traziam um não sei que de conforto. De tanta coisa de Minas, sinto saudades... Até do cigarrinho de palha que experimentei por lá, por pura curiosidade. Mas, sobretudo, sinto saudades do mineiro... Do jeitão tão gostoso de olhar e conversar com a gente como se já nos conhecesse há muito tempo! E aquela disposição toda de nos convidar para comer em sua casa. Saudade do mineiro fazendo sarau com o insubstituível violão, fazendo serenata na janela das meninas e senhoras, que suspiram ainda pelo mundo encantado dos cavalheiros que oferecem flores cheirosas à mulher amada, mas também a sua mãe, tia e avós. Como também dos amigos mineiros que, mesmo em Belo Horizonte, capital já bem desenvolvida, vão à casa da gente fazer uma visitinha e acabam na cozinha ajudando a lavar os pratos e preparar o café. E dos vizinhos que se oferecem para consertar alguma coisa estragada dentro de casa, chamam para rezar o terço pra Nossa Senhora, tão relegada pelas novas religiões, trazendo um clima de lembranças da nossa infância e, ainda, convidam para passar uns dias no mato...
Quando o mineiro é amigo, nem se fala! O respeito é mais que sagrado e acolhimento é fato! São discretos e, muitas vezes, apenas observam, para não entrar na vida dos que lhe são caros. Se ouvirem falar do amigo aí pronto! Ficam furiosos! A gente sente que aquela amizade permanece com a mudança das estações e é porto seguro onde a gente pode amarrar o barco e descansar... Onde a gente pode pisar com segurança, olhando as estrelas. Por isso nem telefonam quando estão perto da casa da gente e resolvem dar um pulinho para começar uma prosa... Estão sempre por perto, quando a gente entra em agonia. Ligam às duas da madrugada para ouvir e oferecer colo. E estão prontos para fazer festa na casa de alguém e levar a gente.
Saudades de Minas Gerais, dos meus passeios por Ouro Preto nos grandes festivais de inverno, em que eu tomava batida de coco e via aqueles prédios coloniais se apagarem nos braços de um namorado mineiro, dos que dizem: Uai! Agora ocê tá apagando de vez! De Tiradentes e das serestas de Diamantina. Dos amigos de Oliveira, que não me deixavam ir para o hotel quando ia lá trabalhar. Dos meninos e meninas da república que fugiam da polícia na época da ditadura militar. Uns escondendo os outros. Do Caraça sob a luz do luar, das águas frias dos seus rios e das flores singelas dos verdes campos. Do primeiro amor de verdade, lá de Dores do Indaiá.
Assim passei grande parte da minha vida trabalhando e amando, pelas estradas de Minas de norte a sul, leste e oeste. Além do que tenho uma filha mineira, ó que? E este foi o maior presente que Minas me deu.

10 comentários:

Amo Poetar disse...

POIS é... amiga saudades e coisa estranha, sinto eu saudades da Itália de 1950, logo apos a guerra, quando eu morava a contato com camponeses, agricultores, gente feliz recomeçando a viver a liberdade, tudo era grande para quem a pouco pensava de repente morrer sem perceber.Poucos carros pouco movimento gente com esperança em um amanhã melhor.
Hoje quando me bate esta saudade pego o carro e vou a Campina grande do Sul a 50 km de Curitiba, muito verde por lá, muita paz, estou voltando de la agora
Grande e apertado abraço, mony

Eliane Accioly disse...

Andei por Minas lendo você.Também tenho uma filha mineira, uai, a Andrea... a primeira. Muitas saudades mineiras para voc~e, e um beijo-broa-de-fubá

norália disse...

Comovente a sua crõnica, Mariinha...
Você,maranhense, está dando a maior das mineiradas: saudocista!!!
Sou mineira saudocista pra dedéu... sinto saudades do que tive e do que não tive... saudades imensas destas montanhas, estando morando em cima delas...
Parabéns,querida conterrânea...
Norália

norália disse...

