sexta-feira, 23 de abril de 2010

Na paixão, todos somos crianças


Maria J Fortuna



“Não interessa a idade, todos nós somos imaturos quando nos apaixonamos...” Disse minha amiga carioca quando fomos almoçar fora, no domingo. Explodi em gargalhada, porque na verdade nunca vi uma afirmativa tão exata! Fiz uma retrospectiva dos meus dias passados e cheguei à conclusão de que até hoje, nem eu nem ninguém que conheço, escapou disto!A paixão é algo, tipo um alucinógeno com efeito anestésico de curto prazo, que penetra nas veias e encharca o coração de um jeito morrinhoso , insistente, como a dor que lateja sem remédio. Ou como um dilúvio fora de controle. Aí amigos, com licença da má palavra: - Fudeu! Foi assim que minha amiga se expressou. E é verdade! Daí vem o rosário de babaquices, que carrega nossos dias de gestos impensados e pensamentos mal passados, que estouram como pipoca e não nos deixam mais em paz. Cruz credo! Tenho pena de quem está vivendo esta situação, pois a anestesia passa e a dor triplica, depois que o ímpeto de agarrar o outro com unhas e dentes, vai parecendo inútil Haja sofrimento! O apaixonado se dá conta de que a corda arrebentou pro seu lado - o mais vulnerável. Como? Percebendo que seu arrebatador e sufocante sentimento é unilateral... Não correspondido. Aí temos dias, meses, até anos para fechar a ferida.E quando o objeto de afeto e veneração, buscando fortalecer seu ego, resolve jogar com o apaixonado? Tragédia total! De posse do amargurado sentimento de rejeição do outro, começa o projetar dos raios da sedução de quem não quer, mas não larga de jeito nenhum. E haja promessas veladas... Esperança de que um dia possa ser...“ Eu ainda não sei... Vou sondar meus sentimentos... Bem, sabe como é, ainda não esqueci fulano... Vamos dar um tempo..."Daí por diante.Tem aquela outra situação em que o sedutor jura que não percebeu que estava despertando aquela paixão. Mesmo que o contato com o outro seja quase que diário...“ Imagine! Eu sempre a quis como amiga, não pensei que ela fosse se encantar por mim!”Às vezes é muito sutil a fronteira entre a amizade e o despertar da paixão, que realmente não tem idade. Acabei de presenciar uma amiga de 64 anos brigar apaixonadamente com seu namorado de 75, de uma forma tão calorosa, que desconheci aquela criatura com quem convivi durante anos consecutivos e julgava incapaz de se levada por aquele tipo de sentimento... Outra amiga de 62 me ligou desesperada, porque seu namorado de 60 a havia trocado por certa baianinha de 30 e poucos... Pode? Sim, pode. Foi o que presenciei. E se eu vasculhar meu interior, sei que não estou absolutamente livre desta paixão que queima a alma, até meus dias finais.Bem, um dia li numa carta que Chalita escreveu para seu amigo Padre Fábio, em Cartas entre amigos, a respeito do amor. Dizia a missiva que Vinicius, naqueles versos que muita gente sabe de cor : “que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”, não falava de amor, mas de paixão. Concordo com Chalita. Mas será que somos realmente capazes de amar a dois sem descambar para a paixão? Sem aquele ciúme animal, que traz a tentação de querer possuir o outro? Que nos faz fazer qualquer coisa para estar ao lado do objeto da paixão? Para mim, não existe pessoa equilibrada nesta situação. O desequilíbrio faz parte e acho, sinceramente, que o amor a dois é um sentimento que muito raro se conhece de verdade, porque me parece algo superior a nós, mortais. Ainda somos mitológicos. Ah! Como adoro aqueles deuses malucos da Grécia! E como me identifico com eles!

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