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domingo, 31 de agosto de 2008
Pausa de um mes

sábado, 30 de agosto de 2008
Eu odeio este homem!

Maria J Fortuna
- Eu odeio este homem!
Ouvi uma menina de pais evangélicos, aos cinco anos de idade, dizer quando um padre da Igreja Católica dava inicio a um programa de TV.
Ao indagar-lhe o porquê de tanto ódio, a criança respondeu de forma categórica:
- Ele está cantando a cantiga de Deus da minha Igreja!
- Mas... de Quem é mesmo a canção? Perguntei
- De Deus, respondeu mais que depressa.
- Mas se é de Deus não pode ser só de sua Igreja, falei surpresa.
- Mas é da minha Igreja, teimou a menina com as mãozinhas fechadas e a pequena boca comprimida em sinal de revolta.
- Quem manda na sua Igreja? Indaguei
- O Pastor, respondeu com firmeza
- E o Pastor serve a quem?
- O Pastor serve a Jesus, respondeu, já meio intrigada
- Bem, mas Jesus não ensina a odiar os outros, ensina?
A menina não sabia o que dizer.
E tentando ajudá-la a refletir falei pausadamente:
- Fiquei sabendo que Jesus ensina a amar...
Fingiu que não escutou e saiu dali um pouco confusa, o mais depressa que pode.
Uma legítima representante da nova geração de humanos fundamentalistas, pensei.
Se entre as Igrejas cristãs não existe paz, como teremos paz no mundo? O que são os budistas, mulçumanos e maometanos para os cristãos evangélicos? Católicos, sei – são idolatras, adoram santos. Mas e os que nem tem Jesus como Senhor Absoluto?
Vieram-me muitas perguntas. Perguntas que me chegavam de longe... Sobre as escolhas humanas e a trascendência...
Pensei nos conflitos do oriente médio. Os judeus e palestinos. Todas as guerras santas da história da humanidade e fiquei muito, muito triste...
Refleti sobre os seres humanos que não tem liberdade para pensarem por si mesmos. Que pertencem a uma casta ou religião dogmática, que os prepara desde pequeninos para acreditarem no que o clã os impõe. Ao nascer já estão entrando numa determinada forma, torcendo o nariz para quem tem outra linha de pensamento. Com o tempo vai nascendo o ódio por quem não reza na mesma cartilha.
Por que algumas pessoas dão tanto valor às coisas materiais e outras chegam a uma total doação de suas vidas por uma causa, numa percepção profunda de que tudo é transitório, só importando o espírito que é eterno e imortal? Como estas pessoas vêm isto?
Por que a cultura da Índia continua cultivando o desapego quando o mal do consumo da sociedade capitalista já invadiu aquelas terras?
Por que os tibetanos adquiriram a consciência do transitório enquanto o homem do ocidente continua pendura-se nas horas, minutos e segundos, procurando interromper o curso da vida - velhice e morte? O que aprende a criança cristã sobre a morte?
Por que na memória do budista está tão claro a efemeridade do apego às coisas matérias e a sociedade cristã se deixa sugar pelo consumo?
Como chegar a uma síntese destas duas coisas tão opostas – a materialidade ou espiritualidade nas sociedades se ambas estão doentes?
Como ter paz no mundo em que entre os próprios cristãos há divisões e ódios tão profundos?
Quando a ignorância será banida da face da terra? O preconceito, filhote da ignorância, está cada vez mais presente, sendo que pela lei da evolução humana já deveria ter sido extinto das diversas culturas.
A criança é como a argila mole que de repente toma uma determinada forma. A maioria, não tem como escapar do original. Ficará a vida toda daquele jeito, a não ser que a peça de argila, agora endurecida, caia e se espatife. E se isto ocorre, não pode mais recompor a forma de origem. Inicia-se o processo de mudança, encima do sofrimento, se tiver sorte.
Os excessivamente ligados à matéria, sofrem terrivelmente danos e perdas naturais da vida, muito mais que o segundo grupo. É como uma teia de aranha fabricada com pressa, por isto tão frágil que ao sopro do vento se rasga e nunca mais será a mesma. Os que vivem no dogmatismo sectário religioso, são como a aranha que prepara a teia para conseguir cada vez mais adeptos. Os que cultivam a espiritualidade, irmã da liberdade, não estão nem na teia nem na aranha, mas no sopro renovador que traz consigo a verdadeira paz.
O caminho do meio foi mostrado por Siddhartha Gautama – o Buda.
O equilíbrio, o não radicalismo, o não fanatismo. Um convite para o autoconhecimento.
Mas por que será que os cristãos não seguem o exemplo do seu Mestre – o caminho do Amor? E com isto da compaixão e da tolerância?
Alguns materialistas de carteirinha ressentem-se, cada vez mais, do vazio... Da dificuldade de lidar com este buraco que não tem nenhum significado – viver sem chance de vida pós morte. Outros ficam deitados na rede da aspiração, embalados por uma enorme frustração do não ter, que não tem nada a haver com o ser. Mas existem outros que trabalham pelo ideal de uma sociedade mais justa, mais equânime. Chegam a morrer por uma causa humanitária. Acho-os bem mais parecidos com Jesus de Nazareth em sua trajetória.
E por falar em Amor, fico muito triste ao ver uma criança de cinco anos, fiel representante da intolerância religiosa, multiplicada em milhares que existem neste mundo na mesma situação de intransigência. Este mesmo mundo que preparamos para nossos filhos no amor e na liberdade.
E neste tabuleiro de xadrez movido pelo fundamentalismo estão os grandes conflitos individuais, sociais, mundiais de que temos convivemos e temos diariamente noticias.
Experimentei uma sensação de impotência total e absoluta, frente aquela menina de cinco anos. Não há o que fazer, ou melhor, nada que se possa fazer vai demovê-la do caminho traçado por seus pais. Abominará aqueles que não crêem no que ela crê. E acrescentará ao seu rebanho, a grande massa a que pertence. E o ódio pelas diferenças crescerá cada vez mais dentro dela. Só sua Igreja poderá cantar a cantiga de Deus!
domingo, 24 de agosto de 2008
Tempo e Transitoriedade

