segunda-feira, 8 de junho de 2015

As mandalas de Beatriz

                                                                                                                                                                    Maria J Fortuna

                    Bem, não sei como ou em que momento aconteceu o encontro de Beatriz Campos de Oliveira  com as mandalas...  E de como começou a passar para o papel todo esse encanto na elaboração e confecção delas. Também não perguntei.  Contento-me em  admirá-las e mergulhar naquela beleza toda, quer sejam em preto e branco ou coloridas... Com perfeita geometria,   a certeza que tenho é de que elas vêm de dentro da alma da artista.



                                                                                 Beatriz na Escola de Arte Visuais



                    Quem na vida não se parte e reparte no decorrer do caminho?  Depois vem a sensação de que estamos perdidos em nós mesmos... Nossos traumas começam cedo, quando ainda não temos condição de expressar o que sentimos. Na primeira infância...
                   Quando menina,  Beatriz  desenhou um palhacinho no Jardim de Infância, provavelmente num concurso. Sua irmã, com ajuda da professora, foi quem ganhou o prêmio de melhor desenhista da escola. -  Mas é injusto, pensava a pequena, afinal a professora havia  dirigido a mão de sua irmã... Deve ter sido uma das primeiras quebras na inteireza do ego, que necessitava de apoio naquela situação, mas não sabia como se reequilibrar a partir daquela experiência.  E o tempo foi passando...





                    Depois, ainda na Escola Delfim Moreira, teve o primeiro contato com a argila, quando foi apresentada à maquete de uma fazenda.  Como boa mineira, ela sabia exatamente  qual era o cheiro e a forma das fazendas,  e a suas mãozinhas mergulharam no barro, buscando  expressar o que via e sentia. Resolveu, então,  fazer porquinhos para o chiqueiro.   Dali partiu para esculpir uma família inteira de fazendeiros! Foram surgindo figuras tão graciosas  que a professora chamou os pais de Beatriz para contemplar sua obra.
                  Além disso, aos sete anos,  foi  apresentada ao crochê, que sugere vários tipos de pequenas e lindas mandalas coloridas de lã e linha. Imagino que este deve ter sido o primeiro contato de Beatriz com arabescos de um  círculo.


 

                    Mandalas são como pedacinhos de nós mesmos, que foram quebrados em algum momento pelas circunstâncias da vida e vão sendo rearmados ou  recolocados em nosso  processo de individuação, segundo Jung, através de camadas geométricas e luminosas, criadas pela alma,  até que atinja a Luz Central, que dá sentido a essa busca. Como resultado, teremos  harmonia e inteireza. Começaram a surgir as mandalas de Beatriz.









                                                         Trabalho com duas cores.

                    Segundo Jung, esses incríveis desenhos, que em sânscrito significam círculo,  fazem parte desse processo de individuação do ser humano. São símbolos da personalidade que vêm de muito longe... Das nossas raízes através do inconsciente coletivo. Principalmente quando estamos em busca de nós mesmos, de nossas origens até o Centro,  na procura de equilíbrio..

                    A menina foi crescendo com caderno e lápis de desenho nas mãos. Desenhava tudo que via pela frente! O talento e amor pela arte, que circulava em suas veias, vem do seu avô,  o  grande artista plástico José Gomes de Oliveira,  que pintou o interior de várias Igrejas Católicas de Minas Gerais. Dentre elas a Igreja Nossa Senhora das Dores do Turvo, na Zona da Mata mineira.
  




                                                      Dois momentos da Sagrada Escritura de José Gomes de Oliveira


                    Além do que as Igrejas de Minas Gerais estão cheias de mandalas, nas portas, nas cúpulas, nas paredes. Essas informações com certeza influenciaram, inconscientemente,  o trabalho da artista em seu contato com a transcendência, com a divindade e consigo mesma.  Essas formas também estiveram presentes nos escritos herméticos e na arte sacra dos séculos XVI, XVII e XVIII, e eram usadas como instrumentos de meditação.
                   Na popular Festa do Divino, muito presente em Minas Gerais, o Espírito Santo é sempre colocado ao centro das diversas formas geométricas representativas da Divindade. As mais comuns são aquelas imitando línguas de fogo.








                                           O vermelho forte de Petecostes, nesta mandala de Beatriz



                     Outras imitam o desenho de flores, em cujo centro pétalas macias e perfumadas escondem o núcleo ou o deixam a descoberto, procurando o sol.  A propósito, Beatriz estudou desenho na Escola Nacional de Botânica Tropical, onde essas mandalas naturais estavam ali florescendo a sua volta e nos desenhos que nasceram daquela  experiência. Tem alguma mais perfeita do que o girassol ou flor de lótus?








                                             Nesta se vê claro as cores que a Natureza veste as flores


                Além disso, estudou  desenho na Escola de Artes Visuais no  Parque Lage com a saudosa artista plástica Maria do Carmo Secco. Foi ali que a conheci. Mas não adivinhava que  partisse para desenho tão maravilhosamente rebuscados e expressivos, até que fui vendo uma após outra mandala surgindo... Essa representatividade está presente no símbolo chinês do Yin e Yang, nos yantras indianos, nos thankas tibetanos, também nos vitrais das catedrais católicas e em várias outras representações. Sei que têm diferentes padrões visuais que despertam diferentes sensações.



