Maria J Fortuna
Fui
criada na dor da culpa. Os instrumentos que moldaram minha alma resultaram no
cerceamento da liberdade, que leva ao desconhecimento de si mesmo e
à dissociação do sagrado x profano, tendo como consequência, o amor culposo.
Não só eu tive o “privilégio” de vivenciar a experiência da
deseducação, mas toda uma geração! Com isto, só havia dois caminhos a
serem trilhados: o das pessoas “normais” e o da corda bamba, isto é: assumir o
próprio desequilíbrio. Confesso que por ter horror ao primeiro caminho, optei
pelo outro, a principio compulsivamente, depois com mais lucidez e consciência.
Encarar a corda bamba não é fácil,
principalmente por falta de preparo, que é o que recebemos dos pais e
professores, além das pessoas da família. Escrevi sobre isto no meu
primeiro livro infanto-juvenil: O menino do velocípede, que na realidade foi um
recado para adultos. Por isto vendeu tão pouco. Confesso que ainda não aprendi
a arte de morrer de todo para as más lembranças, mas pelo menos deixei de ser
palhaço e voltei para a corda bamba, que é um convite a todos nós. Para colocar
um pé atrás do outro nesta corda, amigos, não é fácil! Tem toda uma platéia
dividida lá embaixo: uns torcendo pela sua vitória; outros para ver você se
espatifar no chão, voltando assim à condição de palhaço. E
você não sabe onde põe seu medo que, se não for de mãos dadas com você, estará
tudo perdido!
A cada passo você tem que se lembrar de
quem é, em primeiro lugar. Do amor e cuidado para consigo mesmo, sem os quais
não consegue vencer o desafio! Depois, lembrar-se de que os obstáculos
são: muita competitividade, brutalidade, exclusão e coisas que dividem,
como preconceito, fundamentalismo e consumismo religioso. A conexão com o
Cósmico é indispensável, mas só se dará se houver autoconhecimento, aceitação e
acolhimento do que se é e não do que eu e os outros pensam que sou.
Quando penso nos perigos por que passei
e ainda, se tiver vida, vou passar, um frio me percorre pela espinha! Mas se
escolhi ser eu mesma, não posso temer tanto o abismo. E sei que, com algumas
bolas coloridas nas mãos, a minha criança interior vai brincar e distrair a mim
mesma e as pessoas em minha volta, para que esqueçam, por alguns
instantes, os riscos do cotidiano e os limites da velhice e da morte. Porque
nada se compara à dor de trair-se a si mesmo, tentando esquecer ou negando o
que se é.
Assim vamos por aí, frágeis e
incompletos, buscando a realização no desequilíbrio, que é nossa real condição.
Quem se preocupa apenas com a performance está arriscado a morrer com a
fantasia de palhaço grudada ao corpo, sendo que a de equilibrista se descola
facilmente quando nos despregamos da matéria.
Mas, quem entende bem de equilíbrio
e desequilíbrio é o trapezista! Este é, para mim, o melhor do circo. Sempre foi
o mais belo e corajoso dos personagens. Traz consigo o sentido, a
expressão corporal da liberdade. Lançar-se, apesar de tudo,
imitando pássaros! Sobretudo quando é um casal. Quando um apara o outro
no ar em cima do perigo. Quando alguém aceita o desafio de se arriscar,
segurando o outro , ao mesmo tempo em que o solta, na expressão de
amor e confiança.
3 comentários:
Querida colega UNIPAZ,
Adorei o que vc escreveu, toca naquilo que está guardado dentro da gente e ai faz-se o milagre dos "espelhos" e a gente se indentifica completamente. As suas palavras vão amolecendo o coração e trazendo compreensão!!!
Quero aproveitar tb e te agradecer o seu tão gentil comentário em meu BLOG, foi muito estimulante, e é tudo o que precisamos nessa empreitada da escrita diária, não é???
Portanto, reitero mais uma vez a sua generosidade comigo!!!!
Não te respondi antes, pq estava num "Retiro Espiritual" e só voltei ontem. Na realidade, estou de volta ao planeta terra hj, pq literalmente foi o que aconteceu, eu sai realmente do ar!!!
Vamos "TROCANDO" por aqui,
Abração,
TERESA BRAGA
Acesse a msg do dia no : www.tepulsar.novolhar.zip.net
Amiga querida, notícias através do blog, adorei Saramago! Saudades de você! Mamãe teve pneumonia e ficou quatro dias internada, no carnaval. Agora está bem, no jeitinho dela. Gostei muito de um médico que me falou das limitações naturais da velhice, da dem~encia senil avançada, e teve um olhar humano. beijos a você, Nanda, Nicolas e tia Lourdinha!
Teresa, feliz fico eu com esta nova aquisição de amizade, em que trocamos aquilo que sentimos e a experiência do que vivemos. Significa muito para mim receber retorno daquilo que escrevo, cujo pincel é a alma. Obrigada pelo seu comentário.
No seu blog senti o movimento da transformação. Peço ao Criador que esse batismo seja de amor, mas certamente o é.
Um grande abraço
Maria J Fortuna
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