Maria J Fortuna
Como tempo e transitoriedade são assuntos que sempre me fascinam tenho, no cerimonial de confecção das mandalas no Tibete, uma demonstração clara de que aqueles que procuram os mosteiros budistas desenvolvem a consciência do impermanente com a força do amor e da beleza. Portanto um referencial positivo para os que vivem naquela civilização milenar.
As mandalas são feitas de areia fina e colorida expressando o aspecto divino da temporalidade. Esta representação é central na arte budista. O Mestre orienta os jovens lamas a dedicar-se com afinco na execução da mesma. O gesto de construção deve ser cuidadoso e minucioso. Após sua realização, sem interrupções, a mesma é desfeita em ritual e lançada às águas do rio, que simboliza o movimento da vida.
Outra fonte fala-me que existe uma dança ritualística encima da mandala, que sendo de areia desmancha-se rapidamente sob os pés dos monges.
Quando eu era muito pequena, tive consciência da morte. Lembro-me que senti algo como uma enorme sensação de inutilidade, até na ação de brincar. Passei a ficar fascinada com a morte. Achava bonito morrer jovem e ia ao cemitério ler o que estava escrito na lápide de cada sepultura. Era bem estranho. O fato é que nunca ouvi de ninguém semelhante relato. Acho que dentro desta esquisitice toda eu queria dizer:
- Já que temos que morrer, por que não agora? Por que estudar, brincar, comer, dormir?
Mas nasci no ocidente onde existe o culto de permanência das coisas. Permanência da infância em que os filhos dependam dos pais o maximo possível. Permanência do emprego, porque perder emprego é uma ameaça quase como morte. Permanência da vida porque a morte é um castigo que o Demiurgo nos deu por ter comido a maça do Conhecimento. E do ponto de vista ainda mais religioso, a permanência do sofrimento. Tanto que nos lares católicos tem que haver uma cruz, símbolo do sofrimento maior do Filho imolado pelo Pai. Haja visto o sucesso da Paixão de Cristo de Mel Gibson distribuído insistentemente em livrarias, locadoras, bancas de revistas e casas de comercio de um modo geral e sabe Deus mais aonde.
A ressurreição de Cristo foi tão rápida, mas com sofrimento que não vale ficar lembrando... Talvez como reflexão. Mas o que ocorreu no cristianismo foi que quanto mais apegados a herança do sofrimento, mais mérito.
No entanto a nossa vida inteira é feita de impermanencias. De momentos que se desfazem rapidamente como brinquedos inúteis espalhados pelo chão sujo de nosso inconsciente. Pelo medo destilado em nossas células, pela procura do emprego estável, pela busca do prazer permanente. Enfim por toda uma gama de absurdos capazes de levar a nossa alma para o inferno! Parece que o mundo esta vivendo um momento de intensa prisão de ventre!
A ansiedade e a má alimentação (quanto mais sofisticada pior), esta levando as pessoas a reter o que, materialmente, existe de inútil em nossos corpos. No querer segurar o momento de prazer com medo de perder há uma retenção do curso da vida.
Meditar, construir mandalas, dançar a vida, soltar-se no Belo, passa a ser coisa de gente esquisita!
Oscar Niemayer na altura dos seus quase cem falou o seguinte:
- O mais importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar.
O que significa a memória de nossa historia pessoal para a humanidade? Absolutamente nada. Então é espantoso que durante esta nossa tão rápida presença no Planeta exista tanta preocupação em controlar o incontrolável. Como se o momento não fosse tão fugaz! Tão rápido e o tempo nos leva para longe com a mesma rapidez como as mandalas são desfeitas.
O importante é a dança realizada sobre elas. O movimento da vida. É a lição que este ato encerra.
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Lançamento do livro de Luiz Lyrio
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Foto lançamento 4 (foto de Rosana Furtado)- Luiz Lyrio ao lado de Neson Furtado e Cristiane Luíza, filha de Lyrio. Alexandre Vítor, filho do escritor, tira foto ao fundo.
Foto lançamento 7 (Foto de Nelson Furtado)- Luiz Lyrio e sua filha Cristine Luiza.
A mulher na crise dos cinquenta...
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Noelia, a pequena poetisa

