sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A caçadora de belezas




Maria J Fortuna









Mesmo nos dias em que meu coração dormiu fadigado, quando levanto da minha velha cama dou com uma chuva de pequenas pétalas roxas sobre a escrivaninha branca. Elas representam as boas recordações dos Campos de Lavanda da França. O perfume já se foi, mas ali, sequinhas, elas continuam como as Sempre Vivas dos campos de Minas Gerais. Caçadora de belezas que sou, sinto que o único recurso para acalmar-me a alma é esse encontro com o Espirito onde mora a Beleza, que é santo – o Espirito Santo.
Ninguém cantou esta senhora, que acalma as turbulências do coração, mais que os Sufis, o povo do Caminho, como dizia o Osho. A rota da beleza que perfuma por onde passa, atravessa a história e as fronteiras não só da Terra, mas como do Cosmos! Fui longe demais? Sim, mas é verdade. A Beleza tem o dom de retirar aquele espinho que está lá, bem encravado, na alma.
Outro dia quando acordei com sentimentos confusos como criança em estado de guerra, um passarinho, que não consegui identificar, cantou numa árvore próxima ao prédio onde moro. Em meio ao ruído de motores e buzinas dos carros apressados, surgiu o trinado da avezinha que chegou aos meus ouvidos como bálsamo... Mergulhei naquelas notas que se espraiavam pelos céus e de súbito fui tomada pelo espírito da Beleza! Então encontrei minha alma que estava querendo escapar. Eu me fiz à pergunta: Como um ser tão pequeno em tamanho consegue cantar daquele jeito senão um anjo em forma de pássaro? Rumi, o maior dos poetas sufis, escreveu:


“Ó amantes, abandonai as tolas ilusões.
Enloquei, perdei de vez a cabeça.
Erguei-vos do fogo ardente da vida
- tornai-vos pássaros, sede pássaros... “

No caso das aves, como das lavandas a essência é a mesma. Se eu consigo abstrair-me de tudo o quanto cerca e me deixar levar por aquele rastro perfumado, estarei livre da loucura! Tanto é que esta senhora é irmã gêmea do amor. São tão cumplices que se uma não fica presente sem a outra. Quem não tem nostalgia da Beleza? Quem não a deseja de todo coração e quem não tem um altar dentro de si para recebê-la?
Acima de tudo que a representa neste mundo, além das artes, ela está infinitamente presente em um gesto de compreensão e carinho. Na compaixão principalmente em comportamentos justos e éticos.
Se o ser humano, desde o útero materno, fosse acolhido com amor, certamente a procura e reconhecimento da beleza seria bem mais fácil. Um exemplo disso foi o que vi hoje no Bom dia Brasil da TV Globo: o grande maestro indiano Zubin Mehtad regendo uma orquestra de moços e moças da favela em Heliópolis, São Paulo. Querem coisa mais bela do que isso?

2 comentários:

Eliane Accioly disse...

Adorei, amiga caçadora de belezas.
Bjs e ótimo fim de semana.

MJFortuna disse...

Para vc também, Eliane. Adoro quando vc aparece por aqui e deixa seu comentário
bjos

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