Maria J Fortuna Todos os dias ela aparece na TV e eu me sinto estranhamente irritada! O que será que eu tenho dessa atriz que me remete ao que não aceito em mim mesma? Examinei minha consciência, uma, duas, três vezes. Passei para o setor inveja. O que será que ela tem e eu não tenho? A TV é responsável por tantas catarses que fazemos ao longo dos programas que se sucedem...
Assim, creditamos, de pés juntos, que o homem é um animal racional. Será mesmo? Ou somos mais fruto da nossa bagagem emocional? Quanto mais conscientes somos de nossas limitações, mais próximo estamos do autoconhecimento, caminho para a verdade de cada um. Estou certa de que somos várias personagens para os outros, mas uma só para nós mesmos. Quem nos fala é fulano ou é uma das personagens que ele representa nesta ou naquela situação? E quem é essa uma? E as minhas personagens, quais são? Sendo o outro uma referencia existencial para mim, é nele que faço as minhas projeções. Daí a irritação que sinto quando a tal artista aparece, todos os dias, na TV...
Por que o outro me incomoda tanto? O que de mim existe nele? Não posso me esquecer da amiga que fez uma excursão comigo a Ouro Preto, em Minas Gerais. No grupo, havia uma bela moça que ria, gesticulava e abria os braços. Abraçava os amigos e parecia estar em estado de graça! Enquanto isso, a minha amiga me cutucava e falava entre os dentes:
- Moça aparecida! Se acha! Quer que todos olhem pra ela! Antipática!
Não ousei entrar com ela no mérito da questão. Fiquei calada. Mas, interiormente, tive a certeza de que o que havia em seu íntimo de pessoa reservada, tímida, sensível aos comentários de outras pessoas, era uma enorme inveja da pessoa expansiva, que dá gargalhadas e está pouco se lixando para o público espectador. Ela, definitivamente, não seria capaz de se expor como aquela sua companheira de viagem.
Bobos somos nós que não declaramos para nós mesmos nossas invejas. Inveja consentida e declarada, passa a ser admiração. Eu, por exemplo, admiro as pessoas que falam em público. Ou que sabem fazer cálculos matemáticos sem dificuldade. Até hoje eu duvido dos meus cálculos, por mais simples que sejam. A inveja é irmã gêmea do ciúme... Mas isto já é outra conversa.
Se chego à conclusão de que o outro nos mostra nossa luz e nossas sombras, como se processa o julgamento que faço de minhas ações? E quanto ao próximo? Pensando nisto, seria bom rever nosso processo de julgamento. A meu ver, está bem claro que o forte do ser humano é comparar-se com os outros. Sentir-se maior ou menor. Daí pode vir inspiração para nos tornarmos melhores hoje do que ontem, ou um grande ressentimento existencial que leva à expressão de revolta em forma de agressão ou fofoca.
Um dia, outra amiga me confessou:
- Quando eu era criança apanhava, quase todos os dias, dos meus irmãos e, às vezes, dos primos. Ao indagar-lhe o por quê da agressão, ela falou:
- Eu só tirava notas boas e eles me falavam que eu queria ser mais do que eles.
Nas artes, a gente sente que o artista traz para a tela, palco ou escultura, sua bagagem emocional. Ou seja, ele se traz na sua obra. O resultado é o mesmo. Ou determinada pintura, dança, peça teatral ou escultura, nos atrai ou sentimos repulsa. Levando-se em consideração que o artista coloca ali a transpiração de seus sentimentos e emoções, como angústia, alegria, medo, entre outras, não estaremos fazendo uma projeção de nós mesmos nesta ou naquela obra? O artista se coloca ali. Fica o espírito do momento que viveu ao executar a obra. Você o contempla e o ama ou o odeia.
Fica mais fácil viver lembrando sempre das
3 comentários:
Mariinha, concordo plenamente com você. Muito bem dita esta análise:
"Levando-se em consideração que o artista coloca ali a transpiração de seus sentimentos e emoções, como angústia, alegria, medo, entre outras, não estaremos fazendo uma projeção de nós mesmos nesta ou naquela obra? O artista se coloca ali".
Abraços, Norália
José Mauricio Guimarães, no Facebook:
"O homem é um animal racional. Será mesmo?" Ainda chego à conclusão de que os animais são homens irracionais (ainda bem...) Segundo Millôr Fernandes, "quando Deus criou o homem, os animais reunidos em volta observavam; e só não caíram na risada por uma questão de respeito"
Hortência Lima por email:
É muito bom viajar nas suas crônicas! Parabéns!
Hortência
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