Maria J FortunaO barulho de carros na Rua Curitiba, em Belo Horizonte, era grande naquela tarde em que um filhotinho de gato, recém-saído do ninho materno, atravessava inocentemente a via asfaltada, enquanto um ônibus vinha em alta velocidade. De repente, alguém passou por mim dando-me uma esbarrada. E eu reclamei indignada. Depois vi: Era um homem negro, jovem, forte e muito alto, que se lançou no meio da rua, pegando o gatinho no colo com uma rapidez espantosa, enquanto o ônibus freava bruscamente. Dentro do ônibus, os passageiros assustados com a freada brusca, reclamavam gritando, insultando o motorista que, muito vermelho, suava aos borbotões. Aquele salvamento deixou as pessoas atônitas! Dos que presenciaram a cena, uns temeram pelo gato; outros pelo homem. Alguns ainda pelos dois, conforme a resposta do coração de cada um.Quando os vi em segurança suspirei aliviada... Minha vontade foi pedir perdão pelo meu xingamento, abraçando aquele homem forte, compassivo que, frente à fragilidade do pequeno animal, não pensou duas vezes em arriscar a própria vida para livrá-lo da morte por esmagamento, trazendo-o, carinhosamente, em seus braços musculosos. Parecia quase surreal ver aquele gigante de ébano com o bichano tão pequeno, de pelo amarelo e arrepiado, em seu colo.Este fato me fez refletir sobre a compaixão. Aquele homem deve ter sido amado por alguém. Talvez a mãe. Somente as pessoas que foram amadas são tão compassivas! Todo o sofrimento da humanidade reside no desamor original, o que nos torna incapazes de amar. Todas as nossas neuroses vêm daí. Pessoas mal amadas geram outras com o mesmo destino. Por isso tantas guerras. Milhares de pessoas transformando o desejo de serem amadas em ódio. Nessas condições não pode haver compaixão. Por isso é tão difícil a paz. O corpo sobrevive sem amor, mas a alma não. Talvez seja isto que a Igreja Católica chama de inferno: o desamor. Segundo o budismo, “Compaixão é uma mente que, com a motivação de apreciar todos os seres vivos, deseja libertá-los do seu sofrimento.” Todos os budas nascem desse sentimento. Jesus deve ter sido muito amado por sua mãe. Ele é amor e compaixão por inteiro. Por isso é o Cristo, o ungido, o sagrado e ao mesmo tempo tão humano.Intuitivamente o homem salvou a vida daquele gatinho completamente à mercê da compaixão dos humanos. O que tanto falta no mundo dos ricos. A má distribuição de renda na humanidade vem da ausência de empatia que se transforma em amor e compaixão.Renato Russo tem uma frase que me encanta: “Disciplina é liberdade; Compaixão é fortaleza: Ter bondade é ter coragem”. É tudo o que o homem que salvou o gatinho tinha para dar. Ou ainda tem se ainda tiver entre nós. Nunca mais o vi, mas ele ficou em meu coração como planta viçosa que dá muitos frutos.
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domingo, 15 de dezembro de 2013
Compaixão
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3 comentários:
Comovente, amiga Mariinha, só sua sensibilidade, para nos contar este fato, transmitindo-o a nos como se estivéssemos ali presentes, e ouvíssemos até a feriada do ônibus e tudo que faz parte desta linda lição de amor e compaixão, obrigada, amiga querida, bjs monica
Eliana Angélica de Sousa
22 de dez (1 dia atrás)
para mim
Lindíssima!
Parabéns!
Beijo.
Estou melhorando a cada dia.
eliana
Marilia Taffarel
15 de dez (8 dias atrás)
Maria,
Boa crônica e boas lembranças. A generosidade só vale se for assim, para todos.
Bjss
Marilia
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