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segunda-feira, 23 de abril de 2012
domingo, 15 de abril de 2012
Pirilampos
Maria J Fortuna
Pirilampos
parecem estrelas da Terra. Em criança, um dos meus momentos especiais ao cair
da noite, era assistir ao balé desses vaga-lumes transitando pelo jardim que
emoldurava nossa casa. Há quanto tempo não vejo esses bichinhos... Como, na rua
movimentada e cheia de transito onde moro aqui no Rio de Janeiro?
Lembrei-me
deles, dos pirilampos, quando esta manhã meditava sobre a Luz interior que
alimenta nossas vidas. E que só nós mesmos podemos reacender todos os dias. Pensei muito na escuridão da ignorância onde
se processam as guerras e o florescer da sabedoria que nos lança às águas
confiantes do Amor.
Acredito
plenamente que a sabedoria vem da simplicidade, do desapego, do verdadeiro
encontro nós mesmos. Mas numa sociedade onde é fácil mentir, a coisa se
complica. É como se tudo fosse propaganda enganosa, como aparece na TV. Tudo é
preparado para vender de um lado e possuir do outro. Assim, nosso reencontro no dia a dia demora muito
acontecer ou talvez nem aconteça.
Crescemos num mundo do falso. Tudo parece estar longe do coração. É como
procurar perfume da flor fora da mesma ou querer sentir o orvalho fora da noite
que o traz. E como é fácil perder-se de
si mesmo...
Há tempos atrás,
ouvi de uma mestra de sufismo, Solange de Marbaix, que havia um sufi chamado Soravardhi,
que buscava um mestre. Todo sufi tem um mestre. Mas o jovem não o encontrava,
por mais que o procurasse entre os mortais.
Então resolveu, quem sabe, encontra-lo no deserto. Quando estava
entregue á meditação, apareceu-lhe um jovem de uma beleza raríssima, com os
cabelos brancos de tanta Luz e anunciando-se seu mestre. Era Gabriel, o anjo da
humanidade. No que prontamente Soravardhi, encantado, o abraçou.
Os sufis costumam procurar no Amor, na Harmonia e na Beleza, o Criador. Soravardhi dizia que os primeiros lampejos de Sua Presença surgiam como pequenas estrelas no véu da noite. Piscavam aqui e ali e a Luz ia aumentando à medida que o coração do fiel se abrasasse no fogo do Amor! Até que se uniam numa só chama que o consumia inteiramente... Então se tornavam UM com o Fogo Divino.
Os sufis costumam procurar no Amor, na Harmonia e na Beleza, o Criador. Soravardhi dizia que os primeiros lampejos de Sua Presença surgiam como pequenas estrelas no véu da noite. Piscavam aqui e ali e a Luz ia aumentando à medida que o coração do fiel se abrasasse no fogo do Amor! Até que se uniam numa só chama que o consumia inteiramente... Então se tornavam UM com o Fogo Divino.
Sinto que
estamos por ai mergulhado nessa noite... E que de vez em quando apagamos nossa
luz e, quando a acendemos, trombamos com outros corpos celestes que estão também
com suas luzes apagadas. Afinal, tratando-se dos seres humanos, temos liberdade
para acender ou apagar nossa própria luz.
De vez em
quando o lume de alguma estrela clareia a outra que, por algum motivo, tornou-se
obscura, embora isso possa fazê-la mergulhar ainda mais na escuridão. Pois que
é comum a gente se apegar ao sofrimento.
Mas é um perigo querer impor ao outro os clarões da nossa verdade. Afinal cada um, em silencio, vive seu tempo de
pirilampo.
sábado, 7 de abril de 2012
Tathiana, um belo espetáculo!
Assistindo ao espetáculo de Deborah Colker, lembrei-me do Rolf Gelewisk ...
Dançando
sentimentos
Maria J Fortuna
Doces angélicas perfumavam o
ambiente, enquanto uma chama ardia no canto da sala, perto do espelho que
reproduzia sua luz. Havia muitas outras flores enfeitando o ambiente.
Estávamos ali, numa sala de Yoga em BH, esperando nova apresentação de
Rolf, o feioso e genial bailarino alemão, que escrevia mensagens com o corpo.
E elas transmitiam tal beleza, que tudo que importava era não deixar que nenhum
dos seus movimentos se perdesse aos nossos olhos. O verbo dançante
expressava as luzes do coração naquele moço magro, alto e silencioso, de andar
manso, que agora abria os braços e o recolhia, lançando-os para cima e para
baixo em arcos melódicos, explorando o espaço exterior e interior. Havia
linguagem de sofrimento e de alegria presentes. Os cabelos de Rolf
movimentavam-se como crina de cavalo em trote acelerado. Vestia apenas uma calça
azul claro e dançava descalço. A platéia silenciosa estava completamente
extasiada!
Refletindo
sobre o acontecimento, sinto que tornar o corpo belo na dança, é propósito do
coração. O milagre ocorre quando em perfeita comunhão da alma com o Mistério.
