Maria J Fortuna
Estou, nesse momento, dentro do que
importa. Longe estão as guerras que ferem o planeta. A paz acorda em meu
coração como o voo dos flamingos num céu muito azul. Não há mais conflito em
meu ser e todo o acervo de coisas ruins se transforma em melodia. Estou diante
do meu eu verdadeiro. Percebo no vazio de minh‘alma a germinação da
pureza original. Então me sinto Eva, recém-criada, abrindo os olhos para
uma Terra onde luz e trevas se encontram harmoniosamente.
Não existe doença, rios poluídos,
usinas como a de Belo Monte no velho rio Xingu, sacrificando o curso natural
das águas. Os peixes bailam no líquido precioso de outrora,
alimentando os povos ribeirinhos. Tudo paz e tranquilidade... Dentro de
mim todas as montanhas são preservadas e os verdes dos campos se harmonizam com
as nuvens celestes , que se movem sem preocupação no
imenso cenário azul. Aqui estou eu sem nenhum apelo à divisão, escutando
inteira os rumores do mundo, sem me envolver com eles. Tudo é
lucidez. Toco a realidade do todo.
Agora posso estirar as mãos como um
passo de dança e pegar um pincel. Mergulho as cepas na tinta branca e cubro a
tela suavemente, com toda música que vem do coração. Não há porque
manchá-la com pensamentos escuros. Hoje prefiro o rosa que se mistura ao verde
e ao índigo e de lá sair uma flor completamente nova, como este momento que me
traz o suor da alegria!
Respiro paz... As ondas do mar na Ilha
de São Michel banham meus pés com delicadeza e eu consigo serenamente sair
dali, com eles molhados, ao brilho das pequenas ondas que vão se formando
e refletindo a luz solar num tapete prateado. Tudo é beleza... Tudo é
transformação, evolução, caminho...
Minhas mãos estão molhadas de argila e
moldam o ser tímido e corajoso que mora dentro de mim. E me vem na lembrança
o primeiro impulso amoroso de quando, pela primeira vez, olhei para os
ternos olhos da minha mãe e ouvi suas palavras como canto, saindo de sua
boca abençoada, confundindo-se com meu primeiro choro.
Hoje todos os castelos acendem suas
luzes. E trazem a claridade abençoada da choupana mais simples. O
sopro do amor que não conhece passado ou futuro, libertou os fiéis
da Inquisição. Dentro de mim a bem-aventurança de sentir, por um instante,
que não há maldade sobre a Terra... Não há ditaduras no planeta. Ninguém
molesta ninguém. E a violência murcha feito folha de fumo que o caboclo
aproveita para fazer um cigarrinho de palha
É tão imenso o amor que sinto neste
momento... E o êxtase por ter me encontrado assim tão nua, abraçando minha
própria sombra, num ato de perdão pela própria imperfeição humana,
na minha vivência de todos esses anos de existência desde que fui
concebida.
Há uma aceitação plena do movimento do
Criador e sua Graça se destila em cascata redimindo o mundo. Não vejo o
caminhar invisível e determinado das horas. Apenas ouço a música de mim mesma
já sem solo, mas em comunhão com a Energia Maior que nos atrai para o centro,
onde fica a morada da Paz.
Não há mais o que dizer. Os pássaros
despertos vão aos poucos ruflando as asas como as pombas do soneto
de Coelho Neto. E todo mundo nesse momento, torna-se poeta! Há uma
redenção infinita do planeta e a chuva agora cai em terras nordestinas. Não há
secas. A regeneração da Terra aí está. E os desmandos provocados
pelo homem tornam-se sem efeito e novas sementes brotam. Não há
mais desertos, exceto aqueles que sempre existiram, para que a gente,
mergulhando neles, reencontre sempre a verdadeira pérola branca do nosso ser
enfermo que se converte em sadio. Os mongóis podem viver em seus iglus
tranquilamente. Há água para se beber. E a mais importante delas é a que nunca
mais nos deixará sedentos.
Aos poucos vou saindo desse estado de
Graça, mas com a luz verde da esperança, para que eu retorne o mais breve
possível a meu verdadeiro eu e que seja mais que um lampejo!
3 comentários:
Norália Castro Linda crônica. Muito linda. Amei.
há 9 horas · Curtir
..
Alfrenice Fortuna Linda. Gostei.
há 8 horas · Curtir
Norália de Mello Castro
09:53 (Há 15 horas)
Fui ao seu blog, li a linda crônica que lá postou. Mas, me embanano com o comentário, que lá não sei colocar. Assim, meu parabéns a você, mando por aqui. Escrevi lá: minha amiga Mariinha cada vez mais transcendental... bela crônica. Amei. Que seus lampejos sejam mais intensos.
Abraços, Norália
Adriana Brega, por e-mail:
09:11 (Há 16 horas)
Linda crônica Mariinha, de intensa espiritualidade! Beijos!
Enviado pelo meu Windows Phone
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