Maria J Fortuna
Ninguém
arranca a agonia quando ela se instala dentro da gente! É uma sensação
inexplicável que não dá para dividir com ninguém! Tipo entrar num elevador e
ficar para cima e para baixo sem poder sair. Sinto-a mais inexplicável de qualquer
outra sensação que nos visita. Como se
algo estivesse apertando a boca do estômago. Dá a impressão de que estamos vestidos com uma roupa que não é nossa e que nos
aperta ou fica larga demais. Mas a gente quer sair dessa agonia que pode durar, ás golfadas, um dia inteiro! Ou mais...
A alma, por um instante parece oca,
numa espécie de vazio-cheio que dá vontade de correr, mas não adianta,
pois estamos parados dentro de nós
mesmos. Para mim angústia é o prolongamento do estado de agonia. É como
correr sem sair do lugar. É querer
vomitar rapidamente o in vomitável! Tem a ver com a pressa. Mas sabemos que quanto
mais pressa, mais vagar... Assemelha-se
a um sentimento de premonição ou ameaça do que pode ser revelado a qualquer
instante, contra a nossa vontade. Um grito que não sai como sugere a famosa
pintura de Edvard Munch. Sinto como “ata
não desata”, desafiando a impotência e a fragilidade do ser. Sei que é incômodo e que a melhor coisa seria
sair, imediatamente, dessa sensação que
imagino ser de um pássaro querendo voar, mas impedido pela gaiola, ou a um gato que se sente preso quando sua
natureza é de independência e liberdade.
Mas o que nos
causa tão intenso incômodo? O que significa essa sensação matizada de medo? Será o receio do enfrentamento com algo que
negamos e, de repente, corre o risco de se tornar presente, ou talvez a
consequência de um stress recente que não nos quer abandonar? Ou o medo de
perder associado à morte? Ou de aceitar uma situação que nos traz dor e muitas
vezes alegria? Ou mesmo a circunstância absurda do medo de ser feliz muito mais
comum do que podemos imaginar?
Mas se
soubermos recebê-la, a inevitável agonia tornar-se-á positiva, porque será
reconhecida como aquela que denuncia a perda da harmonia interior e o desejo de
reconstrução de si mesmo, o mais depressa possível! Mas, como nada se faz as pressas, perdemo-nos
várias vezes ao dia e o retorno pode ser vagaroso.
A agonia é nossa esfinge: “Decifra-me ou te devoro”. É o apelo para
voltar ao centro, ao foco, onde nos encontramos nus, sem nenhum adereço. Onde,
passado a primeira invasão, achamos a paz que buscamos. É nossa chance para parar,
refletir, meditar, desarmar o ego, deixar a fluidez de a vida carregar os
momentos difíceis, sem negá-los.
Momentos de
agonia fazem parte do processo de transformação e crescimento. Se alguém nos
provoca esse mal estar, é porque há algo dentro de nós que rejeitamos e projetamos no outro. Ou estamos numa
situação de ameaça externa que não dá para evitar. E aí a agonia transforma-se
em medo, até o pânico e deixa de ser apenas uma sensação para gerar um processo
doloroso de sofrimento físico e moral. Mas antes que este processo se instale, tem jeito de no primeiro momento que surja, sacudir a poeira da
ilusão e reconhecer o potencial amoroso que abrigamos no coração, desde quando estávamos aconchegados ao útero
materno. Assim, conseguiremos sair do sufoco alcançando a libertação. Mas não resta dúvida que ela, a velha agonia, voltará de vez em quando. Faz parte...
Um comentário:
Eliana Angélica de Sousa
20:51 (Há 12 minutos)
Resumi assim: Agonia, verdade que dói, mas faz parte! Muito bem descrito, de forma poética que até ameniza a agonia que sentimos quando vamos penetrando em suas palavras.
Parabéns!
Beijo.
eliana
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