Maria J Fortuna
Após assistir ao programa Saia Justa desta semana na GNT, onde quatro mulheres famosas falam sobre diversos assuntos, selecionei para comentar o mais comum entre todos os temas: a preocupação com a velhice. Predominou, claro, a apreensão quanto à estética. Como já estou envolta nos véus do inverno das quatro estações da vida, fica bem mais fácil, para mim, abordar este tema. A gente fala bem daquilo que vivência.
Fora a preocupação com a saúde, sempre fui uma dissimulada vaidosa. Estou superando na medida do possível, a erosão do tempo, ao sentir que os anos que me restam são como gotas de orvalho no deserto. Cada dia uma gota para sorver com o prazer de quem está saboreando aquele quitute que, quase chegando ao fim, fica ainda mais saboroso! O sentimento é de estranheza, não nego. Mas os dias, as horas, os minutos passam a ser muito mais preciosos! Não há mais tempo para o desejo de voltar atrás. A vida continua fluindo e refluindo sempre e, para cada vida, o tempo tem um conta-gotas. Há um apelo para não desperdiçar esse orvalho com futilidades. Há que se receber cada uma dessas gotas de vida com profundo agradecimento. Nisso reside toda a força que temos para enfrentar o que não pode ser mudado.
Estou grata pela minha lucidez e completamente apaixonada pela Arte em suas múltiplas formas! Aí está a motivação para não mais procurar com atalhos inúteis. A Arte é para mim, um grande lago bendito, onde mergulho todos os dias e me sinto em estado de Graça! Um projeto de vida. Tenha as dores que tiver. Mesmo em dias mais frios e noites mais escuras.
As flores murcham ainda mais depressa sem o reconhecimento das gotas orvalhadas que nos ressuscitam a cada dia. Não há tempo a perder na preocupação com as plásticas, botox , maquiagens, etc. Não mais... Muitos dos nossos parentes e amigos já se foram. Estamos caminhando para além das aparências. Não há tempo para seduzir ninguém com os encantos da primavera. Esta passa a morar na gestação de cada obra. O procriar sedutor dá lugar à criatividade e à gestação nas artes, das quais me sinto permanentemente grávida. É tempo de ruminar, mastigar e engolir lições de sabedoria. De beber lentamente um cálice de vinho. De degustar as coisas da alma. Com isso nossa linguagem se torna mais serena, a tolerância maior. Assim como o controle dos impulsos pela clareza das consequências, pois o sol e a chuva do tempo continuam dia e noite. Bem como os dias nublados. Como também o rosário de perdas e ganhos, erros e acertos que nos fazem humanos.
Enquanto tivermos consciência crítica no caminho do autoconhecimento, beberemos desse orvalho com o melhor de nós mesmos. Lembrando sempre o eterno fluir do aprendizado de cada hora das coisas que nos cercam! Para isso é importante ter amigos. Caminhar junto, pois lhes digo que todas essas coisas acontecem no exercício do amor.
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5 comentários:
Ana Freitas
07:41 (3 horas atrás)
para mim
Estou na Austrália no momento, mandando mensagens apenas para manter os meus amores informados do meu paradeiro. Todavia, não pude deixar para depois esta sua crónica, pois é de extrema beleza, que Maria de Nazaré, Mãe Maior, a continue abençoando. Parabéns. Lindo! Lindo! Mesmo. Beijos.
MARIA LUCIA CARDOSO VASCONCELOS
09:48 (1 hora atrás)
para mim
Acordei agora e abrindo o computador encontrei esta crônica mais linda de todas a que li até hoje, de qualquer autor que seja... Foi um presente que recebi nesta manhã de agosto, mês da renovação ..........para mim. Um beijo carinhoso de malú, que tem orgulho de ter você como minha querida, amiga, sempre menina...
Só vc MS, se inspirar nessas papagaias....
a única que gosto é a ASTRID, muito rodada na TV....
E vc cria essa jóia de textos ....são pérolas....belas e delicadas...
GRATA, Parab~ens.
LUCCIA HERRERA
MARIA DO CÉU
13:31 (21 horas atrás)
para mim
Obrigada, pelas “GOTAS DE ORVALHO”!
Você, como sempre, refletindo com lucidez sobre a vida.
Obrigada, pela partilha!
Eliana Angélica de Sousa
14:10 (7 horas atrás)
para mim
Não há mesmo mais tempo para ser gasto com reparos que não fazem mais sentido.
Agradecida. Parabéns. Beijos.
eliana
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