Embaixo o endêço do blog de Clevane Pessoa
http://www.clevanepessoa.net/blog.php
Clevane Pessoal no Lual em BH

Lual de Poesia em Belo Horizonte - Clevane Pessoa
Atenção!

sábado, 16 de agosto de 2008
O caso da sepultura

Maria J Fortuna
Pensando como iria realizar meu sonho de consumo - um notebook, lembrei que tenho um “lote” no Bosque da Esperança, um cemitério em Belo Horizonte. Fiz o levantamento do preço do “imóvel” e deu mais de quatro mil reais... Com minha nova opção em ser cremada, decidida há uns anos atrás, e a mudança para o Rio de Janeiro, resolvi negociar com o Bosque para ver se eu conseguia, com a venda da cova, ter dinheiro para comprar meu objeto de desejo.
Busquei meu cartão de proprietária, com todas as prestações de condomínio devidamente pagas. Um “imóvel” para alguém que ficará imóvel mesmo, sorri e telefonei para a diretoria do estabelecimento funerário.
- Alô!
- Se senhora... Respondeu uma voz de além túmulo.
Existe voz de cemitério ou por coincidência o homem tinha aquela voz de fim da linha? Perguntei a mim mesma.
- Senhor, gostaria de uma informação, falei meio ressabiada.
- Sou todo ouvido, ecoou a vós cavernosa no fone.
- É que tenho uma sepultura ai no Bosque....hehehe , sorri desconcertada, achando-me idiota por estar tão “cheia de dedos”
- Várias pessoas têm sepulcro neste estabelecimento, interrompeu-me a voz estranhíssima!
- Com certeza, senhor. Mas gostaria de saber o que fazer para vendê-lo, indaguei de pronto.
- Mas como? A senhora quer vender sua última morada?
- Sim, por quê? Indaguei achando que o sujeito não deveria se meter nisto.
- Saiba que tem gente que passa a vida pagando este futuro conforto.... E tem gente que é jogado numa vala da prefeitura para indigentes... Com sua licença a senhora tão privilegiada, ainda assim quer vender seu “imóvel”
- Sim, por que não? Não quero este tipo de “conforto” senhor...
- Pense bem, senhora... Sabe mesmo por que deseja realizar este ato talvez impensado?
- Senhor, deixe-me falar... No momento atual eu sou contra sepulturas, o senhor tem alguma coisa contra eu virar pó? Indaguei mais irritada ainda.
- Como? Pó? A senhora quer dizer cinzas... Mas sepultada, um dia a senhora vai virar cinzas, com certeza. Os ossos são fraquinhos... Vão se quebrando... Depois da retirados...
- Não quero saber de osteoporose cadavérica, senhor. Quero apenas vender meu tumulo.
- Mas senhora...
- Eu quero ser cremada! O senhor compreende agora? Já tratei dos papeis.
- Hum... Então por que comprou o sepulcro no Bosque? Não temos este serviço... E se eu fosse a senhora não faria isto, insistiu.
- Não faria isto por quê?
- Porque o defunto sente a cremação... Falou com uma voz mofada.
- Senhor, se o defunto sente ou se não sente o problema é meu... Respondi, começando a suar com aquela conversa fúnebre, afinal eu serei o defunto...
- Desculpe-me senhora, como espírita tenho obrigação de lhe alertar... Continuou o homem, que parecia muito velho.
- Eu agradeço muitíssimo, respondi, mas... O que ele queria dizer com aquilo? Como espírita devia saber mais do que eu... Será que eu deveria vender minha sepultura mesmo?
- O que o senhor quer me alertar? Indaguei já meio ansiosa pela resposta.
- Que se a senhora insistir vai acabar se repetindo o terrível episódio do Manoel da Nóbrega...
- Que terrível episódio? Eu assistia quase todos os seus programas na Praça da Alegria quando menina, indaguei curiosa
- A senhora não sabe? Mostrou-se surpreso e continuando... - Pelo tempo que ocorreu o fato os que sabem do episódio se ainda não desencarnaram estão por desencarnar....
Eu me senti quase uma múmia.
- O que aconteceu com o homem, quer dizer com o cadáver do homem, senhor? Interrompi, cada vez mais curiosa...
- O falecido comunicou-se com um médium que psicografou toda sua agonia no sarcófago durante a cremação... Pigarreou.
- Mas ele não estava morto, senhor? Indaguei já me sentindo um frango no espeto, ou com mais dignidade, a própria Joana D´Arc
- Os mortos saem muito devagar dos seus corpos... Falou com uma voz mais pra murmurante... Para não dizer apavorante!
Eu estava completamente arrepiada e louca para terminar aquele papo de além tumulo! Ufa! Que conversa difícil!
- Senhor, diga-me o preço da sepultura e se pode vendê-la para mim por um preço mais barato que as que estão em oferta, só isto.
- A senhora continua insistindo depois de tudo que lhe contei? Indagou com tom de frustração caquética. E completou:
- Não vendemos tumbas antigas, senhora.
- Mas como antiga, se ainda estou viva? Isto quer dizer que nem foi estreada!
- Mas pode ser a qualquer momento... Um frio me escorreu pela espinha...
- Então se eu não quero mais ser enterrada, quem vai enterrar-me a força onde não quero senhor?
- Se não tem parentes, pessoas piedosas.... Respondeu, com voz embargada assoando o nariz como se tivesse chorado. A senhora tem que deixar tudo por escrito.
- Não pretendo partir agora, senhor, retruquei
- A senhora não sabe... Falou raspando a garganta.
Devo estar tendo um pesadelo, só pode, pensei arrepiada
- Fim de conversa, senhor, eu só gostaria de saber se não há esperança do Bosque da Esperança vender minha sepultura. Vou anunciá-la no jornal.
- Mal lhe pergunte, a senhora mudou para o Rio de Janeiro?
- Sim, mudei. Por quê?
- Mas tem casa aqui em Belo Horizonte, continuou soturnamente.
- Sim, tenho. E daí?
- Por um acaso a senhora sabe onde vai cair morta?
- Com esta eu desisto, senhor... Suspirei. Como é mesmo seu nome?
- Jeová...
Bati o telefone perplexa. Até hoje estou sem notebook.
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Lançamento do livro de Luiz Lyrio