                                      Em azul com a suavidade do rosa e a presença discreta do amarelo


                    De qualquer forma, só lucramos com a escolha de Beatriz, confeccionando suas obras de arte pela trilha geométrica e colorida dessas joias... Beleza que extasiam quem as vê! Outras estão por nascer. É preciso ter paciência e muito amor à Arte e à vida, para prosseguir com tão grande empreendimento com símbolos, que  representam a totalidade, e são chamadas com muita propriedade, no hinduísmo,  de mansões sagradas. 



                                                        Eu e Beatriz no almoço com os amigos

7 comentários:

MJFortuna disse...


Eliana Luppi, por e-mail:

Belíssimo trabalho da Beatriz. Mandalas lindas e delicadas!
Grata.

eliana

Angela disse...

TUDO QUE Beatriz,minha querida prima faz é lindo !Porque sai de sua alma pura e generosa de pessoa iluminada

MJFortuna disse...

Catia Lopes Lindo Beatriz Campos, ela está com razão suas mandalas são belíssimas. Tem a quem puxar. Parabéns
Curtir · Responder · 1 · Ontem às 08:26

Beatriz Campos Muito obrigada Catia....Estou muito feliz! Beijos
Curtir · Responder · Ontem às 09:13

Valéria Fialho Prates Lindo texto e suas mandalas são mesmo muito lindas!
Curtir · Responder · 1 · Ontem às 09:24

Beatriz Campos Obrigada prima!!!!! Beijos
Curtir · Ontem às 09:42

Mara Regina Araujo Pinheiro Vem de dentro de uma pessoa linda!
Curtir · Responder · 1 · Ontem às 10:08

Beatriz Campos Obrigada querida prima! Beijos
Curtir · Ontem às 10:43

Juliana Campos Menina, estou maravilhada com o texto! Fiquei super orgulhosa! Ouvir uma pessoa de fora falando assim de quem se ama é a maior alegria! Parabéns às duas!
Curtir · Responder · 2 · Ontem às 10:26

Beatriz Campos Jú eu também estou muito feliz! Adorei a crônica! Beijos e Obrigada!
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Luana Campos Amei!! Parabens tia
Curtir · Responder · 1 · Ontem às 10:33

Beatriz Campos Obrigada Luana! Também adorei! Beijos
Curtir · 1 · Ontem às 10:45

Marina Capiberibe Parabéns amiga. Sua sensibilidade, que eu já conhecia, vejo agora refletida também nessas suas obras lindas e seu talento justamente reconhecido.
Curtir · Responder · 1 · Ontem às 11:02

Beatriz Campos Muito obrigada amiga querida, pelo seu carinho! Beijos
Curtir · 1 · Ontem às 11:10

Rossana Lott Amiga, que história linda!!! Amei! Te desejo muitas mandalas de felicidade e grande realização! Você merece. Saudade grande!
Curtir · Responder · 1 · Ontem às 11:43

Beatriz Campos Obrigada pelas suas palavras! Também sinto muitas saudades! Beijão
Curtir · Ontem às 12:20

Helena Gabriela Parabéns minha querida amiga! Que texto maravilhoso, ela soube colocar cada palavra! Sua mandalas são lindas e reflete muito o seu interior! Parabéns! Bjs
Curtir · Responder · 1 · Ontem às 12:12 · Editado

Beatriz Campos Obrigada amiga! Realmente, ela escreve muito bem! Também adorei! Beijos
Curtir · Ontem às 12:20

Heloisa Fortes Parabéns Beatriz, esses texto conta bem a sua rica trajetória. Seu trabalho realmente é maravilhoso. Bjs
Curtir · Responder · 1 · 1 h

Beatriz Campos Obrigada Helô! Estou com saudades! Beijos
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MJFortuna disse...

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MJFortuna disse...


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Maria Helena S. Araujo Adorei Mariinha!
Descurtir · Responder · 1 · Ontem às 02:17

Beatriz Campos Querida Maria, estou extasiada!!! Anestesiada com a beleza das suas palavras! Acabei de viajar no tempo. Fui à escola, fui pra roça, e aqui estou lendo essa maravilha de homenagem que você me fez! O meu mais puro e sincero obrigada!!!!!!!!! Está linda! Muitos beijos para você......
Descurtir · Responder · 1 · Ontem às 08:09

Maria J Fortuna Eu me sinto lisonjeada e privilegiada ao escrever sobre sua obra, minha querida amiga artista. Foi um prazer imenso viajar pela beleza de suas mandalas!
Curtir · 1 · Ontem às 12:21
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Norália Castro Belíssimos trabalhos...amei. Obrigada por compartilhar conosco, amiga Maria J Fortuna. Abraços Norália Castro
Descurtir · Responder · 2 · Ontem às 11:50

Alfrenice Fortuna Maravilhosas as mandalas de Beatriz belíssimo trabalho Mariinha.
Descurtir · Responder · 2 ·

MJFortuna disse...

dri.brito
12:42 (Há 2 horas)

para mim
Muito bom o artigo da Beatriz que vc fez Maria!!! Ela é realmente uma grande artista!
bjs.
 

MJFortuna disse...

Conentarista anônima que frequenta o blog sempre:


Você me fez ficar encantada com BEATRIZ ..... ou seria encantada mesmo com a cronista, a Maria de Jesus..., capaz de  projetar/deslocar para outro, no caso sua personagem real Beatriz - a desenhista,    seus próprios talentos, sua imaginação criadora, suas  "Artes e Artes".... Adorei a Beatriz Campos Oliveira e suas bonitas e intrigantes mandalas.  Mas, grande mesmo foi quem, sobre Beatriz, se deu o "trabalho!" de escrever.

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