O motorista do táxi estava nervosíssimo! Resmungava o tempo todo e fazia sinais estranhos com as mãos, chamando atenção dos transeuntes nas paradas forçadas dos engarrafamentos. Tranquilamente, eu lhe indaguei:
– Aconteceu alguma coisa que lhe tirou do sério, senhor?
– Dona, tudo o que quero é sair desse estado de Exu, em que estou há seis meses. Minha mãe de santo sempre fala com os outro: - Cuidado que ele agora tá com Exu!
– E o senhor vai passar seis meses com essa entidade?
– Pois é, senhora, seis meses! Ninguém pode me olhá torto que é um perigo! Posso até mandá bala!
Aí eu fiquei tensa. Cruz Credo! O que faço agora? Peço pra ele dar uma paradinha, pago a bandeirada, desço do táxi ou sigo? Perguntei a mim mesma.
Passaram-me a informação que Exu tem parte com o demo, personifica algo negativo e terrível! Para alguns se trata do próprio, mas para aliviar meus próprios receios, lembrei-me de minha amiga Jacqueline, Deus a tenha, estudiosa em religiões africanas, que na já distante década de 70, havia me falado que aquele espirito era apenas uma energia neutra, que cumpria os mandados da mente humana. Se a mente for suja, o endereçado do trabalho, tá lascado! Mas não é pra ter medo dele, dizia ela. Então fiquei menos tensa.
– Fale-me do Exu, pedi para que ele canalizasse para uma explicação àquela estranha energia que o fazia gesticular sem parar.
– Exu é Orixá, não é espirito. Sou sacerdote dele. Com todo respeito não há culto a Orixá sem a presença do Exu. A gente tem que se entendê bem com ele, fungou profundamente o taxista. Só que ando com cabeça quente... Com isso ele fica desrespeitoso, madama.
Nossa! Pensei. Tomara que eu já saia desse túnel, desse táxi, desse Exu! Será que serei vitima de algum desrespeito até chegar ao meu destino?
– Essa noite vou acalmar o Exu, que é aquele do cemitério. Vou levar marafo, charuto e vela preta pra ele. Mas o culpado sou eu, madama, tô com o espirito vazio... isso é um perigo! Não estou cumprindo obrigação.
– Acho que o senhor tem que cumprir urgente, disse já procurando o dinheiro pra pagar a corrida.
– Vou mandar pólvora! Mando pólvora! Eles vai ver. Vão consertar as encrenca!
Fui chegando ao Parque Lage, pagando, descendo, saindo... Com todo respeito.
No Jornal Internético João do Rio, Maria J Fortuna escreve em outro estilo. Veja Crônica Carioca. Dê um pulinho lá para conhecer seu outro jeito de escrever.
Um comentário:
Eliana Angélica de Sousa
17:23 (6 horas atrás)
para mim
Eliana Luppi, por email:
Êta Mariinha!
Que crônica mais diferente. Prende o leitor que nao quer ficar sem saber o final!
Ótima.Grata.
eliana
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