terça-feira, 12 de agosto de 2008
O conflito

Carecia de definição. Coisa que a alma busca toda uma existência. Havia dois homens em sua vida. Pelo menos o fantasma deles. Um era seu pai, símbolo de castração. O outro era Jesus, Homem Deus assexuado. Foi assim que lhe ensinaram. Deste jeito assimilou estes conceitos, mesclados de forte sentimento de dor e impotência diante do macho. Sugou e engoliu isto, junto ao leite de sua primeira mamadeira, já que o seio materno lhe foi negado.
O preço para encontrar Deus era abster-se da vida no sexo. O homem ou era animal violento, ou um ser divino e inalcançável.
Cresceu sentindo dores atrozes, provocadas por esta ferida aberta no coração e no sexo. Sofreu com a auto-sentença: jamais encontraria um ser , espiritualmente hermafrodita, que apenas lhe lambuzasse o sexo e não a penetrasse de forma alguma.
Meninos não brincam com meninas, porque são estúpidos e grosseiros. Assim lhes foram apresentados por suas tias solteironas.
Haveria sempre um véu sutil, aparentemente transparente, entre ela e qualquer homem. Mas havia certo fascínio pelos meandros misteriosos que se passavam no corpo e na alma do macho, que era sempre grosseiro e indecente, mas livre.
Olhava a mão dos homens. Se houvesse aliança, a mão era imunda, indecorosa, tinha licença para percorrer o corpo feminino até as mais proibidas partes.
Talvez o homem ideal estivesse num seminário. Lá os varões eram abstêmios de sexo. Viviam em oração. Sonhavam tornarem-se santos. Dormir com um santo seria sossego para a menina de pernas trançadas para proteger sua vagina e um rombo doloroso. Sofria de repudio a idéia de ser penetrada, mas ao mesmo tempo sentia o hímen como algo que sufocava sua liberdade de ser.
Até então melhor ser virgem como a Virgem, Mãe do Homem que salvara o mundo sem usar seu aparelho genital. O sagrado não podia se fundir ao profano.
Padecia de pecar contra a castidade, o tempo todo vigilante, pelo tema recorrente perturbando a mente todos os dias. Com isto sentia-se pendurada na cruz da autopunição. Não sabia o que fazer com a flor do sexo desabrochando em seu corpo.
Ninguém pensava mais em sexo do que aquela garota! Ou será que suas contemporâneas não viviam o mesmo drama?
Quando criança, vestida de anjo nas procissões, sentada no altar dos santos, morria de vergonha de si mesma, por não ser um anjo verdadeiro. Eles são puros, assexuados, pensava. Sou um falso anjo sujo. Estou enlameando o altar com mau cheiro. Aquilo era um sacrilégio!
Na realidade só tinha permissão de brincar e dormir com as primas da mesma idade.
Era tão incomodo ser mulher que resolveu fantasiar-se de homem. Percorreu com o pensamento às escuras ruas de sua cidade buscando outras mulheres. Assim o fazia seu irmão, que suscitava grande inveja em seu coração. Podiam até ser contaminados por doenças, mas eram livres para procurar aquelas mulheres proibidas. E quanto mais proibidas, mais fascinantes!
Projetava-se nos homens que buscavam as prostitutas que eram encontradas por eles. Descobriu que elas faziam tudo que eles queriam e desgostou-se delas. Mas talvez fosse bom consolá-las no desespero de deitar-se com homens imundos!
