sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O Natal de Jesus

Maria J Fortuna

“Este povo somente me honra com os lábios; seu coração, porém, está longe de mim” (Isaias 29,13)

Foi-se o tempo em que minha família rumava todos os anos no Natal de Jesus para a celebração da grande Missa do galo... Era muito bom! Eu e minha irmã de mãos dadas seguíamos na frente, depois vinham meus dois irmãos mais velhos e, por fim, meu pai e minha mãe caminhando na estreita calçada das ruas pedregulhosas de S.Luis do Maranhão! Era um dia alegre, ao mesmo tempo solene! A gente ia sempre à mesma Igreja – a de S. João onde fui batizada. Durante a Missa meus irmãos tocavam o sino na hora da elevação da Hóstia. Eu morria de inveja! Queria ser menino, de qualquer jeito, para me dependurar nas cordas que faziam o sino badalar!
A Missa do galo era belíssima! A igreja repleta de incenso gostoso misturado ao perfume das angélicas. Tudo era mágico e maravilhoso! Eu fechava os olhinhos e pedia ao Menino Jesus que se tornasse meu amigo, que não ligasse para o fato de eu ser menina. Que por causa disso mesmo, eu o trataria com mais delicadeza. Enrolaria seus cachos louros nos dedos soprando-lhe os olhinhos para fazê-lo sorrir e faria o possível para que dormisse em meus braços.
Os fiéis oravam com muito ardor. Parece que todo mundo tomava banho e vestia sua melhor roupa. Eu me lembro de um cheiro de naftalina misturada com brilhantina. Os homens guardavam seus ternos, de preferência brancos, nos guarda-roupas esperando o grande dia! As mulheres penteavam seus cabelos com capricho. As que eram ricas usavam jóias caras e vestiam seda. Abanavam-se com leques perfumados na hora do sermão.
Depois da Missa vinha à fila para beijar a representação do Menino Jesus que ficava exposto na frente do altar-mor. Para evitar que todos beijassem o mesmo lugar da imagem, a gente osculava as fitas coloridas que partiam das palhinhas do presépio.
Já em casa, ceávamos uvas, passas, nozes, castanhas, maçãs e peru recheado com farofa. Era o maior banquete do ano! Na sobremesa fatia parida. O que aqui no sudeste chama-se fatia dourada, feita com pão dormido, farinha de trigo e ovos.
Depois as crianças abriam os presentes. Só os pequenos ganhavam. Ficávamos ansiosos para saber o que Papai Noel havia nos deixado. Eu queria um bebê recém nascido, mas só ganhava boneca menina de cachos ou transinhas. O que eu não faria para brincar com Menino Jesus!
Lá em casa não tinha árvore, mas havia o presépio que encantava a gente! Passávamos o ano todo guardando pequeninos carneiros, vacas e bois, pastores e anjos para compô-lo. Guardávamos areia da praia para forrar o chão da estribaria onde Jesus foi colocado após seu nascimento. Nós, mulheres da casa, cuidávamos do presépio.
Mais tarde a gente pedia benção aos pais e ia dormir. A festa era tal qual o aniversariante – simples, despojada de luxo.
Quando vejo hoje em dia a descaracterização do Natal transformado em festa de Papai Noel, dá-me dor no coração... O evento está desfigurado... Pelo que vejo nos jornais da TV, os países do ocidente esbanjam figuras monumentais! Grandes árvores, vitrines enfeitadas, papais noéis gigantescos e um enorme consumo de bebida, comida, presentes, enquanto a miséria grassa num submundo, abaixo da linha da pobreza.
Pouco importa se 25 de dezembro foi ou não o dia em que Jesus nasceu, ou reacender a velha discussão, de outras tradições religiosas, acerca da sua divindade. Pouco importa os que querem transformar o evento numa festa apenas de encontro fraternal entre as pessoas. Nós cristãos cuidemos de ser cristãos e deixemos de lado tanta extravagância! Pois há que resgatar o verdadeiro espírito do Natal de Jesus. O mundo está precisando deste reconhecimento. Afinal como ele mesmo falou: “- As raposas têm seus covis, as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde recostar a cabeça”. Para que tanto luxo e consumo? (Lc 9:57-58)
Que vontade saudades do Natal de minha infância!

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