domingo, 13 de setembro de 2009

Querer por inteiro



Foto da Galeria do Armando

Maria J Fortuna


Na novela das oito o sacerdote brâmane Shankar diz a seu filho que se quiser o amor de Maya terá que querer por inteiro. Isto me fez refletir muito a cerca da verdade que existe em nós. Querer por inteiro, seja o bem ou o mau, é a expressão lógica de inteireza dos sentimentos. Se me sinto dividida como poderei querer algo em sua totalidade? Quantos quereres não se concretizam por falta de apoio em nosso centro? Talvez por nos encontrar despedaçados, alquebrados, descoloridos. Como posso, assim, ter êxito nas minhas escolhas? Fácil por a culpa na vontade de Deus ou num implacável destino. São poucas as vezes que o querer, associado à determinação, concretiza nossos sonhos e nos faz caminhar em direção aos nossos objetivos. Por que nos parece tão perigoso este querer redondo que pode partir para a vertical ou horizontal no traçado de nossas vidas?
Refleti em quanta sabotagem fazemos conosco mesmos para impedir que aquilo que queremos (pela metade), logicamente, não se concretize. Por que? Esta é a pergunta que me fiz, recapitulando meus anos de vida e avaliando as vezes que me neguei aos apelos do coração. Passando, inclusive, por cima da intuição de que aquela escolha seria acertada. Parti muito meu querer como se parte um biscoito.
Por que viver momentos áridos se desejando a chuva, mas não querendo que ela aconteça pela possibilidade de vê-la transformar-se em tempestade? De onde sai o medo que não nos permite o batismo de novas e saudáveis escolhas? Por que, afinal, não querer de forma plena? Seria falta da consciência de que tudo é perene e o tempo não espera para amadurecer e deixar cair o fruto não comido? O vinho não degustado?
Onde está o Graal por quem o rei Arthur tanto lutou, com seus cavaleiros da Távora Redonda? O que nos despedaçou, como se o amor humano fosse feito de vidro, sem chance de se renovar? Até onde nos deixamos influenciar pelo medo do tombo ou do raio quando caminhamos sobre nossos pés?
Quando, finalmente, chegaremos a querer de forma plena, o encontro da dama com seu cavaleiro dentro de nós e, juntos, deixar que o cálice seja sorvido na caverna que representa o coração humano?
Depois de larga reflexão, ficou claro para mim que, na maioria das vezes, apenas desejamos, não queremos. Querer por inteiro é muito perigoso.

2 comentários:

Daufen Bach disse...

EWU JA TE DISSE QUE SOU TEU FÃ!?

que maravilha de texto Maria!
me vi inteiro retratado em teu texto, fui lendo e lembrando, revivendo situações taõ reais em minha vida neste momento... tu sensibilidade para tocar em assuntos assim e maravilhosa!

Parabéns e obrigado! precisava ler algo assim hoje...


Um abraço terno a ti e minha admiração or teus escritos.

daufen bach.

Roselis disse...

Meus parabens pelo seu texto, porque nos obriga a fazer perguntas cujas respostas intuimos , e evitamos. Aqui na França se diz " voce falou alto o que eu guardava aqui - (e se aponta para o coraçao)- bem baixo". Gostei disso de querer culpar a Deus, indiretamente ; gostei do "prtir do biscoito", gostei do mea culpa de nao se escutar. voila, voce tem uma nova leitora: Roselis BATISTAR

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