sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Ó Minas Gerais!

Maria J Fortuna

Cheguei a Belo Horizonte num dia em que o céu chorava que dava dó! Tinha como referência uma frase muito citada para definir os mineiros: eles são desconfiados! Quem me conhecia dizia que eu não iria me acostumar jamais com aquele povo muito diferente do carioca e do nordestino. E eu sou “maranhoca” (mistura de maranhense com carioca). Mas não foi assim... A chuva da solidão foi passando de mansinho quando conheci o espírito mineiro, que alguns chamam de mineiridade. Um jeito gostoso de se aproximar e dialogar, e vontade de ajudar, no que pode. Diante de alguém em dificuldade fala: Ô dó!... Mas não no sentido pejorativo que coloca as pessoas debaixo do chinelo, mas como sinalização, um SOS, a ser atendido. Bem, comigo foi assim.
Aquele acolhimento lambeu muito das minhas feridas. Eu estava só, numa época difícil e ameaçadora, com apenas uma carta para certo Padre Agnaldo arranjar-me emprego. Fui morar em quarto alugado, no Prado, um bairro bem familiar, cheio de ladeiras, igual a tantas das ruas daquela cidade. Namorei um rapaz, tocador de violão, que me fazia serenatas, e convivi com inúmeros mineiros na minha faixa etária, que vinham do interior estudar ou trabalhar na Capital. O pessoal de outras cidades era muito especial! Dependendo da região, o sotaque é muito peculiar! Se forem do sul, o “r” é quase que engolido, e os que vem do norte de Minas, o sotaque é mais parecido com os viventes do nordeste deste imenso país. Mas aqueles foram meus companheiros de juventude! Tempo brabo de ditadura militar, quando vi muitos mineiros arriscando a própria vida para esconder um companheiro.
Morei em república, pensionato, porão, barracão, casa, apartamento, quarto em casa de família, o escambau! Mas sempre com uma presença mineira gostosa, cooperadora, amiga enfim.
Com o tempo, quando me dei melhor profissionalmente, viajei por inúmeras cidades de Minas e sempre encontrei um queijo fresquinho, com cafezinho. Além da rosca, broa de fubá, pão de queijo, etc
Com meu jeito nordestino acariocado, aprendi com o mineiro, a aprimorar mais o bom senso, ser mais discreta, moderada, escutar mais do que falar. O mineiro pode ter jeito de matuto, mas é um sábio em potencial. Foi lá que aprendi a ter respeito pelo meu suado dinheirinho. Afinal, nunca o mineiro revela sua poupança e, com o tempo, a gente se surpreende de como emprega bem suas economias. Aprendi a me divertir, sem me arreganhar. Proteger meus sentimentos e os do amigo, que não é trocado por um simples conhecido.
Esta terra montanhosa, cheia de cachoeiras mata adentro, tem cheiro de pureza, simplicidade e valentia. Muito raro encontrar um mineiro mal humorado. Quando contamos piadas, observa-nos com ar de seriedade, como se não estivesse fazendo parte da brincadeira e, de repente, você se surpreende com uma tirada que deixa você morto de rir! Pode até brigar, imprensar o amigo no cantão, mas depois que vomita sua mágoa, enche-se, novamente, de amor. Haja vista, quarenta anos de encontro com minhas amigas mineiras para um bate papo e um chopinho, ao som de música ao vivo, quando vou às Alterosas! Trabalhamos juntas no Hospital Júlia Kubistchek, no fim da década de 60. Duas já se foram. Ficamos quatro. Mas o encontro é religioso, quando comemoramos os aniversários dos três últimos meses, com fotos, presentinhos e tudo o mais.
E como há poesia e serenata pelas terras de Minas! Como cantam, festejam e escrevem tão bem! De Itabira saiu Drummond, de Divinópolis, Adélia Prado e muitos outros naqueles rincões!
Seja em Belo Horizonte, Ouro Preto, Mariana, Poços de Caldas, Pedra Azul, Montes Claros, etc, mineiro tem o traço inconfundível do acolhimento e hospitalidade.
Adoro quando ouço aquelas frases cheias de palavras pronunciadas, pela metade juntando tudo, como “procê vê”, “gosto docê”, “ô trem!”. É música para meus ouvidos!
Já que Minas me adotou pra valer por trinta e sete anos, introjetei muito do jeito especial de ser daquele povo! Procê vê, sou também um bocado mineira, uai!

4 comentários:

MJFortuna disse...

A minha amiga mineira de Juiz de Fora e colega de curso na UNIPAZ, Adriana Andrade, me enviou por email:

Mariinha,
Não consegui publicar meu comentário.
adorei...me senti homenageada.
Vc tem um não sei o que de mineirice,a simplicidade de ser,talvez!
Bjs e bom fim de semana,
Adriana.

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MJFortuna disse...

Minha amiga Antonia Cesar por email:

Entrei agora no seu blog e li dos mineiros e da irmã índia.
Interessante como te conheci mais através dos seus escritos.
Há poesia no que você diz,e também muito do seu coração, seu dia a dia.Uma cronica sua que muito me emocionou foi sobre um natal da sua infancia. Gostei da ruivinha de cabelos vermelhos.

MJFortuna disse...

Minha amiga Ida, ganhadora do Prêmio do Banco Real (pintuta) escreveu por email:

"BH chorava que dava dó...gostei muito do que me mandou.Que graça voçe pequena toda cacheada sua vida é rica e cheia de encantos" Bjs

--
Ida Vieira Luppi

MJFortuna disse...

Minha amiga Ida, ganhadora do Prêmio do Banco Real (pintuta) escreveu por email:

"BH chorava que dava dó...gostei muito do que me mandou.Que graça voçe pequena toda cacheada sua vida é rica e cheia de encantos" Bjs

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Ida Vieira Luppi

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