Maria J Fortuna
Seu corpo estava prostrado no sono
das velhas estrelas quando o amor chegou. Não tinha forma definida. Chamava-se assim, era o que bastava. Não
interessava o corpo que o conduzia. Estava vestido de rosa, mas em seus afagos,
ela sentia a presença do vermelho e isso também bastava ao seu corpo de setenta
anos. Não era santo como o amor de Jesus, mas era tão humano e carente quanto
ela própria. Tão repleto de estigmas quanto aqueles que marcaram seu próprio
coração. Não era tão azul como a sinfonia de Chopin, mas tão claro e simples e
alegre quanto o trenzinho caipira de Villas Lobo. Tão receptivo ao carinho quanto
à sensitiva dos campos.
Chegou assim tão devagar e apalpando
como cego, seu corpo entregue ás manias do tempo. Aquela em especial de amassar
as folhas, animais e pessoas e torná-las enrugadas, mas deixando um perfume de
boas lembranças espraiadas nas mentes cansadas, como refrigério. O importante é que o amor também tinha corpo
e dentro de si mesmo desejava aquele encontro tanto quanto ela própria. Não
fosse o medo não teria se ausentado durante tanto tempo... O medo é um polvo
transparente que aperta o coração com seus tentáculos impedindo a liberdade do
ser no ser.
O amor sondou sua pele com caricia
cuidadosa como o contato dos primeiros raios de sol da manhã. E, aos poucos, foi-se manifestando de forma
ousada, como tanto ela desejava e não sabia. Talvez soubesse, mas fechava as
portas aos sentidos, num exercício lento e doloroso, achando que dessa forma
poderia privar-se do vexame de amar daquela idade. Então seu arfar constante no
peito, deixou escapar um monte de borboletas azuis. Sentia-se desejar sendo
desejada de forma tão gratuita quanto
criança diante de algodão doce, no primeiro dia de visita ao circo. Tão
lúdico aquele momento, tão perfumado quanto os mais saborosos quitutes da vida.
E retribuiu todas às caricias do amor.
Sua pele transformou-se no pêssego
dos seus primeiros anos. Seus seios tornaram-se cheios como dois frutos sazonados
e suculentos, não importando há quanto tempo amadureciam na árvore. Sua
respiração acelerava enquanto o calor daquelas mãos amorosas despertavam todos
os seus fios de cabelo, seu sexo e os sonhos soterrados na dor do
preconceito. O tempo espreguiçou-se
dentro de si mesmo e os relógios pararam. E ela amou o amor que, beijando-lhe a
boca, soprou-lhe segredos. Um deles é que, além de atemporal, seu nome em todas
as formas de manifestação, é sempre o mesmo: amor! E que ele é uma criança
simples e despojada, tendo como única alegria o aconchego, de corpo e alma,
daquele que ama. Não importa os machucados do tempo. E que não deixa marcas dolorosas, só à
lembrança de doces prazeres.
Não foi preciso dizer mais nada até que,
em risos e gemidos, fundiram- se naquela noite... E seu corpo, tão cansado, prostrado
no sono das estrelas despertou, e a deixou assim: feliz e agradecida. Mesmo
depois que o amor foi embora...
8 comentários:
Muito bom o texto.
para mim
Recado de Norália de Mello Castro, que nunca consegue entrar no blog para comentar:
Fui lá. Li. Achei um belo poema. Muito belo. Parabéns. Norália
PS. realmente não acerto as letrinhas que exigem...credo... tento tento e nada sai...
Norália
Comentário de Beatriz de Oliveira, por email:
parabéns por essa bela crônica!!!!!!!!!!
Eu adorei.
Desejo que todas as pessoas sintam esse amor e, como diz Victor Hugo:"Desejo, primeiro, que você ame,
e que, amando, também seja amado............
.Desejo por fim que você, sendo um homem, tenha uma boa mulher,
e que, sendo uma mulher, tenha um bom homem
e que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte,e quando estiverem exaustos e sorridentes,
ainda haja amor para recomeçar."
Obrigada pela crônica..............ótimo fim-de-semana,
Beijos, Beatriz
Roseli Batista, por email:
Prezada Maria,
OBRIGADA PELO SEU TEXTO QUE ME DEU UNS INSTANTES DE SORRISOS SERENOS E SOZINHOS APARENTEMENTE, POIS EU ESTAVA COM A SUA PERSONAGEM.
Os poucos paragrafos que li de "A visita do amor" carregam consigo a atraçao da escritura de um narrador que mistura o romantismo - nao piegas - com o realismo - nao incisivo nem brusco.. Até nele ha delicadeza, ha o chamado insistente para que a veia sentimental do leitor seja tocada e que caminhe com ele - o narrador - nas surpresas da criaçao das imagens inusitadas. E como uma primavera surgindo. Encontrei no texto uma escritura feminina, rosada, algo melancolica, mas tendendo ao otimismo. Eu nao diria que você terminou de achar o seu estilo, mas que o esta buscando ainda para ser uma grande escritora, mas que essa busca é um deleite. Nao so para você, mas para seu leitor. Posso pedir que continue buscando?( e me enviando algo diretamente por mail, ja que nao tenhgo acesso às livrarias brasileiras).
de Roselis BATISTAR
PS também estou na REBRA, às vezes coopero com Varal do Brasil;
sou poeta, moro e trabalho na França. Vou dar um trecho de seu texto aos meus alunos universitarios.
meu outro mail
roselis.batista@univ-reims.fr
Roseli Batista, por email:
Prezada Maria,
OBRIGADA PELO SEU TEXTO QUE ME DEU UNS INSTANTES DE SORRISOS SERENOS E SOZINHOS APARENTEMENTE, POIS EU ESTAVA COM A SUA PERSONAGEM.
Os poucos paragrafos que li de "A visita do amor" carregam consigo a atraçao da escritura de um narrador que mistura o romantismo - nao piegas - com o realismo - nao incisivo nem brusco.. Até nele ha delicadeza, ha o chamado insistente para que a veia sentimental do leitor seja tocada e que caminhe com ele - o narrador - nas surpresas da criaçao das imagens inusitadas. E como uma primavera surgindo. Encontrei no texto uma escritura feminina, rosada, algo melancolica, mas tendendo ao otimismo. Eu nao diria que você terminou de achar o seu estilo, mas que o esta buscando ainda para ser uma grande escritora, mas que essa busca é um deleite. Nao so para você, mas para seu leitor. Posso pedir que continue buscando?( e me enviando algo diretamente por mail, ja que nao tenhgo acesso às livrarias brasileiras).
de Roselis BATISTAR
PS também estou na REBRA, às vezes coopero com Varal do Brasil;
sou poeta, moro e trabalho na França. Vou dar um trecho de seu texto aos meus alunos universitarios.
meu outro mail
roselis.batista@univ-reims.fr
Outro email de Norália de Mello Castro:
Parabéns, Mariinha, seu texto merece mesmo. É de uma delicadeza impar, e sua crònica eu li mais como poema, um belíssimo poema... Escrever tem disto, pode-se correr facilmente para o poema, ou vice- versa.
De Mirian Menezes de Olveira, pertencente a REBRA´pelo Face:
Olá, Maria J. Fortuna. Amei o pouco que pude contemplar de seu trabalho. Também sou membro da REBRA e fico muito feliz por ter aceitado meu convite. Forte abraço.
Luiz Alfredo Milecco, por email
estou encantado
lindíssimo
"gracias a la vida"
parabéns
la.
Postar um comentário