Até
que enfim...
Maria J Fortuna
Minha
agonia começou aos quatro anos de idade quando ainda não compreendia o significado da maldade humana. Não entendia,
por exemplo, como um ente dito tão amado
pelos homens como Jeshua ou Jesus de Nazareth, foi acabar pregado numa cruz. Nem
tinha entendimento suficiente para
compreender o milagre da ressurreição. Muito menos, por que os adultos
cultuavam, insistentemente, a imagem do seu
sofrimento e morte. Por causa desse meu espanto e revolta oculta,
retirei, com minhas mãozinhas nervosas e desajeitadas, todos os quatro Cristos
pregados nas cruzinhas de madeira que ficavam amarradas com lacinhos de fita, na cama das minhas quatro tias solteiras. Lembro-me
que no dia seguinte do ocorrido hove um
bafafá! Elas descobriram o “crime” . As cruzinhas estavam vazias e só ficaram as mãos das imagens que se pareciam com os
soldadinhos de chumbo do meu irmão. Os
quatro corpos da representação de Cristo, amputados, foram parar entre meus brinquedos numa cama de
boneca. E com não conseguia descer-lhes os braços , parecia que um corpo
abraçava o outro. Enfim estavam ali, cobertos por pequenos retalhos de fazenda que
eu pensava aquecê-los, na tentativa diminuir-me
a angústia.
Passado
algum tempo, as tias me perdoaram e até riram
da travessura comentando com outros parentes e amigos. Entenderam que eu os havia arrancado das cruzes para brincar, mas na realidade o
simbolismo da ação era bem outro: eu estava experimentando o sentimento da
compaixão. Queria acolher e até cantar para os quatro Cristos, uma canção de ninar. Só não conseguia abaixar-lhes os braços e isto
dava-me certa impaciência!
Aquela
foi a grande referência para que eu tomasse consciência das torturas do
mundo! No Colégio da Irmãs Dorotéias, a
Via Sacra me pesava... A Semana
Santa me arrastava para o fundo do
poço. Se eu pudesse, mandaria
retirar dos cinemas e locadoras, todos os filmes que mostram
tortura explícita.
Finalmente,
alguém me chama atenção para o crucifixo do novo Papa. Nele se vê Cristo com os braços cruzados sobre
o peito, carregando uma ovelha e cercado por muitas delas. Sem que elas, as mãos estejam paralizadas por pregos. Ele está em plena ação! Recebi de uma amiga
um arquivo que comenta á respeito desse crucifixo:
"No Centro da Cruz está a Cabeça do Cristo, simbolizando a Mente de Deus e também suas mãos juntas, trabalhando junto a seu Coração, o coração de Deus, tomando em suas mãos a Humanidade, o Rebanho do Pastor, os filhos dos homens que são os Filhos de Deus.
Eu sabia que algum dia alguém
apareceria para mostrar algo maior do que a cruz sem negá-la. Já que para o
cristão católico ela é o maior dos símbolos sagrados. Sabia
que essa pessoa, diferente, que enxerga mais além, seria reconhecida por mim e
teria todo meu afeto e respeito. Finalmente não estou mais só.
Tomara que a Igreja Católica continue
mostrar aos fies o lado glorioso do Cristo : Transformação, crescimento e
renovação. É por isso que valeu Seu sacrifício.
8 comentários:
QueridAmiga, sou do seu caminho, o Cristo da Ressurreição. Muito linda a crônica mostrando a Cruz do Papa Francisco. E acima de Cristo, no cruxifíxo,o Espírito Santo. A cruz é um símbolo muito mais antigo, não sei o significado, mas ela andou pelo Egito, não é? E não era triste. beijos
Creio que realmente que esta é uma atitude linda, não cultuar a dor e sim as grandes lições e o amor de Jesus por todos.
Um abraço.
Uma preciosa medida modificar a figura de Jesus, que estes anos todo vem sendo mostrado em sofrimento.
Um abraço.
Jussara Guimarães
12:09 (20 horas atrás)
para mim
Amiga, "ATÉ QUE ENFIN..." é simplesmente um SHOW.
Parabens
Bjs
Norália Castro, no Facebook:
Achei genial a nova cruz, a cruz do Papa Francisco. E amei ler a delicada e sábia crônica de Maria J Fortuna, Crônica que interessará a todos os cristãos e até mesmo aos não cristãos. Bom proveito a todos...Norália
há 8 horas
MARIA DO CÉU
16:40 (4 horas atrás)
para mim
Como é de costume, gostei muito de sua crônica. Você sempre pontual, sintonizando seus sentimentos e memórias com a realidade à sua volta.
Estou lendo um livro muito legal, “ O GRANDE MISTÉRIO DE JESUS”.
É do jornalista e vaticanista espanhol , JUAN ARIAS, correspondente do jornal El pais, aqui no nosso Brasil. Saiu há pouco pela Editora Objetiva.
De acordo com comentário da contracapa do livro, “em O GRANDE SEGREDO DE JESUS, Juan Arias questiona toda a teologia tradicional da cruz e da redenção e mostra a direção para uma teologia da felicidade. Uma leitura audaciosa dos textos evangélicos que evidencia que Jesus se dirigia sobretudo a uma nova humanidade solidária.”
Vale a pena ler.
Beijo.
Com efeito, querida. Linda crõnica, mostra a linda forma que Jesus deve ser apresentado. bjs
Rosane Zanini, por e-mail
Aliás, li sua cronica Gotas de Orvalho, está ecxelente, voce toca no ponto essencial, de maneira sensível e lúcida: o envelhecer. Necessito le-lo novamente!
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