Maria J Fortuna
Naquele fevereiro de 1964, Joaquim chegou ao Hospital Júlia Kubistchek em Belo Horizonte, atacadíssimo pela tuberculose. Ele era mulato feioso e magrinho feito vara de bambu, desdentado como criança recém-nascida, mas tinha sempre um sorriso na beiçola, e com isso era por demais simpático e comunicativo.
Todos os dias, após tomar a medicação, alguns pacientes do Hospital faziam uma filinha na porta da Assistente Social reivindicando algum auxílio em forma de conversa para acalmar angústia que trazia a internação hospitalar por meses, ou para serem encaminhados a algum setor como Escola, Alcoólicos Anônimos, Laborterapia, Psicologia ou algum outro recurso qualquer. Às vezes o pedido era para visitar a família ou conseguir alguma órtese ou prótese como muletas, perna mecânica, cadeira de rodas, dentadura, etc. Havia uma verba destinada pelo INPS da época para essas concessões. Foi o caso de Joaquim.
A Assistente Social que atendia os pacientes era muito jovem, magrinha, carinha de criança, mas muito querida e respeitada por seus 80 clientes da Ala masculina do nosocômio.
- DoMaria ( que quer dizer dona Maria) eu vim aqui pro mode a senhora deixá eu ir em casa visita minha familha, pediu Joaquim.
- Não posso permitir Joaquim, porque em seu prontuário consta que você está com exame de escarro positivo e assim poderá contaminar sua mulher, filhos, vizinhos. Terá que esperar um pouco.
- Mas DoMaria quando eu digo que perciso é porque tô carecendo muito, falou recolhendo o sorriso na boca desdentada.
- Quem sabe no próximo exame, Joaquim, quando negativar seu exame de escarro.
- DoMaria quando digo que perciso é porque perciso, insistiu.
- Mas pense bem, o médico não lhe explicou como acontece a contaminação?
Nisso chega o médico, afobado para ir embora após sua jornada no Hospital. Ao vê-lo Joaquim se iluminou!
- Doutô, chegue aqui por favô.
- Sim, Joaquim, o que está havendo?
- DoMaria não quer deixá eu ir em casa... O senhor sabe doutô, o senhô é home e DoMaria uma mocinha, não posso falar certas coisa prela.
- O quê Joaquim? Indagou o médico apressado.
- Ela não sabe que perciso molhá o biscoito!
A Assistente Social não conseguiu segurar a risada que foi acompanhada pelo médico.
Não havia passado uma semana Joaquim estava parado na porta da Assistente Social novamente.
- E então Joaquim, sabe que agora você pode ir a sua casa? Está tudo bem com seus exames.
- DoMaria eu andei pensando... Queria fazer uma surpresa pra minha dona, falou encabulado.
- Diga, Joaquim
- Queria que a senhora me desse uma dentadura.
- Sim Joaquim, é possível providenciar. Só que vai demorar um pouco.
- Percisa agora não, DoMaria. Isso minha dona pode esperá.
(A história da dentadura de Joaquim vai ficar para a próxima semana)
6 comentários:
A assistente linda e mocinha com cara de criança é a minha amiga......... :) e beijos!
Acertou na mosca, amiga! rsrsrs
Norália Castro Mariinha, não gostei. Não gostei mesmo deste texto. Será que não gostei? Gostei demais. Fui lendo totalmente presa às suas palavras. Totalmente absorvida pela leitura. E de repente: plafff.... tenho de esperar o próximo capítulo... fiquei danada... queria saber tudo do Joaquim e minha querida amiga Mariinha me deu uma rasteira...Bem... estou na espera do próximo capítulo com muita ansiedade... Gostei muito do que li...Valeu até este suspense...Abraços, Norália Castro
Cláudia Carneiro de Moraes Engraçado, Maria. Muito bom!
há 15 horas ·
Alfrenice Fortuna Muito interessante a crônica,gostei .
8 de junho às 22:50 ·
kkkkkkkkkk Ótima!
Eliana Angelica
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