Vindo,
porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido
sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a
adoção de filhos. E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o
Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai" (Gl 4.4-6).
Maria J Fortuna
Em
todos os Natais, desde que me tornei adulta, em meio ao desenfreado consumo, não
consigo deixar de pensar no carpinteiro Jesus de Nazareth, com as mãos
calejadas, cabelos emaranhados, túnica salpicada pela serragem da madeira,
cheiro de suor e âmbar, no Sermão da Montanha! Sinto nele o amor nascendo do
Amor, que justifica todas as existências! Vejo-o como o centro de uma grande
mandala composta por aqueles que, nesta vida, têm fome e sede de justiça, pelos
que ainda creem, apesar de tudo, e por isso ainda têm esperança em si mesmos, no
seu próprio crescimento nesse mundo conturbado em que vivemos. Vejo-o,
principalmente, no Sermão da Montanha, ali em pé, de braços abertosE, túnica
coberta de pó das estradas, falando para seus discípulos, incluindo Maria
Madalena, e as pessoas que quiseram ouvi-lo, dizendo em alto e bom tom:
“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus.”
Em
minha concepção, é pobre quem se esvazia de si mesmo, para ser preenchido pela
Graça. Quem percebe sua pequenez diante de Deus e do mundo. E como necessitamos
disso, a cada minuto de nossa vida! Sem esse esvaziamento da arrogância de que
sabemos tudo e todas as coisas de Deus e do mundo, a gente se encontra.
"Bem-aventurados
os que choram porque serão consolados. "
Às
vezes, pelas circunstâncias da própria vida ou porque somos fiéis a nossos
princípios, choramos, mas se as lágrimas forem legitimas, seremos consolados. Se
nos importamos com nós mesmos, com nosso desabrochar espiritual e com as pessoas
que sofrem com as guerras - como tem acontecido na Síria e Palestina, -
preconceitos, fome material e espiritual e morte de inocentes como ocorreu agora
com vinte criancinhas de uma escola em Newtown nos Estados Unidos, nossas
lágrimas podem ser sementes. Chorar quando erramos é uma porta aberta para o
renascimento.
“Bem-aventurados
os mansos, porque possuirão a terra.”
Quem
são os mansos? Quando nos tornaremos mansos? São aqueles que defendem a verdade
pacificamente, mesmo que lhes custe a
vida,
e sabem que a mansidão não é passiva nem covarde, muito pelo contrário, é
heroica, sábia e ativa. Como foi com Gandhi, Zumbi dos Palmares (mártir da luta
pela Abolição da escravatura), Nelson Mandela, durante tantos anos preso
injustamente por lutar pela independência do seu país, Pedro Casaldáliga, adepto
da Teoria da Libertação.
“Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.”
Esses
mesmos citados como mansos, tem fome e sede de justiça! Os que lutam por um
mundo melhor. Os que, coerentes com seus princípios, ideais e ideologias, têm
compaixão dos desamparados. Os que protestam contra uma sociedade capitalista,
que mantém o povo viciado em consumo, os banqueiros que cobram altos juros do
povo, os que são contra a recente proposta do governo em baixar o preço da
energia elétrica, para não prejudicar a renda de suas ações. Protestam contra a
manutenção da ignorância alienante do ser humano roubando verba para educação.
Os que denunciam o envenenamento dos alimentos com agrotóxicos e produtos
químicos que deixam o povo doente.
“Bem-aventurados
os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”.
Estamos
nos acostumando com a violência, vista nos principais jornais da TV. São tantos
os assaltos e mortes, que acabamos por enxergar o assassinato de alguém como
apenas mais um que se foi, que pena! Jesus teve compaixão por um ladrão a seu
lado, que estava sofrendo o suplício da cruz com ele. No entanto, nossos
presídios andam abarrotados de presos, vivendo em condições subumanas. Não há
nenhuma condição para recuperar aqueles seres humanos. E deixamos de ser
misericordiosos quando não somos atendidos em nossas expectativas por alguém em
quem confiamos. Ficamos cheios de ódio e de ressentimento.
“Bem-aventurados
os puros de coração, porque verão a Deus.”
Para
mim puros de coração são os que não são hipócritas, um vício humano difundido,
mas pouco confessado, claro! Os que não vivem de aparência e são simples, sem
máscaras. O hipócrita está sempre julgando. Bem-aventurados a pureza daquele que
ama de forma incondicional!
“Bem-aventurados
os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.”
Os
pacificadores são mansos de coração que procuram abrir seus próprios olhos e das
pessoas em volta, para a inutilidade da violência. Aquela praticada nas ruas de
nossas cidades, repletas de traficantes e usuários de drogas. Praticada também
pelas TVs, que entram em nossas casas violentando os corações inocentes das
crianças, com imagens terríveis e estressando os adultos com notícias horrendas
como se só caos existisse em nossos dias. Os pacificadores reforçam o lado
positivo da vida e nos enchem de legitima esperança de viver dias melhores.
“Bem-aventurados
os que sofrem perseguição, por causa da justiça, porque deles é o reino dos
Céus.”
Os
que tentam viver cristãmente e são motivo de zombaria, os que são considerados
marginais como negros pela cor de sua pele, homoafetivos, por terem seu afeto
dirigido a alguém do mesmo sexo, ou religiosos que professam outra fé que não a
nossa. Todos esses são perseguidos. E se a luta for pelo reconhecimento de
restauração da dignidade do ser humano, é deles o reino dos céus.
“Bem-aventurado
será quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de
calúnias contra vós, por Minha causa.”
Nosso
mundo atual encontra-se mergulhado na descrença de Deus. A dúvida, que
impulsiona o ser humano em direção à fé, está levando grande número de pessoas
ao ceticismo. O cristão tem que ser duplamente corajoso para viver a doutrina de
Cristo. Já era bem difícil na antiguidade. Há grande carência de fé, em todo
planeta. Alguns cientistas negam o transcender humano e acham que pode dar todas
as respostas .É muitas vezes ridularizado o que se encontra em estado de fé em
Cristo. Em alguns lugares é até perigoso dizer que se é cristão. A lista de
mártires é muito grande por esse motivo.
O
discurso de Jesus é atual nos dias de hoje. A autoridade do quem fala tem, em si
memo, a verdade viva que pode ser ouvida em nossos dias, sem que possa ser
alterada uma virgula! Esse
é o Natal a ser comemorado: o do carpinteiro Jesus, em seu corpo humano no
divino e suas palavras de eterna luz!Coloquemos
Papai Noel em seu devido lugar. Como alegre bom velhinho que presenteia
crianças. Que seja celebrado o verdadeiro aniversariante, mesmo que digam que
ele não nasceu em dezembro.
Um comentário:
ElianaLuppi por email
Parabéns. Esta crônica é forte, intensa e verdadeira, escrita poeticamente.
Forte abraço, ótimo ano de 2013, com vibrações Divinas e com bastate alegria.
Beijos.
eliana
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