Maria J Fortuna
O vento indelicado, que sopra sem endereço,
é capaz de despetalar uma rosa num segundo. O
tempo é o vento, bem ou mal- humorado,
que vai fragilizando o corpo e fortalecendo a alma de quem se interessa em
desabrochar nessa nossa jornada pela Terra. Um dia, fatalmente,
sentiremos a erosão que se anuncia com dor nos ossos, mesclada ao desejo de ser
feliz, apesar de tudo. Aí
seria muito bom que evitássemos a exposição às grandes tempestades emocionais,
que trazem conflito entre nós e as pessoas que dividem conosco as fatias do
tempo. Mas isso é tão impossível quanto deixar de questionar o que fazer quando
as últimas pétalas da rosa caírem.
Não confundindo fragilidade com fraqueza,
penso que nós, seres humanos, somos um eterno desconhecido de nós mesmos, até
quando o corpo se cansa de caminhar nas multidões ou nos desertos da
vida. Os mais prudentes ou
corajosos, conservam a lanterna interior acesa, o que alguns chamam de lucidez.
Mas a grande maioria, em suas fragilidades, alimenta-se de crenças e dogmas que
os mantêm longe do Desconhecido. E sem ele a vida não mantém o significado do
amor e da esperança.
Temos a pretensão de achar que
conhecemos o outro e isso é ilusório. É próprio de quem desconhece a si mesmo, e, portanto, não tem hábito de
se auto acolher na sua própria humanidade.
Isso se reflete em nosso comportamento para com o outro. Então sentimos também a fragilidade
dos nossos relacionamentos. O outro precisa de tanto de socorro quanto nosso próprio eu, em sua
visão de mundo e do que dele recebe. Muitas vezes alimentamo-nos das cinzas de
nossas divergências pessoais associadas ao medo do amanhã.
A consciência da inutilidade do ódio e do
ressentimento é um grande começo para conseguirmos paz e tranquilidade, por mais
fragilizados que estejamos! Vide Nelson Mandela, por exemplo. A luz e sombra que trazemos em
nós, confrontam-se no dia a dia, com as luzes e sombras de nossos semelhantes,
invariavelmente! Bom seria se uníssemos nossas fragilidades para nos fortalecer
mutualmente. Então
veríamos, claramente, que tais ressentimentos não acrescentam, mas, pelo
contrário, subtraem os melhores momentos de acolhimento em relação às pessoas
que poderíamos ter conhecido recebido e amado verdadeiramente. E, se
insistimos nos estados de sombra, nossa fragilidade natural aumenta. Daí o
recomeçar da luta onde o pobre corpo nega-se a receber as reclamações da alma e
não faz o necessário movimento de mudança. Fica apenas entregue às suas
fragilidades a ponto de sentir-se inseguro na possibilidade de ver-se livre de
uma culpa recorrente. Vai se tornando uma segunda pele... Tomamos a então
consciência de que o ressentimento e a culpa dão mais segurança às pessoas que o amor.
Isso é terrível! Libertar-se desse esquema, é ficar sujeito ao amor. Daí tudo
recomeça...
Tem tanta flor bonita e formosa para
colher, porque preferir as que grassam no pântano das fofocas e discussões
estéreis? O res sentimento é cinza que pode se solidificar com as
lágrimas de vãs lembranças, feito uma argila preparada para algum uso. Por que então insistir em
mantê-lo dentro de nós? Por que tudo isso acontece se acredito que nem racionais
somos? Somos sim, movidos
pela compara-ação. Ou
ação de se comparar o tempo todo. Acostumamo-nos
ao barulho do consumo compulsivo, que
traz enorme vazio interior, incapaz de nos amparar e ajudar a deter o inútil
fluxo da nossa insaciedade. Será
que não há coisa melhor que nos sentirmos
o tempo todo melhores ou piores do que o semelhante? Por que não nos
compararmos com nós mesmos quando passado um momento, dia, mês ou ano
atrás?
Viver é estar em estado de graça e de
perigo concomitantemente. É sentir esta mutação constante de todas as coisas e
não congelar dentro de si, ressentimentos e culpas para que nossa trajetória
não se torne inútil. É
reconhecer a fragilidade do corpo e as infinitas possibilidades da alma. Tal
reconhecimento renova-nos o potencial de criatividade. Daí aceitamos a presença
do Desconhecido. Assim nos
expressaremos como criança, na fragilidade de nossos corpos, fortalecidos pela
simplicidade do verdadeiro espírito. Pois
que se não me parto, quebro ou diluo, nessa vida, não permito que a luz me
penetre e me mostre quem realmente sou.
5 comentários:
Amiga amada, que retrato esato você faz com suas palavras, deste nosso tempo na terra, a luta entre o corpo e o espiirito que nunca estão na mesma medida.
Obrigada , bjs, monica
Sim, amiga, nunca estão na mesma medida... Você disse tudo!
Eliana Luppi, por email:
Muito linda sua crônica. Simples, verdadeira e bela! Parabéns amiga.
Constatada a fragilidade, já estaremos inseridos no Desconhecido, prontos a usufruir da gratuidade Divina.
Beijo.
eliana
.........................bom dia sempre,amiga!....gosto muito da sua Crônicas!....na volta da minha viagem conversamos maissssssssss!....fique com Deus!....beijinhosssssssssss
Marilia Taffarel, por email:
Mariinha,
reflexoes mto oportunas.
bjs
Marilia
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