Logicamente em estado de criança, quando permite a transparência do ser,
que aí se torna visível para os que tem olhos de ver. O movimento que
brotava daquele corpo, expressava o que ía dentro do seu ser. Em cada
gesto, a presença sutil das emoções. Dançar a saudade, o conflito, o
desespero, era algo inédito para todos nós na escola de Yoga e das
outras tradicionais com danças coreografadas. Os bailarinos
ficavam estupefatos e encantados com as apresentações de Rolf Gelewski.
Até então, só conhecíamos a revolucionária Isadora Ducan, que quebrou as regras
do clássico. Nós, da dança contemporânea, conhecíamos Martha Graham. Mas
ainda havia coreografia na dança de ambas. No entanto aquele bailarino
alemão, corajosamente, deixava o coração falar mais alto e se perdia no
perigoso caminho da liberdade! Corpo, espaço e tempo... Silêncio
meditativo. Havia uma relação harmoniosa entre o som e os movimentos. Rolf
dançava sua poesia:
“Dá
tua Luz/dentro deste corpo/Dá/Rogo Tua Força/Rogo/Dá/Sê/Tu mesmo/Este Corpo.”
O
acesso ao trabalho pedagógico e artístico de Rolf Gelewski é muito difícil.
Grande parte está contida na memória poética daqueles que conviveram com ele.
Textos e apostilas estão dispersas nas mãos dos ex-alunos. A Casa de Sri
Aurobindo, nome do seu Mestre, na Bahia, tem uma coletânea de alguns dos seus
textos. Ali está sua contribuição teórica quanto a métodos didáticos, com
grande grau de aprofundamento e detalhamento nas questões essenciais,
para ensino e criação em arte. Não existe trabalho de divulgação destas
obras. Temos apenas um livro didático de sua autoria: Ver, Ouvir e
Movimentar-se. Outras publicações estão em revistas daquela época, mas sua obra
carece de uma pesquisa intensa, para que seja resgatada. Afinal Rolf era um
bailarino incansável, contribuindo para a formação de outros grupos de
profissionais. (Informação conseguida através da tese de Juliana Cunha
Passos: “Rolf Gelewski: da improvisação estruturada à dança criativa e
espontânea”, UNICAMP.
terça-feira, 3 de abril de 2012
Os desgarrados
Desconheço a autoria da foto
Maria J Fortuna
Eles estão por toda parte - os desgarrados. Suas almas habitam corpos de diversos tipos de raça: branca, vermelha, amarela, negra. No Brasil são miscigenados. Marcam presença no mundo inteiro. Desconfio que sempre estiveram por aqui. Suas identidades se convergem, apesar de ser muito difícil um encontro de dois deles. Esta é uma de suas maiores dores. A luta é a mesma: o dobro do que é pedido a um ser humano pela sua sobrevivência. Vivem numa espécie de ringue, onde lutam contra o absurdo de suas próprias existências. Não sabem por que suas almas foram marcadas com o mesmo carimbo: DESGARRADO, que quer dizer desviado do rumo, segundo o Aurélio.
Costumam passar a noite inteira andando pra lá e pra cá como zumbis. Tudo por causa dessas lutas que parecem, aos olhos dos outros, fantasia, mas dentro deles existe sim e os faz sofrer. Parece que nascem entre o equívoco divino e o mundo que chamamos de real. Exatamente na fronteira entre um e outro, e ali permanecem até o fim, desejando um encontro inesperado que lhes traga conforto em sua dor. Mas a chance do encontro entre eles é mínima. Desde que todos têm medo de revelar-se à pessoa errada e sofrer triste decepção. O outro pode não ser um desgarrado e rir dele.
Quando criança gosta de ouvir calado o que falam dele e dos outros. Enxergam e cheiram a falsidade muito cedo, porque são muito ligados à consciência da verdade. E aprendem que expressar-se livremente é perigoso. São quase autistas, mas uns chegam a ser cômicos, para disfarçar seu medo. Cativam as pessoas para que os deixem em paz, mas sem esperança de que possam ser revelados e compreendidos. Têm aversão a causar sofrimento aos outros, incluindo animais e plantas.
Há neles ânsia de procurar a vida inteira pela alma quase gêmea, independente de sexo. Pé na realidade, outro na chamada loucura, pode-se notar de cara, que são tímidos. Isto se justifica pelos muitos anos de pressão, para que enxerguem uma realidade que não seja a sua. São frágeis para aguentar os horrores da maledicência, o barulho do ódio e seus ressentimentos. Vergam-se como bambus ao vento, até que passe a tempestade. Ou se protegem como bicho caracol. É sempre muito difícil, para eles, conviver com pessoas agressivas. É mais fácil acostumar-se com os que são comprometidos com alguma causa, sem exageros. Mas sempre estão em busca de uma causa maior.
Afinal por que existem os desgarrados? Faz parte do mistério. Não adianta sondar o Desconhecido. Talvez para provar que a vida é possível para todos, em qualquer circunstância.
Até para aquele que só pode mostrar superação a si mesmo, em sua dor existencial solitária e silenciosa.
Fora discursos científicos que falam sobre hereditariedade, química hormonal, etc. Penso que, em algum momento, o Criador cansado de sua própria perfeição, resolveu manifestar-se numa tela surrealista e o desgarrado nasceu!
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