Maria J
Fortuna
Outro dia, eu estava numa festa de aniversário de
criança. Logo que cheguei ouvi os sons da música misturada aos das
falas e risos. Dali há pouco eu estava tonta! Pensei como iria aguentar
uma festa tão barulhenta! Como não conhecia quase ninguém, após
cumprimentar o pequeno aniversariante e família, fiquei num canto, sem saber o que faria dali pra frente... E
comecei a observar a fisionomia de alguma
pessoa em volta. Mas como o barulho estava
ensurdecedor , não dava para conversar com alguém conhecido ou
não, “fechei-me em copas” e, com o tempo, quando vi que o rebu não parava,
comecei a fazer o seguinte joguinho: olhava para o convidado velho e
imaginava como ele teria sido quando jovem ou criança; olhava uma
criança e a imaginava adulta ou já velha. Fiquei muito tempo
nessa... E as pessoas nem desconfiavam o que estava acontecendo por trás dos meus
óculos. Isso costuma acontecer quando me sinto enfarada de algum lugar e
quero voltar pra casa. Nesse jogo de vai e vem, eu me projeto
nessa ou naquela pessoa e começo a sentir alegria, tédio ou
cansaço... O que não é mais surpresa para mim.
Que forma mais medíocre para passar o tempo pensei.
Por que não aparece alguém com quem eu possa conversar sobre algum
assunto interessante? Mas com aquele barulho quem queria
conversar desanimou. Pessoas conhecidas e desconhecidas desfilaram em minha
frente. Cumprimentavam, sorriam e
ficavam de um lugar para outro aqui e ali.
Enquanto isso a mãe da criança, um menino que
estava completando cinco anos, dividia-se entre receber e manter alguma
conversa com os convidados e atender as necessidades do filho e seus
amiguinhos. E sempre aparece, nessas festas, um tio ou tia espalhafatosa que
enche a casa com exclamações aos altos
berros elogiando a festa! Mas
ali nem dava para ouvir o que diziam por causa da música somada aos barulhos de
vozes e os gritinhos e risadas gostosas das crianças. Era
divertido ver as pessoas abrindo os braços, gesticulando alegres,
distribuindo abraços e beijinhos. Mas com o tempo e a repetição a cena começou
a cansar...
Os homens recuados num canto, conversavam
sobre politica e futebol, assunto sempre recorrente nas alas masculinas. As
mulheres falando das domésticas e trocando receitas. Muito aborrecido.
Daí, entre um brigadeiro e outro, avancei no
jogo “adivinhatório” e comecei o ensaio sobre qual é a profissão
das pessoas que ali estavam.... Aquele tem jeito de advogado... Se tiver um
dentista aqui vai ser difícil adivinhar, pensei. Eu nunca identifiquei,
até hoje, um dentista... Mas com certeza aquela é funcionária
pública, não sei porquê... Mas pode bem ser juíza, contadora, advogada,
sei lá... Aquela moça simpática deve ser do tipo nove do Eneagrama.*Deve
adorar festas!
Sem ninguém interessante que desafiasse o
barulho e sentasse ao meu lado para ficar esgoelando o tempo todo e sair dali
rouca, o jeito era voltar a elucubrar sobre as pessoas, mesmo sabendo
que isso não leva a nada. Só pra passar
o tempo... De vez em quando, aparecia alguém interrompendo meu
“jogo”, para me elogiar ou tecer um
comentário aos berros, a respeito do que
eu teria feito na pintura ou literatura. E aproveitavam para
perguntar se minha filha estava indo bem no casamento e se eu já tinha neto. E
voltavam a deambular pela sala.
O tempo passando, a música sempre altíssima
machucando-me os tímpanos, salgadinhos e doces enchendo as bochechas e eu
ali, bebericando uma cervejinha que milagrosamente apareceu naquele canto.
Foi a festa! Mal acabava de tomar um
gole, o garçom enchia novamente o copo. E eu na adivinhação... A bexiga começou a reclamar. O jogo
agora era adivinhar o signo dos
convidados... Aquela, por exemplo, deve ser geminiana. Olha como é
comunicativa! Aquele com certeza é de peixes: quieto, introvertido,
com ar sonhador. Identifiquei vários sagitarianos e um canceriano. Aquilo de
ficar classificando as pessoas por categoria zodiacal começou também a
encher-me o saco!
Mas acabei me aprofundando no jogo do passatempo...
Afinal já estava no terceiro copo de cerveja... A pergunta era: Quem estava verdadeiramente
feliz naquela festa? Sem dúvida as crianças. Mas tem gente mascarando
preocupação com sorriso amarelo... A moça ao lado está doida para ir embora,
feito eu. Olha só a cara... Mas o filho está tão animado brincando de
pula-pula... Aquela adolescente deve estar morrendo de excitação. Não para de
lamber a orelha do namorado. Aquele outro de chapeuzinho de aniversário parece
um menino, talvez o adereço infantil tenha lhe soltado a criança que existe
dentro dele. Parece...
Enfim os Parabéns! Graças a Deus! Todos reunidos
para ver o garoto soprar as cinco velinhas! Depois o corte do bolo, que estava uma delicia!
E, finalmente, o alívio de pegar a bolsa, dizer tchau para todos e voltar pra casa e dizer a mim mesma: nunca
mais quero ir a aniversários barulhentos! Nem só, nem acompanhada! Seja de adulto
ou criança! Ficar inventando jogo de adivinhação pra
passar o tempo não dá. Só muita paciência!
O Eneagrama (do grego Ennea = nove
e grammos = figura ou desenho) é um antigo sistema de sabedoria, criado
há cerca de 2500 anos (autores situam sua origem entre 3.500 e 2.000 anos
atrás), provavelmente no Egito. Seu conhecimento foi mantido sigiloso durante
muitos séculos sobre os nove tipos de caráter.
Um comentário:
Eliana Angélica de Sousa, por e-mail.
11:22 (Há 1 hora)
E ponha paciência nisto!!!! Fiquei exausta só de imaginar-me neste ambiente!!! rsrsrs
Muito bom. Parabéns!
Bjs.
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