Mariinha, pedi pedi e você deixou sair a barbaridade: saudocista... credo... SAUDOSISTA é o correto. Sei lá porque saiu esta feiura... Talvez por ter predominado o sentimento saudade da minha minas infantil e da minha minas que ainda não vi e estou redescobrindo... seu texto me fez viajar longe...
Abraços de uma mineira da gema. Sou montanhesa dos pés à cabeça.
Norália

MJFortuna disse...

Norália, juro que não vi o seu pedido. Mas isso ocorre tanto comigo, querida. Eu de vez em quando estou trocando as bolas, no caso as letras, percebe?

Você é uma mineira maravilhosa! Aí, no sacrário do seu cantinho maravilhoso escreve coisas lindas com a pena da alma!

MJFortuna disse...

Maria do Céu, por email:


Linda, doce e enternecedora sua HOJE ACORDEI COM SAUDADES DE MINAS..
E´isso aí, amiga, estas Minas que não têm mar, - ja sentenciaram "MINAS SÃO MUITAS" - ....tem Ouro Preto, Mariana, Diamantina, Serro, Sabará......
E, fundamental, tem Cachoeira do Campo, terra de nossa amiga comum, que já nos deixou há 06 anos e ainda doi.....
E ainda a Serra da Piedade, de onde se contempla " o fim do mundo ", com a capela de Nossa Senhora da Piedade, restaurada. Ali em cima, o Observatório Astronômico que acolhe muita gente nas noites claras de luar -ou sem luar, contanto que claras - para observar o céu.
Sobre isso Blaise Pascal, já falara no fim da idade média, começo da renascença: "O SILÊNCIO DOS ESPAÇOS INFINITOS ME APAVORA"..... E se ele soubesse que os astrônomos já falam em mais de um universo. Grandiosidade demais para nossa inteligência compreender. Mas, será que a gente compreende? E, é realmente preciso, entender?
Afinal, tudo ainda se afigura como um grande, incomensurável e inatingível mistério....
Você fala no Caraça, aquela maravilha.... sabe que existem os lobinhos do Caraça ? que á tarde, chegam à porta do pátio de entrada para o convento e capela, para buscar o jantar que os frades oferecem. Animais/ criaturas que Francisco de Assis tanto amava.....
No seu blogue reli a Semente, e a crônica de lembranças de sua Mãe.... Comovente!.

Beijo e se a saudade de Minas apertar, venha!

Carinhosamente, Cecéu.

norália disse...

Nossa... Mariinha... como tem mineiras por aqui... de nascença de coração ou de adoção...Acho que ficaríamos mais de ano falando das belezas de Minas. Agora, quero lembrar-lhe, que Minas é o coração do Brasil, de onde escorrem o sangue brasileiro para todos, com suas vastas montanhas cheiinhas de ferro ouro prata estanho etc... e centenas de milhares de pedras preciosas...Mais e mais energia contagiante sai dos minerais... como boa mineira, sou coberta de ouro e cristais... Bom usufruto para você, Mariinha, mineira de coração que recebeu de nosso sangue por aqui...Sua crônica teve o poder dos minerais a nos estimular a falar de Minas.
Norália

MJFortuna disse...

Claudia Carneiro, por email:

Amei essa crônica! E a do seu quarto do Rio? Chorei muito, lembrando da minha mãe, como há muito tempo não chorava. Você escreve lindamente, com muita poesia. Mais uma vez parabéns.

Bjs, Cláudia

MJFortuna disse...

Eliana Luppi, por email

Que saudade deliciosa!!! Ficou lindo demais o texto.
Deu pra sentir a saudade junto com você!
Beijos e parabéns, amiga querida.

eliana

Unknown disse...

Eu também tenho vivido assim, de saudades, lembranças, depois de mais de trinta anos morando no Rio. Mas quem é Mineiro tem orgulho do sangue que corre na veia......sangue de fogão a lenha, de fumaça na chaminé, da estrada de terra, do frio do inverno....é uma lista sem fim! Adorei a crônica!!! Beijos

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