A mãe nunca lhe foi modelo. Era santa. Sofreu o martírio da relação com seu pai só para parir filhos. Portanto preparou-se para ser mãe e não mulher. Apesar de temer a dor de botar um filho no mundo.
Motivo de grande vexame foi a primeira menstruação. Sangue quente descendo-lhe da vagina virgem e aquele ridículo absorvente entre as pernas. Enquanto ficava corcunda de tanto esconder as mamas que despontavam rapidamente como no mamoeiro do quintal de sua casa.
Foram muitos momentos solitários de grande humilhação! Por que orgulhar-se de sua condição feminina? O que havia de interessante em ser mulher? Por que despertava interesse dos homens quando passava na rua, apesar de encolher o corpo, procurando fechá-lo todo como fazia uma planta sensitiva? Sonhava que, num passe de mágica, poderia dar sumiço as suas indecorosas curvas. Ver desmoronar todo o trabalho do tempo. O que menos queria era transformar-se em isca fácil para vorazes machos sedentos.
Diante do espelho não podia dizer-se feia. Muito pelo contrário, ela era uma linda e esquiva boneca de carne!
Um dia combinou um encontro com o coroinha da igreja, a fim de acabar com a virgindade mutua. Foram para um apartamento do amigo dele em Botafogo. Mas nada ficou resolvido. O rapaz era incompetente para solucionar o problema. Ele tinha duvidas a respeito de sua masculinidade. E a tal duvida o atormentava, confessou. Tornaram-se cúmplices do mesmo segredo.
Como iria resolver seu próprio teorema existencial? O desfoque total de sua natureza feminina diante do mundo?
Cortou suas lindas madeixas castanhas e vestiu uma blusa masculina azul com jeans e tênis branco. Não era feminina, mas era linda!
Com o passar dos anos outra menina, com o mesmo problema de identidade, tornou-se amiga inseparável. Juntas, descobriram o quanto eram capazes de sentir prazer. Debruçadas uma sobre a outra, cheias de desejo, exploravam reciprocamente seus corpos. Não havia plenitude, mas ternura. Falavam a mesma linguagem e procuravam, no fundo do poço de suas almas, o que poderia completá-las. Meteram-se em buraco fundo. Atoladas nos preconceitos do mundo.
O pai ficou sabendo da relação. Jurou matá-la se a encontrasse com a parceira. A angustia a sufocava. Dilacerava seus intestinos. Com o tempo começou a usar drogas.
Desnutrida, sem sentido para a vida, levaram-na a um psiquiatra. Nada feito. Tentou escapar do mundo de qualquer jeito. Sentia que, com ela, tudo estava errado. Mulher tem que gostar de homem. Mas o que fazer se gostava de outra mulher?
Mas e a família, o futuro emprego, a sociedade de um modo geral?
Depois de longo tratamento com psicotrópicos declarou-se curada. Vestiu uma roupa sensual, calçou sapatos altos, pintou os lábios, recuperou seus longos cabelos e adquiriu uma estranha postura, nada convincente, de que havia se transformado no que os outros queriam que ela fosse.
Não demorou muito para eu ficar sabendo que a garota havia morrido sem encontrar seu lugar no mundo. Os pais choravam, o irmão desesperava-se e os parentes enumeravam suas virtudes e teciam belos comentários a seu respeito. Outros evitavam falar qualquer coisa a respeito do que tinha sido sua vida. Havia vários rostos, várias máscaras. Algumas até bonitas, mas imóveis, como no carnaval de Veneza.
Eu fui ao velório. Ela estava vestida de cor de rosa.
2007
sábado, 9 de agosto de 2008

quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Insônia
Ouço todos os ruídos em som alterado. Todo ruído, por menor que seja, é interpretado como possível ameaça! É a hora da solidão vestida de madrugada. E o que significa esta senhora quando não conseguimos dormir?
Ouço o barulhinho irritante de um mosquito que parece preso entre os lençóis na cabeceira da cama. Depois de xingar , sacudi-los com força, liberto o inseto e constato que ele não saia dali porque estava preso. Foi a primeira vez que senti pena de um mosquito!
Há um zumbido em meus ouvidos que pulsam como se o coração estivesse dentro de cada um deles . É a percepção do silencio que se faz como um véu derramando-se sutilmente na escuridão desta fatia da Terra que se fez noite, testemunhada pela lua. Podia ser um momento para meditação ou para uma prece. Podia ser um momento para a leitura e para escrever algo como o faço agora, mas daqui a pouco sei que estarei com a mente exausta, dolorida e com aquela irritação própria das pessoas insones.
Não posso negar que é hora de dormir, mas que a solidão vestida de medo machuca minha alma e por isto não consigo confiar nos dias que virão. Todos eles serão dias sem ninguém por perto. Como uma criança sem seio para mamar. Perdida no meio da multidão procurando pela mãe. Como uma mulher sem amante para aquecer seu corpo. Como um pássaro sem ninho ou como um animal que perdeu o contato com seu grupo.
Fico pensando em quantos companheiros de insônia moram dentro dos prédios das grandes cidades... Quantos estão vendo TV , mordiscando qualquer coisa na cozinha. Abrindo e fechando geladeira...
A cidade a estas horas está cheia de mendigos que dormem. E parece que dormem bem, com toda ameaça dos incendiários que rondam seus corpos cansados, doentes e sujos. Será que existem mendigos que sofrem de insônia? Muitos dormem anestesiados pelo álcool em total falta de perspectiva para o dia seguinte.
Será que os políticos conseguem dormir? Ou dormem a custa de remédio tarja preta? Dificil dormir quando roubam milhares de brasileiros...
Há uma mãe caindo de sono para ficar com o filho que insiste em brincar no meio da noite. E o marido que trabalha a noite e não vem para casa lhe fazer companhia.
Há um movimento da natureza que descongela nos pólos e aumente o volume dos oceanos comprometendo a vida no planeta.
Não muito longe a guerra dos traficantes entre si e com policia, a guerra no Iraque, Palestina, Israel...
Se a quietude da paz lubrificasse as cordas do meu coração como o azeite nas cordas dos relógios, eu estaria entregue nos braços da Confiança e certamente dormindo apesar do barulho de dentro e de fora... Se eu pudesse...
sábado, 2 de agosto de 2008
Agora a capa da Sementinha que não queria brotar

