sábado, 14 de março de 2009

Somos sobreviventes...

maria J Fortuna

Quando liguei a TV no canal 6 hoje pela manhã, havia um psicoterapeuta corporal falando sobre o grande trauma do nascimento. Fiquei parada, atônita! Sempre ouvi falar sobre o assunto, mas nunca me liguei muito ao tema. O terapeuta dizia do medo que o recém nascido sente quando sai do paradisíaco útero materno para um mundo barulhento, frio, cheio de luzes artificiais. Conforme o local a sala de parto é assim mesmo. Para os que não choram ao nascer, são estimulados através de um tapa. Há um longo tempo longe do se habitat - o corpo da mãe. O novo ser humano é levado para limpeza da placenta, retirada de muco, etc. Alguns seguem para o berçário privados do seio materno, único elo que ainda possa ter com a pessoa que o gerou. Todas as espécies de animais da Terra ao nascer mamam nas tetas de suas mães, mas o bebe se vê privado de fazê-lo. Depois de uma pausa de muitas horas, aí sim, o trazem para a primeira mamada...
Posso imaginar o medo por que passamos quando nascemos dessa forma. Milhares de crianças são colocadas no mundo exatamente assim. E a coisa mais simples que existe. Como o ato de nascer, ainda obedece a procedimento tão agressivo? Acredito que tal recepção é o estimulo maior para que haja guerra no mundo. Além das ideologias, filosofias e conceitos e dogmas religiosos.

Quando troquei de canal veio à notícia da guerra na Coréia. Coreano do sul contra coreano do norte. Irmão contra irmão. Marcaram data para lançamento de bombas e mísseis. Uma coisa apavorante! Liguei de imediato o trauma do nascimento à guerra mais uma vez. Pensei na arrasadora guerra entre palestinos e israelenses. Lembrei-me do filósofo Platão que nos fala da Alma do Mundo, intermediário entre o Uno e o Múltiplo. Ele falava do “corpo de tudo”, o que na realidade é o “corpo cósmico”. Tudo é conseqüência de um ato original. Nada aconteceria sem nascimento. Como seria o mundo se fossemos gerados e nascidos amorosamente?
Ultimamente tenho feito cada vez mais sínteses a fim de que o desconhecido, a quem faço inúmeras perguntas sem respostas, possa ser pelo menos, aceitável às minhas limitações humanas. Já nem me pergunto o que será de nós, seres humanos, em meio da destruição do planeta! É tudo uma relação de causa e efeito e dispensa comentários. Mas o que me deixa surpresa é que nossa consciência ou percepção deste todo, desta Alma do Mundo, que está em tudo e em todos, seja tão difícil de existir! Como somos lentos! Durante séculos e séculos, os erros são repetidos em nome de religiões que têm o mesmo Deus.
O nascimento pode ser a causa primeira de tantos outros conflitos que se seguiram e se seguirão. Como também a dificuldade de adaptação a este mundo e as formas de vida que nele existem.
O que me dá alento é a certeza de que, apesar de tudo, as coisas caminham para o bem. Teillard de Chardin, autor do Fenômeno Humano, fala-nos que “ O sonho de nossa vida é o estado superior de união, onde a gente se sentirá divinamente ligado a tudo, acima das imagens e dos conceitos.” Percebo que o presidente dos Estados Unidos Barack Obama tem dentro de si este sonho, o que nos estimula a prosseguir.
Frederic Leboyer na década de 70 apresentou o tipo de parto ideal, mas como implantar este procedimento nos hospitais da rede pública ou mesmo em clinicas particulares? Como despertar esta consciência nos profissionais da saúde e nos familiares das gestantes? Todo mundo deveria repassar a experiência do parto. A mudança viria de dentro para fora e o sentimento de amor e proteção se espalharia pelos continentes.
Nós, os sobreviventes, jogamos para o subconsciente o sentimento de medo original e o revivemos todas as vezes que somos separados das pessoas que amamos. Seria bem mais fácil ser feliz se nascêssemos como os índios, em pleno mato, sob um céu azul, ouvindo o canto dos pássaros. Mas parece que já estão levando as índias para dar a luz nos hospitais do SUS...

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