Maria J Fortuna
foto: furiousgeorge81
Ontem, assisti a um filme surpreendente: “ Into the wild,” em português “Na natureza selvagem” com Emile Hirsch, um ator que eu não conhecia. Trata-se de um rapaz cheio de conflitos familiares, que rompeu com a sociedade, queimando até sua própria identidade, dinheiro, roupas, fotos, tudo o quanto tinha para “ser livre”. Quantas vezes a gente não tem essa tentação? Nesta minha breve viagem pelo tempo na Terra, conheci pessoas que levaram quase ao extremo a busca da liberdade. Eu mesma fui uma delas. Saí de casa aos 22 anos e nunca mais voltei. Hoje em dia, com a filha distante, moro com uma velha tia de 99 anos que, obedecendo à ordem natural das coisas, está partindo para o desconhecido.
O filme despertou-me grande interesse porque as situações que se apresentavam a cada novo momento eram surpreendentes! E o tempo todo há que um teste constante dos limites do personagem. Será que vai conseguir continuar? Até que ponto vai ainda aguentar? Os desafios eram imensos! Mas como sei que despertei curiosidade, não vou ser desmancha- prazer. Não vou contar o final do filme que me levou a grandes reflexões, mas o momento que mais me tocou e, acredito, trouxe à síntese a mensagem, a razão de ser da história, foi a frase conclusiva que o protagonista escreveu num pedaço de papel: “A felicidade só existe quando é compartilhada.” Além do desejo compulsivo de sair em busca da liberdade está a consciência de que nunca somos felizes sozinhos. Como diz Thomas Merton em seu livro” Homem algum é uma ilha”.
Estou vivendo meu momento de inverno, consciente de que sem os velhos amigos, seria difícil existir. Quase todos estão com grandes problemas de saúde, alguns rabugentos, outros fixados em idéias malucas, inseguros financeira e afetivamente, mas são os meus amigos. De vez em quando sai briga. Mas a gente acaba rindo junto de nossas mazelas, levando para o lado humorístico das limitações inevitáveis! Ah! Não posso viver sem eles! Faço uma viagem de seis horas e meia quase todos os meses para estar com essas criaturas contemporâneas, que me trazem tanto conforto! Alguns já se foram. A cada um que, como vela, vai se apagando, a doce lembrança dos momentos de juventude, quando tudo podíamos, e éramos fortes o suficiente para aguentar os trancos da vida. Agora estou sabendo dar valor aqueles momentos ensolarados. E, acredito cada vez mais, que “os ficantes” em nossas vidas, têm grande identidade recíproca, na imensa rede onde as consciências se buscam e compartilham amorosamente a existência.
O jovem do filme é atemporal. O desejo de fuga continua dentro de nós, graças a Deus!
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