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O pardalzinho desconfiado foi lançado este ano de 2008. Ilustrado por Josias Marinho, pela Editora Mazza, seu lançamento foi no Parque Municipal de BH (MG). Uma festa linda apesar da chuva.
É um livro que coloca o leitor diante do fenômeno mistificação. Geraldo Eustaquio de Souza quem prefaciou o livrinho chama a historianha de parábola para adultos.
Tenho alguns deles comigo. Quem se interessar mande-me um email para mjfortuna@terra.com.br

Este livrinho foi escrito na década de 2000. conta a história da minha filha Maria Fernanda que aos 3 anos de idade fez amizade com o temido e mal encarado carcereiro que morava na vizinhança. Este homem nunca havia sorrido até que encontrou Fernandinha.
Também disponho de exemplares para quem interessar por ele. É só mandar um email para mjfortuna@terra.com.br


sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Blog recomendado
biorege.weblog.com.pt/.../12/os_guardadores.html
Viagem a Portugal com A sementinha

Por isto pensamos em um laboratório onde a criança terá participação ativa no seu próprio processo de compreensão na importância de preservar, deixar brotar, ajudar a nascer, se possível for, o ser vivo que está diante dela. No caso da nossa historinha – a sementinha medrosa, que não queria correr riscos de ser atingida pelo lado destruidor do homem que devasta tudo de bom que o cerca. Ao mesmo tempo estimular o sentimento de confiança e esperança em si próprias no reconhecimento desta interdependência : ser humano x natureza.
Ajudar a criança a vencer seus medos, a deixar seu momento nascer, apesar de tudo. A florir e frutificar.
Acho que este livro pode ajudar a criança a alcançar estes objetivos.
Por isto pensamos em um laboratório onde a criança terá participação ativa no seu próprio processo de compreensão na importância de preservar, deixar brotar, ajudar a nascer, se possível for, o ser vivo que está diante dela. No caso da nossa historinha – a sementinha medrosa, que não queria correr riscos de ser atingida pelo lado destruidor do homem que devasta tudo de bom que o cerca. Ao mesmo tempo estimular o sentimento de confiança e esperança em si próprias no reconhecimento desta interdependência : ser humano x natureza.
Ajudar a criança a vencer seus medos, a deixar seu momento nascer, apesar de tudo. A florir e frutificar.
Acho que este livro pode ajudar a criança a alcançar estes objetivos.
A viagem

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