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sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Canção da folha que cai
Maria J Fortuna
Desprendi-me, prematuramente, da árvore mãe e danço ao sabor do vento, que de calmaria, pode soprar forte em tempo que a natureza perde a paciência. Então bailo no ar, cercada de insegurança por todos os lados.
Pedi ao Pai que, pelo menos, me seguisse com os Seus Olhos, numa súplica de proteção. Que, não me perdendo de vista, permita-me pousar num lugar bom e não numa poça de lama. E se assim for, que me tire a consciência.
Em forma de Menino Jesus, sei que sou mais vista por Ele que, como menino, adora pisar em folhas secas para ouvir o barulhinho e fazer apito das mais jovens, para chamar outras crianças pra brincar. Só que nem sou folha seca, nem tão jovem para que me façam de apito. Se fosse menina, fazia-me de comidinha para dar às bonecas.
Em minhas nervuras, a vida ainda ali está, e elas contam a minha história genética,que talvez seja a explicação do meu desprendimento, tão prematuro, dos galhos de minha mãe. Nessas nervuras, está escrito um caminho confuso, fora dos padrões da árvore que me gerou. E de minhas irmãs que lá estão. Ali está o desenho do caos, sem rota, independente da minha vontade de ser, desde meus tempos de folha verde.
Talvez meu bailado, por falta de peso, seja tão bonito que Deus se compraza em assisti-lo! Devo, então, cumprir os ditames de minha imperfeição, que pode justificar a permanência nas mãos da insegurança, maneta de nascença.
Na verdade não há explicação. Não me recordo de ninguém que tenha me arrancado da árvore, se bem que tudo possa ser possível em tempos em que a memória não alcança. Ou que eu mesma prefira bailar no ar a encobrir tal fato.
Estou, portanto, totalmente à mercê do desconhecido: antes, durante e depois. Não faço tanta falta assim à grande arvore. Ela tem centenas de folhas! Por enquanto sigo bailando... O que é imperfeito também se cumpre, para que a perfeição apareça.
Um poema pode estar sendo escrito neste momento. Afinal os poetas são aqueles que mais têm convivência com o desconhecido e vivem plenos na alquimia da insegurança. Não seria impossível para os poetas, fazer versos sobre uma folha que cai fora do tempo, sem nem querer saber do motivo.
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2 comentários:
Querida Mariinha,
uma folha e um pássaro
muitas vezes se parecem.
Grande beijo,
Eliane
Parabéns, belo texto!
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