sexta-feira, 27 de março de 2009

O micro e o macro universo







Maria J Fortuna

Esta semana li na revista Época uma reportagem de Peter Moon sobre o cientista brasileiro Miguel Nicolelis, que está dando esperanças aos paraplégicos de que voltem a caminhar e pessoas com o mal de Parkinson para que acabem com os espasmos incontroláveis e que podem levar à morte. Nicolelis é uma referência mundial de pesquisa de interface entre o cérebro e os computadores. Há anos, ele trabalha com implante de próteses no cérebro. Mas a coisa mais espantosa que consegui perceber sobre este fantástico cientista é como chegou aos mistérios do cérebro humano a partir de animais, como rato e macaco. Na entrevista que fez a Época , ele conta que injetou ruído no cérebro dos ratos. “Esse ruído tornou mais caótica a concentração de impulsos elétricos que causam o mal de Parkinson. A ironia é que a criação desse caos se mostrou benéfica para o cérebro. A elevação do ruído restabeleceu o controle dos movimentos.” E a conclusão disto não podia ser mais surpreendente: “ Na visão clássica da engenharia, o cérebro precisa de ordem, não de caos. Mas "o cérebro não foi feito por engenheiros”, conclui.
Chega a ser poético quando declara na entrevista: “Quando comecei a estudar o cérebro, o neurônio era considerado o rei da cocada preta. Era como se os cientistas só enxergassem o átomo de cada vez, nunca as moléculas”. Nicolelis leu que os astrônomos usam redes com várias antenas para mapear o céu e construir uma grande imagem virtual. Foi aí que pensou: “Será que o cérebro funciona assim?”
Para mim foi motivo de grande alegria a descoberta deste cientista. Não só porque seria esperança para uma querida amiga, como também, porque veio de encontro à minha paixão pelo todo e pelas redes no todo.
Quando me colocava frente a meus pacientes no Centro Médico Psiquiátrico onde trabalhei, sentia que o ser humano que estava diante de mim podia estar num mais absoluto caos, mas que dali poderia surgir luz! Esta esperança que me fez trabalhar com tanto amor. Mas como ajudar um delirante a não se identificar com seus delírios? Por que vias percorria sua consciência? Onde estava ela numa noite tão escura?
Trabalhei com indivíduos desagregados durante nove anos consecutivos. Por mais que, em minha formação profissional, fosse colocado como principio básico o não envolvimento com o cliente, a empatia me fazia, na maioria das vezes, absorver a angústia de quem falta a si mesmo referência para se manter vivo. É como se estivesse solto, fora da harmonia do cosmo a mercê dos cometas. Só que no universo também há caos e buracos negros... Eu sabia que tudo tem haver com tudo! Onde estaria, naquele instante, a verdadeira face daquele doente? Por mais que eu o visse livre de seus delírios por algum tempo usando medicamentos, eu o sentia bem maior do que sua doença. Ah! Se pudesse existir caos sem o sofrimento dos que tem relances de lucidez e não sabem como sair do estar que dilacera a alma... E por que esta alma habita em corpo doente, com uma visão de mundo inteiramente desfocada? Nicolelis tem razão quando diz que o cérebro não foi feito por engenheiros... E o importante é a visão do todo, quando se referiu a neurônio e às redes de conexão nos fenômenos. Acredito que há uma rede em que nos colocamos e interagimos com as pessoas. Doente mental é aquele que, por motivos misteriosos, é expulso da rede.
A medicina avançará mais e mais e dará excelentes resultados! Haverá chips para tudo. “Eles serão tão comuns como os marca-passo cardíacos e as próteses. Eles vão ampliar a capacidade cognitiva, ” diz Nicolelis. Mas como trazer a alma, que foge, de volta a seu centro? Não vai haver chip com este poder. E pelo visto o caos é necessário. É noite escura da alma, como dizia S. João da Cruz e, por mais incrível que pareça, é nele que encontramos a Luz!

2 comentários:

Eliane Accioly disse...

Querida Maria José,

também sou um ser preocupada em crescer.
Vamos trocar muitas figurinhas.
Onde você mora?
Sou de São paulo , apesar de mineira.
Adorei sua visita.

Beijos,

Eliane

Daufen Bach disse...

OLá MJFortuna,

aqui visitando-te. estou atrasado para agradecer a visita, mas vim...perdoa este..rs

quero dizer que me divirto muito com o humor refinado de tuas charges. São perfeitas!

Parabéns.

UM abraço terno a ti.

daufen bach.

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Sou alguem preocupado em crescer.

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