A dentadura de Joaquim estava a caminho...
Já havia se passado três meses quando a Chefe de Enfermagem mostrou à Assistente Social o prontuário do paciente em questão, onde estava escrito:
- Primeira prova da prótese ortodôntica do interno Joaquim Silva, da Ala H, no consultório dentário da Ala B.
Feliz com essa concessão, DoMaria, como chamava o Joaquim, foi à enfermaria onde o mesmo se encontrava, participar-lhe a grande notícia
A Assistente Social há muito não via uma pessoa tão alegre!
- Êta, DoMaria, eu nem credito nisso que tá aconteceno...Ô trem bão!
No dia seguinte chegou à sala dizendo que o dentista havia prometido que a prótese ficaria pronta na outra semana .
- DoMaria, quero vê só a cara da minha dona! Falou com um sorriso misterioso deixando à mostra as gengivas, que brilhavam de tanto que salivava, como se tivesse pensando numa comida gostosa. E expressou sua profunda reflexão concluindo:
- Percisava deu interná pra mode ganhá uma dentadura...
A semana se passou rápido, quando a porta da sala cheia de samambaias da Assistente Social se abriu, e esta se deparou com uma das figuras mais estranhas que até então havia visto! Quase desconheceu Joaquim em seu novo visual! Por causa do rosto fino e magro do moço, os dentes pareciam enormes e muito mais numerosos que a arcada humana comum. Com muita dificuldade procurou rapidamente palavras que pudessem dar-lhe uma boa impressão do que sentia em relação ao que acabava de ver e acabou dizendo:
- Que beleza Joaquim, está quase chegando o dia de surpreender sua esposa!
- É messss. Será que ela vai gossstá DoMaria? Indagou indeciso.
O que havia acontecido foi que quando falava palavras com a letra “s” saía um ligeiro som de apito. Perturbava quem ouvia, mas não Joaquim, que parecia que em pouco tempo havia se acostumado com aquele estranho som.
E assim ele se foi para passar o domingo com a família. Mas quando voltou da tão esperada visita, chegou com febre e positivou o escarro. Havia se tornado novamente foco de contaminação. Nem teve tempo de contar para sua benfeitora o que havia acontecido em sua casa. Falar de como tinha sido a surpresa pra sua mulher, nada, nada!
Na segunda feira, após a consulta de rotina com o médico, acompanhado da enfermeira, sua medicação foi modificada para a terceira linha de tratamento. Havia na época saído um remédio que abreviava a presença do paciente no hospital, mas era fortíssimo! Só tomava o medicamento aquele que se encontrava sem resposta para o tratamento de primeira e segunda linha. Era chamado Trecator e causava alucinações e surtos repentinos para os que eram mais sensíveis a sua fórmula. Infelizmente foi o caso de Joaquim.
Depois de uns três dias, quando a Assistente Social passou por sua enfermaria, viu o pobre homem esperneando para não tomar uma injeção, segurado por dois possantes atendentes de enfermagem. As dentaduras superior e inferior pareciam castanhola abrindo e fechando, batendo os dentes e Joaquim gritando, muito louco, que queria ir embora do hospital. Negava-se a tornar ser espetado pela agulha do medicamento que o auxiliar de enfermagem queria aplicar. Então ela, sua Assistente Social resolveu intervir. E com a doçura que não cabia naquele momento, disse confiante em si mesma:
- Joaquim, dê-me sua mão. É para o seu bem!
- Não dou nada procê DoMaria, não dou mão, não dou pé, não dou cabeça, não dou nada procê! Gritou esbaforido de tanto fazer força para se libertar dos homens que o segurava.
Aí tiveram que chamar a ambulância para que ele fosse ser tratado no Hospital Imaculada Conceição, que tinha enfermaria para pacientes com diagnóstico de doença psiquiátrica.
A Assistente Social, com tristeza, ouviu quando a ambulância se distanciou com seu alarme ligado levando Joaquim totalmente dopado.
(Na próxima semana o restante do conto)
3 comentários:
Norália de Mello Castro
10:30 (Há 0 minutos)
ahahahhhh,,,, ainda suspense... èta cronista GLOBAL... mas espero, sim, espero sim por mais um capítulo... Pobre Joaquim....
Bom fim de semana.
Eliana Angélica de Sousa
20:56 (Há 16 horas)
Que tristeza esse desenrolar!!!
Tadinho do Joaquim.
Muito linda sua redação, mesmo com final triste!
Beijo. Parabéns!
eliana
Ainda tem o último capítulo, Eliana! Na próxima semana... rs
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