Dançando
sentimentos
Maria J Fortuna
Doces angélicas perfumavam o
ambiente, enquanto uma chama ardia no canto da sala, perto do espelho que
reproduzia sua luz. Havia muitas outras flores enfeitando o ambiente.
Estávamos ali, numa sala de Yoga em BH, esperando nova apresentação de
Rolf, o feioso e genial bailarino alemão, que escrevia mensagens com o corpo.
E elas transmitiam tal beleza, que tudo que importava era não deixar que nenhum
dos seus movimentos se perdesse aos nossos olhos. O verbo dançante
expressava as luzes do coração naquele moço magro, alto e silencioso, de andar
manso, que agora abria os braços e o recolhia, lançando-os para cima e para
baixo em arcos melódicos, explorando o espaço exterior e interior. Havia
linguagem de sofrimento e de alegria presentes. Os cabelos de Rolf
movimentavam-se como crina de cavalo em trote acelerado. Vestia apenas uma calça
azul claro e dançava descalço. A platéia silenciosa estava completamente
extasiada!
Refletindo
sobre o acontecimento, sinto que tornar o corpo belo na dança, é propósito do
coração. O milagre ocorre quando em perfeita comunhão da alma com o Mistério.
Logicamente em estado de criança, quando permite a transparência do ser,
que aí se torna visível para os que tem olhos de ver. O movimento que
brotava daquele corpo, expressava o que ía dentro do seu ser. Em cada
gesto, a presença sutil das emoções. Dançar a saudade, o conflito, o
desespero, era algo inédito para todos nós na escola de Yoga e das
outras tradicionais com danças coreografadas. Os bailarinos
ficavam estupefatos e encantados com as apresentações de Rolf Gelewski.
Até então, só conhecíamos a revolucionária Isadora Ducan, que quebrou as regras
do clássico. Nós, da dança contemporânea, conhecíamos Martha Graham. Mas
ainda havia coreografia na dança de ambas. No entanto aquele bailarino
alemão, corajosamente, deixava o coração falar mais alto e se perdia no
perigoso caminho da liberdade! Corpo, espaço e tempo... Silêncio
meditativo. Havia uma relação harmoniosa entre o som e os movimentos. Rolf
dançava sua poesia:
“Dá
tua Luz/dentro deste corpo/Dá/Rogo Tua Força/Rogo/Dá/Sê/Tu mesmo/Este Corpo.”
O
acesso ao trabalho pedagógico e artístico de Rolf Gelewski é muito difícil.
Grande parte está contida na memória poética daqueles que conviveram com ele.
Textos e apostilas estão dispersas nas mãos dos ex-alunos. A Casa de Sri
Aurobindo, nome do seu Mestre, na Bahia, tem uma coletânea de alguns dos seus
textos. Ali está sua contribuição teórica quanto a métodos didáticos, com
grande grau de aprofundamento e detalhamento nas questões essenciais,
para ensino e criação em arte. Não existe trabalho de divulgação destas
obras. Temos apenas um livro didático de sua autoria: Ver, Ouvir e
Movimentar-se. Outras publicações estão em revistas daquela época, mas sua obra
carece de uma pesquisa intensa, para que seja resgatada. Afinal Rolf era um
bailarino incansável, contribuindo para a formação de outros grupos de
profissionais. (Informação conseguida através da tese de Juliana Cunha
Passos: “Rolf Gelewski: da improvisação estruturada à dança criativa e
espontânea”, UNICAMP.
Um comentário:
Adriana Brega, por email
Uau, Mariinha, até me deu vontade de saber sobre o bailarino Rolf...
Li também Os desgarrados! Quanta profundidade!!!
Adorei! Beijos!
Tenha um dia de muita paz e alegria!
Feliz Pácoa, feliz renovação!
Postar um comentário