
Maria J Fortuna
G.Klin
O adolescer é um período de muita estranheza entre os jovens. As transformações corporais, o ganho em hormônios, o desejo de viver em grupo, a cobrança da sociedade, são fenômenos universais. Mas quem disse que com a chegada da terceira idade, este sentimento de estranheza não se repete? Há uma indiscutível semelhança entre uma e outra etapa da vida, no que concerne às transformações biológicas e sociais. Nas duas vivências, medo, insegurança e enfrentamento com o desconhecido, estão presentes numa e noutra etapa. Nas duas, há perdas e ganhos. Mas enquanto, interiormente, a sutileza é grande, no exterior a coisa se manifesta de uma forma abrupta e não há quem não veja!No adolescer, o espírito da infância ainda está muito presente. Com isto há uma que indefinição, que é observada, por alguns, em relação à pessoa que se inicia na chamada “melhor idade”. São raras as que observam o que se passa... Só quando a pessoa for agente da situação. Mas de repente, numa determinada atitude, olhe aí o transparecer do espírito da juventude, que se nega a arredar o pé. Como no caso de uma conhecida minha que, aos 61 anos, no final do seu casamento de 30, esbraveja:- Agora vou partir pra outra! Vou namorar o primeiro que aparecer!E vem a pergunta relâmpago da neta de quinze anos, que observa tudo:- Que coisa estranha a vó tá falando aí, mãe? Eu hem?É a velha paixão atemporal que ataca, quando menos se espera, gente de qualquer idade. Mais comum nos primeiros cinco anos do sexagenário. Há um clima de perplexidade e, para muitos, de não aceitação, como no caso da minha amiga. Igualzinho à adolescente que não quer crescer... Realmente a pessoa não se dá conta, tão rapidamente, de algo tão novo em sua vida. O normal é protestar: este não é meu corpo, porque não corresponde ao que sinto.Bobagem ficar enaltecendo a mocidade para o adolescente e a velhice para a pessoa madura. Nas duas, além de inevitáveis, o mesmo sentimento de estranheza habita os dois corpos.