sábado, 7 de maio de 2011

Dar e receber



Maria J Fortuna

Um Mestre de doze discípulos resolve favorecer um deles. Sem saber por que foi beneficiado e os outros não, naquele momento, quais tipos de sentimentos o favorecido tem para com seu doador?
Por que ele não se sente confortável com a benesse? Por que questiona o espírito de justiça do seu Mestre? Por que se recusa a aceitar simplesmente e confiar nas intensões do mesmo? Por que não desfruta daquele benefício sendo que, fora do tempo e do espaço, a relação do Mestre com cada um dos seus discípulos é inteiramente diferenciada? Por que tanta dificuldade para reconhecer a simplicidade e gratuidade da graça? Por que o fato de ter sido o único presenteado lhe trazia preocupação e constrangimento perante os outros?

Assim acontece em nossa relação com o Criador. Por que não estamos vivendo o inferno do tsunami no Japão? Por que no Holocausto judeu alguns escaparam para contar a história e tantos inocentes morreram? Por que algumas vítimas na Ditadura Militar no Brasil foram barbaramente torturadas e mortas, e outros seguiram suas vidas testemunhando a violência? Por que no grande espetáculo da vida alguns caminham pela Terra com coerência e justiça e são mortos, e psicopatas andam soltos por aí fazendo barbaridades? Nunca vamos compreender a intercessão divina na Terra. O mistério está sempre fora do tempo e do espaço.
Por um momento, fecho os olhos e me deixo levar através da meditação. Não sem antes perceber a presença deste caos imenso que rola no planeta, e sentir que os tsunamis e terremotos internos são bem mais avassaladores que os externos. Como não aceitar o cálice de vinho que refrigera a alma? Creio que as dores da alma são bem mais intensas que as circunstâncias externas, por piores que sejam. Isto é fato.

Na verdade, pouco sabemos o que ocorre dentro de nós próprios a esse respeito e o que existe no coração de cada um. A quantas andam a abertura de nossas consciências para o amor, e a recepção para a dádiva? Também não sabemos das traições e sabotagens que cada um faz a si mesmo, quando se nega a receber de quem lhe quer bem. Em algum momento da vida perdemos a confiança em nós mesmos e consequentemente em Deus e no próximo. Fica assim difícil aceitar a oferenda de Quem nos ama e conhece se não O reconhecemos. Eu pergunto novamente: será que sabemos realmente do que necessitamos? Será que queremos mesmo aquilo que pode nos transformar e dirigir rumo à felicidade?

Sob o ponto de vista humano se não tivermos a simplicidade da criança, nunca aceitaremos de fato que o outro nos dá dentro dos limites de suas possibilidades. Não falo somente do objeto, mas da pessoa do doador. Recebemos do outro a medida do que ele tem para nos dar, repito. Quem de nós desconhece isso? É muito gratificante para nós o dar, mas podemos dizer o mesmo em relação ao receber? Chego à conclusão que é bem mais difícil receber porque necessita de humildade.

Nem sempre é preciso ter confiança em alguém para presenteá-lo, mas para receber de alguém, com o coração, sim.

2 comentários:

Marcelo Allgayer disse...

Gostei muito das palavras do teu texto. A vida é mesmo uma misteriosa incógnita! Parabéns!

abraço

MJFortuna disse...

Eliana Luppi, por email

Isso é realmente o que vivenciamos: a ânsia para o dar e a negligência no saber receber, pois a humildade necessária requer de nós uma tremenda lapidação em nosso orgulho e vaidade. Dando, nos colocamos acima do outro e recebendo é como se nós estivemos em situação inferior. Que ilusão a nossa!...

eliana

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