sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Não posso deixar de publicar

O valor de uma obra de arte

Luciano Luppi


                    Quanto vale uma obra de arte? Quanto vale uma pintura numa tela? Uma escultura? Quanto vale uma entrada para uma peça de teatro? Para um show musical? Quanto vale um ingresso para assistir a um filme no cinema? Ao fazer essas perguntas, estou me referindo a apenas ao valor monetário, pois é evidente que os valores expressivos, simbólicos, sociais, psicológicos, estéticos, históricos e outros são enormes e bem mais difíceis de avalizar.
                    Focando estes questionamentos apenas nas artes plásticas, pergunto: o que faz um quadro de Van Gogh valer R$ 201 milhões, enquanto o produto de um outro pintor da mesma época, com o mesmo nível de refinamento artístico, mas pouco conhecido, custa infinitamente menos? Para complicar ainda mais: o que faz um quadro do próprio Van Gogh, com os famosos girassóis, valer admiravelmente mais que outro quadro do mesmo artista, indiscutivelmente com o mesma qualidade? O que fez esta pintura se tornar famosa e valer uma fortuna impressionante? Com certeza não será pelos girassóis, nem pelo tema, nem pelo apuro técnico, nem pelo autor e nem pela época (pois, como se sabe, o próprio autor só vendeu uma tela durante a sua breve vida).
                    Não se discute a qualidade nem a importância de Van Gogh, apenas se interroga sobre as desigualdades absurdas nos valores praticados no mercado, quer sejam entre pinturas do mesmo artista ou entre outros artistas. Mesmo não tendo sido reconhecido no seu tempo, a vida e a obra deste genial autor já foi cantada em verso e prosa por todos os cantos do mundo. Sua vida atribulada e miserável já deixou sua marca na história da humanidade, e o mercado das artes plásticas se alimenta de histórias, verdadeiras ou não, sobre a vida e as obras dos artistas, suas excentricidades, suas glórias e tragédias.
                    Alimenta-se, também, da trajetória de circulação de determinadas obras por quais mãos elas passaram, a quem elas pertenceram, quais reis, magnatas, homens e mulheres famosos delas se serviram ou se locupletaram.
                    Alimenta-se, ainda, da especulação financeira, quer seja lícita ou não, do jogo de valoração intencional explorado por investidores, marchand, galeristas, curadores, críticos especializados, colecionadores e até artistas.
                    Este mercado alimenta-se de tantas coisas, tantos interesses excrescentes à própria arte, que não fica difícil entender porque existem disparidades imensas na sua precificação. E será assim com todas as artes? Ou existem diferenças significativas em cada uma das atividades?
                    Como cada área artística tem necessidades e trajetórias específicas, é natural que a especulação financeira envolvida em cada um desses segmentos passe por outros canais e outros filtros, mas o assunto é bastante complexo e exigiria um outro artigo.


22/01/2016

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