quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Nascido do Amor para o Amor





Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai" (Gl 4.4-6).


                                                                                                                                                                             Maria J Fortuna


Em todos os Natais, desde que me tornei adulta, em meio ao desenfreado consumo, não consigo deixar de pensar no carpinteiro Jesus de Nazareth, com as mãos calejadas, cabelos emaranhados, túnica salpicada pela serragem da madeira, cheiro de suor e âmbar, no Sermão da Montanha! Sinto nele o amor nascendo do Amor, que justifica todas as existências! Vejo-o como o centro de uma grande mandala composta por aqueles que, nesta vida, têm fome e sede de justiça, pelos que ainda creem, apesar de tudo, e por isso ainda têm esperança em si mesmos, no seu próprio crescimento nesse mundo conturbado em que vivemos. Vejo-o, principalmente, no Sermão da Montanha, ali em pé, de braços abertosE, túnica coberta de pó das estradas, falando para seus discípulos, incluindo Maria Madalena, e as pessoas que quiseram ouvi-lo, dizendo em alto e bom tom:

“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus.”

Em minha concepção, é pobre quem se esvazia de si mesmo, para ser preenchido pela Graça. Quem percebe sua pequenez diante de Deus e do mundo. E como necessitamos disso, a cada minuto de nossa vida! Sem esse esvaziamento da arrogância de que sabemos tudo e todas as coisas de Deus e do mundo, a gente se encontra.

"Bem-aventurados os que choram porque serão consolados. "

Às vezes, pelas circunstâncias da própria vida ou porque somos fiéis a nossos princípios, choramos, mas se as lágrimas forem legitimas, seremos consolados. Se nos importamos com nós mesmos, com nosso desabrochar espiritual e com as pessoas que sofrem com as guerras - como tem acontecido na Síria e Palestina, - preconceitos, fome material e espiritual e morte de inocentes como ocorreu agora com vinte criancinhas de uma escola em Newtown nos Estados Unidos, nossas lágrimas podem ser sementes. Chorar quando erramos é uma porta aberta para o renascimento.

“Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.”

Quem são os mansos? Quando nos tornaremos mansos? São aqueles que defendem a verdade pacificamente, mesmo que lhes custe a vida, e sabem que a mansidão não é passiva nem covarde, muito pelo contrário, é heroica, sábia e ativa. Como foi com Gandhi, Zumbi dos Palmares (mártir da luta pela Abolição da escravatura), Nelson Mandela, durante tantos anos preso injustamente por lutar pela independência do seu país, Pedro Casaldáliga, adepto da Teoria da Libertação. 

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.”

Esses mesmos citados como mansos, tem fome e sede de justiça! Os que lutam por um mundo melhor. Os que, coerentes com seus princípios, ideais e ideologias, têm compaixão dos desamparados. Os que protestam contra uma sociedade capitalista, que mantém o povo viciado em consumo, os banqueiros que cobram altos juros do povo, os que são contra a recente proposta do governo em baixar o preço da energia elétrica, para não prejudicar a renda de suas ações. Protestam contra a manutenção da ignorância alienante do ser humano roubando verba para educação. Os que denunciam o envenenamento dos alimentos com agrotóxicos e produtos químicos que deixam o povo doente.

“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”.

Estamos nos acostumando com a violência, vista nos principais jornais da TV. São tantos os assaltos e mortes, que acabamos por enxergar o assassinato de alguém como apenas mais um que se foi, que pena! Jesus teve compaixão por um ladrão a seu lado, que estava sofrendo o suplício da cruz com ele. No entanto, nossos presídios andam abarrotados de presos, vivendo em condições subumanas. Não há nenhuma condição para recuperar aqueles seres humanos. E deixamos de ser misericordiosos quando não somos atendidos em nossas expectativas por alguém em quem confiamos. Ficamos cheios de ódio e de ressentimento.

“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.”

Para mim puros de coração são os que não são hipócritas, um vício humano difundido, mas pouco confessado, claro! Os que não vivem de aparência e são simples, sem máscaras. O hipócrita está sempre julgando. Bem-aventurados a pureza daquele que ama de forma incondicional!
“Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.”

Os pacificadores são mansos de coração que procuram abrir seus próprios olhos e das pessoas em volta, para a inutilidade da violência. Aquela praticada nas ruas de nossas cidades, repletas de traficantes e usuários de drogas. Praticada também pelas TVs, que entram em nossas casas violentando os corações inocentes das crianças, com imagens terríveis e estressando os adultos com notícias horrendas como se só caos existisse em nossos dias. Os pacificadores reforçam o lado positivo da vida e nos enchem de legitima esperança de viver dias melhores.

“Bem-aventurados os que sofrem perseguição, por causa da justiça, porque deles é o reino dos Céus.”

Os que tentam viver cristãmente e são motivo de zombaria, os que são considerados marginais como negros pela cor de sua pele, homoafetivos, por terem seu afeto dirigido a alguém do mesmo sexo, ou religiosos que professam outra fé que não a nossa. Todos esses são perseguidos. E se a luta for pelo reconhecimento de restauração da dignidade do ser humano, é deles o reino dos céus.
“Bem-aventurado será quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por Minha causa.”
Nosso mundo atual encontra-se mergulhado na descrença de Deus. A dúvida, que impulsiona o ser humano em direção à fé, está levando grande número de pessoas ao ceticismo. O cristão tem que ser duplamente corajoso para viver a doutrina de Cristo. Já era bem difícil na antiguidade. Há grande carência de fé, em todo planeta. Alguns cientistas negam o transcender humano e acham que pode dar todas as respostas .É muitas vezes ridularizado o que se encontra em estado de fé em Cristo. Em alguns lugares é até perigoso dizer que se é cristão. A lista de mártires é muito grande por esse motivo.
 
O discurso de Jesus é atual nos dias de hoje. A autoridade do quem fala tem, em si memo, a verdade viva que pode ser ouvida em nossos dias, sem que possa ser alterada uma virgula! Esse é o Natal a ser comemorado: o do carpinteiro Jesus, em seu corpo humano no divino e suas palavras de eterna luz!Coloquemos Papai Noel em seu devido lugar. Como alegre bom velhinho que presenteia crianças. Que seja celebrado o verdadeiro aniversariante, mesmo que digam que ele não nasceu em dezembro.


Um comentário:

MJFortuna disse...


ElianaLuppi por email

Parabéns. Esta crônica é forte, intensa e verdadeira, escrita poeticamente.
Forte abraço, ótimo ano de 2013, com vibrações Divinas e com bastate alegria.
Beijos.

eliana

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