sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Máscaras







                                                                                                                                     Maria J Fortuna




Tenho-as penduradas na parede da minha sala. Imitação canhestra da face humana. Elas me fascinam... Impávidas, com um ar de indiferença. Estão por lá, muito belas. Pintadas com tintas suaves. São brancas, douradas ou prateadas. Com incríveis arabescos desenhados meticulosamente, no fio de um pincel miraculoso! Mas tem os olhos vazados... Como se a alma tivesse fugido. Com isto ficam com semblante empedernido, retratando o que seria total ausência de emoções e sentimentos.

De onde veio este meu fascínio, desconheço... Talvez no exercício de não demonstrar sentimento que agrida ou transborde em ternura. Das dores suportadas sem gemidos e lamentações. Do fechar-se ao olhar agudo e provocante daqueles que são incapazes de decifrar código de amor. Da necessidade de ocultar-se como um gato dentro de um armário escuro. Ou de esconder os espinhos sob as folhas de uma roseira triste.

O silêncio da máscara é instigante, marmóreo, encerrado em si mesmo. Expressão parada no tempo. Imobilidade, eterno disfarce do que nunca quer se mostrar.

A máscara é um grito solto no ar. Ou na parede... Em cima de um móvel. Onde estiver. Se tiver um sorriso pregado nela, este deboche ficará congelado. Bizarrice enrijecida no estático. Na não ação, no sem sentido. Se tiver chorando retratará um momento de dor perene, sem esperança, sem nenhuma possibilidade de mudança. Se tiver um sorrido doce, soará ainda mais falsa nos momentos em que o ódio invadir nosso ser por algum motivo. Parece que zomba do que é frágil e mutável. Do que é humano e reativo.

Por trás da máscara tem sempre uma infância interrompida. Mão carregando pedra com flor, sem saber como fazer uso delas. Peito asmático, pássaro ferido, pranto suspenso na dor.

Um dia o tempo resolve se vingar dela, da máscara... O branco de fundo pode perder o brilho opaco, desbotar as cores. Rachaduras podem aparecer cravando suas unhas no barro ou, de repente, o metal se veja amassado. Pode se espatifar no chão, quebrar ou amassar. E o que pode aparecer por trás dela, só Deus sabe!







3 comentários:

MJFortuna disse...

Adriana Brega por email

Sempre nos presenteando com textos tão poéticos, profundos...
Obrigada, beijos!!!

MJFortuna disse...

Minha querida Ida Luppi, por email:

Querida, que coisas mais lindas,aquelas fotos no seu blog. Aquela postagem Coisas daAlma é sua foto nos canteiros com flores roxas ? Que coisa mais linda.E como voce escreve tão bem fico constrangida com meus escritos voce é escritora de prima classe.Apaixonei com as mascaras Bjs Ida



--
Ida Vieira Luppi

Ela foi vencedora do concurso promovido pelo Banco Real. Uma honra tê-la como comentarista do meu blog!

Eliane Accioly disse...

Amiga,

lindos imagem e texto. vejo você, sua poesia e sensibilidade neles.
Grande beijo,

Eliane

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