Maria J Fortuna
Chegou para justificar minha existência, mas não se deixava ouvir. Na verdade sempre pareceu que nunca deixara de viver dentro de mim. Como o tempo... Seus passos silenciosos visitavam-me no berço quando eu era ainda um bebe recém-nascido. Mas sua presença estava na minha respiração, nas batidas do coração... Éramos um, portanto...Sem dúvida havia planejado, minuciosamente, a manifestação do meu ser no seu ser. De como eu havia de me expressar diante do mundo. De que cor usaria para compor a grande tela da humanidade. De que som seria minha voz na grande orquestra do mundo e como soariam meus passos pelo caminho das estações. Sabia das minhas interrogações e dúvidas, que viriam.Como todos na Terra, vim do seu ventre. Sondou as marcas dos antepassados em cada célula do meu corpo e nada pode fazer para limpar a ilusão original que me veio através do sangue, por ascendência. Herdaria, por isto, uma máquina humana mais frágil. Porém forjou meu coração para se abrir às alegrias e o fortaleceu para agüentar as dores e todas as emoções e sentimentos possíveis. Não sem antes confirmar sua presença e a promessa de ser refrigério para minha alma.Confiava em que eu reconheceria seu filho, que nasceu, cresceu e morreu antes que eu brotasse por aqui, porém é a maior manifestação do seu Amor, de sua presença, entre os homens. Pois o verbo se fez carne e habitou entre nós, e caminha de mãos dadas, no Amor, com aqueles que o reconhecem.Com isto mostrou a face da transcedência, maior do que qualquer outra, porque não se acaba nunca! Sendo inteiramente incondicional deixa-me livre para seguir por ai, neste planeta azul assoviando com as mãos nos bolsos do avental. Revelou que sou fruto de um transbordamento seu, como todos que habitam a Terra. Deu-me consciência para que distinguisse o joio do trigo. E grandes presentes como cachoeiras, flores e frutos, o encanto da lua e o brilho das estrelas e órgãos do sentido para, em êxtase, sorver toda beleza de sua criação. E que tudo ficasse ai, mesmo que, em dias nebulosos, eu não enxergasse tamanha beleza. E me fez reconhecer na criatura mais carente de recursos físicos e intelectuais, em pobreza extrema, um irmão.Mostrou que até o escorpião pode ser transformado em remédio. E que as chagas abrem e fecham no corpo e na alma não interessando, para ele, as cicatrizes. Estas seriam mais um sinal do poder restaurador de sua paterno-maternidade. E que mesmo num abismo profundo, na depressão, na perda da fé, na sua aparente ausência, ele estaria ali, soprando minhas feridas como fazem as mães terrenas. Perdoando as traições e sabotagens que eu faria comigo mesma. Segurando-me a mão para que me reerga no perdão de mim mesma.E que o tempo é nosso aliado para que eu retorne a Ele, para seu amor silencioso...
2 comentários:
Olá Maria,
aqui te lendo!
que linda crônica. uma cronica que fala de amor universal, o amor de Deus para os homens e, em especiala, de uma amulher para com Deus, reconhecendo todo esse poder da "paterno-maternidade".
Simplesmente lindo!
(se me permite vou salvar no meu PC)
Um forte abraço a ti e tenha um lindpo final de semana!
daufen bach
Mariinha,
palavras que saem do coração formam as mais profundas orações.
Adorei!!!
Adriana.
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