quinta-feira, 4 de abril de 2013

A voz que não se cala



                                                                                  Pintura de Maria do Carmo Secco



Maria J Fortuna



Há uma sempre presente e vigorosa voz dentro de nós que às vezes se manifesta em tom imperativo; outras como um sussurro e que, absolutamente, não combina com os desgastes dos nossos corpos. O brado murmurante deste fenômeno é percebido e, às vezes, admitido pelos que conosco caminham pelas estradas do mundo, mas muito pouco confessado a nós mesmos e aos outros. Além do que nem todo mundo alimenta uma relação saudável com esta voz interior. Por mais que ela se mostre presente Talvez porque possa ser interpretada como coisa de místico. Ou de doido.
Nem sempre ela é aceita como nossa própria imagem refletida no espelho, pois emerge de dentro, quando estamos em silêncio, e vive fora do tempo. Enquanto envelhecemos, continua plena, cheia de energia. Um estranho paradoxo! Alguns a chamam voz de Deus; outros de consciência, razão, intuição. Não interessa. Não é necessário que estejamos em estado meditativo para que tomemos consciência de sua presença Pode surgir como um  alerta, para nos avisar ou defender num estado de risco.
Para mim é a voz do lado sadio, luminoso do ser. Todas as vezes que meu outro lado obscuro, depressivo, ansioso, entra em ação, antes que eu me deixe levar pelo pânico, ou situação de extremo perigo, ela aparece e me socorre com sua verdade. Não deixa que me identifique com minha própria loucura, que poderia levar-me a situações de risco. Tampouco me põe no colo e acalenta. Pelo contrário, entrega-me a espada e eu duelo com meus fantasmas e, mais das vezes, venço. Se perder aquela luta, ela me sacode e levanta. Fortalece meu eu com seu velho vinho, vindo não sei de que adega, e sopra-me as feridas do coração. Então recomeço, às vezes com imenso esforço, mas seguro novamente a espada e parto para a luta! Para isso, não necessito das minguadas forças musculares, que já trago em mim, corroídas pelo tempo. A voz vai se renovando numa batalha inteiramente interna que parece não ter fim, ficando mais forte quanto maior o desafio! Sobretudo quando o caso é de vida ou de morte. Com o tempo aprendi que o caráter mais vulnerável a dor necessita que se segure a espada, com mais força e firmeza, na luta para viver e continuar seguindo as pegadas da memória das passadas conquistas. Os místicos reconhecem esta voz como a de Cristo interno. Aquela que só é percebida no silêncio da meditação. Aquela  que nunca acaba e continua a renascer em outros corpos num círculo . eterno. Para outros, esse elo vital descansará em um plano de consciência que ele próprio conquistou em sua vida na Terra, e nele ressuscitaremos nos últimos dias.
Para os que não acreditam na força de uma energia espiritual, a voz emudece com nossa partida deste mundo.
Quanto a mim, acho que é difícil admitir que essa força imanente não fique conosco para sempre, transcendendo a morte, pois dela depende nossos relacionamentos, inclusive inconscientes, com todos os mundos. É uma qualidade da alma a que nada se compara. Sua voz é incomensurável e eterna. E nela mora o segredo da esperança.

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